quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

A CLASSIFICAÇÃO DO HOMEM


O conceito de “belo”, na sociedade burguesa, passa a ter um peso maior, principalmente no pós-Revolução Francesa, que pôs fim à Idade Média e deu início ao Iluminismo. A partir daí, o poder passa a estar mais ligado a posses do que ao grau de nobreza. Após a queda da monarquia, movida pela vaidade, a burguesia assume o mecenato de grandes artistas, que por sua vez, retratam suas famílias em grandes telas.

Nasce aí um novo estilo de vida baseado na liberdade, mas nem sempre na igualdade e na fraternidade. Surge a revolução industrial e com ela a classe proletária e os homens do capital. Nos Estados Unidos, camponeses vítimas da seca, vêm suas terras serem confiscadas por bancos e marcham para o Oeste em busca de porvir. A escravidão se espalha pelo planeta com todos os requintes de crueldade. Paris dita a moda e a cultura para o mundo em meio à Belle Epoque. A divisão de classes está mais acentuada, assim como os conceitos de bonito e feio, elite e plebe.

O século XX entra com o fim da escravidão, guerras civis, revoluções, crise econômica, duas grandes guerras mundiais e uma divisão planetária entre dois blocos: capitalismo e comunismo. O fim de tudo isso se dá com a tendência ao capitalismo, e a formação de uma sociedade de consumo e de uma classe trabalhadora, que passa a lutar por direitos. Nessa esteira, aumenta o abismo entre pobres e ricos, milionários e famintos. Com o advento da televisão, as altas classes conseguem aplacar a ira dos explorados, vendendo-lhes ilusões.

O poder da comunicação é tão forte que é capaz de transformar negros em antiabolicionistas, trabalhadores em reacionários e pobres em pequeno-burgueses. Ela trouxe para os dias atuais todos os conceitos e preconceitos que nascem lá no século XVIII com a ascensão da burguesia, fazendo despertar nas pessoas sentimentos que nem elas próprias conseguem explicar.

Tudo isso talvez explique o ódio contra Lula, uma coisa tão inconsciente que nem mesmo quem o odeia consegue explicar porque não nutre o mesmo sentimento por Aécio Neves, por exemplo, que tem contra si gravações telefônicas, imagens de vídeo e contas em paraísos fiscais que escancaram seus atos de corrupção. Ocorre que esse ódio é histórico e cultural. Como narrei acima, o tempo criou estereótipos de classificação. Hitler usou isso para separar o “ariano” dos judeus, assim como o apartheid na África do Sul. Portanto, esse ódio não é contra o ex-presidente, mas a todo o estereótipo que ele carrega: de “feio”, “pobre”, “nordestino”, “miscigenado”, “peão”, etc.



Nem todos avaliam dessa forma, mas a história mostra que a varanda gourmet de hoje é a Casa Grande de ontem.