domingo, 23 de março de 2008

Os EUA a nova empreitada na América Latina


As evidências continuam. A preocupação americana com a independência da América Latina quanto aos seus domínios é nítida. Quando Bush tirou, por alguns minutos, os olhos do Iraque e voltou-se para a South América, viu dois índios fazendo e acontecendo por aqui. Coçando a orelha, pensou: Quando os gatos saem, os ratos fazem a festa. Calma lá, vamos ver quem é que manda nesse quintal.
Daí por diante a coisa aconteceu assim:
No dia 11 de janeiro o presidente venezuelano, Hugo Chaves, consegue a libertação das reféns Clara Rojas e Consuelo González, seqüestradas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. No final do mesmo mês a Secretaria de Estado dos Estados Unidos, Condeleeza Rice, visita a Colômbia e reuni-se com autoridades militares. Entre os temas da conversa estão: o combate às Farc e a polêmica com a Venezuela. – É preciso lembrar que o governo da Colômbia possui fortes relações com os Estados Unidos e conta com um apoio bilionário em armamentos (cinco bilhões de dólares nos últimos anos).
No dia seguinte à visita de Condoleezza Rice à Bogotá, o presidente Chaves declara que os EUA e a Colômbia estavam criando um clima de guerra contra seu país.
Em 1º de março o Ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, anuncia à imprensa que uma ação conjunta do exército e da polícia matou o número 2 das Farc, Raúl Reyes. O ministro admitiu que o guerrilheiro foi morto dentro do território equatoriano, a 1.800 metros da fronteira com a Colômbia. Alegou que o ataque partiu do território colombiano, mas disse que pós o ataque militares colombianos entraram no país vizinho para recolher os corpos, garantir a segurança da área e neutralizar o inimigo. – As Farc surgiram com a guerra civil da Colômbia, que prolonga-se há 60 anos. Na época, o assassinato de Jorge Gaitán, planejado por um agente da CIA, provocou uma revolta popular, o Bogotazo, e situação se agravou depois que o governo promoveu um massacre generalizado de comunistas e outras lideranças populares. Um ano depois, o jovem Marulanda, então com 19 anos, formava seu grupo de guerrilha que hoje são as Farc, com um contingente avaliado em 17.000 guerrilheiros.
- Em 4 de março, terça-feira, o Equador acusa a Colômbia, na Organização dos Estados Americanos (OEA), de ter realizado uma "violação planejada e premeditada" de sua soberania. Disse ainda que o presidente colombiano, Álvaro Uribe, mentiu na versão que apresentou dos fatos que levaram à morte do líder guerrilheiro colombiano em território equatoriano.
Na mesma data o governo colombiano assegura ter encontrado uma carta que compromete Chávez com o financiamento de US$ 300 milhões para a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. O documento, segundo Álvaro Uribe, teria sido encontrado em um computador, achado no local em que morreu o número dois dessa guerrilha.
Em meio à crise Chaves chama o governo colombiano de “lacaio” dos Estados Unidos. O presidente equatoriano, Rafael Correa, disse que não aceitaria a violão da soberania do Equador pela Colômbia quando esta invadiu o espaço aéreo de seu país. O presidente Bush apóia a ação colombiana no Equador. Correa responde às declarações do presidente americano: "Que o senhor Bush traga seus soldados, que seus soldados morram na fronteira colombiana! Vamos ver se os cidadãos dos Estados Unidos aceitam tamanha barbaridade. Se não, cale a boca e vê se entende o que está acontecendo na América Latina", disparou.
Felizmente a crise acabou sendo resolvida pelas vias diplomáticas depois de um pedido de desculpas do presidente colombiano. Mas ficam as perguntas: Porque esse bombardeio logo agora que as libertações de reféns pelas Farc estavam em curso e as negociações vinham obtendo resultados positivos? Porque só a Colômbia destoa do pensamento político e econômico Latino Americano? Porque colocar Venezuela e Cuba na lista de países terroristas se nenhum dos dois sequer dispararam um tiro contra os Estados Unidos ou qualquer outro país? Porque a Secretaria de Estado, Condoleezza Rice tem andado tanto pela América Latina? Será que os EUA cansaram do Iraque?
Com a palavra o Senhor da Guerra, George W. Bush.


Luciano Soares

sábado, 15 de março de 2008

A esperança de uns e o silêncio de outros


Na edição que precedia a virada para o novo ano de 2008, escrevi um artigo cujo título era: “Nossos sonhos serão verdades. O extraordinário tornará cotidiano. O futuro já começou”. Quando o fiz, me vieram todas as utopias que habitam o imaginário das pessoas que vislumbram dias melhores. Mesmo assim procurei manter os pés no chão ao fomentar a esperança de todos naquele pré-revellion, citando, apenas, as várias qualidades que encerrava o país até ali. No entanto, dizer que o Brasil é uma potência latente, uma economia que espera o futuro para desabrochar, é “chover no molhado”, mas não é de todo mentira. Esta semana, uma notícia que poucos jornais tiveram honestidade em divulgar pode provar isso, e mais, foi além de todas as minhas utopias. Quem, entre todos os que estão lendo esse artigo agora poderia imaginar que o Brasil pagaria a sua histórica dívida externa um dia?
Diante da fragilidade que sempre foi a nossa economia e do seu baixo potencial de crescimento, alguém dizer que o Brasil ficaria livre desse mal, que suga anualmente as nossas riquezas, seria motivo de risada. Quantos milhões de dólares deixaram de ser aplicados na nossa educação, na nossa saúde, na qualidade de vida dos brasileiros, para tomarem o rumo do exterior. Obviamente ela não foi paga ainda, mas as reservas internacionais do Brasil, que somam hoje US$ 188,5 bilhões, perto da dívida de cerca de US$ 184 bilhões, nos dá um saldo positivo de cerca de US$ 4 bilhões.
Pela primeira vez na Historia o Brasil deixará de ser devedor para se tornar credor, e isso vai acontecer até o fim deste ano. Calcula-se que no final de 2008 o Brasil terá em caixa US$ 60 bilhões de reservas, contra uma dívida de US$ 50 bilhões.
É, meus amigos, nossos sonhos já “são” verdades. O futuro é agora. O extraordinário tornou-se cotidiano. Muitos estão se contendo, com medo de ser um alarme falso, outros estão torcendo o nariz porque a galinha dos ovos de ouro caiu no colo do Lula. Mas, e daí? Não importa se o pato é macho, eu quero é o ovo. Uma notícia dessas é melhor que ganhar a Copa do Mundo. Imagina: O Brasil, além de não ter que enviar milhões e milhões de dólares para fora, terá dinheiro estrangeiro a receber.
A pergunta é: Porque os jornais não alardearam essa informação como o fizeram com a falsa notícia da compra do dossiê do PSDB pelo PT às vésperas das eleições de 2006? Porque omitiram esse fato já que ele é de interesse nacional? Mais uma vez está provado que a grande mídia está quase toda vendida. A começar pela revista mais “vendida” do Brasil. Essa semana li, num dos maiores jornais de Minas, uma manchete que dizia: “Deputado faz propaganda usando energia irregular”. E na foto o detalhe de um suposto “gato” que roubava energia de um poste para iluminar um outdoor no qual estava exposta a propaganda do tal parlamentar.
Na verdade a publicidade divulgava uma audiência pública contra “a energia mais cara do Brasil”, se referindo ao valor das contas de luz cobradas no nosso estado. Em primeiro lugar, se havia uma irregularidade, ela foi cometida pela empresa que administra os outdoors, não por aquele que a contratou. Segundo: pelo que eu aprendi na faculdade, o jornalista deve priorizar o que é mais relevante enquanto informação. Nesse caso o que é mais interessante aos mineiros: Uma audiência pública que vai debater a mais alta taxa de luz do país ou um “gato” feito por uma firma de outdoor? Provavelmente essa fornecedora de energia, por se tratar de uma estatal, ou o próprio governo, devem ser grandes anunciantes desse jornal.
Em minha opinião, se a justiça desse país funcionar como deve, e punir os corruptos que enxovalham essa noção nação, ninguém segura esse país, pelo menos no que diz respeito à economia. Mas politicamente é necessária uma gestão que saiba distribuir com igualdade a nossa riqueza e dar oportunidades iguais a todos que se propõem contribuir com o crescimento do seu país e de si próprio.
Luciano Soares

segunda-feira, 3 de março de 2008

A Tropa e o Urso


Quando fui ao cinema para assistir o tão falado “Tropa de Elite”, levei comigo uma carga de pré-conceitos acerca do filme. Mesmo sem tê-lo assistido ou lido qualquer crítica sobre a produção, sentia que ela poderia estar contaminada pela velha massificação dos produtos culturais pela mídia. Sou veementemente a favor da popularização da arte, mas totalmente contra a massificação de um produto cujo conteúdo sequer tenha sido submetido ao gosto popular. Além disso, ainda sem saber quem o dirigiu, receava encontrar uma salada de clichês globais. Qualquer diretor, por melhor que seja, se cai no lugar comum das produções estereotipadas do Padrão Globo de Qualidade, corre o risco de jogar seu filme na mesma vala em que estão “Xuxa e os Duendes” ou “Os Normais”. Isso me ocorreu porque o filme tinha como protagonista o ator Wagner Moura, figurinha fácil, ao lado de Lázaro Ramos, nas últimas produções da Globo Filmes.
Entretanto, já no meio da sessão, fui mudando meus conceitos, ou preconceitos. A estética, a linguagem e o roteiro fugiam realmente daquilo que eu supunha encontrar. Mas preferi esperar o final antes de fazer qualquer julgamento. Apostei: Se o Matias (personagem de André Ramiro) terminar a trama beijando a Maria (personagem de Fernanda Machado), a mocinha bonita de classe média e de bom coração, vai ser um balde de água fria. Que nada, no final o cara pagou o maior pau para ela e para seus amiguinhos da burguesia carioca que protestavam contra a morte de um de um “filhinho de papai” amigo dos traficantes.
O sucesso do filme trouxe à tona algumas considerações pertinentes à produção cultural, à mídia e ao consumo dos produtos de cultura nacionais. Juntamente com “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite” provou que nem sempre a mídia tem o poder de impor a sua ditadura comercial sobre o que deve ou não ser consumido pelas massas, pelo menos no que diz respeito ao cinema. Infelizmente o mesmo não acorre com a música, mas estamos no caminho. Outro fator é a questão da pirataria. Embora seja um crime, ela cumpre a função de popularizar a arte. Os novos cantores e músicos se rendem a ela para ver seu CD ser vendido, pelo mesmo preço, e junto com outros já consagrados. Com o Tropa de Elite não foi a mídia ou os críticos quem disseram: “Assista!”, mas o boca-a-boca dos populares que tiveram acesso à produção antes mesmo de ela chegar às salas de cinema. É a popularização de um produto pelo próprio povo, e não a massificação de um produto pela mídia. Dentro das teorias da Escola de Frankfurt, essa é a grande transformação da cultura de massa, que pela lógica do iluminismo, todos os consumidores são iguais e livres para consumirem os produtos que desejarem.
Sobre as polêmicas levantadas sobre o filme, ou uma possível apologia à violência, ou o seu caráter supostamente fascista, creio que não passa de observações demasiadas conservadoras, e esperadas, quando se tem um produto cultural que vem de encontro ao padrão pequeno-burguês de comportamento. Segundo Aristóteles, a mais bela tragédia é aquela (...) cujos fatos, por ela imitados, são capazes de excitar o temor e a compaixão. A mim não choca qualquer produto de arte que imite a realidade, mas sim a própria realidade. O jornal britânico The Guardian publicou uma matéria sobre o filme brasileiro em que diz: "A notícia de que "Tropa de elite" venceu o prestigioso Urso de Ouro no Festival Internacional de Berlim foi recebida com deleite no Brasil. O país deveria estar mergulhado em vergonha".
Curvo-me à ignorância desse jornalista inglês. Ora, uma coisa é uma produção cinematográfica, outra, é a realidade que o filme denuncia e que deve ser combatida não pelo seu diretor ou pelos espectadores que comemoraram a premiação, mas pelo Estado. Quer dizer então que não se podem produzir filmes que retratem a triste realidade de um país? Nem, portanto, premiar produções como estas? E se premiado, as pessoas estão proibidas de comemorar? É necessário saber separar a arte, e o que a inspira, da natureza, que não cabe a ela mudar.
Vamos comemorar sim, o Brasil mais uma vez é o melhor do mundo.