segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Nossos sonhos serão verdades


Não há mal nenhum em começar o ano com a confiança de que os nossos sonhos serão verdades e que os extraordinário tornará cotidiano. Esses sonhos, quero crer, serão tão extraordinários quanto os dribles de Garrincha e o samba de Cartola, e se farão tão cotidiano quanto as nossas peladas nos campos de terra e as rodas de samba em cada canto desse país. Por falar em país, este, que tantas vezes se vê desmoralizado por seus políticos e ceifado pelos exploradores da natureza e da miséria desse povo, também tem as suas qualidades, e não são poucas. O futuro já começou!
Vejam bem: O BRASIL é o país que tem tido maior sucesso no combate à AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis, e vem sendo exemplo mundial. O BRASIL é o único país do hemisfério sul que está participando do Projeto Genoma. Nas eleições de 2000, o sistema do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) estava informatizado em todas as regiões do Brasil, com resultados em menos de 24 horas depois do início das apurações. O modelo chamou a atenção de uma das maiores potências mundiais, os Estados Unidos, onde a apuração dos votos teve de ser refeita várias vezes, atrasando o resultado e colocando em xeque a credibilidade do processo.
O Brasil é o único país do mundo onde se pode abastecer simultaneamente um carro com Álcool, Gasolina e gás. Tudo isso, com tecnologia nacional; Será o primeiro país do mundo a desenvolver o biodiesel à base de mamona. Novamente com tecnologia nacional. Um projeto que poderá ser a redenção do Nordeste, pois a mamona é praga por lá; A nossa PETROBRAS é a única empresa do mundo a deter a tecnologia completa de produção de petróleo em águas profundas; As empresas produtoras de aço estão em sua capacidade máxima instalada; A EMBRAER é uma das maiores produtoras de aviões do mundo.
Mesmo sendo um país em desenvolvimento, os internautas brasileiros representam uma fatia de 40% do mercado na América Latina. No BRASIL, há 14 fábricas de veículos instaladas e outras 4 se instalando enquanto alguns países vizinhos não possui nenhuma. O mercado de telefones celulares do BRASIL é o segundo do mundo, com 650 mil novas habilitações a cada mês. Na telefonia fixa, o país ocupa a quinta posição em número de linhas instaladas. Das empresas brasileiras, 6.890 possuem certificado de qualidade ISO 9000, maior número entre os países em desenvolvimento. No México, são apenas 300 empresas e 265 na Argentina. O BRASIL é o segundo maior mercado de jatos e helicópteros executivos.
Das crianças e adolescentes entre 7 a 14 anos, 97,3% estão estudando, hoje!!!. O nosso mercado editorial de livros é maior do que o da Itália, com mais de 50 mil títulos novos a cada ano. O BRASIL tem o mais moderno sistema bancário do planeta. As agências de publicidade ganham os melhores e maiores prêmios mundiais. Mais de 70% dos brasileiros, pobres e ricos, dedicam considerável parte de seu tempo em trabalhos voluntários. Numa pesquisa envolvendo 50 cidades de diversos países, a cidade do Rio de Janeiro foi considerada a mais solidária O BRASIL é hoje a terceira maior democracia do mundo. O povo brasileiro é um povo hospitaleiro, que se esforça para falar a língua dos turistas, gesticula e não mede esforços para atendê-los bem.
Bom, por aí dá para se ver que esse não é apenas o país do futebol, das mulatas e das florestas. E, embora não tenhamos tanto orgulho disso, a nossa capital é Brasília e não Buenos Aires. E mesmo com as nossas mazelas, motivos pelos quais não desistimos da luta, as boas notícias precisam ser ditas para que nos motivem a continuar acreditando nos nossos sonhos, principalmente para o novo ano que se inicia. O Brasil é o país do futuro, e o futuro já começou.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Política cultural, uma questão de saúde pública


Minas Gerais vive um momento muito importante no que diz respeito à sua política cultural. Nunca um governo se preocupou tanto em fomentar as manifestações culturais do estado como esse. O mais importante é que há um pensamento bem racional no sentido de saber separar o que realmente é relevante e o que não é, na hora de selecionar as prioridades. Outra boa iniciativa tem sido a ação de decentralizar os recursos, que deixam de ser aplicados quase em seu todo na capital para serem distribuídos entre os municípios do interior.
Mecanismos como a Lei Estadual de Incentivo à Cultura e o Fundo Estadual de Cultura têm sido importantes ferramentas para financiarem a produção e a manutenção da nossa arte. A “Lei” ainda apresenta problemas, principalmente para quem é do interior, pois o empresário, potencial patrocinador do projeto, mesmo recuperando parte dos recursos investidos por meio de abatimento no recolhimento do ICMS, ainda não assimilou bem a idéia. Acham que a sua empresa ficará exposta ao fisco, entre outros temores. Assim, portanto, boa parte dos recursos destinados à cultura volta para os cofres do governos. Projetos de livros, Cds, peças teatrais, bandas de músicas, recuperação de acervo artístico voltam para a gaveta sem que o público tenha sequer conhecido.
Felizmente o governo criou o fundo Estadual de Cultura. O FEC, que vem sendo modelo para outros estados, distribui valores provindos de receitas oriundas das multas aplicadas sobre projetos culturais e artísticos; relativos à cessão de direitos autorais e à venda de livros ou outros produtos patrocinados, editados ou co-editados pela Secretaria de Estado de Cultura e de recursos previstos na Lei Orçamentária Anual.
São beneficiadas por esses recursos instituições de interesse público sem fins lucrativos e prefeituras de todo o estado. Isso não só fomenta a produção artística, do ponto de vista financeiro, como também valoriza os agentes culturais e dá a eles um impulso psicológico para continuarem firmes na manutenção das nossas tradições.
Além desses dois mecanismos, existem outros programas de apoio à bandas, museus, arquivos públicos, cinema, circo, patrimônio histórico, música, literatura, artes plásticas, teatro, etc. Oliveira foi beneficiada por recurso do governo do estado por meio de dois projetos só esse ano. Um deles investiu 100 mil reais na Festa do Rosário de Oliveira, outro, apresentado pela Fundação Casa da Cultura Carlos Chagas, recebeu 125 mil para acabamento e projeto de acústica do novo teatro.
Na troca do secretário de cultura de Oliveira, é incontestável a capacidade e o histórico, tanto de quem saiu, quanto de quem está chegando, mas a questão é: Em que condições irá trabalhar, e com que ferramenta de política pública poderá contar o novo secretário para fazer uma boa gestão? Apesar de ter se beneficiado de recursos do estado, Oliveira ainda não possui um política bem definida para esse fim, e por isso acaba ficando fora da onda cultural que inunda o estado.
A criação da Secretaria Municipal de Cultura, pela atual gestão, foi de enorme importância para uma cidade, que desde os seus primórdios, respira cultura e tradicionalmente é conhecida por formar pessoas de conhecimento, empírico ou acadêmico, muito elevado. Mas a questão da política cultural, seja do município ou do estado, está diretamente ligada à liberação de recursos, seja por meio do orçamento municipal ou da iniciativa privada.
Obter verbas do governo federal ou estadual é importante, principalmente para financiar os grandes projetos, mas não beneficia as pequenas iniciativas culturais e as produções independentes, principalmente aquelas que revelam os novos talentos da nossa arte. Infelizmente, no Brasil, quando entramos na época das vacas magras, os primeiros setores a receberem cortes de recursos são a cultura e a educação. E o pior é que ninguém consegue enxergar que as maiores mazelas desse país se formam a partir da falta desses dois elementos, principalmente na formação das nossas crianças. Investe-se na construção de presídios, mas não se constrói escolas de formação artística gratuita nesse país.
Ao contrário do que se pensa, facilitar o acesso à cultura é, ao mesmo tempo, cuidar da inserção social, da educação, da segurança, da qualidade de vida e, principalmente, da saúde pública, física e mental.

Luciano Soares

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O Jogo do Poder


Os poderes, legislativo e executivo, de Oliveira, vez por outra, nos brindam com competições das mais insólitas protagonizadas por seus políticos. Muitas vezes a obsessão pela vitória no jogo do poder leva seus protagonistas a extremos, que postergam a própria democracia.
Nesse jogo, cada partida é uma emoção diferente. Atualmente, seus jogadores principais travam uma guerra particular por causa de alguns documentos que um se nega a entregar para o outro. Mas há quem diga que o capítulo anterior fora mais emocionante. Vamos a ele.
O adversário tinha sobre o tabuleiro a maioria das peças. O rei do executivo tinha a seu favor quatro, das dez peças envolvidas no jogo. Peões, bispos e torres adversárias marchavam em sua direção, na tentativa de derrubá-lo. O rei do legislativo, ou o presidente da câmara, pediu ao plenário a cassação do rei do executivo, ou do prefeito. Entendia ele que seu adversário infringiu os artigos 258 e 259 do Regimento Interno ao deixar de responder dois pedidos de informação. Foi dado, portanto, o chute inicial para um dos maiores clássicos dessa batalha legislativo x executivo.
Começa a armação das jogadas que irão definir o vencedor. De um lado o Rei “negro”, representado pelo prefeito, tendo ao seu lado, apenas a rainha, nomeada procuradora do município, as outras peças caíram diante da força do adversário. Do outro lado, o rei “branco”, o presidente da câmara. Este, por sua vez, poderia contar com um bispo, uma torre, um cavalo e um peão.
A rainha entra em cena para defender o rei. Convocada pelo grupo adversário a prestar esclarecimentos sobre a dívida ativa do município, a procuradora argumentou que só responderia a questões apresentadas pelos vereadores devidamente inscritos, conforme reza o regimento. A postura da rainha anulou a primeira jogada do adversário, uma vez que só poderiam participar as peças inscritas 48 horas antes do início do jogo.
Numa segunda tentativa, os adversários conseguiram pôr em xeque o rei do executivo. Posicionaram as peças e esperaram a jogada da dupla de preto para armarem o xeque-mate. Nessa nova estratégia os vereadores da casa votaram pela abertura do processo de cassação contra o alcaide. O jogo era desleal já que o rei “preto” tinha a minoria das peças. De todas as formas ele tentava se desvencilhar do cerco feito entorno de si. A rainha buscava imaginar possíveis jogadas, mas pouco se podia fazer.
Foi votada a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as denúncias contra o prefeito. O cerco apertava. Passada a primeira jogada, era hora de a rainha entrar em cena para defender o rei. Um erro elementar do adversário foi determinante para a virada de mesa. Como autor da denúncia, o presidente da câmara não poderia votar. Sabendo disso, ele não o fez. No entanto, ao redigir a ata da reunião em que fora criada a CPI, o secretário da casa acabou atribuindo-lhe um voto, favorável à criação da comissão. Esse deslize punha em xeque a eficiência da própria estratégia. E, posteriormente, contribuiria para a completa derrocada do grupo opositor. Uma peça fora do lugar foi um detalhe que nem mesmo o articulador da jogada pôde perceber, mas a rainha viu, e encontrou ali uma saída.
Ao notar que constava na ata um voto do denunciante, a rainha não teve dúvidas de que existia ali uma esperança quanto à sobrevivência do rei. Era uma carta que passou a ter na manga, mas esperou o momento certo para usá-la. No entanto, o rei “branco” ainda tinha uma jogada e, por meio dela, poderia sanar o erro. A ata em que constava um voto seu seria lida na reunião seguinte, e a partir dessa leitura, ele poderia constatar o equívoco e consertá-lo. Mas, do outro lado do tabuleiro, as peças brancas acabaram se confundindo e distraíram-se enquanto o documento era lido, e o erro passou batido. A ata foi aprovada sem que o deslize pudesse ser revisto.
Contudo, o rei “branco” prosseguiu a jogada. Não viu que existia ali uma saída para o seu oponente. E o xeque-mate, que estava perto de acontecer, virou um tiro que saiu pela culatra. Era, portanto, a vez da dupla de preto contra-atacar. A procuradora do rei tirou da manga a carta que guardava. Pediu uma cópia autenticada da ata da reunião em que foi votada a abertura da CPI. Com a prova da irregularidade nas mãos, denunciou a ilegitimidade do documento em vista de um voto que não poderia ser computado, por uma questão regimentar. A jogada derrubou todas as peças adversárias, e o rei do executivo manteve-se de pé, mesmo depois de um quase inevitável xeque-mate.
A disputa continua, mas, no jogo do poder, assim como em várias outras competições, se ganha nos detalhes.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Direto das páginas de Caras



Eis que surge um movimento reacionário às mazelas desse país por iniciativa da extrema direita brasileira. Finalmente. Há muito se esperava isso dela. “Não agüentamos mais balas perdidas, assaltos em sinais, e traficantes dando as cartas”, dizia uma das pessoas que participavam do movimento “Cansei”, na Praça da Sé em São Paulo.
Mas porque só agora tomaram essa iniciativa? Ao que parece as balas perdidas começaram a encontrar os setores mais abastados da sociedade. Constatou-se que os assaltos em sinais de trânsito têm como alvos principais os carrões da elite. O Luciano Hulk, que detém grande espaço na mídia nacional, só resolveu protestar contra a violência depois que roubaram seu relógio de 40 mil. Os traficantes a que se referem já começam a se preocupar com a concorrência representada pelos filhinhos de papai que agora entraram na onda também.
Mas há que se considerar algo positivo nessa história, a elite burguesa saiu do ostracismo ante a violência que assola o país. Uma grande manifestação reuniu cerca de 2000 pessoas no Movimento Cívico pelos Direitos dos Brasileiros. Mas deve-se levar em conta também que dessas 2000 pessoas, pelo menos 1500 eram curiosos para ver os famosos que participavam do movimento. Para cada artista havia quatro seguranças, que somavam quatrocentos. E entre celebridades, empresário, advogados e religiosos podia contar umas cem pessoas.
Diretamente das páginas de Caras eis que surgem as figurinhas fáceis do almanaque da burguesia inculta do Brasil: Hebe Camargo, Ivete Sangalo, Zezé di Camargo, Ana Maria Braga, João Dória Júnior e mais a turma do show show business. Aquilo que seria uma manifestação virou um show de tietagem e um desfile de moda a céu aberto. O João Dória, com aquela carinha lisa como bumbum de bebê que mamãe põe talquinho, usava sua tradicional camisa feita sob medida com monograma JDJ e terno de grife famosa. As escadarias da Catedral da Sé viraram uma espécie de área vip, onde se postavam os elegantes advogados de terno e gravata com suas esposas exibindo jóias de brilho incandescente, e jovens com óculos escuros Arezzo.
Tudo ali remetia à Marcha da “Família com Deus, pela liberdade” um movimento realizado pela estrema direita brasileira, no início dos anos 60, e que desencadeou no golpe de 64 e na ditadura militar. O slogan “Cansei” dos grã-finos se contrastava com o brado do movimento de contraposição da Central Única dos Trabalhadores: “‘Cansamos’, de trabalho escravo, de sonegação de impostos, da mídia que não aborda os movimentos sociais e criminaliza os movimentos populares”.
A manifestação da elite ocorreu no dia 17 de agosto de 2007. Depois disso, praticamente não se houve falar mais no movimento. Será que cansaram? Ao que parece retornaram às páginas de Caras, levando com eles a velha indignação de ter que tolerar um presidente feio, barbudo e que se veste mal.
Luciano Soares

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Estripulias estudantis

Ao término do curso de jornalismo, rememorando com os colegas alguns fatos ocorridos durante esta longa jornada, várias histórias nos surgiram. Da minha parte, duas, em especial, me marcaram muito. Ambas ocorreram no primeiro período, ou seja, no início do curso. Numa delas eu e minha colega Rafaela Pacheco ficamos indignados com um decreto baixado pela diretoria proibindo a venda de produtos no campus. - Alguns alunos aproveitam o tempo do intervalo para venderem chocolates, bijuterias roupas íntimas, etc, com o intuito de levantar uma grana para ajudar a pagar as despesas do curso. - Eu e minha colega não vendíamos nada, mas nos sensibilizamos com aqueles, que muitas vezes dependia daquele dinheiro.

Resolvemos então fazer um abaixo assinado. Colhemos mais de 800 assinaturas só no bloco de comunicação. Encaminhamos para a diretoria geral, e junto, uma carta em anexo na qual colocamos a nossa indignação diante do decreto e as reivindicações de todos os estudantes, que também se solidarizaram.
Alguns dias depois, a coordenadora do curso de comunicação chamou-me em sua sala e entregou-me a carta-reposta da diretoria. Perguntei: Porque você chamou a mim, se tem aí mais de 800 pessoas assinando? Ela respondeu: Isso só pode ter sido uma iniciativa sua, além disso, você foi o primeiro a assinar.

Disse: Cara coordenadora, não importa de quem tenha partido a ideia, ou quem assinou primeiro ou por último, o que importa é a causa do movimento e os efeitos que ele pretende desencadear. Várias pessoas que vendem produtos no campus só o fazem porque precisam do dinheiro, vocês não podem tomar uma decisão dessas deliberadamente sem se importar com as consequências dela. Muita gente disse que se não poder continuar vendendo seus salgadinhos, bombons e bijuteria vão ter que trancar a matrícula. E a coordenadora respondeu: É, precisamos repensar o caso. Traga-me uma proposta de como isso pode ser feito sem que prejudique as aulas. - Algumas alternativas foram apresentadas e ao final eles acabaram relaxando e as vendas continuaram.

A segunda história ocorreu nas vésperas da data que marcava os 40 anos do golpe de 64. O jornal Estado de Minas publicou uma série de reportagem que reconstituíam aqueles fatídicos e negros anos da história do Brasil. Guardei cada fascículo da publicação. Esperei que, numa faculdade de jornalismo como a que eu estudava, fossem ocorrer palestras e debates sobre o caso, já que os jornalistas, junto com os intelectuais, artistas e militantes de esquerda da época, foram os mais atingidos. Chegou, portanto, o dia 1º de abril de 2004 e ninguém falou no assunto. Achei um absurdo. Chamei meu colega de classe, Valério Peguini, um exímio ator de teatro, daqueles que se for preciso para a avenida paulista para protestar contra o Bush, e disse-lhe: Valério, amanhã vou precisar da sua ajuda.

No dia seguinte, levei para a faculdade todos os fascículos da reportagem sobre o golpe de 64 que havia juntado. Chamei meu colega ator e disse: - Hoje vamos fazer um protesto. Os olhos dele brilharam. – Contra o quê, perguntou. Expliquei tudo a ele. Em seguida fomos até a secretaria do bloco e pedimos uma fita adesiva. A secretária perguntou. É para pregar algum cartaz? Eu respondi que sim. Ela disse, então: - Vão precisar de uma autorização da diretoria geral. Eu disse que tudo bem. Ela nos entregou a fita e partimos. O Valério me perguntou: - E aí? Respondi: Valério, nunca quebre a ordem estabelecida, a não ser que seja por uma causa justa, e esse é o nosso caso. Ele deu uma risada e perguntou: Onde estão os jornais?

Pregamos todos os fascículos no mural que fica no hall de entrada do bloco. Detalhe: Sem autorização. As reportagens traziam fotos chocantes da época da ditadura militar. Sobre as folhas de jornais fixamos uma faixa que dizia: “É um absurdo uma faculdade de jornalismo não tocar nesse assunto!”. Depois de cumprida a missão retornamos à sala de aula.
Quando bateu o sinal para o intervalo os alunos e professores iam saindo das salas e parando diante do painel de jornais. Colocamos-nos no meio deles para sentir as reações. E as perguntas surgiam a todos os momentos: - Quem será que pregou isso?

No dia seguinte o meu professor de sociologia se aproximou de mim e perguntou: - Foi você quem pregou aqueles jornais não foi? Respondi que sim. Não quis envolver o nome do Valério temendo o que podia acontecer. Ele em seguida me lançou outra pergunta: - O que acha de eu propor uma série de seminários e debates sobre o assunto aos alunos? Fiquei surpreso. Pensei que receberia alguma punição. Respondi em seguida: Acho ótimo, esse era o objetivo do protesto.

Entramos para a sala e o professor perguntou aos alunos: - Alguém aqui sabe o que foi o golpe de 64? Três levantaram a mão. Ele então fez a proposta dos seminários. Vários olharam para mim com cara ruim. Sabia que eu era o culpado da carga de trabalho que recairia sobre eles. A sala foi dividida em grupo, as datas foram marcadas, e logo começaram as pesquisas. As apresentações duraram duas semanas. Os debates eram cada dia mais calorosos. Meu grupo foi o último a apresentar. Ao final da apresentação argumentei: - Meu exemplo não foi dos melhores, mas sei que contribui com o conhecimento de vocês. Creio que para reportarmos o que factual na vida desse país, precisamos conhecer um pouco da história dele.

Luciano Soares

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Demolindo a história

Há pouco tempo produzi um documentário sobre a história da economia de Oliveira. Com esse trabalho pude descobrir muita coisa que não sabia. Uma delas é que a cidade já teve três fábricas de cerveja, e chegou a exportar 80 mil garrafas por ano.
Todas as descobertas me deixaram surpresos, porém, ao mesmo tempo, me acrescentou um problema: Um produto de audiovisual precisa ter áudio e imagens. A questão era: Como ilustraria um texto que fala de fábricas e pontos comerciais, dos quais, muitos já não existiam mais. Para alguns casos consegui fotos ou usei imagens de produtos ou objetos que remetiam aos tais ofícios, mas, em outros, não havia nada que pudesse referenciá-los.
Pesquisando a localização desses comércios, descobri que muitos tinham deixado de existir, mas a casa ou o prédio onde eles funcionaram, não. Assim consegui resolver o problema: Com imagens dos casarões antigos de Oliveira pude dar uma referência dos pontos comerciais que ali se estabeleceram, remetendo o espectador para a época em que eles existiram.
O patrimônio histórico de Oliveira carrega a nossa história. Fábricas, bares, mercearias, alfaiates, fotógrafos e barbeiros, passaram, mas a história esta enraizada. Graças às ações de pessoas que lutaram pela conservação desse patrimônio, pude contar, através dele, a história da nossa economia. Esse pensamento prevalece também nos países mais desenvolvidos da Europa e do Oriente, mas, ao que parece, por aqui, não.
Esta semana, infelizmente, vi mais uma casa de valor histórico ser demolida na cidade. Uma construção de 1930 que trazia detalhes arquitetônicos próprios do seu tempo. Um estilo que remetia para a época áurea da estrada de ferro e da Praça da Estação. Não sou saudosista, mas valho-me das raízes para crescer com solidez. Lembro-me que ali, anexo àquela casa, havia uma vendinha onde levava café para moer. Quando descia para as minhas aulas no Francisco Fernandes sempre passava lá para compra balas “Banda”. Certa vez eu e meu amigo Pepê voltávamos do grupo e vimos um menino que sempre ficava na porta da vendinha para insultar-nos. Nesse dia resolvemos dar-lhe uma lição, mas o seu Zé apartou a briga e nos fez pegar na mão um do outro, depois nos tornamos grandes amigos. Toda vez que passo por ali me lembro desse fato. Mas agora está tudo acabado. Destruíram a minha referência histórica e creio que a de muita gente.
Vi uma foto em que aparece uma locomotiva, em primeiro plano, estacionada onde hoje é o hospital de Oliveira e, ao fundo, a casa que acabaram de demolir. Assim como a vendinha do seu Zé, havia vários outros armazéns no entorno da estação, e que hoje são referências daquela época. Isso é história. História é cultura. E cultura é a alma, é a identidade de um povo. Estão demolindo a nossa história, destruindo a nossa cultura, e nos deixando sem identidade. O pior é que indiretamente participei dessa decisão, porque fazia parte do conselho que votou pela demolição. Votei contra, é claro, mas vi colegas votarem a favor. Fiquei de queixo caído. Como pode um Conselho de Patrimônio Cultural votar pela demolição de um bem histórico?
Procurei não me influenciar pelo apreço que tinha por aquela casa ou pela noção de história da arte, de estética e de outros conhecimentos que adquiri no curso de arquitetura. Votei pela avaliação que me trazia um laudo desenvolvido por um arquiteto e por um historiador, credenciados pelo IEPHA. Argumentei durante a reunião que, como leigos, deveríamos nos apegar a esse laudo. Não podíamos tomar uma decisão importante dessa baseada na opinião subjetiva de cada um. O imóvel foi inventariado, e segundo os técnicos, possui valor histórico e arquitetônico, e comunga com as construções do seu entorno. Quem somos nós para contradizer? Será que os membros leigos da irmandade do hospital de Oliveira discordam dos diagnósticos dos médicos e mandam trocar os remédios dos pacientes?
Algumas coisas foram ditas, na imprensa, por colegas que eu respeito muito, mas tenho que discordar: Uma delas diz que não se pode limitar o direito de propriedade em nome do interesse público. Ora, o direito de propriedade tem que ser respeitado, mas é lógico que o interesse público prevalece sobre interesse individual. E é claro que o valor histórico torna o bem de interesse público. Em outra, um membro do conselho disse ter lamentado que isso tenha vazado para a população. Meu Deus, mas o conselho está ali representando o povo de Oliveira e qualquer decisão tomada por ele deve ser pública! Esse mesmo conselheiro afirmou que a grande maioria votou pela demolição. Mas que grande maioria é essa, já que participaram da reunião dez pessoas, das quais cinco eram contra, e cinco a favor. Um membro do conselho que era contra a demolição teve que substituir o presidente, por isso perdeu o direito de voto, dando, portanto, a vitória para os que eram a favor. O engraçado é que cinco pessoas votaram pela demolição e dez se desligaram do conselho por não concordar com a decisão.
Penso que em momentos como esses é preciso deixar de lado as relações, sejam elas comerciais, de amizade, ou de interesses econômicos, porque o que está em jogo é a nossa história, a nossa cultura, a nossa identidade. Quando os netos e bisnetos forem catalogar a vendinha do Seu Zé ou a casa que ali existia, como parte do trabalho que a professora de história pediu, nós não estaremos mais aqui, nem os nossos amigos, nem os nossos clientes. Mas o nosso erro ficará. Assim como ficou o da demolição do Teatro Municipal e de tantos outros casarões que já se foram.
Se persistirmos nesse erro, acabaremos condenados pela própria história ao legar para o futuro um deserto ecológico e cultural a um povo carente de algo que os identifique.

Luciano Soares

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Hasta Siempre Comandante!


O título acima também dá nome a uma obra prima da música cubana em que o compositor Carlos Puebla homenageia Che Guevara, o médico argentino que se propôs a lutar por um povo que ele nem sequer conhecia.
Ernesto Guevara de la Serna, por obra do destino, conhece, no México, um certo Fidel Castro, que lhe faz um proposta indecorosa: Lançar-se ao Golfo do México rumo a um país desconhecido junto com 81 companheiros para lutar contra mais de três mil homens apoiados militarmente pelos Estados Unidos.
O que um jovem recém-formado em medicina pela Universidade de Buenos Aires poderia dizer diante de uma proposta dessas? A sensatez sugerida pela ordem teórica ditada pelo capitalismo nos levaria a imaginar que ele não aceitaria a proposta. Mas ele disse sim.
Começava ali a epopéia de um homem que mais tarde seria preconizado como o grande tutor da causa revolucionária.
Ao desembarcar em Cuba o exército rebelde foi recebido por um bombardeio aéreo que o faz sofrer grandes baixas. Reduzido a um contingente de 18 soldados feridos e mal armados, o grupo marcha para a legendária Sierra Maestra onde daria início a batalha de Davi contra Golias. Aqueles jovens idealistas começavam ali o que se chamou de “A revolução impossível”. Foi dada a partida para a mais romântica das empreitadas da esquerda latino-americana. Começava a Revolução Cubana.
- Mas, por que ele disse sim?
Essa é a indagação pairou sobre as mentes de muitas pessoas que não o conheciam mais profundamente. – Mas o que diria o filho de uma família que via permanentemente a mesa de jantar rodeada de meninos pobres, fiéis escudeiros do filho mais velho. O que poderia dizer um médico recém-formado que ignora a possibilidade de adquirir automóveis importados e mansões. Que parti em busca dos mais recônditos leprosários para trabalhar a troco de cama e comida? Qual resposta poderia dar um aventureiro que da garupa de uma motocicleta conhece toda a miséria e toda a sorte de exploração que possa recair sobre um povo que vive à sombra de um império? Como poderia reagir uma pessoa que se alimentava ideologicamente da indignação de ver um ser humano ser explorado por outro.
- Quem o conhecia tinha plena convicção de que aquele jovem se lançaria sem pensar em uma luta cuja causa era tudo aquilo que lhe serviu de alimento enquanto construía o próprio caráter. Não havia para ele outra resposta se não dizer sim a uma proposta que lhe tiraria da posição de observador para assumir a função de modificador de uma ordem pré-estabelecida. Era chegada, portanto, a hora de cumprir aquilo que bradou seu comandante: “Em 1956 seremos livres ou seremos mártires”.
Quer saber o final dessa história? Eles se tornaram livres. O impossível aconteceu. Davi venceu Golias. Aqueles 18 soldados que iniciaram a luta contra os três mil, venceram. A Revolução triunfou. Como dizia Che Guevara: “O extraordinário virou cotidiano”.
Ao aceitar a proposta de Fidel Castro, Che desafiou a Grande Potência do Norte que há décadas dominava econômica e politicamente a ilha. Venceram, expulsaram os americanos e deram um “mau exemplo” para toda a América Latina.
É isso o que esbraveja a velha e resignada elite burguesa, doutrinada aos moldes do capitalismo. É essa verdade que certa revista brasileira e a mídia neoliberal desejam subverter. É esse exemplo que pasquins a serviço da classe opressora desejam apagar. Depois da malfadada campanha contra o MST, contra as ONG’s e contra todo e qualquer movimento social, eis que a revista Veja vem tentar subverter a verdade histórica, mas dá um tiro no próprio pé: Na passagem dos 40 anos da morte de Che Guevara ela diz: “Por suas convicções ideológicas, Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história já arremessou há tempos outros teóricos(...)”. Há dez anos atrás, no 30º aniversário da morte de Che, a revista tinha outra opinião: “Che Guevara (...) era bonito, destemido e morreu jovem, defendendo conceitos igualmente jovens, como a solidariedade e a justiça social”.
O filósofo francês Jean-Paul Sartre classificou Che como “o mais completo ser humano da nossa era”. Como escreveu Pablo Neruda, o poeta preferido de Guevara: "Podem matar as flores, mas, jamais acabarão com a Primavera".
Luciano Soares
Confira abaixo uma síntese da história de Che Guevara:

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

----------------- CHE GUEVARA -----------------



Há 48 anos nascia um mito


O dia 9 de outubro de 2015 marca os 48 anos da morte de Che Guevara, um médico que para muitos se tornou um herói, para outros, um mito, e para alguns nada disso. Opiniões a parte, a história mostra que ele não só mudou o rumo da política mundial, mas também a mentalidade de várias gerações.


Ao final dos anos 20, em Rosário na Argentina, vem ao mundo, prematuro e muito fraquinho, Ernesto, o primogênito de uma família de cinco filhos. Seus pais, Ernesto Guevara Lynch e Célia de la Serna, desde os primeiros anos tiveram problemas com Ernestinho por causa dos ataques de asma que o torturaria durante toda a vida.

O pequeno Guevara entregava-se vorazmente ao esporte e a leitura. Nas longas horas que passava em casa, Ernesto devorava clássicos como Pablo Neruda e García Lorca, entre outros.

A MEDICINA E AS VIAGENS

A consciência política do jovem Guevara começava a nascer inevitavelmente pela influência dos pais e pela intelectualidade de Córdoba, onde morava. Um sentimento antiamericano já podia ser notado. Aos dezesseis anos Ernesto Guevara começou a ler Marx e Engels.

Após terminar os estudos secundários, Ernesto matricula-se na Faculdade de Medicina de Buenos Aires. Durante o curso, era comum vê-lo discutindo com seus colegas a respeito da socialização da medicina. Guevara defendia com vigor a abolição da medicina comercial e se colocava contra a desigualdade na distribuição de médicos entre a sociedade e o campo.

Insistia também na tese de que era necessário dar um tratamento mais humano aos pacientes e, sobretudo, em “como era importante para a psique dos leprosos o modo familiar como os tratavam”.

No início de 1949, Guevara percorreu as províncias do Norte de seu país em uma espécie de bicicleta motorizada que ele mesmo projetou e construiu. A viagem permitiu-lhe romper com as formas ortodoxas de turismo; ele assumiu a postura do que hoje chamaríamos de mochileiro.

Para evidenciar isso, veja o que ele próprio escreveu em seu diário de viagem: “Não cultivo os mesmos gostos que os turistas [...] o Altar da Pátria, a catedral, o precioso púlpito e a virgem milagrosa [...] a sede da revolução [...] não é assim que se conhece um povo, seu modo de viver ou sua interpretação da vida, aquilo é uma luxuosa cobertura; a alma de um povo se reflete nos enfermos dos hospitais, nos reclusos da prisão, no andarilho ansioso com quem se conversa enquanto se observa o turbulento caudal do rio Grande abaixo”.

Seria interessante citar também o trecho de uma carta que ele escrevera a sua tia Beatriz quando passava pelo Brasil: “Desta terra de belas e ardentes mulheres, mando um abraço compassivo a Buenos Aires, que cada vez mais me parece aborrecida [...] Depois de superar mil dificuldades, lutando contra os tufões, os incêndios, as sereias com seu canto melodioso (aqui as sereias são da cor do café), levo como recordação desta terra maravilhosa [...] um coração saturado de belezas”.

No início de 1952 começou a primeira grande viagem de Che Guevara; ele visitaria cinco países ao longo de quase oito meses em companhia de seu amigo Alberto Granado. A intenção inicial do Che seria fazer todo o percurso em uma motocicleta Norton, batizada com o nome de La Poderosa II, porém, depois de repetidas avarias no início da viagem a moto teve que ser abandonada em Santiago no Chile.

A dupla de rapazes fez mais ou menos tudo o que se propôs. Através dessa viagem, Che Guevara passaria a conhecer a triste realidade de miséria, injustiças e desigualdades em que se enquadrava quase toda a América latina naquela época.

Após receber o título de doutor da Faculdade de Medicina de Buenos Aires em 12 de outubro de 1953, apenas um mês depois, tomou o trem na estação de Retiro acompanhado do amigo Carlos Ferrer, o Calica, em direção à Bolívia, primeira escala rumo à Venezuela. Pouco depois de completar 25 anos, Che Guevara deixa sua pátria para nunca mais voltar.


A POLÍTICA: DE MÉDICO A REVOLUCIONÁRIO

Ernesto Guevara e Calica Ferrer chegaram a La Paz em 11 de julho de 1953, um ano depois da tomada do poder pelo Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), quando o país ainda vivia um efervescente período de reforma. A dupla permaneceu cinco semanas na Bolívia, período apontado como passo fundamental na evolução política do Che.

Depois da Bolívia Ernesto optou por viajar para a Guatemala, enquanto Calica Ferrer viajaria para a Venezuela ao encontro de Alberto Granado, mas antes disso, passou pelo Panamá e Costa Rica.

Foi aí que se deu o primeiro contato dele com os cubanos, ao encontrar-se com dois sobreviventes exilados do assalto ao Quartel Moncada, ocorrido em 26 de julho de 1953. Calixto García e Severino Rossel foram os primeiros a lhe contar sobre a história inacreditável da tentativa de Fidel Castro de derrubar o regime de Fulgêncio Batista assaltando o quartel militar da segunda maior cidade de Cuba.

Guevara chegou à Guatemala as vésperas do ano-novo, em 1953. Permaneceu no país durante oito meses e meio. O objetivo inicial era ficar dois anos na Guatemala, antes de se dirigir ao México.

No entanto, em sua luta por um trabalho, o máximo que o Che conseguiu foi um modesto salário em um laboratório no Ministério da Saúde, depois de um período em que vendeu enciclopédias.

A Guatemala foi para o Che o país da iniciação política. Foram tempos cruciais em sua vida e na história da América Latina. Iniciava naquele país uma verdadeira covardia política cujo objetivo se tornaria um estereótipo rude por que passaria quase todos os países da América Latina: a destruição por parte do imperialismo, de regimes honestos e justos, em favor de interesses políticos e comerciais dos Estados Unidos.

Da Guatemala, Ernesto Guevara decidi viajar para o México. Em sua bagagem, levava uma última recordação da Guatemala: o apelido que os amigos tinham posto nele, por causa de sua nacionalidade e modo de falar - o Che.


O MÉXICO E FIDEL CASTRO


Em meados de setembro Che Guevara chega a Cidade do México, capital da corrupção, como escrevera a sua tia Beatriz. Os primeiros meses naquele país, em fins de 1954, não foram fáceis: sem dinheiro, sem trabalho, sem amigos.

Tinha apenas o endereço de vários amigos de seu pai, um deles, um roteirista de cinema chamado Ulisses Petit de Murat, que o recebeu afetuosamente. O Che comprou uma máquina fotográfica, e junto com um companheiro que havia conhecido durante a viagem de trem, começou a ganhar a vida tirando fotos de turistas norte-americanos nas ruas da Cidade do México.

Conseguiu um mal remunerado emprego de pesquisador de alergia no Hospital Geral.
Em junho, o médico argentino foi apresentado a Raúl Castro, líder estudantil cubano recém-saído de uma prisão de Havana. Poucos dias depois, o irmão deste chegou ao México, e Raúl levou o Che para conversar com ele.

Foi em julho de 1955 que Ernesto Guevara conheceu Fidel Castro. - “Na realidade, depois da experiência vivida em minhas caminhadas por toda a América Latina e do arremate na Guatemala, não era difícil incitar-me a participar de qualquer revolução contra um tirano.” (Che Guevara)

Fidel Castro dirigiu-se ao México com um único objetivo: dar início a uma insurreição contra a ditadura de Batista. A situação de Cuba não era das melhores, depois da ocupação direta dos Estados Unidos iniciada nos fins do século XIX, o país passou a ser administrado por governos subalternos aos interesses norte-americanos.

- “Aquela pequena ilha solta em meio ao Mar do Caribe era um país sem futuro, sem amanhã, sem porvir, sem o direito de querer, a mingua de orgulho. Um povo sem esperança. Nessa Cuba, a expectativa de progresso da mulher camponesa, da filha do trabalhador, da menina de classe média era a prostituição. O agricultor não tinha terra para plantar: 70% de todo o território cubano estava nas mãos de militares, grandes latifundiários e executivos norte-americanos”. (Jorge Castañeda – Biógrafo de Che Guevara)

Em agosto Guevara casa-se com a peruana Hilda Gadea. Em novembro durante uma visita de Castro aos Estados Unidos, viajou em lua-de-mel para o Sudeste mexicano, onde finalmente pode conhecer as ruínas da civilização Maia.

De volta a cidade do México Che Guevara aceita o convite de Castro e adere ao grupo que marcharia até Cuba para tentar derrubar o ditador Fulgêncio Batista. O treinamento para a luta armada logo começou. A lealdade e solidariedade de Castro para com seus homens, contribuíram para dissipar as dúvidas do argentino, fortalecendo a sua decisão de se unir à expedição.

O Che participou dos exercícios físicos, de tática, de tiro e resistência junto com os demais, ao mesmo tempo em que desempenhava a função de chefe de pessoal. E mesmo com a asma e a altitude, descobriu que podia manter-se a altura de seus companheiros e obter as melhores classificações do grupo. Guevara foi classificado como número 1 no grupo. Em tudo teve nota máxima: 10.

Era chegada a hora de partir rumo a Cuba, o Movimento Vinte Seis de Julho estava perto de acontecer. Hilda Gadea, a esposa do Che, partira para o Peru junto com a filha. Um iate (“o Granma”, como foi chamado) foi comprado por 15 mil dólares para transportar os revolucionários.

A partida foi precedida por uma longa série de problemas pessoais e contratempos políticos, logísticos e militares: dias antes, a polícia mexicana confiscou aos cubanos vinte fuzis e 50 mil cartuchos na capital.

Apesar dos problemas, Fidel tinha pressa. Não tanto por causa das pressões exercidas pelas autoridades, nem pelos perigos derivados da virtual ação dos agentes de Batista no México, mas pela promessa repetida em várias ocasiões: “Em 1956 seremos livres ou seremos mártires”.

Assim, não havia outra alternativa para o grupo a não ser lançar-se ao Golfo do México antes que o ano terminasse.

Nasce um guerrilheiro

Na noite de 25 de novembro, num velho iate, cuja capacidade era de apenas 20 passageiros, partiram 82 soldados revolucionários atravessando o Canal do México, com as luzes apagadas e os motores silenciosos.

Che Guevara assumiu o comando de umas das frentes do exército revolucionário e após três anos de batalhas na Sierra Maestra, e de muitas baixas de ambos os lados, com o apoio da população, os objetivos da missão foram sendo alcançados. Faltava pouco.

O exército de Che Guevara marchou para o grande e último desafio: o domínio de Santa Clara, uma cidade de 150 mil habitantes, o principal núcleo urbano do centro de Cuba, onde a guarnição militar compreendia mais de 2500 homens e dez tanques, contra o jovem, inexperiente e fatigado grupo de 300 homens comandado por Che Guevara. As estratégias do comandante foram superando todas as dificuldades e a inferioridade numérica.

O domínio de um trem blindado, no qual deslocavam os soldados de Batista se tornou um fator decisivo daquela batalha, deixando os rebeldes próximos da vitória e atribuindo ao Che o mérito de ser um dos grandes responsáveis pelo triunfo da Revolução.

O primeiro dia de 1959 foi marcado pela negociação da rendição dos oficiais aquartelados em Santa Clara. A batalha terminou. O povo sai às ruas, festeja a vitória, e aclama Che Guevara. Os rebeldes marcham rumo a capital: a Revolução triunfou.


A luta continua
Depois que os rebeldes tomaram o poder, Guevara ocupa vários cargos importantes no governo cubano, como os de presidente do Banco Nacional de Cuba e Ministro da Indústria. O governo revolucionário alcança grandes avanços sociais.

Mas o Che não se acomoda com a vitória da Revolução e não consegue se acostumar com o poder e, em abril de 1965, viaja para o Congo, na África. Acompanhado por um grupo de cubanos, e sem o conhecimento de Fidel, Guevara parte para se aliar ao exército rebelde na luta contra os brancos mercenários contratados pelo ditador Tshombe.

Lá permanece até o inicio de 1966. Com a derrota dos rebeldes, os sobreviventes voltam para Cuba, mas Che não esta satisfeito: Envia a Fidel Castro a sua famosa carta de despedida ao povo de cuba e parte para a Bolívia com a intenção de comandar a luta contra o ditador Barrientos.


Nasce um mito
Che permanece na Bolívia de 7 de novembro de 1966 a 8 de outubro de 1967. Depois de enfrentar fortes ataques de asma e problemas estratégicos causado por um erro de logística, ou suposta traição, de um informante boliviano, Guevara é capturado junto com alguns companheiros.

Até seus inimigos se surpreenderam no momento da captura quando ouviu do próprio Ernesto: “Não atirem. Sou Che Guevara. Valho mais vivo do que morto.” Um dia depois de ser capturado pelo exército boliviano Ernesto Guevara de la Serna é executado com o tiro no peito, aos 39 anos de idade.

Seus restos mortais foram encontrados na Bolívia em 1997 e levados para Cuba. Che Guevara deixou três filhos e um legado de superação e luta por justiça social.

Carta de Che aos filhos:

Queridos filhos, Se alguma vez tiverem que ler esta carta, será porque eu não estarei mais entre vocês. Quase não se lembrarão de mim e os mais novos não recordarão nada. Seu pai sempre foi um homem que atua como pensa e, com certeza, tem sido leal às suas convicções. Cresçam como bons revolucionários. Estudem muito para poder dominar a técnica que permite dominar a natureza. Lembrem-se que a Revolução é o mais importante e que cada um de nós, sozinho, não vale nada. Sobretudo, sejam sempre capazes de sentir no mais fundo de seus íntimos qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a qualidade mais linda de um revolucionário.
Até sempre, filhinhos, espero vê-los ainda. Um beijo grande e um grande abraço do Papá.

Pesquisa e texto: Luciano Soares

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Saiam da casa do povo! Vocês não são dignos de ocupá-la

“Minha absolvição pelo plenário do Senado é uma vitória da democracia brasileira. Uma vitória de todos os que continuam acreditando na verdade e no sentido de justiça; uma vitória do Senado, que comprovou, através do voto, sua isenção e responsabilidade”. Esta afirmação é de Renan Calheiros, publicada em seu site dias após a sua absolvição.”.
“Uma vitória da democracia”, nisso eu concordo em número, gênero e grau. Para uma democracia como a nossa que premia os desonestos, isso só pode representar uma vitória mesmo.

Acontecimentos como esses cada vez mais vêm confirmar aquilo que eu já tinha plena convicção: Inocente aquele que ainda acredita que vivemos numa democracia.
No Brasil, se você quiser que seu filho tenha uma boa educação tem que pagar uma escola particular. Se você quiser ter um bom atendimento médico tem que pagar caro por um plano de saúde particular.

Se você quiser ter acesso a uma estrutura esportiva tem que pagar um clube que a ofereça. Se você quiser viajar tem que pagar dois ou três pedágios, dependendo do lugar para onde você vá. Se você quiser ter uma moradia tem que entrar num daqueles financiamentos que se perdem de vista, correndo o risco de não conseguir pagar ou de não ver seu imóvel entregue.

As casas são dotadas de grades, muros e cercas elétricas. Isso é liberdade? Seqüestra-se, rouba-se e mata-se a cada minuto. O trabalhador sai de casa cedo, enfrenta greve de ônibus, chega atrasado no serviço, é demitido, e quando volta para casa encontra o filho morto por bala partida. Isso é justo?

Aqui existem milhares de pessoas passando fome, sem ter onde morar, crianças órfãs se drogando, prostituindo e aprendendo a assaltar nas ruas. Isso é democracia? Um país que obriga as pessoas a votar, a trabalharem nas eleições, a alistar-se em serviços militares, é um país democrático?

Deixamos de ser um Estado paternalista e criamos um Estado carrasco do seu povo.
Sejamos realistas. Vivemos uma ditadura disfarçada de democracia. A ditadura do poder, a ditadura da corrupção. Votamos nesses caras sem saber que eles fizeram suas campanhas usando dinheiro de empresas que posteriormente seriam beneficiadas por eles.

Eles praticam corrupção e se absolvem o tempo todo. Engordam suas contas bancárias com dinheiro que poderiam ser aplicados na saúde, educação, moradia, cultura e geração de emprego. Eu, que várias vezes fiz aqui campanha pelo voto consciente, agora cheguei à conclusão de que consciente é aquele que vota em branco. Farei isso.

Não quero mais compactuar com esses bandidos. Apesar de ser possível encontrar algumas frutas boas nesse saco de podridão, não vejo mais funcionalidade para o Senado e o Congresso Nacional. Não vejo mais motivo para mantê-los funcionando, porque só trazem prejuízos ao país.

Está nas mãos do Supremo a última cartada contra o mal. O julgamento dos 40 mensaleiros será a última chance de livrar o Brasil do rótulo da impunidade. Independente desse resultado, não acredito mais nesse país enquanto Estado.

A economia dá sinais de vitalidade, mas a política já assassinou moralmente o país. Com exceção daqueles que, mesmo no poder, insistem em lutar contra a essa banda podre, digo aos senhores deputados e senadores: Vocês não me representam mais. Enquanto cidadão, exijo que se retirem da casa do povo, porque vocês não são dignos de ocupá-la.

Se for para gritar sozinho o farei, mas não deixarei de cumprir a minha parte. Não quero mais vocês aí! Ou sairão pelo voto, ou sairão pela força. Creio que esta é a vontade do povo, mas poucos têm esse espaço para falar. Digo por eles. Não quero fazer aqui um discurso inflamado com objetivo panfletário, mas expressar o sentimento de toda uma nação.

Vão querer distrair-nos com Big Brothers, novelas e outros lixos midiáticos, mas não conseguirão. É hora de assumirmos nosso sangue latino de revolucionários da justiça e da liberdade.

sábado, 8 de setembro de 2007

O Funk e o Sertanejo


O anúncio da programação do aniversário da cidade, com extensa agenda de shows, todos eles, única e exclusivamente, do gênero sertanejo, me reacendeu a reflexão sobre o tema que vem sendo discutido desde a Festa do Peão de Oliveira.
Quanto a escolha desse tipo de música para os eventos em Oliveira, disseram-me: “Ora, se é festa do peão, então tem que tocar música sertaneja.” Disse-lhe: Ora, nos moldes que se apresentam essas festas no Brasil, então, o que deveria tocar seria “country”, “western music” ou coisas do gênero, pois estamos muito mais para cowboys americanos, que para sertanejos brasileiros. Aliás, em se tratando de música, já deixamos de ser sertanejos há muito tempo. Ou será que podemos comparar os velhos regionalismos, intimamente ligados à cultura de raiz, com esse tipo de música voltada para a cultura comercial de massa?
A verdadeira música sertaneja existe, e embora o país tenha se tornado muito mais urbano que rural, ela resiste e pode ser ouvida até na Praça XV. Engana-se quem acha que o que toca no Faustão, no Gugu ou na Hebe é música sertaneja. O sertão está muito longe de Rio e de São Paulo. Até que alguns intérpretes estão caindo na real e mudando o discurso sobre o tema da sua música: “Eu canto música Romântica”. E põe romântica nisso. Meu coração chega a partir com tanta pieguice junta. Quantos amores perdidos, quantas traições. Engraçado, um dia desses estava pensando. A palavra que eles mais usam na hora de compor é “Ela”: “Ela é o meu amor”. “Ela me traiu”. “Ela me deixou”. Olha só, parece que acabei de criar um refrão aqui. Viram como é fácil? Hoje em dia faz-se música no Brasil como se produz extrato de tomate. Por incrível que pareça quem é bom não está na mídia. Não estou criticando genericamente todos os “neosertanejos”, mas a música barata. É preciso tomar cuidado. Arrepio só de lembrar que, certa vez, disseram a Villa-Lobos que a música dele era uma vergonha.
Com o funk a coisa é mais ou menos parecida, ou seja, foram modificando um ritmo antigo, mas não alteraram o nome. O funk, assim como o Rock, o Jazz, o Blues e o Soul, são gêneros musicais de origem negra, surgidos, em sua maioria, no sul dos Estados Unidos. Dizem que a Soul Music deu origem ao Funk, que mais tarde ganhou visibilidade com o grande James Brown. O funk apareceu no Brasil a partir da década de 80. Segundo alguns estudiosos o funk no Rio foi influenciado por um ritmo da Flórida, chamado Miami Bass, que trazia músicas mais erotizadas e batidas mais rápidas. Mas na época, esse ritmo apareceu nos guetos brasileiros muito mais como música de protesto, principalmente contra o racismo, a violência e a miséria social.
Agora, engana-se quem julga o “Funk Carioca” por suas letras. A força do funk está na batida forte. Por isso, para essa moçada, quanto mais alto melhor.
Se quiserem fazer uma análise da letra, é melhor seguir pelo seguinte raciocínio: em um primeiro momento, eles usaram a música para dizer à sociedade: “Parem de nos discriminar! Parem de nos agredir! Parem de nos isolar num canto como se fôssemos o lixo desse país”. A sociedade achou graça, não deu ouvidos àquela música. Aí, num segundo momento, disseram: “Agora vamos escrachar. A sociedade e o Estado deram as costas para nós. Em assim sendo, não temos que obedecer às convenções desse país, nem aos conservadorismos dessa sociedade. Somos um Estado independente, com preceitos totalmente anárquicos. Seguimos ao pé da letra a cartilha de Bacunin e de Thoreau, embora não saibamos quem sejam eles.” Aleister Crowley deve ter soprado em seus ouvidos: "Façam o que quiserem, há de ser tudo da Lei". Então eles criaram a sua própria lei e disseram por meio do funk: “Escrúpulos, pudor, isso é para vocês. Aqui, no nosso pequeno país cultua-se a droga, o sexo livre e a liberdade de expressão.”
O funk, quer queira, quer não, é a voz dos excluídos. Fecharam-lhes as portas do mercado, aí eles criaram um mercado paralelo, pirata. E a música deles chegou aos ouvidos das filhinhas de papai, que já aprenderam a dançá-la com a bundinha arrebitada e o dedinho na boquinha. Dessa vez, a sociedade não achou graça nenhuma.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Crime e Descaso Contra o Patrimônio Histórico de Oliveira





Uma irracionalidade. Não há outra palavra que possa classificar esse descaso com o nosso patrimônio histórico. Quem despreza a história não pode ter visão de futuro.

Quem ignora a cultura e o patrimônio artístico, seja ele material ou imaterial, dá a si um atestado de microcefalia crônica. Isso mesmo, “cabeça pequena”. Será que só a sua destruição por total nos fará acordar para aquilo que perdemos?

Será que o exemplo do que fizeram com as áreas verdes, e que agora correm contra o tempo para recuperá-la, se repetirá naquilo que fora edificado pelo próprio homem?

Como cita o artigo do João Bosco, editor deste jornal, na semana passada, a cidade recebe R$127 mil por ano de repasse de ICMS, como prêmio por ter conservado o seu patrimônio histórico.

E esse valor poderia ser bem maior se o recurso fosse reinvestido naquilo que é a fonte dessa renda, ou seja, na conservação e tombamento de outros bens móveis ou imóveis.

Para quem não sabe, isso se chama desenvolvimento sustentável. Imagina se você tem uma lavoura de café que lhe garanta uma renda anual razoavelmente boa. Digamos que ao fim da colheita você gaste todo o lucro com outras coisas e não reserve uma parte dessa renda para a manutenção da lavoura e da terra.

Nesse caso, é óbvio que essa fonte não tardará em secar e deixará de render o lucro com a qual o seu proprietário contava anualmente. É mais ou menos isso o que vai acontecer com a nossa cidade caso não tomemos alguma providência de imediato.

Temos um conselho de patrimônio formado por 18 incansáveis membros e outros milhares de populares que não fazem parte desse conselho, mas que formam uma tropa de choque para defender, sem ônus nenhum, aquilo que de mais valor possui essa cidade depois do seu povo, a sua cultura e a sua história.

Os homens passam. Empresas, indústrias e governos passaram, mas a nossa cultura está enraizada. Os nossos bens imateriais estão de certa forma protegidos, porque estão nas mãos e na cabeça, do nosso povo.

Como o congado vem sendo mantido pela família Bispo e seus colaboradores, como a semana santa se mantém viva através de Múcio Lo Buono, Geraldinho Laranjo e pela fé de todo o povo, como o carnaval, folia de Reis, culinária, capoeira, samba, hip-hop e muito mais.

Mas, e o nosso patrimônio material que está a mingua? É revoltante andar por aí e ver nossos casarões históricos morrendo aos poucos. Será que as pessoas daqui só pensam em lucro, lucro e lucro? Será que a ganância do homem se mostrará sempre maior que o seu senso de cidadania?

Nunca teremos noção de que somos meros passageiros desse mundo, de que o usamos e depois precisamos deixá-lo porque outras pessoas virão para usufruir dele? Quantos crimes já foram cometidos contra o nosso patrimônio histórico, até quando vamos permitir que eles continuem?

É preciso ter consciência de que o centro comercial de Oliveira não pode se restringir somente no entorno da Praça XV. Se assim for a cidade nunca vai crescer.
Há exatos dez anos estive em Ouro Preto, a cidade que mais recebe repasse de ICMS no estado, e senti a mesma sensação que estou sentindo em Oliveira agora.

Os casarões se mostravam em péssimo estado de conservação, muitos deles caíram e uma série de incêndios começou a acontecer. Com o tempo o prêmio proveniente da conservação daquele patrimônio começou a diminuir e os turistas também. Esse ano pude voltar àquela cidade e me surpreender. Tudo está impecável.

Os casarões totalmente recuperados, pintados com cores vivas, um há intenso controle de tráfego de veículos nas ruas. Uma superestrutura com ótimos hotéis e restaurantes precisou ser montada para receber o elevado número de turistas, entre eles vários estrangeiros, que passou a visitar a cidade desde então.

Pude concluir, após aquela visita, que uma gestão consciente, que soube aplicar os recursos e mostrar para as pessoas que elas só têm a ganhar com a conservação do seu patrimônio, tornou a cidade funcional, do ponto de vista econômico, e melhorou a qualidade de vida do lugar.

É disso que estamos precisando por aqui: gestão consciente, que dê a proprietário condições e vantagens para conservar o seu patrimônio, reservando o seu direito de propriedade, mas sempre com a consciência de que há ali um valor econômico de proveniência material, mas, agregado a isso, há um valor cultural e histórico de valor incalculável.