quarta-feira, 16 de julho de 2014

O que ficou da Copa



Havia sobre nós o velho estigma de subdesenvolvidos, malandros, desorganizados, incapazes, atrasados e mal educados. Tínhamos uma autoestima tão deteriorada que nós nos reconhecíamos em todos esses adjetivos e nos acomodávamos sobre um enraizado complexo de vira-latas e sobre a esperança de que o Brasil era o país de um futuro que nunca chegava. Uma das poucas coisas que levantava o nosso moral era o fato de sermos o único país a participar de todas as copas, período no qual faturamos cinco títulos e nos tornamos os maiores campeões mundiais de futebol.

Desde que o Brasil conquistou seu último mundial, em 2002, na Copa realizada no Japão e Coreia do Sul, muita coisa mudou. Em doze anos, o brasileiro experimentou mudanças nunca antes imaginadas num período tão curto, quando pôde acreditar que o futuro finalmente começava a lançar sua luz sobre o horizonte tupiniquim. De repente, as pessoas deixaram de escutar o desagradável barulho das máquinas de remarcar preços nos supermercados, a renda melhorou, o povo começou a ter acesso a bens duráveis, ao carro novo, à casa própria, às universidades e às viagens de avião. Chegamos ao posto de quinta economia do mundo.

Embora tenhamos muito a caminhar em direção a esse futuro, principalmente no que diz respeito à saúde, educação, segurança e infraestrutura; ainda que estejamos muito atrasados no campo da política, cujo sistema é cheio de vícios e atalhos para a corrupção; mesmo que necessitemos evoluir enquanto cidadãos, nós, aos poucos, vamos reerguendo nossa autoestima, e essa Copa do Mundo foi a grande prova de fogo a que fomos submetidos. Graças a ela, hoje nós não nos reconhecemos mais somente nos naqueles defeitos, mas também nas muitas qualidades que possuímos, postas a prova diante dos olhos do mundo.

A tragédia que recaiu sobre a nossa seleção, após perder de 7x0 para a Alemanha, em casa, não se fez tão trágica quanto aquela fatídica derrota para o Uruguai, no Maracanã, em 1950. Isso porque, o futebol, embora continue sendo uma paixão nacional, não é mais a nossa prioridade, e já não é o nosso único motivo de orgulho. A derrocada para a seleção Alemã foi histórica, mas acima dela está o reconhecimento mundial de que realizamos a melhor copa de todos os tempos, de que somos um país preparado para realizar grandes eventos, receber turistas do mundo inteiro, e de que, além das nossas belezas naturais, temos um povo amável e valoroso. Graças a esse mundial, tiramos das nossas costas o estigma de subdesenvolvidos, malandros, desorganizados, incapazes, atrasados e mal educados. E ainda que boa parte da mídia brasileira tenha apostado contra, mostramos ao mundo a nossa competência.