segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A crise e suas nuances

A crise mundial, iniciada a cerca de um ano nos Estados Unidos, e que ganhou proporções mundiais de uns meses para cá, já é um fato inconteste. É certo que é meio prematuro fazer uma análise mais profunda das conseqüências dela no Brasil, mas creio que ainda não fomos atingidos com a mesma intensidade de que estão sendo outros países. Vendo a coisa de maneira bem superficial, o que tenho sentido é que os maiores atingidos até agora por aqui são as empresas exportadoras. A recessão vem atrapalhando a venda dos nossos produtos lá fora.

Em relação ao nosso mercado interno, ao que parece, num primeiro momento, as coisas não estão tão ruins assim. Muito pelo contrário, com a queda nas exportações, os preços de produtos como arroz e feijão estão caindo, e com isso as vendas internas podem até aumentar. Há certo otimismo por parte dos comerciantes, e o começo de dezembro já apresentou um aquecimento nas vendas.

“A despeito dos possíveis efeitos da crise financeira no bolso dos consumidores, as expectativas são bastante otimistas, variando de um crescimento entre 8% e 10% em relação ao mesmo período do ano passado. Na mais movimentada rua de comércio do Brasil, a 25 de Março, a expectativa é de as vendas registrarem uma expansão de 10%. De acordo com a União dos Lojistas da 25 de Março e Adjacências (Univinco), a expansão será praticamente igual à do ano passado. Deve mudar o tíquete médio: com o mesmo valor que as pessoas comprariam três presentes, por exemplo, agora vão adquirir cinco.” É o que diz a matéria da jornalista Patrícia Bull, publicada no site do Diário do Comércio.

O que se vê, portanto, é um terrorismo exagerado espalhado pelos jornais. A impressão que se tem é que eles querem implantar a crise por aqui por sua conta e risco. Tenho visto pessoas comentando por aí: “A crise ta feia hein...” dizem isso com o ímpeto do inconsciente coletivo provocado pela mídia. Na verdade vêem-se pessoas levando a vida normalmente, com o mesmo salário, como o mesmo poder de compra, e reclamando de uma crise que sequer alterou os preços dos produtos que consome, aliás, se alterou, foi para baixo.

Essa mídia, que deveria prestar serviços à nação, o faz de maneira inversa espalhando as velhas más notícias por meio das quais se consegue maiores índices de audiência. Com as notícias de que a crise vai afetar a todos, que as pessoas não devem comprar, acelera-se um processo de recessão sem motivo para isso. É claro que as compras a credito, com pagamento em longo prazo, são um risco diante da atual conjuntura econômica, e certamente devem ser evitadas, mas as compras à vista, ou com prestações a curto prazo, são salutares para a nossa economia. Ao contrário da mídia, os governos de vários países estão incentivando as pessoas a comprarem. Dessa maneira a economia se vê aquecida e o comércio se fortalece e afasta o risco de recessão.

Fatores negativos como demissões infelizmente têm ocorrido principalmente nas empresas multinacionais. Isso acontece justamente por elas atuarem em vários países e por trabalharem com produtos de exportação. A Vale foi um exemplo disso. A empresa anunciou a demissão de 1.300 funcionários, sendo 20% em Minas Gerais. Entre as siderúrgicas, a ArcerlorMittal anunciou que pretende demitir até 9.000 empregados no mundo. A LG demite 500 funcionários na unidade de Taubaté. E por aí vai.

Voltando para o nosso mercado interno, mais especificamente para a economia de Oliveira, o anúncio da possível vinda da Kromberg & Shubert, empresa alemã que aqui instalada geraria 900 empregos diretos, podendo a chegar dois mil em um ano de funcionamento, reacendeu a auto-estima do oliveirense. Caso o prefeito Ronaldo Resende consiga realizar essa façanha, vai reavivar a velha máxima que diz que “é na crise que se cresce”.

Texto: Luciano Soares

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

História e tradição oral

Há cerca de quase quatro anos, dei início a um projeto chamado História Oral. Usando como instrumentos uma câmera de vídeo e um microfone, realizei uma série de entrevistas com pessoas que viveram o cotidiano da cidade em várias épocas. De lá para cá, venho colhendo depoimentos de personagens, dos mais anônimos aos mais importantes atores sociais desse município.

No início fiz uma lista de mais de 15 pessoas, que considerava ter muito que contar sobre a nossa história. Dessas quinze, já consegui entrevistar sete, uma das quais, inclusive, veio a falecer três meses depois de me conceder a entrevista. A lista de possíveis entrevistados cresceu, e agora procuro encontrar tempo para concluir a primeira parte do projeto, já que a história não pára.

O mais importante dessa iniciativa é o fato de se poder descobrir a história a partir de depoimentos das próprias testemunhas oculares dela. São fatos do cotidiano que nos transmitem, a partir da tradição oral, todo um contexto social, político e comportamental de uma época, que certamente não está nos livros. São as histórias não catalogadas da nossa história. Tenho, inclusive, alguns depoimentos de pessoas que se opõem às próprias versões oficiais de certos fatos, narrados nos livros que trazem a história de Oliveira.

Além disso, a nossa história está catalogada em livros até a década de cinqüenta. De lá para cá não se existem pesquisas, exceto nos acervos de jornais e arquivos públicos, que tragam à luz registros de fatos que marcaram os últimos sessenta anos vividos por esta cidade. E é aí que esse material ganha um peso importante no que diz respeito ao conteúdo dessa história recente.

O projeto começou como uma simples brincadeira, quando no dia 14 de março de 2005 eu e um amigo resolvemos gravar uma entrevista com o senhor Nelson Leite. Sempre conversávamos com ele e ouvíamos coisas interessantíssimas. Um dia, fomos até a sua casa com uma câmera e gravamos uma entrevista sem saber ao certo o que fazeríamos com aquele material. Depois tive a idéia de gravar com várias pessoas e editar um vídeo com as partes mais interessantes de cada entrevista. Meses depois, conversando com o então Secretário de Cultura, descobri que na sua Secretaria tinha um projeto parecido. Daí uni os dois, e nasceu o Projeto História Oral.

A história é uma coisa que sempre me atraiu. Apesar disso, não gosto de saudosismos, até porque, tenho que construí-la, mudá-la, e talvez quem sabe, ser parte dela um dia. Mas creio que com a bagagem do passado consegue-se construir o futuro com mais sapiência.

Um dia desses, assistindo um filme chamado “Narradores de Javé”, e a partir dele consegui sentir importância da história e da tradição oral. A produção pode ser resumida com a seguinte sinopse: Javé é um pequeno vilarejo que estava prestes a ser inundado por causa de um projeto de uma usina hidrelétrica. Diante da infausta notícia, a comunidade decide ir em defesa de sua existência. Para isso, decidem escrever um dossiê que documente o que consideram ser os "grandes" e "nobres" acontecimentos da história do povoado para assim justificar a sua preservação. Se até hoje ninguém preocupou-se em escrever a verdadeira história de Javé, tal tarefa deverá agora ser executada pelos próprios habitantes. É designado o nome de Antônio Biá, personagem anárquico, de caráter duvidoso, porém o único no povoado que sabe escrever fluentemente. Apesar de polêmico, ele terá a permissão de todos para ouvir e registrar os relatos mais importantes que formarão a trama histórica do vilarejo.

A partir da tradição oral, os cidadãos de Javé escreveram a própria história e graças a ela salvaram o velho e pequeno vilarejo.

Texto: Luciano Soares

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Tom Zé xinga Caetano Veloso durante show em São Paulo

O músico baiano Tom Zé rebateu com um xingamento um elogio ao CD "Estudando a Bossa - Nordeste Plaza" feito por Caetano Veloso. "Caetaaaanooo, vai tomar no...", disse Tom Zé no domingo, 23, durante show no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, informa a coluna de Monica Bergamo, publicada pela Folha de SP.

Segundo a coluna, o músico anda falando mal de Caetano Veloso até em seu blog depois que ele o elogiou. "Não, Caetano (...) eu não posso aceitar agora o seu colo e do grupo baiano, que durante todos esses anos me separaram até do que era meu, enquanto gozavam todo o prestígio e privilégios, talvez como ninguém mais neste país analfabeto."

Fonte: Folha on Line.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Um New York Times que todos queriam ler

No início da manhã de quarta-feira (12/11), foi distribuída nas ruas de Nova York uma edição falsa do New York Times, com a chamativa manchete "Termina guerra no Iraque". Os exemplares, bastantes parecidos com o jornalão original, traziam a data de 4 de julho de 2009 e tinham outros títulos fictícios, como "Ex-secretário se desculpa por susto das armas de destruição em massa" e George W. Bush é condenado por crimes de guerra.” Além do jornal impresso, também foi criado um site com as falsas notícias.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sim, é possível

A eleição para presidente dos Estados Unidos deste ano entrou para a história, não apenas pela vitória de Barack Obama, um nome pedido pelo mundo inteiro, mas pelo valor simbólico que ela representa. Se ele será capaz de mudar os rumos da política e da economia americanas, conduzida até aqui por caminhos tortuosos, isto é outra história. O simples fato da eleição de Obama já é uma revolução no enraizado conceito cultural da América, que se nega a abandonar o velho e ultrapassado “modo de vida americano”.

O jargão usado pela campanha de Obama, marcado pela afirmação: “Sim, Nós podemos”, foi o mesmo usado por Martin Luther King, há 40 anos, na sua famosa luta pelos direitos civis dos negros. E é nele, acredito, que está descrita toda a simbologia deste fato de relevante valor cultural e histórico. O que pode ser ilustrado também pelo celebrado voto daquela senhora de 106 anos de idade, que tempos atrás não tinha direito ao voto por ser mulher e “negra”, e que hoje foi às urnas para eleger um presidente que lhe assemelha na cor e na origem.

Os fatores simbólicos que dão peso à vitória de Obama podem ser explicados nas seguintes indagações: É possível o país, considerado um dos mais racistas do mundo, eleger um presidente negro? É possível uma nação capitalista eleger um candidato com tendências socialistas? É possível que um povo tido como tradicional e conservador, eleger um presidente de origem negra e com idéias inovadoras, como pôr fim às guerras do Iraque e Afeganistão, dialogar com Cuba e Venezuela e diminuir a emissão de gás carbônico? Sim, é possível. Foi isso o que mostrou o resultado das urnas, que não só deu a vitória ao democrata, mas também uma esmagadora maioria a seu favor no parlamento.

Os resultados das eleições americanas suscitaram um sopro de esperança no planeta, tanto do ponto de vista econômico, como também político e ambiental. Depois de dois mandatos catastróficos de um presidente conservador, prepotente e inculto, que só fez aumentar o anti-americanismo no mundo, eis que há uma chance para novas propostas. O povo americano, dessa vez, apostou na possibilidade da mudança.

Mas nem tudo serão flores para o novo presidente, fora o clima de otimismo que tomou conta do mundo inteiro por causa da sua eleição, Barack Obama herdará a nação mais poderosa do mundo com uma economia em ruínas, com uma divida interna gigantesca e em meio a duas guerras. Um desafio e tanto e um terreno vasto para quem quer fazer uma revolução de verdade num país que lhe deu crédito para isso.

Surpreendentemente o escritor brasileiro Monteiro Lobato parecia prever isso, quando em 1926 lançou o livro O Presidente Negro, uma obra de ficção cujo roteiro percorre a história a partir de uma máquina do tempo criada por um dos seus personagens. Por meio dela descobriu-se que no ano de 2228 ocorreria a campanha para eleger o 88º Presidente dos Estados Unidos. Nela disputavam entre si um candidato branco e uma candidata do sexo feminino. Como os afro-descendentes eram maioria no montante da população, ambos os candidatos esperavam contar com o apoio do líder negro Jim Roy – Algo como um Luther King dos anos 2228. - É chegado o dia das eleições e o negros, numa atitude surpreendente, votaram, não nos dois candidatos, mas em seu próprio líder.

A vida imita a arte. Esse fato foi lembrado pelo escritor Roberto Pompeu de Toledo em matéria publicada na revista Piauí, de outubro. O livro, apesar de apresentar idéias racistas, defendendo, inclusive, a eugenia, algo que, de certa forma, representava o pensamento do seu autor, mostra a visão futurista e profética de Monteiro Lobato.

Embora estejamos atravessando um dos momentos mais difíceis da economia mundial, as esperanças de mudanças dão novo fôlego na luta por dias melhores, ainda mais quando essas escolhas foram feitas pelo povo. Querer mudar já é meio caminho andado para que a mudança realmente ocorra. O êxito dela vai depender da qualidade dessas escolhas, e é nisso que a comunidade mundial tem apostado.

Texto: Luciano Soares

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Qualidades do ser


Ser bom é um desafio.

A maldade é um convite.

Ser livre é uma conquista.
O acomodado é prisioneiro de si.

Ser racional é uma chatice.
A paixão é um êxtase.


Ser inteligente é uma atitude.
A burrice é uma passividade.


Ser viril é ter massa cinzenta.
Impotente é o que se fortalece em músculos, mas não pensa.

Ser bobo é ter senso de humor.
A sisudez é a incapacidade de externar a própria bobeira.

Ser palhaço é usar a inteligência para ficar idiota.
Idiota é o burro metido a inteligente.

Ser humilde é um predicado surreal.
Para ser simples basta ser real.

Ser egocêntrico é saber descrever as próprias qualidades.
O contrário disso não está na gente.


Ser flexível é saber mudar de opinião e reconhecer o erro
.
Errado é não defender a sua retórica se ela é verdadeira.

Ser passivo é uma covardia.
A atitude malfadada ainda é melhor que a inércia.

Ser pacífico é praticar a paz todo dia.
O covarde é aquele que se renuncia a isso.


Ser democrático é aceitar a opinião alheia
Ainda que você não concorde com ela.

Ser honesto é ser normal.
Desonesto é o normal dentro do sistema.


Ser otimista é ter a coragem dos inconseqüentes.
O pessimista carrega o temor dos precavidos.

Ser sonhador é uma dádiva.
Realizar o sonho é uma revolução.

Ser trabalhador é servir ao ofício.
Servir ao sistema é escravidão.

Ser batalhador é uma qualidade.
Lutar por aquilo que acredita é louvável.

Ser autêntico é dizer o que pensa.
Fazer o que diz é um ato de coragem.

Ser altruísta é nobre.

O individualista tem o espírito pobre.

Ser forte é levar um tapa sem revidar.
Fraco é o que não sabe perdoar.

Ser feliz é ser capaz de buscar a felicidade.
Encontra-la é apenas um fugaz estado de espírito.


Ser humano é ter espírito, corpo e mente.
É saber viver com bicho, planta e gente.

Texto: Luciano Soares

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A queda do muro do liberalismo


Numa alusão à queda do muro de Berlim, em que se pôs fim, simbolicamente, ao comunismo, falemos agora sobre a queda do muro do liberalismo, que começa a vir a baixo, impulsionado pela crise econômica mundial. (Acima, ilustração de capa da revista "A Classe Operária", ed. 302 de set./2007)

Nos Estados Unidos, país incubador das crises de 1929 e 2008, o governo tomou medidas que vão na contramão do liberalismo, ou do neo-liberalismo, implantado no Brasil pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Lá, bancos privados começam a ser estatizados ou têm parte das suas ações compradas pelo governo. E isso, por conseqüência, tem ocorrido na Europa também. É a forma que os Chefes de Estado encontraram para assumir a direção da nau, num momento em que gestores irresponsáveis quase a afundaram.

Alguns analistas já classificam a atual crise mundial como o colapso do capitalismo. Há os otimistas que a vêem como uma grande lição para que os erros não venham a ocorrer novamente. O problema é que será um para-casa difícil de resolver. Os Estados Unidos acabaram colocando o mundo refém de uma situação sem precedentes na história. A paranóia dos bancos americanos em liberar créditos em situação de alto risco, sem medir as conseqüências disso para o futuro, acabou resultando na presente conjuntura macroeconômica.

De uns anos para cá, o crédito passou a ser um grande produto do capitalismo. Com a boa situação econômica nos países ricos e nos emergentes, como o Brasil, emprestar dinheiro a juros, ou financiar casas e automóveis, passou a ser um grande negócio. Mas no mercado de capitais a desconfiança é a grande ciência dos investidores. O problema é que o mundo virou refém de uma monocultura, ou seja, do capital, de forma que ele virou o sustentáculo da economia mundial, mais até que comódites como o café e petróleo. Essa condição levou vários países a atravessar, inclusive, uma grave crise de alimentos. Por quê? Porque os produtores vão investir naquilo que lhe trouxer uma melhor compensação.

No capitalismo o que manda é o lucro. Onde estiver dando mais, o produtor ou o investidor vai colocar o seu dinheiro. As conseqüências disso são uma incógnita. Os culpados de um possível colapso não terão nome, nem rosto.

A não intervenção do Estado no mercado, como reza a cartilha do liberalismo, deixa surgir uma face meio troglodita a partir da reflexão de que, no capitalismo só sobrevivem os mais fortes. E esse Golias da economia delimita seu território e impõe regras. É a velha história de os grandes engolirem os pequenos e se tornarem maiores do que são. Tudo isso vai criando um cenário coorporativo de proporção planetária. As provas disso estão no fato de uma meia dúzia de bancos privados quebrarem por causa da crise e derrubarem as principais bolsas de valores do mundo.

Por que isso acontece? Porque os investidores só colocam o seu capital onde houver a garantia de lucro. A qualquer sintoma de prejuízo, lá vão eles tirarem seu dinheiro dos fundos de investimentos e guardarem debaixo do colchão. Mas o mal maior não é necessariamente o dinheiro deles, porque o problema da economia mundial não é de liquidez e sim de falta crédito, o fato é que, com o clima de desconfiança o crédito fica mais difícil, os juros começam a subir e o dólar também. Com a falta de crédito, empresas param de investir, cai a produção e demite-se funcionários. E isso quer dizer: recessão e baixo crescimento.

Essa situação põe em cheque a própria política cega do liberalismo, lógica que se opõe ao comunismo. Não julgo ideal a política liberalista do façam o que quiserem e salvem-se quem puder. O Estado Democrático deve sempre prevalecer, e que ele seja regido por uma política, de certa forma, paternalista, em relação ao ser humano. De que adianta alguém estar lucrando milhões se outrem morre de fome? Que benefício terá o homem e a sociedade se as bolsas estão batendo recordes de altas. É necessário ser pragmático no que diz respeito aos efeitos disso na qualidade de vida das pessoas. E é aí que entra o Estado, na minha concepção de economia pró-social.

Infelizmente a obsessão e o egoísmo são inerentes do ser humano e, nesse caso, o individualismo sempre fala mais alto. Esse é um sentimento que se satisfaz dentro de um prostíbulo chamado liberalismo, onde o capitalismo é a prostituta, o dinheiro é a genitália, e o lucro é um orgasmo.

Luciano Soares

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Cinco anos depois

Em sete de setembro de 2003 publiquei na Gazeta de Minas o meu primeiro artigo. Assim, portanto, na última edição, completei cinco anos como cronista e articulista do jornal. Parece que foi ontem que apresentei ao João um projeto, metido a inovador, chamado Gazeteen. O primeiro número saiu no dia 7 de setembro de 2003.

Era um caderno de oito páginas que tinha como alvo principal o público jovem. O suplemento, quinzenal, era encartado dentro do jornal, num formato duas vezes menor que a Gazeta. Na época, escrevia o editorial e uma coluna, assinada por um personagem criado por mim, denominado Zé Cri-Crítico. Dois anos depois fui convidado pelo editor para assumir, semanalmente, uma coluna de opinião na própria Gazeta de Minas. De lá para cá não parei mais de escrever.

Já como estudante de jornalismo, encarei esse desafio sem saber direito a responsabilidade que me era atribuída naquele momento. Quando me sentei à frente do computador para digitar as primeiras palavras, não tinha a exata noção das conseqüências e efeitos que poderiam surtir a partir do meu texto. É claro que não estava compondo algo que levasse à revoluções sociais. Não tinha, nem tenho a pretensão de conceber obras do tipo “On The Road” ou “O Manifesto Comunista”, mas, de qualquer maneira, estava escrevendo para milhares de pessoas.

Confesso que não tinha, naquela época, muita noção do poder que as palavras têm. Só consegui medir isso quando o feed back começou a ocorrer, ou seja, quando recebia cartas e e-mails de leitores ou quando era abordado por pessoas nas ruas para comentarem os meus artigos. Aí sim comecei a sentir a responsabilidade que recai sobre o articulista. Ele, sem sombra de dúvidas, é um formador de opinião. As suas idéias servem de referência para a consciência de muitas pessoas acerca de várias coisas.

Durante esse tempo, fui bastante incisivo ao defender os meus pontos de vista, mas nem assim deixar de respeitar as opiniões que diferem às minhas. Não concordar é uma coisa, respeitar é outra. Sempre defendi que em um texto informativo deve haver total isenção por parte do jornalista, mas no texto opinativo o autor tem que ser parcial, tem que colocar as suas opiniões, e ter bons argumentos para defendê-las. Não existe jornalista imparcial, existe jornalista isento.

Na minha coluna nunca deixei de apresentar minhas opiniões, mesmo que nelas estivessem intrínsecos o meu sentimento e o meu ideário social e político. Defender a sua verdade é uma coisa, ser panfletário é outra completamente diferente. Sei que tenho uma grande arma nas mãos e a usarei, sempre que possível, contra injustiças e hipocrisias.

Queria ter o poder de mover multidões, de desencadear grandes movimentos, mudar o mundo com as minhas palavras. Queria ser um Ghandi ou um Luther King, mas sei que não vou entrar para a história como eles. No entanto, ainda assim, procuro dar a minha pequena contribuição. È claro que essa proporção esta para um beija-flor que leva água no bico para apagar um incêndio na floresta, minimamente faço a minha parte.

Hoje já com certa experiência, procuro fazer as coisas com mais cautela, mas sem deixar de ser combativo. Nesses cinco anos procurei não me acovardar ante os fatos, nem me deixei levar pela paixão, fazendo afirmações inconseqüentes. Sempre tomo o cuidado de conferir tudo o que escrevo, e de comprovar certos dados, a partir de várias fontes. Responsabilidade e ética é um dever moral e profissional do autor, e, acima de tudo, é uma forma de respeito pelo leitor.

Hoje, cinco anos depois, já perdi as contas de quantos textos escrevi. Já discorri as minhas redações abordando os mais variados assuntos, mas o melhor de tudo é que, além de ter recebido essa tribuna para falar em nome da minha gente, sempre escrevi com total liberdade. Nunca recebi nenhum tipo de censura por parte do editor, mesmo que as minhas farpas prejudicassem o interesse comercial do jornal. Hoje só tenho a agradecer por ter esse espaço, e saúdo ao meu leitor afirmando que, não sou o dono da verdade, mas me norteio sempre por ideais de liberdade, igualdade e justiça.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Como musgo na pedra

Em Oliveira, cultura brota como musgo na pedra. È impressionante a vocação cultural dessa terra e a produção artística quase ininterrupta, mesmo com pouco ou quase nenhum incentivo a isso. Por aqui, quase não se usa os mecanismos de incentivo à cultura, disponibilizados, tanto em nível estadual, quanto federal. No município não há nenhuma forma de mecenato real, ou lei, que permitam a renúncia fiscal por parte do poder público, de forma que esse recurso possa ser aplicado em projetos culturais, em parceria com a iniciativa privada. No Brasil nunca se liberou tanto recurso do orçamento federal para a pasta da cultura. Só no estado de Minas Gerais, em 2007, foram aplicados 140 milhões de reais e do governo federal quase um bilhão, para projetos culturais. É um segmento que tem crescido muito e, do ponto de vista econômico, tem se tornado um forte aliado no desenvolvimento desse país. Sem falar na qualidade de vida, na educação, segurança e conhecimento, que ela proporciona às pessoas.

Nesses últimos dois meses tivemos gratas notícias acerca da arte que brota “como el musguito en la piedra”. No início do mês de julho esse jornal publicou uma matéria sobre o lançamento do quinto disco da experiente e consagrada cantora, Titane. Algum tempo depois o jovem e talentoso músico oliveirense, Saul Flôres, lança seu primeiro CD. Também em julho desse ano a Gazeta publica matéria sobre o lança mento do livro de estréia do jovem Fabrício Souza. E nessa edição publica a cobertura do lançamento do quarto livro de um escritor de 87 anos. Vê-se aí que há uma renovação continuada da arte local e, independente disso, os veteranos artistas continuam produzindo. Como escreveu o poeta: “E vai brotando, brotando...
Como o musguinho na pedra. Como o musguinho na pedra, há sim, sim, sim.”

Sobre o livro recentemente lançado pelo escritor Nelson Leite, ou pelo amigo Tinelson, creio que ele nos faz refletir, não apenas sobre a obra que nele está constada, porque suas crônicas, de certa forma, cumpriram individualmente o seu papel ao serem publicadas na Gazeta de Minas. Reunidas no “Canto do Cisne”, elas se transformam numa pequena bomba contra a hipocrisia, a sisudez e o mau humor. Mas, acima de tudo, esse livro nos faz pensar no papel do autor. Na responsabilidade que recai sobre o articulista ou cronista quando, na frente dele, é aberta a lauda vazia, e sobre ela é atribuída ao escritor a função de botar o dedo na ferida do sistema, do status quo...

Como colega de Nelson Leite nessa árdua missão de escrever acerca do cotidiano, das glórias e vicissitudes que recaem sobre essa brava gente brasileira, sei o que este livro representa. Posso afirmar que ele é o retrato da nossa história, contada por meio de recortes do dia-a-dia, feitos a partir da ótica de alguém que concebe uma visão extremamente crítica. Um olhar que posterga a própria capacidade física de apenas ver. Ele bebe a mais fútil realidade e depois nos conta em detalhes extraordinários. E é isso o que deve cantar por esse mundo afora o cisne que o nosso velho poeta resolveu criar no fundo do quintal da sua sapiência.

Espera-se, porém, que a partir de aqui a lenda seja quebrada. Que o “Canto” desse cisne não seja o derradeiro. Que esse Matusalém das alterosas continue errando pelas nossas ruas, galanteando as mulheres, caçoando dos que não bebem e se sentando ao lado daqueles que o fazem. E é ali, nos lugares mais simplórios, onde a vaidade não é convidada a entrar, que iremos encontrá-lo. No reduto dos sábios. Ele gosta de afirmar que o dinheiro, definitivamente, não gosta dele. Mas você, Nelson Leite, “é” mais do que “tem”. O seu “ser” certamente ficará na história. E se materialmente algo tivesse, isso se esvairia como se esvaem as coisas fúteis. Você será eterno enquanto dure a sua obra.

O Canto do Cisne não é uma constatação, mas a confirmação de que, como ele mesmo diz: “Não se conta a idade dos homens pela seqüência dos anos, mas pela vibração do espírito”.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

VIVA EVO

Morales obteve 60 por cento de apoio dos eleitores bolivianos no referendo de domingo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Sinais de amadurecimento político

O debate entre os candidatos a prefeito de Oliveira, ocorrido no último sábado, mostrou uma outra cara da política local. Um rosto menos sisudo, menos maquiado. Viu-se ali um amadurecimento do político oliveirense. Um debate de alto nível com exposição de idéias, comunhão e divergências de opinião, perguntas inteligentes e respostas pertinentes. Há que se destacar também a organização do evento, que pode conduzir as discussões com igualdade para todos os candidatos, com a ajuda de um conselho editorial quase isento, que muito contribui para o desfecho brilhante da iniciativa. A nossa democracia, o nosso direito à informação e a livre exposição de idéias, saíram dali mais fortalecidos.

Tudo isso é o que se espera para o pleito municipal de 2008. As campanhas políticas em Oliveira ainda demonstram sinais de amadorismo. Não se contrata assessorias de marketing, de comunicação, administrativa ou jurídica. Não se vê aquele profissional pago para desenvolver um trabalho sobre a imagem e a linha política do candidato. O que se tem normalmente é um grupo de voluntários que se envolvem gratuitamente na campanha a troco de um cargo de confiança caso o seu candidato vença. No entanto, não vejo aí tanto prejuízo na qualidade da campanha, mas espera-se deles uma campanha com menos ataques e mais exposições de idéias, com menos blá blá blá e mais planos de governo, de preferência autenticados em cartório.

As novas leis eleitorais dificultaram o trabalho dos marketeiros de política, mas por outro lado obriga os candidatos a desenvolverem campanhas mais limpas, sem uso de recursos como shows e distribuição de brindes e gratificações, como que se fosse uma troca mascarada de produtos por voto. Mas ainda falta endurecer para cima dos políticos e de seus cabos eleitorais. Infelizmente a compra de votos é uma realidade muito presente em Oliveira. É triste imaginar isso, mas é a mais pura verdade. É uma desonra para quem vende, mas muito mais vergonhoso para quem compra, porque este demonstra a sua corrupção antes mesmo de assumir o cargo que pleiteia. Esse tipo de político é sujo e sem caráter. Ele explora a miséria, não só financeira, mas principalmente, cultural, das classes menos privilegiadas.

Tudo isso só faz mostrar que cada vez mais é necessário investir na educação, no esporte e na cultura. A educação instrui, o esporte livra o jovem da vulnerabilidade e a cultura liberta e expandi o pensamento. Se quisermos um futuro mais humano, mais justo, é necessário desbravar esses caminhos e convidar as pessoas a segui-lo. De qualquer forma, enquanto esse futuro não chega, é preciso identificar e punir os que praticam essa covardia, aqueles não têm capacidade de vencer no voto e compra a sua vitória com o dinheiro sujo que enxovalha a política e seus homens.

Por falar em sujeira, conclamo a toda a população a observar quem são os candidatos que andam sujando a cidade. Se houver um monte daqueles papeizinhos espalhados pelo chão, vamos fazer questão de catar e ver que é o “santinho” que está aparecendo ali na foto, aí vamos eliminando: Sujou as ruas, não tem meu voto! É muito mais cordial e econômico entregar o material de campanha de mão em mão.

De qualquer forma creio que a situação já foi pior. Pelo menos agora já não temos, pelo menos aqui, aqueles currais eleitorais comandados por uns coroneisinhos incultos cheirando a bosta de vaca impondo o voto de cabresto. E se voltarmos mais no tempo, o simples fato de termos construído uma democracia e conquistado o direito de escolhermos os nossos representantes já é um grande passo rumo a uma cidade mais justa e digna.

De qualquer forma vamos abrir o olho. Nada de comprar votos e nada de sujar a cidade.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Encontrando a paz na terra de Milho Verde


A relação entre homem e terra existe desde que o homem é homem e que terra é terra. Esse amor aumenta quando nossos antepassados, meio homem, meio macaco, com a terra teve contato. Plantou semente, choveu chuva, virou terra um charco. Colheu-se mandioca, beterraba, jenipapo... Jujuba, couve-flor, abóbora madura. Criou-se, então, a agricultura.
Revolver a terra, tirar dela o barro, construir moradia, colher o alimento de todo dia. Dos serviços mais básicos e certos à inspiração do poeta que cria e lhe remete versos, tudo nos é dado pela terra. Dos quatro, ela é o primeiro elemento, seguido da água que é rio, do fogo que é calor e do ar que é vento. Terra é montanha, é firmamento, é planeta. Terra molhada é boa, terra sem chuva é seca. Terra é mãe, é avó. Terra é chão, é pó. Pó que viemos e ao qual voltaremos.
Mas de repente tudo mudou na cabeça da gente. Namoro do homem com a terra acabou. Solo macio ficou duro, escuro. Asfaltou. Charrete virou auto. Rua de terra virou asfalto. Tudo sem graça. Poesia sem rima. Minhoca por baixo, carro por cima. O verde apagou, ficou cinza. A mata ficou que é concreto só. Uma tristeza de dar dó. Prédio agora é “mato”. Gente por cima, gente por baixo... O rio ficou triste e chato. Sujeira das fábricas, esgoto dos vasos. A chuva que entrava na terra e nascia em nascente, agora enche em enchente. Mata gente. O canto do bem-te-vi já não há, é buzina daqui, sirene de lá. O ar já não dá pra respirar. Vizinhos não conhecem uns aos outros. Cisma-se com tudo, desconfia-se de todos.
Oh natureza, onde está sua cor, sua beleza, sua paz, seu sabor?
Procuro daqui e dali. Inda hei de achar. Parto em busca de ti. Devorando o horizonte cheguei ao alto daquele monte. E você lá estava linda como esperava encontrar. Pura e original. As matas em seu verde, o rio em seu caudal. Um pequeno paraíso chamado Milho Verde, cidade, vila ou arraial. Nesse lugar água se bebe na mina, fruta se come no pé, ar puro se respira, oração se reza com fé.
Cama lá é rede, rua é de terra, grama é tapete, fechadura é cancela. Lá, vizinho se conhece, conversa, versa. Tudo se resolve num dedo de prosa. Gado é no pasto, milho é na roça. Pinga é da boa, cigarro é de palha. Má notícia não se espalha. Folia de reis, moda de viola... Isso pra acabar não tem hora. O que não falta é assunto. Ali se bebe, dança e tem comida pra todo mundo. Tudo se aproveita. Da fruta e da folha faz-se uma receita. Cabaça pequena vira cumbuca, se é grande vira cuia. A pinga vai pra goela, a reza pro santo e o mau agouro prá’s cucuia. Barro vira panela, lenha vira fogo, bambu vira pinguela. Cerca é besteira, planta-se um pé de tomate, uma trepadeira... Cipó vira corda. Cavalo se monta, porco se engorda. Conta lá não se anota: Ou se tem honra pra comprar a prazo ou se tem dinheiro pra pagar com nota.
Tudo isso é lá em Milho Verde, o paraíso que flerta com o céu, e Deus responde ao flerte: Vê-se esse amor no pôr do sol, no nascer da lua. O vento brinca com os galhos, o universo se insinua... Passarinho lança voou... Moça olha na janela... Cachoeira ora é água ora é pedra. O sol pensa que é verão, as flores, que é primavera. Gerações vêm e vão, mas lá o tempo espera. É paz que não termina. Amor do homem com a terra parece enraizado, vivo como água da mina, firme como árvore de jatobá. Tudo isso se vê por lá. Quero voltar a milho verde, deitar-me na rede numa noite de luar. Rever as estrelas, aqueles olhosinhos de Deus que são mais numerosos ali que em qualquer outro lugar.
Texto e foto: Luciano Soares.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Uma história colombiana

Para nenhum Botero ou García Márquez botar defeito. O plano de libertação da ex-candidata à presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, refém das Farc durante seis anos, foi considerado perfeito do ponto de vista estratégico-militar. Para seus familiares e amigos, um alívio. Porém, olhando do prisma político, algumas perguntas começam a surgir: Porque só agora resolveram tomar a iniciativa do resgate? Por que a ex-senadora precisou sofrer durante seis anos nas mãos dos guerrilheiros, sem ter esperança de ser libertada, já que o presidente colombiano não aceitava negociar com as Farc. Durante o cativeiro, a família da ex-candidata à presidencia criticou o presidente Uribe por rejeitar as principais exigências do grupo rebelde e optar pela via militar para resolver o problema.

Em 2002, Ingrid, que tem dupla cidadania (colombiana e francesa), disputou o poder contra Uribe, e embora não estivesse bem nas pesquisas era um nome forte. Em 1998 quando concorreu ao cargo de senadora foi a candidata mais votada nas eleições daquele ano. Ao ser seqüestrada pelas Farc criou-se um mito em torno do seu nome e a sua libertação foi pedida por líderes de vários países. Essa pressão mundial principalmente sobre o governo colombiano aumentou desde que foram divulgadas imagens da ex-senadora no cativeiro com uma aparência abatida e doentia.

Em meio a esse cenário, começaram a surgir alguns personagens para a história que se seguiria: De um lado as Farc, que sempre foi uma pedra nos sapatos dos presidentes colombianos, mais ainda de Uribe, que teve o pai assassinado por elas. Esse grupo rebelde ganhou notoriedade internacional. Chegou a reunir um contingente de dez mil soldados, e criou um clima de terror na Colômbia ao adotar o seqüestro como estratégia de negociação. De outro lado aparece o nome de Ingrid Betancourt, ex-senadora seqüestrada pelo grupo guerrilheiro. E por último, Álvaro Uribe, que se elegeu presidente da Colômbia em 2002 e adotou um posicionamento político diferente da maioria dos países da América Latina, alinhando-se política e militarmente com os Estados Unidos.

Até então esses personagens não tinham entrado em conflito direto, mas eis que surge uma quarta peça: Hugo Chaves. Pressionado pela comunidade internacional Álvaro Uribe autoriza o presidente da Venezuela a negociar com as Farc. Chaves consegue a libertação de três reféns, entre eles, da ex-assessora de Ingrid Betancourt, Clara Rojas. O presidente venezuelano, crítico ferrenho dos EUA, saiu com o moral alto na história, e a possível libertação de outros reféns, de Ingrid inclusive, seria só uma questão de tempo.

Caso isso ocorresse pelas mãos de Chaves, o presidente colombiano teria dois problemas: O primeiro deles seria pelo fato de o seu governo sair desmoralizado por não ter conseguido resolver um problema interno, e o segundo se faria a partir da libertação de Ingrid, que sairia como heroína e forte candidata a presidência da Colômbia. Isso certamente frustraria os planos de um terceiro mandato de Uribe. Era preciso, portanto, mudar essa situação. Isso implicaria em tirar Chaves da jogada, libertar Ingrid de alguma forma e receber os louros pelo êxito da missão.

A partir daí os EUA entraram no jogo e uma série de iniciativas foi tomada, entre elas a invasão do espaço aéreo equatoriano, o bombardeio de um acampamento das Farc impossibilidades novas negociações, e a ventilação de uma notícia de que no computador de um líder guerrilheiro teria informações sobre a ligação do presidente venezuelano com os rebeldes. Isso foi suficiente para tirar Chaves da jogada. Cumprida a primeira parte do plano era hora de bolar uma operação de resgate. Melhor manter o sigilo sobre ela, caso alguma coisa desse errado Chaves se fortaleceria novamente.

Mas o plano saiu perfeito, Ingrid foi resgatada de forma espetacular e Uribe foi aplaudido e elogiado pela comunidade internacional. Fala-se num terceiro mandato e seu nome subiu consideravelmente nas pesquisas de intenção de voto. Ingrid saiu traumatizada e fazendo campanha, não por sua possível candidatura, mas pela libertação dos outros reféns, Chaves ficou apagado e as Farc fragilizadas e desmoralizadas.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Discagem Direta Interestelar



Triiiiim!!!!!!!

- Alô...

- Fala Luciano, aqui é o Raul.

_Qual Raul?

_ Raul Seixas, porra.

- Oi Raul, como vão as coisas aí em cima?

- Agora estão boas, mas demorei anos para limpar a minha barra.

_ Como foi?

_ Ce sabe né cara, a minha fama chegou por aqui. Depois andei fazendo umas musiquinhas politicamente corretas e acabei agradando a turma. Virei o cantor oficial do paraíso.

- Que legal!

- Me mandaram escolher entre o céu e o inferno. Pô cara, de quente, basta o sol de Salvador.

- E o “Rock do Diabo”?

- Psiu! Fala baixo. Meu filme não anda bom por aqui.

- O que aconteceu?

- Pô, cismei de ir trabalhar com São Pedro. Ele me ensinou os mecanismos todos de controle das chuvas. Um dia o Pedrão saiu para uma reunião com a cúpula do céu e me deixou no comando. Pensei: É hoje que eu pago uma dívida com Padi Cisso, vai chover no nordeste.

Cara, errei nos cálculos e a água foi toda para o Rio Grande do Norte. Um mês de enchente. Agora estão São Pedro e Padi Cisso de cara virada pra mim.

E aí na terra, que é que ta pegando?

- Tá complicado. Os preços dos alimentos estão batendo recorde. A produção mundial diminuiu muito este ano. Houve uma reunião na ONU para resolver o problema. O engraçado é que na África estão passando fome há muito tempo e nunca se preocuparam assim. Já viu né. Agora tão jogando a culpa no etanol brasileiro. Lembra quando você denunciou que os carros a álcool estavam provocando falta de cachaça nos botecos? Agora falta comida também.

E quando você disse que a solução para o Brasil era alugá-lo aos estrangeiros. Que o país tinha vista para o mar, que tinha a Amazônia como jardim do quintal, e que o dólar deles pagaria o nosso mingau. Sei que foi um recado seu para os ditadores militares, mas agora cumpadi, estão é tomando posse do nosso belo jardim. Os estranjas se instalaram lá dizendo que são ONG’s e que querem proteger a floresta.

Por falar em militar, escutei hoje aquela música que você cantou com o Marcelo Nova que diz: “Se já não existe inteligência então vamos bater continência”. O Exército Brasileiro prendeu uma dupla de sargentos, que se declararam gays, baseado num código de conduta da época da ditadura. O movimento gay tem ganhado muita força por aqui, reúne todos os anos cerca de cinco milhões de pessoas na chamada Parada Gay de São Paulo. Acho bacanas esses movimentos de libertação cultural, mas não vi ninguém daqueles cinco milhões prestar solidariedade aos sargentos detidos. Só oba oba não dá né.

Bem, por falar em movimento cultural, a sua velha Bahia do Rock n’ Roll e da Tropicália se rendeu ao Axé. Foi bunda para tudo quanto é lado, mas agora ta perdendo espaço para o funk carioca e as bundas agora são do tipo melancia. É, o Rio da “Bosta Nova”, como dizia você, agora escuta e dança o Créu. Não me pergunte o que é isso porque eu não sei explicar. Por falar em “Bosta Nova”, a Bossa Nova completou 40 anos. Ta rolando muitas homenagens, mas o seu conterrâneo João Gilberto não deu as caras ainda. A última vez que apareceu foi vaiado num show em São Paulo ao lado do Caetano Veloso. Por falar nele, o Caê essa semana mijou perna abaixo. O cara fez uma música superbacana que critica as torturas contra prisioneiros na base americana de Guatânamo. De repente voltou atrás e pediu desculpas aos norte-americanos. Talvez é o medo de ser vaiado por lá também. Falando em EUA, agora eles têm um presidente que acha que é Napoleão, cismou de querer dominar o mundo.

E o seu ex-parceiro Paulo Coelho... Ta vendendo livro igual água. Depois de muito pelejar conseguiu entrar para a Academia. Desconfio de que aquela cadeira foi comprada. Outro dia o vi dizer que sabe fazer chover e ventar. O pior é que um monte de gente acreditou. Imaginei a sua risada se tivesse ouvido isso.

Por aqui o censo comum prevalece, a mídia anda enchendo a cabeça das pessoas de merda. Mas vamos levando. E você, pensa em aparecer por aqui um dia?

-Deus me livre! Esse mundo ficou pequeno pra mim. Agora vou ensaiar a minha mais nova música: o “Rock de Deus”. Amanhã tem festa no céu.

_ Pô cara, que legal! Boa sorte.

- Valeu. Até, então.

– Até...


Luciano Soares

sexta-feira, 30 de maio de 2008

No rumo do crescimento


As últimas notícias sobre a economia brasileira deixaram empolgados até os analistas mais pessimistas. A primeira delas foi o anúncio do governo de que pela primeira vez na história o Brasil deixou de ser devedor e passou a ser credor externo. A segunda diz que agência americana de classificação de crédito Standard & Poor’s elevou a nota brasileira à categoria de investment grade, ou "grau de investimento". E nesta quinta-feira, 29 de junho, a agência de classificação de risco Fitch Ratings também elevou o rating do Brasil para grau de investimento. Duas das três agências internacionais já deram crédito ao Brasil. O mercado agora espera a elevação da nota pela agência Moody's, que seria a última entre as três principais empresas de classificação de risco do mundo a elevar o rating do Brasil. Tudo isto quer dizer que o Brasil, segundo a S&P e a Fitch Ratings, é um país confiável e, portanto, não oferece riscos aos investimentos.

Estamos, portanto, aptos a crescer. O crescimento no âmbito macroeconômico não depende apenas do país e da sua capacidade de gerar riquezas, depende também do grau de confiabilidade dos investidores externos. No capitalismo, a capacidade não só de pagar em dia o que deve, mas de gerar lucro, é de vital importância. A primeira notícia de certa forma pode ter influenciado a decisão da Agência Standard & Poor’s e a Fitch Ratings em dar esse crédito ao Brasil, mas é óbvio que esta confiabilidade não foi conquistada da noite para o dia. Há alguns anos o país vem cumprindo seus compromissos internacionais e, ao mesmo tempo, mostrando sinais de solidez, com inflação controlada e potencial de crescimento.

Alguns economistas acham que a notícia veio num momento difícil, pois o dólar deve despencar ainda mais e dificultar as nossas exportações. Além disso, com o fortalecimento do real as importações podem bater recordes e levar o país a um déficit comercial. Outros economistas pensam diferente e vêem grandes vantagens com relação à promoção do país ao grau de investimento. Uma das previsões é a de que o Brasil receberá recursos de logo prazo e não apenas aquele capital especulativo que tiravam proveito das nossas altas taxas de juros. Segundo a consultoria americana Watson Wyatt, os fundos de pensão estrangeiros aplicam hoje cerca de 40 bilhões de dólares no país. Esse montante deverá quintuplicar nos próximos anos, e isso deve traduzir em mais investimentos no setor produtivo, o que amplia o potencial de crescimento sustentável de longo prazo.

Com um crescimento mais acelerado, estimular-se-á a criação de empregos com uma taxa de juros que tenderá a diminuir, facilitando o financiamento da casa própria e de bens de consumo, como automóveis. No entanto, sabe-se que não apenas o aumento dos investimentos externos possibilita o crescimento econômico de um país. Uma série de outras medidas precisa ser tomada para que o país siga esse caminho. Uma delas é a desburocratização da logística empresarial. Além disso, há tempos se faz necessária uma reforma fiscal no Brasil, isso significa simplificar a cobrança tributária e diminuir impostos. O País precisa também investir no aprimoramento da infra-estrutura, logística, tecnologia, energia e educação.

É sempre bom lembrar que nós, embora estejamos no caminho, apenas alcançamos o ponto de partida. Conquistamos o direito a um lugar no trem da história e teremos que começar a construí-la agora, seguindo os trilhos da prosperidade. Ainda estamos longe de ser uma nação desenvolvida. Continuamos a ser campeões mundiais em burocracia. A desigualdade social é uma das maiores do mundo, e a qualidade do ensino fica entre as piores do planeta. Além disso, o Brasil teve em 2007 uma baixíssima Renda Per Capita de US$ 9.700, estando posicionado em 98º lugar no mundo.

Ainda assim há uma onda de otimismo em relação ao futuro econômico do país. Em 2006, um estudo elaborado pela consultoria Price Water House Coopers, chamado "O Mundo em 2050", previu que a economia brasileira será a 4ª maior do mundo naquele ano, sendo superada apenas por China, EUA e Índia.

Previsões à parte, é preciso ter a consciência de que para alcançar o topo da escada é necessário subir degrau por degrau. Se abrir demais as pernas o país poderá colocar tudo a perder como aconteceu com o Uruguai, que já esteve entre os países com grau de investimento e voltou à condição de risco. Saber conduzir política e economicamente essa potência ainda latente, que começa a dar sinais de vida, será, de agora em diante, decisivo para que realmente nos tornemos tudo aquilo que nos prevêem para o futuro.

Luciano Soares

terça-feira, 20 de maio de 2008

1968 Quarenta anos depois


O que difere o ano de 1968 de 2008? Pode-se dizer que em quase nada um se assemelha ao outro, mas do primeiro, bebe-se um grande legado. Daquela época, herdamos a liberdade de pensamento, de expressão, o direito de ir e vir, a libertação de valores “morais” demasiados ortodoxos, a conscientização acerca do preconceito racial e sexual, e talvez o item mais importante: a democracia.
Sobre o que ocorreu naquele 1968 posso descrever aqui os acontecimentos mais importantes: Começo pela legendária Tet, batalha dos Vietcongues comunistas que daria início à derrocada americana no Vietnã; foi também o ano dos assassinatos de Martin Luther King, um dos mais importantes líderes na luta pelos direitos civis para negros e mulheres, e de Robert Kennedy, um forte candidato à presidência dos EUA que se opunha à guerra do Vietnã e apoiava as causas de Luther King; 68 foi o ano da revolta dos estudantes em Paris; Da Primavera de Praga; Da radicalização da luta estudantil; Da livre experimentação de drogas; Das garotas que ousaram lançar a minissaia; Do sexo sem culpa; Da pílula anticoncepcional; Do psicodelismo; Do movimento feminista; Da defesa dos direitos dos homossexuais; Dos protestos contra a Guerra do Vietnã; Da Passeata dos Cem Mil contra a ditadura no Brasil; Da decretação do AI-5; Da tropicália e do cinema marginal brasileiro.
Pelo menos dez pesquisadores já lançaram livros com objetivos claros de tentar desvelar a mística desse ano inesquecível. Dentre essas bibliografias científicas pode-se citar algumas obras como: “1968 - O ano que abalou o mundo”, do pesquisador Mark Kurlansky; “68: Destinos, de Evandro Teixeira; “1968 O Ano que não terminou” e “1968 – O que fizemos de nós”, ambos de Zuenir Ventura.
Entre as opiniões desses autores, uma é quase unânime: A de que a luta dos jovens daquela época para promoverem uma revolução social e política no mundo não logrou êxito em curto prazo, mas foi determinante para as mudanças que ocorreriam a posteriori.
Um grande número de pessoas acredita que o mundo seria hoje muito pior se 68 não tivesse transcorrido da forma como transcorreu. E que teria surgido de lá as células de movimentos como o sindicalismo brasileiro, a campanha das “Diretas Já” e os caras-pintadas que foram às ruas para pedir o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.
O cantor americano Bob Dylan disse recentemente que 1968 foi o último ano em que todas as utopias eram permitidas e que hoje em dia “ninguém mais quer sonhar”. Creio que, nós, da atual geração, acabamos vivendo um pouco do que sonharam os jovens daquela época, ou seja, colhemos os frutos de uma semente que foi plantada há 40 anos. Dylan tem razão sobre o fim das utopias. Infelizmente o imediatismo, o individualismo e o materialismo de agora acabam por não permitir que haja cabeças em condições de sonhar.
Os sonhos de hoje são bem diferentes dos de 1968. Sonhava-se com a liberdade como um bem comum. Hoje em dia sonha-se com o carro recém lançado ou com o celular que nos permitirá assistir à TV. Nada contra, mas podemos sonhar sem viseira. Posso olhar para frente, mas quero ver o que está acontecendo do lado, ou atrás. E como disse Raul Seixas sobre o seu projeto Sociedade Alternativa, o sonho deve ocorrer de dentro para fora. Hoje em dia o sonho vem de fora para dentro, porque é pautado pela mídia. Como poderemos sonhar se nos dedicados a assistir diariamente o bonitão malhado fazer sexo com uma quase anencéfala candidata à capa da Playboy, sob o edredom da casa BBB?
Que as lutas de 68 não mais sejam necessárias, mas que os seus sonhos e as suas utopias jamais pereçam.
Luciano Soares

terça-feira, 6 de maio de 2008

História Viva


Há 120 anos foi acesa em Oliveira a chama da comunicação moderna. Centelha do jornalismo que ainda hoje tira das sombras os mais recônditos acontecimentos transformando-os em informação para saciar a sede do homem. A Gazeta de Minas é o jornal mais antigo que circula em Minas Gerais. Reportando a história desse país ela construiu a própria história e conseguiu, apesar dos pesares, cumprir o seu papel. Pesquisando a sua trajetória para contá-la em um vídeo-documentário recentemente lançado, descobri muito mais do que conceituava. Mergulhando nesse universo pretérito vi minha pequena Oliveira do século dezenove levar notícias aos imperadores desse país por meio de um semanário recém nascido chamado Gazeta de Oliveira. Daqui partia para a Corte, na época instalada na cidade do Rio de Janeiro, e municiava de informações a então capital brasileira. Foi por meio dela que muitos brasileiros tomaram conhecimento do fim a escravidão no país quando na época publicou em primeira página a matéria intitulada “Brazil Livre”, por meio da qual se deu a informação de que a Princesa Isabel assinara a Lei Áurea. Um ano depois reportava também em matéria de capa, um histórico texto sobre a proclamação da República.
De reportagem em reportagem a Gazeta ia cumprindo o seu papel na sociedade brasileira e registrando em suas páginas a história e os vultos desse país. Já no século XX, o jornal cobriu com notável profissionalismo a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. Não só reportou, mas também interveio na histórica política do Brasil quando se colocou a serviço da Aliança Liberal, que se opôs à hegemonia paulista na política brasileira. Em 1930 deixou de isentar-se jornalisticamente e se colocou ao lado dos revolucionários na polêmica Revolução de 30. Apoiou a candidatura de Getúlio Vargas à presidente e mais tarde se posicionou contra o político Gaúcho na Revolução Contitucionalista de 1932. Tempos depois anunciaria a renúncia e a morte de Vargas.
Durante os anos 60, já nas mãos da Igreja Católica, a Gazeta apoiou o Golpe que daria início à ditadura militar brasileira. O jornal entrou na paranóica luta contra o comunismo rendendo-se, junto com os católicos e a classe média brasileira, à forte propagando política americana em sua guerra fria com a Rússia. No final dos anos 80, já nas mãos de Gumercindo da Silveira, após sofrer anos de censura o jornal entra nas campanhas pelas Diretas se opondo ao regime militar pedindo liberdade ao povo e à imprensa brasileira.
Em 1987 a GM Empresa jornalística, atual detentora da marca Gazeta de Minas, compra o jornal. A partir de então a Gazeta se moderniza, tanto do ponto de vista editorial como da tecnologia da sua construção. Toda a redação é informatizada, cria-se o site oficial, o jornal ganha a sua versão on line, podendo ser acessado no mundo inteiro.
Esta é a breve história da Gazeta de Minas, cujos detalhes poderão ser vistos num vídeo-documentário de 37 minutos de duração intitulado “Gazeta de Minas, 120 Anos de Jornalismo e História”. Nele é possível perceber que nem só de glórias foi construída a história desse semanário. Após a morte do seu criador, um período de incertezas quase pôs fim a esta centenária folha. Anos mais tarde o jornal foi usado como instrumento para fins eleitoreiros, para perseguir inimigos, para a ascensão política de uns e a danificação moral de outros. Viu-se também a serviço da propagação da fé católica e do equivocado apoio a um regime que banharia esse país de sangue.
Entre glórias e vicissitudes o jornal conseguiu vencer as mais diversas conjunturas políticas, econômicas e sociais para chegar ao século XXI fortalecido e certo de que o seu legado servirá somente à história, cabendo agora aos seus redatores construir um futuro tão brilhante quanto, por meio de um presente eficiente, crítico e verdadeiro.

Luciano Soares

terça-feira, 22 de abril de 2008

A notícia como produto

O jornalista José Arbex Jr é autor do livro Shownalismo: A Notícia Como Espetáculo, uma obra publicada há alguns anos, mas que se atualiza a cada dia: “Platéia em silêncio. Por todo o circo ecoa a conhecida e hipnótica música, voltando a atenção dos presentes para o picadeiro. Sob a luz dos holofotes, entram em cena os palhaços. O público aplaude de pé. Trajando ternos impecáveis - dá até vontade de ser como eles -, os palhaços começam a descarregar na platéia milhares de informações; todas ao mesmo tempo; tudo novidade. Sem parar para processar, armazenar ou averiguar os fatos narrados em outras fontes, os "consumidores" já recebem mais notícias, e mais, e mais; não há limite. Na verdade esse show nunca termina porque a notícia nunca pára. Enquanto isso, a platéia ri sem saber o porquê.”
O jornalismo também entrou na onda do Ibope, a audiência passou a pautar as redações de jornais. Suitar virou moda – Suíte, no jornalismo, é uma matéria que dá seqüência ou continuidade a uma notícia, seja por desdobramento do fato, por conter novos detalhes ou por acompanhar um personagem - principalmente se a coisa vem dando audiência, como é o caso da menina Isabella Nardoni. Na era de Big Brother, acompanhar passo a passo os desdobramentos de um caso polêmico como esse, e da vida real, para muitos, é melhor que assistir à novela das oito.
Nas últimas semanas o telejornalismo brasileiro seguiu uma só cartilha nas suas reuniões de pauta, por ordem de “relevância” (o que se pode entender audiência) entravam: “Caso Isabelle”, “Epidemia de Dengue no Rio de Janeiro” e “Enchentes no Nordeste”. Por incrível que pareça inverteu-se a ordem do grau de relevância da informação. É claro que um caso trágico como esse, envolvendo a morte de uma menina de cinco anos, não poderia ficar de fora da pauta dos grandes jornais brasileiros, mas a notícia foi dada, levantaram-se as suspeitas e as possibilidades, agora cabe aguardar os laudo da polícia e o desfecho do caso.
Pelo menos 34 pessoas já morreram a última terça-feira no nordeste por causa das chuvas. Cerca de 390 mil pessoas foram atingidas e teme-se que a situação fique pior por causa da proliferação de doenças. No Rio de Janeiro já foram 83 mortes até agora, 51 só na capital. E tudo isso fica em segundo plano porque tem uma repórter ao vivo na porta da casa dos Nardoni para contar que uma amiga da família entrou pelo portão da frente com mantimentos e pães.
O jornalismo brasileiro passou a comunicar com uma massa alienada produzida pelas novelas e por programas de reality show. Pessoas facilmente manipuláveis e que sequer têm condições de interpretar uma notícia, e por isso mesmo a grande mídia interpreta para elas à maneira que lhes convém. O Brasil vem seguindo uma cultura globalizada ditada pelos Estados Unidos. Importamos deles programinhas enlatados para as nossas TVs e mentiras para os nossos jornais. O Tio San tem o poder de espalhar informações pelo mundo, por meio das suas agências internacionais de notícias, conforme os seus interesses políticos e econômicos.
Falando da Guerra do Golfo, por exemplo, Arbex Jr. mostra detalhadamente em seu livro como os Estados Unidos encobriram a realidade e manipularam o mundo, que passou a considerar os islâmicos como o "lado mau" do jogo. Notícias tendenciosas e até filmes que denegriam a imagem dos islâmicos foram usados para tachá-los de vilões. E assim vem acontecendo em toda a América Latina, onde as informações são quase todas pautadas pelas agências americanas. Que o digam Hugo Chaves e Evo Morales que passaram a ser atacado pela grande mídia após se oporem aos domínios estrangeiros, principalmente dos Estados Unidos.
A notícia virou produto, e o direito à informação de qualidade foi esquecido. Dentro da lógica do capitalismo produto bom é o que vende, por isso vende-se a tragédia como uma produção diária. É preciso produzir informação para esse consumidor. Produtos com “Q” de qualidade. Por exemplo: a notícia de que entraram pães e frutas na casa dos Nardoni.

Luciano Soares

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O Filho é do PT, do PSDB ou da Veja?

Eis que surge mais um filho mal quisto na cena política brasileira e não se sabe até agora quem é o pai? O filho já tem nome: Dossiê do FHC. Por enquanto a única coisa que posso afirmar é que ele foi divulgado, em primeira mão, pela revista Veja. E assim foi também com relação àquele outro, às vésperas das eleições de 2006. Certo dossiê montado pelo PSDB, que por sua vez jogou no colo do PT e disse que era um dossiê do PT contra o PSDB o que mais tarde soube-se que não era do PT, mas do PSDB, diferentemente do que a revista divulgou.
Assim como em 2006, novamente a Veja traz reportagem polêmica envolvendo o governo apresentando documentos obtidos de fontes não reveladas e sem apresentar uma única prova. Esse tipo de procedimento tem virado rotina no semanário que cada vez mais é acusada de criar factóides para incriminar A ou B.
O premiado jornalista Luís Nassif está publicando em seu blog o que ele chamou de “Dossiê Veja”: Trata-se de uma série de matérias que analisa a história da revista e os principais episódios protagonizados por ela. O trabalho é resultado de anos de pesquisa por meio do qual o jornalista faz um check-up do fenômeno denominado por ele de anti-jornalismo. Nesse dossiê o jornalista afirma: “O maior fenômeno de anti-jornalismo dos últimos anos foi o que ocorreu com a revista Veja. Gradativamente, o maior semanário brasileiro foi se transformando em um pasquim sem compromisso com o jornalismo, recorrendo a ataques desqualificadores contra quem atravessasse seu caminho, envolvendo-se em guerras comerciais e aceitando que suas páginas e sites abrigassem matérias e colunas do mais puro esgoto jornalístico”. Em entrevista a revista Caros Amigos, Nassif fala que os diretores e editores da Veja descobriram que polêmicas envolvendo personagens conhecidos faz aumentar a vendagem da revista, e mesmo que a pessoa atingida entre na justiça e ganhe o processo, compensa pagar a indenização. “Você olha e vê prepotência, falta de escrúpulos, falta de respeito...”, diz o jornalista.
Desta vez a revista alega que teve acesso a um suposto dossiê que teria sido preparado pelo governo para intimidar a oposição na CPI dos Cartões Corporativos. O suposto dossiê traz informações sobre os gastos com suprimento de fundos durante o governo Fernando Henrique. Cita gastos com caviar, champagne, viagens e outras futilidades. Dizem os críticos da revista que o real objetivo da reportagem é acusar o governo Lula de chantagista e atingir a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), já que é um dos poucos nomes fortes que sobraram no governo para a sucessão de Lula. A revista diz com todas as letras que o documento ao qual teve acesso foi “construído dentro do Palácio do Planalto”, mas não apresenta nenhuma prova ou indício para sustentar estas afirmações.
Depois de mais um fenômeno nada insólito na política brasileira, em que parlamentares do PT e PSDB disputavam cargos na CPMI que investigará irregularidades nos governos dos próprios partidos, é chegada a hora do “toma que o filho é seu”. Tucanos acusam o governo de ter criado o tal Dossiê do FHC para contrabalancear a situação dos cartões coorporativos. Petistas acusam os tucanos de novamente estarem criando um dossiê contra eles mesmo, jogando a culpa no Palácio do Planalto para ficarem na posição de vítimas e desqualificar o governo.
Resta saber de quem é esse filho e, pior, quantos ainda virão. Em ano de eleição, com essa bipolarização da questão partidária no Brasil o nível vem correndo em níveis rasteiros. Mas quanto a isso não se pode generalizar, que o diga Minas Gerais, onde PT e PSDB acabam de fechar um pacto para apoiarem um candidato a prefeito do PSB, provavelmente um secretário do Governo de Minas. Ao que parece, Aécio pretende correr por fora. Em entrevista concedida à revista Carta Capital desta semana o governador diz: “Há um sentimento que carrego comigo há muito tempo de que nós precisamos mudar o eixo da política brasileira. Essa disputa absolutamente radicalizada, com o mero objetivo de alcançar o poder, tem sido nociva ao país”.
Bem, nessa peleja do “toma que o filho é seu”, em nível nacional, Minas Gerais tem usado preservativo e não quer saber de conversa. Mesmo assim o povo quer conhecer o danado do pai. Chamem a CPMI, chamem o Ministério Público, chamem o Ratinho. Afinal de contas, de quem será esse filho: do PSDB, do PT ou da Veja? A história nos contará.

*Luciano Soares

domingo, 23 de março de 2008

Os EUA a nova empreitada na América Latina


As evidências continuam. A preocupação americana com a independência da América Latina quanto aos seus domínios é nítida. Quando Bush tirou, por alguns minutos, os olhos do Iraque e voltou-se para a South América, viu dois índios fazendo e acontecendo por aqui. Coçando a orelha, pensou: Quando os gatos saem, os ratos fazem a festa. Calma lá, vamos ver quem é que manda nesse quintal.
Daí por diante a coisa aconteceu assim:
No dia 11 de janeiro o presidente venezuelano, Hugo Chaves, consegue a libertação das reféns Clara Rojas e Consuelo González, seqüestradas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. No final do mesmo mês a Secretaria de Estado dos Estados Unidos, Condeleeza Rice, visita a Colômbia e reuni-se com autoridades militares. Entre os temas da conversa estão: o combate às Farc e a polêmica com a Venezuela. – É preciso lembrar que o governo da Colômbia possui fortes relações com os Estados Unidos e conta com um apoio bilionário em armamentos (cinco bilhões de dólares nos últimos anos).
No dia seguinte à visita de Condoleezza Rice à Bogotá, o presidente Chaves declara que os EUA e a Colômbia estavam criando um clima de guerra contra seu país.
Em 1º de março o Ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, anuncia à imprensa que uma ação conjunta do exército e da polícia matou o número 2 das Farc, Raúl Reyes. O ministro admitiu que o guerrilheiro foi morto dentro do território equatoriano, a 1.800 metros da fronteira com a Colômbia. Alegou que o ataque partiu do território colombiano, mas disse que pós o ataque militares colombianos entraram no país vizinho para recolher os corpos, garantir a segurança da área e neutralizar o inimigo. – As Farc surgiram com a guerra civil da Colômbia, que prolonga-se há 60 anos. Na época, o assassinato de Jorge Gaitán, planejado por um agente da CIA, provocou uma revolta popular, o Bogotazo, e situação se agravou depois que o governo promoveu um massacre generalizado de comunistas e outras lideranças populares. Um ano depois, o jovem Marulanda, então com 19 anos, formava seu grupo de guerrilha que hoje são as Farc, com um contingente avaliado em 17.000 guerrilheiros.
- Em 4 de março, terça-feira, o Equador acusa a Colômbia, na Organização dos Estados Americanos (OEA), de ter realizado uma "violação planejada e premeditada" de sua soberania. Disse ainda que o presidente colombiano, Álvaro Uribe, mentiu na versão que apresentou dos fatos que levaram à morte do líder guerrilheiro colombiano em território equatoriano.
Na mesma data o governo colombiano assegura ter encontrado uma carta que compromete Chávez com o financiamento de US$ 300 milhões para a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. O documento, segundo Álvaro Uribe, teria sido encontrado em um computador, achado no local em que morreu o número dois dessa guerrilha.
Em meio à crise Chaves chama o governo colombiano de “lacaio” dos Estados Unidos. O presidente equatoriano, Rafael Correa, disse que não aceitaria a violão da soberania do Equador pela Colômbia quando esta invadiu o espaço aéreo de seu país. O presidente Bush apóia a ação colombiana no Equador. Correa responde às declarações do presidente americano: "Que o senhor Bush traga seus soldados, que seus soldados morram na fronteira colombiana! Vamos ver se os cidadãos dos Estados Unidos aceitam tamanha barbaridade. Se não, cale a boca e vê se entende o que está acontecendo na América Latina", disparou.
Felizmente a crise acabou sendo resolvida pelas vias diplomáticas depois de um pedido de desculpas do presidente colombiano. Mas ficam as perguntas: Porque esse bombardeio logo agora que as libertações de reféns pelas Farc estavam em curso e as negociações vinham obtendo resultados positivos? Porque só a Colômbia destoa do pensamento político e econômico Latino Americano? Porque colocar Venezuela e Cuba na lista de países terroristas se nenhum dos dois sequer dispararam um tiro contra os Estados Unidos ou qualquer outro país? Porque a Secretaria de Estado, Condoleezza Rice tem andado tanto pela América Latina? Será que os EUA cansaram do Iraque?
Com a palavra o Senhor da Guerra, George W. Bush.


Luciano Soares

sábado, 15 de março de 2008

A esperança de uns e o silêncio de outros


Na edição que precedia a virada para o novo ano de 2008, escrevi um artigo cujo título era: “Nossos sonhos serão verdades. O extraordinário tornará cotidiano. O futuro já começou”. Quando o fiz, me vieram todas as utopias que habitam o imaginário das pessoas que vislumbram dias melhores. Mesmo assim procurei manter os pés no chão ao fomentar a esperança de todos naquele pré-revellion, citando, apenas, as várias qualidades que encerrava o país até ali. No entanto, dizer que o Brasil é uma potência latente, uma economia que espera o futuro para desabrochar, é “chover no molhado”, mas não é de todo mentira. Esta semana, uma notícia que poucos jornais tiveram honestidade em divulgar pode provar isso, e mais, foi além de todas as minhas utopias. Quem, entre todos os que estão lendo esse artigo agora poderia imaginar que o Brasil pagaria a sua histórica dívida externa um dia?
Diante da fragilidade que sempre foi a nossa economia e do seu baixo potencial de crescimento, alguém dizer que o Brasil ficaria livre desse mal, que suga anualmente as nossas riquezas, seria motivo de risada. Quantos milhões de dólares deixaram de ser aplicados na nossa educação, na nossa saúde, na qualidade de vida dos brasileiros, para tomarem o rumo do exterior. Obviamente ela não foi paga ainda, mas as reservas internacionais do Brasil, que somam hoje US$ 188,5 bilhões, perto da dívida de cerca de US$ 184 bilhões, nos dá um saldo positivo de cerca de US$ 4 bilhões.
Pela primeira vez na Historia o Brasil deixará de ser devedor para se tornar credor, e isso vai acontecer até o fim deste ano. Calcula-se que no final de 2008 o Brasil terá em caixa US$ 60 bilhões de reservas, contra uma dívida de US$ 50 bilhões.
É, meus amigos, nossos sonhos já “são” verdades. O futuro é agora. O extraordinário tornou-se cotidiano. Muitos estão se contendo, com medo de ser um alarme falso, outros estão torcendo o nariz porque a galinha dos ovos de ouro caiu no colo do Lula. Mas, e daí? Não importa se o pato é macho, eu quero é o ovo. Uma notícia dessas é melhor que ganhar a Copa do Mundo. Imagina: O Brasil, além de não ter que enviar milhões e milhões de dólares para fora, terá dinheiro estrangeiro a receber.
A pergunta é: Porque os jornais não alardearam essa informação como o fizeram com a falsa notícia da compra do dossiê do PSDB pelo PT às vésperas das eleições de 2006? Porque omitiram esse fato já que ele é de interesse nacional? Mais uma vez está provado que a grande mídia está quase toda vendida. A começar pela revista mais “vendida” do Brasil. Essa semana li, num dos maiores jornais de Minas, uma manchete que dizia: “Deputado faz propaganda usando energia irregular”. E na foto o detalhe de um suposto “gato” que roubava energia de um poste para iluminar um outdoor no qual estava exposta a propaganda do tal parlamentar.
Na verdade a publicidade divulgava uma audiência pública contra “a energia mais cara do Brasil”, se referindo ao valor das contas de luz cobradas no nosso estado. Em primeiro lugar, se havia uma irregularidade, ela foi cometida pela empresa que administra os outdoors, não por aquele que a contratou. Segundo: pelo que eu aprendi na faculdade, o jornalista deve priorizar o que é mais relevante enquanto informação. Nesse caso o que é mais interessante aos mineiros: Uma audiência pública que vai debater a mais alta taxa de luz do país ou um “gato” feito por uma firma de outdoor? Provavelmente essa fornecedora de energia, por se tratar de uma estatal, ou o próprio governo, devem ser grandes anunciantes desse jornal.
Em minha opinião, se a justiça desse país funcionar como deve, e punir os corruptos que enxovalham essa noção nação, ninguém segura esse país, pelo menos no que diz respeito à economia. Mas politicamente é necessária uma gestão que saiba distribuir com igualdade a nossa riqueza e dar oportunidades iguais a todos que se propõem contribuir com o crescimento do seu país e de si próprio.
Luciano Soares

segunda-feira, 3 de março de 2008

A Tropa e o Urso


Quando fui ao cinema para assistir o tão falado “Tropa de Elite”, levei comigo uma carga de pré-conceitos acerca do filme. Mesmo sem tê-lo assistido ou lido qualquer crítica sobre a produção, sentia que ela poderia estar contaminada pela velha massificação dos produtos culturais pela mídia. Sou veementemente a favor da popularização da arte, mas totalmente contra a massificação de um produto cujo conteúdo sequer tenha sido submetido ao gosto popular. Além disso, ainda sem saber quem o dirigiu, receava encontrar uma salada de clichês globais. Qualquer diretor, por melhor que seja, se cai no lugar comum das produções estereotipadas do Padrão Globo de Qualidade, corre o risco de jogar seu filme na mesma vala em que estão “Xuxa e os Duendes” ou “Os Normais”. Isso me ocorreu porque o filme tinha como protagonista o ator Wagner Moura, figurinha fácil, ao lado de Lázaro Ramos, nas últimas produções da Globo Filmes.
Entretanto, já no meio da sessão, fui mudando meus conceitos, ou preconceitos. A estética, a linguagem e o roteiro fugiam realmente daquilo que eu supunha encontrar. Mas preferi esperar o final antes de fazer qualquer julgamento. Apostei: Se o Matias (personagem de André Ramiro) terminar a trama beijando a Maria (personagem de Fernanda Machado), a mocinha bonita de classe média e de bom coração, vai ser um balde de água fria. Que nada, no final o cara pagou o maior pau para ela e para seus amiguinhos da burguesia carioca que protestavam contra a morte de um de um “filhinho de papai” amigo dos traficantes.
O sucesso do filme trouxe à tona algumas considerações pertinentes à produção cultural, à mídia e ao consumo dos produtos de cultura nacionais. Juntamente com “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite” provou que nem sempre a mídia tem o poder de impor a sua ditadura comercial sobre o que deve ou não ser consumido pelas massas, pelo menos no que diz respeito ao cinema. Infelizmente o mesmo não acorre com a música, mas estamos no caminho. Outro fator é a questão da pirataria. Embora seja um crime, ela cumpre a função de popularizar a arte. Os novos cantores e músicos se rendem a ela para ver seu CD ser vendido, pelo mesmo preço, e junto com outros já consagrados. Com o Tropa de Elite não foi a mídia ou os críticos quem disseram: “Assista!”, mas o boca-a-boca dos populares que tiveram acesso à produção antes mesmo de ela chegar às salas de cinema. É a popularização de um produto pelo próprio povo, e não a massificação de um produto pela mídia. Dentro das teorias da Escola de Frankfurt, essa é a grande transformação da cultura de massa, que pela lógica do iluminismo, todos os consumidores são iguais e livres para consumirem os produtos que desejarem.
Sobre as polêmicas levantadas sobre o filme, ou uma possível apologia à violência, ou o seu caráter supostamente fascista, creio que não passa de observações demasiadas conservadoras, e esperadas, quando se tem um produto cultural que vem de encontro ao padrão pequeno-burguês de comportamento. Segundo Aristóteles, a mais bela tragédia é aquela (...) cujos fatos, por ela imitados, são capazes de excitar o temor e a compaixão. A mim não choca qualquer produto de arte que imite a realidade, mas sim a própria realidade. O jornal britânico The Guardian publicou uma matéria sobre o filme brasileiro em que diz: "A notícia de que "Tropa de elite" venceu o prestigioso Urso de Ouro no Festival Internacional de Berlim foi recebida com deleite no Brasil. O país deveria estar mergulhado em vergonha".
Curvo-me à ignorância desse jornalista inglês. Ora, uma coisa é uma produção cinematográfica, outra, é a realidade que o filme denuncia e que deve ser combatida não pelo seu diretor ou pelos espectadores que comemoraram a premiação, mas pelo Estado. Quer dizer então que não se podem produzir filmes que retratem a triste realidade de um país? Nem, portanto, premiar produções como estas? E se premiado, as pessoas estão proibidas de comemorar? É necessário saber separar a arte, e o que a inspira, da natureza, que não cabe a ela mudar.
Vamos comemorar sim, o Brasil mais uma vez é o melhor do mundo.