sexta-feira, 28 de novembro de 2008

História e tradição oral

Há cerca de quase quatro anos, dei início a um projeto chamado História Oral. Usando como instrumentos uma câmera de vídeo e um microfone, realizei uma série de entrevistas com pessoas que viveram o cotidiano da cidade em várias épocas. De lá para cá, venho colhendo depoimentos de personagens, dos mais anônimos aos mais importantes atores sociais desse município.

No início fiz uma lista de mais de 15 pessoas, que considerava ter muito que contar sobre a nossa história. Dessas quinze, já consegui entrevistar sete, uma das quais, inclusive, veio a falecer três meses depois de me conceder a entrevista. A lista de possíveis entrevistados cresceu, e agora procuro encontrar tempo para concluir a primeira parte do projeto, já que a história não pára.

O mais importante dessa iniciativa é o fato de se poder descobrir a história a partir de depoimentos das próprias testemunhas oculares dela. São fatos do cotidiano que nos transmitem, a partir da tradição oral, todo um contexto social, político e comportamental de uma época, que certamente não está nos livros. São as histórias não catalogadas da nossa história. Tenho, inclusive, alguns depoimentos de pessoas que se opõem às próprias versões oficiais de certos fatos, narrados nos livros que trazem a história de Oliveira.

Além disso, a nossa história está catalogada em livros até a década de cinqüenta. De lá para cá não se existem pesquisas, exceto nos acervos de jornais e arquivos públicos, que tragam à luz registros de fatos que marcaram os últimos sessenta anos vividos por esta cidade. E é aí que esse material ganha um peso importante no que diz respeito ao conteúdo dessa história recente.

O projeto começou como uma simples brincadeira, quando no dia 14 de março de 2005 eu e um amigo resolvemos gravar uma entrevista com o senhor Nelson Leite. Sempre conversávamos com ele e ouvíamos coisas interessantíssimas. Um dia, fomos até a sua casa com uma câmera e gravamos uma entrevista sem saber ao certo o que fazeríamos com aquele material. Depois tive a idéia de gravar com várias pessoas e editar um vídeo com as partes mais interessantes de cada entrevista. Meses depois, conversando com o então Secretário de Cultura, descobri que na sua Secretaria tinha um projeto parecido. Daí uni os dois, e nasceu o Projeto História Oral.

A história é uma coisa que sempre me atraiu. Apesar disso, não gosto de saudosismos, até porque, tenho que construí-la, mudá-la, e talvez quem sabe, ser parte dela um dia. Mas creio que com a bagagem do passado consegue-se construir o futuro com mais sapiência.

Um dia desses, assistindo um filme chamado “Narradores de Javé”, e a partir dele consegui sentir importância da história e da tradição oral. A produção pode ser resumida com a seguinte sinopse: Javé é um pequeno vilarejo que estava prestes a ser inundado por causa de um projeto de uma usina hidrelétrica. Diante da infausta notícia, a comunidade decide ir em defesa de sua existência. Para isso, decidem escrever um dossiê que documente o que consideram ser os "grandes" e "nobres" acontecimentos da história do povoado para assim justificar a sua preservação. Se até hoje ninguém preocupou-se em escrever a verdadeira história de Javé, tal tarefa deverá agora ser executada pelos próprios habitantes. É designado o nome de Antônio Biá, personagem anárquico, de caráter duvidoso, porém o único no povoado que sabe escrever fluentemente. Apesar de polêmico, ele terá a permissão de todos para ouvir e registrar os relatos mais importantes que formarão a trama histórica do vilarejo.

A partir da tradição oral, os cidadãos de Javé escreveram a própria história e graças a ela salvaram o velho e pequeno vilarejo.

Texto: Luciano Soares

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Tom Zé xinga Caetano Veloso durante show em São Paulo

O músico baiano Tom Zé rebateu com um xingamento um elogio ao CD "Estudando a Bossa - Nordeste Plaza" feito por Caetano Veloso. "Caetaaaanooo, vai tomar no...", disse Tom Zé no domingo, 23, durante show no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, informa a coluna de Monica Bergamo, publicada pela Folha de SP.

Segundo a coluna, o músico anda falando mal de Caetano Veloso até em seu blog depois que ele o elogiou. "Não, Caetano (...) eu não posso aceitar agora o seu colo e do grupo baiano, que durante todos esses anos me separaram até do que era meu, enquanto gozavam todo o prestígio e privilégios, talvez como ninguém mais neste país analfabeto."

Fonte: Folha on Line.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Um New York Times que todos queriam ler

No início da manhã de quarta-feira (12/11), foi distribuída nas ruas de Nova York uma edição falsa do New York Times, com a chamativa manchete "Termina guerra no Iraque". Os exemplares, bastantes parecidos com o jornalão original, traziam a data de 4 de julho de 2009 e tinham outros títulos fictícios, como "Ex-secretário se desculpa por susto das armas de destruição em massa" e George W. Bush é condenado por crimes de guerra.” Além do jornal impresso, também foi criado um site com as falsas notícias.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sim, é possível

A eleição para presidente dos Estados Unidos deste ano entrou para a história, não apenas pela vitória de Barack Obama, um nome pedido pelo mundo inteiro, mas pelo valor simbólico que ela representa. Se ele será capaz de mudar os rumos da política e da economia americanas, conduzida até aqui por caminhos tortuosos, isto é outra história. O simples fato da eleição de Obama já é uma revolução no enraizado conceito cultural da América, que se nega a abandonar o velho e ultrapassado “modo de vida americano”.

O jargão usado pela campanha de Obama, marcado pela afirmação: “Sim, Nós podemos”, foi o mesmo usado por Martin Luther King, há 40 anos, na sua famosa luta pelos direitos civis dos negros. E é nele, acredito, que está descrita toda a simbologia deste fato de relevante valor cultural e histórico. O que pode ser ilustrado também pelo celebrado voto daquela senhora de 106 anos de idade, que tempos atrás não tinha direito ao voto por ser mulher e “negra”, e que hoje foi às urnas para eleger um presidente que lhe assemelha na cor e na origem.

Os fatores simbólicos que dão peso à vitória de Obama podem ser explicados nas seguintes indagações: É possível o país, considerado um dos mais racistas do mundo, eleger um presidente negro? É possível uma nação capitalista eleger um candidato com tendências socialistas? É possível que um povo tido como tradicional e conservador, eleger um presidente de origem negra e com idéias inovadoras, como pôr fim às guerras do Iraque e Afeganistão, dialogar com Cuba e Venezuela e diminuir a emissão de gás carbônico? Sim, é possível. Foi isso o que mostrou o resultado das urnas, que não só deu a vitória ao democrata, mas também uma esmagadora maioria a seu favor no parlamento.

Os resultados das eleições americanas suscitaram um sopro de esperança no planeta, tanto do ponto de vista econômico, como também político e ambiental. Depois de dois mandatos catastróficos de um presidente conservador, prepotente e inculto, que só fez aumentar o anti-americanismo no mundo, eis que há uma chance para novas propostas. O povo americano, dessa vez, apostou na possibilidade da mudança.

Mas nem tudo serão flores para o novo presidente, fora o clima de otimismo que tomou conta do mundo inteiro por causa da sua eleição, Barack Obama herdará a nação mais poderosa do mundo com uma economia em ruínas, com uma divida interna gigantesca e em meio a duas guerras. Um desafio e tanto e um terreno vasto para quem quer fazer uma revolução de verdade num país que lhe deu crédito para isso.

Surpreendentemente o escritor brasileiro Monteiro Lobato parecia prever isso, quando em 1926 lançou o livro O Presidente Negro, uma obra de ficção cujo roteiro percorre a história a partir de uma máquina do tempo criada por um dos seus personagens. Por meio dela descobriu-se que no ano de 2228 ocorreria a campanha para eleger o 88º Presidente dos Estados Unidos. Nela disputavam entre si um candidato branco e uma candidata do sexo feminino. Como os afro-descendentes eram maioria no montante da população, ambos os candidatos esperavam contar com o apoio do líder negro Jim Roy – Algo como um Luther King dos anos 2228. - É chegado o dia das eleições e o negros, numa atitude surpreendente, votaram, não nos dois candidatos, mas em seu próprio líder.

A vida imita a arte. Esse fato foi lembrado pelo escritor Roberto Pompeu de Toledo em matéria publicada na revista Piauí, de outubro. O livro, apesar de apresentar idéias racistas, defendendo, inclusive, a eugenia, algo que, de certa forma, representava o pensamento do seu autor, mostra a visão futurista e profética de Monteiro Lobato.

Embora estejamos atravessando um dos momentos mais difíceis da economia mundial, as esperanças de mudanças dão novo fôlego na luta por dias melhores, ainda mais quando essas escolhas foram feitas pelo povo. Querer mudar já é meio caminho andado para que a mudança realmente ocorra. O êxito dela vai depender da qualidade dessas escolhas, e é nisso que a comunidade mundial tem apostado.

Texto: Luciano Soares