segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sutil diferença entre França e EUA

Orgia política

Mal 2009 chegou ao meio e as eleições presidenciais do ano que vem já começaram a sacudir o meio político brasileiro. Não há ainda um cenário eleitoral definido para o ano vindouro, a estratégia, em princípio, parece ser a de tentar desconstruir as bases eleitorais do adversário. A bipolarização da política brasileira, onde se tem dois partidos principais, PT e PSDB, com PMDB e DEM correndo por fora, tem proporcionado uma briga de foices no seio dos poderes executivo e legislativo. De um lado o governo procura usar a máquina e a popularidade do presidente a favor da ministra e futura candidata petista, de outro, a oposição procura usar de tudo para manchar o governo de forma a atingir Dilma.

No meio desse fogo cruzado a Petrobrás. A estatal parece aquele brinquedo de parque, onde o presidente fica assentado numa prancha sobre um tanque de água e a oposição fica jogando bolas para tentar acertar um alvo que destrava a prancha e o derruba. A CPI da Petrobrás virou uma obsessão para os partidos não governistas. O governo até concorda com a abertura da comissão, mas desde que ele assuma os principais cargos dela.

E a briga ficou em torno de quem ficaria com a presidência e a relatoria do caso, e nessa o PT acabou ficando com o pedaço melhor do bolo. E é aí que mora a incoerência da política brasileira: Ora, se há alguém que estaria inapto a compor uma comissão parlamentar de inquérito como essa, é o governo, assim como o PSDB e o DEM, por estarem diante de uma disputa eleitoral. Se isso acontecer, como já aconteceu, um assunto importante desses vai virar uma briga eleitoreira, com objetivos claros de um tentar derrubar o outro com o foco em 2010.

E parece que o senado brasileiro transformou-se mesmo em um ringue de luta de oposição contra o governo. O caso José Sarney também virou arma para a desconstrução das bases eleitorais para 2010. cabeça do presidente do senado pode rolar a qualquer momento e isso pode significar muita coisa; mas não pensem que o objetivo aí é o de limpar a casa e mostrar ao povo que seus senadores não aceitam atos indecorosos daqueles que a compõe. Por trás disso existem grandes interesses políticos. José Sarney pede o apoio do governo, que tem maioria na casa, para se manter na presidência do senado, e ameaça: Se não me apoiar, o PMDB deixa a base aliada e não apóia Dilma em 2010.

A oposição quer derrubar Sarney a todo custo, porque com a saída dele, assumi Marconi Perillo (PSDB-GO), que é primeiro vice-presidente. Com ele no comando da casa a oposição teria um dos mais importantes cargos da política nacional. Sabendo que sem o apoio do PMDB o governo se enfraqueceria, o presidente Lula saiu em defesa do colega Sarney e convocou seus líderes para montar uma tropa de choque e segurar o presidente do senado em seu trono.

Pelo que se vê tudo agora gira em torno da tal campanha eleitoral para presidente em 2010. Seja no Congresso ou no Senado, as prioridades deixam de estar em torno do que interessa realmente à população, para estacionar numa orgia política onde só os interesses partidários prevalecem. E tudo diante da passividade do povo brasileiro.
O espírito festivo dos brasileiros é algo muitas vezes admirado por outros países, mas a nossa passividade diante da orgia política que fazem debaixo do nosso nariz é uma vergonha. E é por isso que o Brasil transformou-se no paraíso dos corruptos.

Pode-se dizer que todas as denúncias contra os políticos têm partido dos jornais, e aí se vê a responsabilidade social do jornalismo brasileiro, com exceção, é claro, daqueles que possuem ligações políticas: Veja, Folha de São Paulo, Estadão? Não sei. Se o povo brasileiro procurasse entender de política, como entendem de futebol – e aí vale o exemplo dos argentinos - certamente saberia identificar o bem e o mau.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Estudiantes desfila na Argentina com bandeira do Galo

Campeão da Libertadores dentro do Mineirão, o Estudiantes foi recebido por uma multidão nesta quinta-feira em Buenos Aires, um dia depois de vencer o Cruzeiro, e não deixou de provocar: os jogadores exibiam um bandeirão do Atlético-MG, maior rival do time celeste.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Os homenas passam, as músicas ficam


Estava na quinta série ginasial quando conheci o meu amigo Sávio. Tínhamos 11 anos na época, portanto, nossa amizade vem de longa data. A nossa altura, e a técnica também, nos fizeram destacar nos jogos de basquete durante a educação física da escola, ele um pouco mais, por ser um negro alto e forte. Por causa da nossa desenvoltura esportiva, fomos convidados a fazer um teste no time de vôlei da cidade. Ficamos felizes e, ao mesmo tempo, frustrados, pois gostávamos mais de basquete, mas, de qualquer forma, passamos nos testes, e nos integramos à equipe de vôlei da cidade, sediada na Praça de Esportes de Oliveira. De lá para cá, nos tornamos amigos, e além do gosto pelo esporte, tínhamos outra coisa em comum: a paixão pela música.

Eu era fascinado com Elvis e com o rock dos anos cinquenta. Tinha discos, vídeos, revistas, além disso, qualquer reportagem relacionada ao rei do rock que achava ia armazenando numa pasta. Tentei aplicar isso no meu amigo: “Cara, tem que ouvir uma coletânea do Elvis que lançaram agora, só tem as melhores dele!”. Achei-o meio cético, mas ele teve paciência e ouviu o disco todo. E aí, o que achou? Perguntei. Ele disse: “É bom. Agora vamos lá em casa que eu também quero te mostrar uma coisa.” Morávamos bem pertos, a coisa de uns três quarteirões. Depois de guardar o meu novo disco do Elvis, a sete chaves, nos encaminhamos para sua casa. Chegando lá ele foi até o quarto e trouxe uma pilha de discos, e me entregou. “Dá uma olhada, vou colocar um para tocar.” Quando comecei a repassar as capas, vi que o cara tinha a coleção completa do Michael Jackson.

Na época, não curtia muito a música pop e meu amigo cobrou com juros e correções a audição a que fora obrigado a se submeter. Na casa dele tive que escutar quase a coleção completa do “rei do pop”. Até que gostei, Michael não era um simples “pop”, ele era Michael Jackson e ponto final. Para me agradar, ele foi até a coleção de discos da mãe dele e trouxe uma relíquia: um LP do Elvis, original, e me entregou dizendo: “Cara, você precisa se atualizar, esse disco é da época da minha mãe.” Aí rebati: “O rock é atemporal, é universal. Ele nasceu nas plantações de algodão dos Estados Unidos com os escravos da época, e Elvis o mostrou para o mundo. Não tem essa de ser antigo, o que é bom não morre. O rock é eterno, meu caro. Long live rock n’ roll.”

O nosso intercâmbio cultural deixou de ser uma simples troca musical para se transformar numa disputa ideológica. Um tentava provar para o outro que o seu cantor predileto era o melhor. Certa vez ouvi pelo rádio sobre um festival de rock que aconteceria em Oliveira. Fiquei superfeliz. Participaria uma banda de oliveirenses da qual eu era fã, o Aspecto Local, e as outras viriam de outras cidades. Liguei para o Sávio e o convidei para ir. Ele topou. É chegado o grande dia, mesmo com a resistência dos nossos pais, por termos onze ou doze anos na época – e aí era o final dos anos oitenta – acabamos convencendo-os a nos liberar. Achei que deveríamos nos vestir como roqueiros, mas o Sávio insistiu em ir vestido no estilo Michael, com direito a sapatinho preto superlustrado e meia branca. Fazer o quê?

O festival foi surpreendente, tocaram ali as melhores bandas da região, e o rock n’ roll rolou até altas horas. O Sávio demonstrava estar gostando bastante, mas começava a se preocupar com o horário, chamando-me para irmos embora. Eu disse que não sairia dali enquanto não ouvisse o Aspecto Local, a última banda a se apresentar, conforme a programação. Valeu a pena, foi o melhor e o último show que assisti daquela banda. O Sávio, surpreendentemente, vibrou tanto quanto eu. Mas a hora estava mesmo avançada e precisávamos sair. Quando deixamos o galpão da escola de samba 13 de Ouro, onde foi realizado o evento, a banda anunciou a última música, e surpreendeu novamente quando começou a tocar Faroeste Caboclo, da banda Legião Urbana. Um clássico do rock nacional, que na época tinha acabado de ser lançado e marcava pela letra e por ser longa demais para os padrões fonográficos. Fomos cami-nhando com a música nos ouvidos, a geografia daquela região permitiu que o som chegasse aos nossos ouvidos, mesmo distante do local. Quando cheguei a porta da minha casa, pude ouvir o último acorde da música e a banda se despedindo do público.

Valeu a pena. O Sávio definitivamente estava iniciado no rock n’ roll. Venci a primeira batalha. Mas na semana seguinte ele deu uma festa para comemorar seu aniversário e chamou a turma da escola e a galera do vôlei, e adivinha o que tocou a noite toda? Claro: Michael Jackson. E assim foi durante um bom tempo em que convivemos: nas minhas festas, Elvis; nas dele, Michael. Por fim, quando Michael lançou o disco Bad, lá fui eu comprar minha primeira fita cassete do artista. E, posteriormente, quando ele lançou o álbum Dangerous, não resisti e comprei o disco. Estava eu aplicado no bom e velho pop de Michael Jackson.

Por esses dias, com a morte de Michael, todas essas histórias me voltaram à mente, e hoje, mesmo distante do meu amigo, creio que tanto ele, quanto eu, sabemos que Elvis é o rei do Rock e Michael é o rei do pop e não se fala mais nisso, e temos a certeza de que ambos nos marcaram muito. Por isso, as últimas semanas me têm suscitado um sentimento de nostalgia e de certa tristeza, e com certeza ao meu velho amigo também. Parafraseando Cazuza: “Meus heróis morreram de overdose”, mas, como dizia Raul Seixas: “Os homens passam, as músicas ficam.”