Numa alusão à queda do muro de Berlim, em que se pôs fim, simbolicamente, ao comunismo, falemos agora sobre a queda do muro do liberalismo, que começa a vir a baixo, impulsionado pela crise econômica mundial.
(Acima, ilustração de capa da revista "A Classe Operária", ed. 302 de set./2007) Nos Estados Unidos, país incubador das crises de 1929 e 2008, o governo tomou medidas que vão na contramão do liberalismo, ou do neo-liberalismo, implantado no Brasil pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Lá, bancos privados começam a ser estatizados ou têm parte das suas ações compradas pelo governo. E isso, por conseqüência, tem ocorrido na Europa também. É a forma que os Chefes de Estado encontraram para assumir a direção da nau, num momento em que gestores irresponsáveis quase a afundaram.
Alguns analistas já classificam a atual crise mundial como o colapso do capitalismo. Há os otimistas que a vêem como uma grande lição para que os erros não venham a ocorrer novamente. O problema é que será um para-casa difícil de resolver. Os Estados Unidos acabaram colocando o mundo refém de uma situação sem precedentes na história. A paranóia dos bancos americanos em liberar créditos em situação de alto risco, sem medir as conseqüências disso para o futuro, acabou resultando na presente conjuntura macroeconômica.
De uns anos para cá, o crédito passou a ser um grande produto do capitalismo. Com a boa situação econômica nos países ricos e nos emergentes, como o Brasil, emprestar dinheiro a juros, ou financiar casas e automóveis, passou a ser um grande negócio. Mas no mercado de capitais a desconfiança é a grande ciência dos investidores. O problema é que o mundo virou refém de uma monocultura, ou seja, do capital, de forma que ele virou o sustentáculo da economia mundial, mais até que comódites como o café e petróleo. Essa condição levou vários países a atravessar, inclusive, uma grave crise de alimentos. Por quê? Porque os produtores vão investir naquilo que lhe trouxer uma melhor compensação.
No capitalismo o que manda é o lucro. Onde estiver dando mais, o produtor ou o investidor vai colocar o seu dinheiro. As conseqüências disso são uma incógnita. Os culpados de um possível colapso não terão nome, nem rosto.
A não intervenção do Estado no mercado, como reza a cartilha do liberalismo, deixa surgir uma face meio troglodita a partir da reflexão de que, no capitalismo só sobrevivem os mais fortes. E esse Golias da economia delimita seu território e impõe regras. É a velha história de os grandes engolirem os pequenos e se tornarem maiores do que são. Tudo isso vai criando um cenário coorporativo de proporção planetária. As provas disso estão no fato de uma meia dúzia de bancos privados quebrarem por causa da crise e derrubarem as principais bolsas de valores do mundo.
Por que isso acontece? Porque os investidores só colocam o seu capital onde houver a garantia de lucro. A qualquer sintoma de prejuízo, lá vão eles tirarem seu dinheiro dos fundos de investimentos e guardarem debaixo do colchão. Mas o mal maior não é necessariamente o dinheiro deles, porque o problema da economia mundial não é de liquidez e sim de falta crédito, o fato é que, com o clima de desconfiança o crédito fica mais difícil, os juros começam a subir e o dólar também. Com a falta de crédito, empresas param de investir, cai a produção e demite-se funcionários. E isso quer dizer: recessão e baixo crescimento.
Essa situação põe em cheque a própria política cega do liberalismo, lógica que se opõe ao comunismo. Não julgo ideal a política liberalista do façam o que quiserem e salvem-se quem puder. O Estado Democrático deve sempre prevalecer, e que ele seja regido por uma política, de certa forma, paternalista, em relação ao ser humano. De que adianta alguém estar lucrando milhões se outrem morre de fome? Que benefício terá o homem e a sociedade se as bolsas estão batendo recordes de altas. É necessário ser pragmático no que diz respeito aos efeitos disso na qualidade de vida das pessoas. E é aí que entra o Estado, na minha concepção de economia pró-social.
Infelizmente a obsessão e o egoísmo são inerentes do ser humano e, nesse caso, o individualismo sempre fala mais alto. Esse é um sentimento que se satisfaz dentro de um prostíbulo chamado liberalismo, onde o capitalismo é a prostituta, o dinheiro é a genitália, e o lucro é um orgasmo.
Luciano Soares