“Minha absolvição pelo plenário do Senado é uma vitória da democracia brasileira. Uma vitória de todos os que continuam acreditando na verdade e no sentido de justiça; uma vitória do Senado, que comprovou, através do voto, sua isenção e responsabilidade”. Esta afirmação é de Renan Calheiros, publicada em seu site dias após a sua absolvição.”.
“Uma vitória da democracia”, nisso eu concordo em número, gênero e grau. Para uma democracia como a nossa que premia os desonestos, isso só pode representar uma vitória mesmo.
Acontecimentos como esses cada vez mais vêm confirmar aquilo que eu já tinha plena convicção: Inocente aquele que ainda acredita que vivemos numa democracia.
No Brasil, se você quiser que seu filho tenha uma boa educação tem que pagar uma escola particular. Se você quiser ter um bom atendimento médico tem que pagar caro por um plano de saúde particular.
Se você quiser ter acesso a uma estrutura esportiva tem que pagar um clube que a ofereça. Se você quiser viajar tem que pagar dois ou três pedágios, dependendo do lugar para onde você vá. Se você quiser ter uma moradia tem que entrar num daqueles financiamentos que se perdem de vista, correndo o risco de não conseguir pagar ou de não ver seu imóvel entregue.
As casas são dotadas de grades, muros e cercas elétricas. Isso é liberdade? Seqüestra-se, rouba-se e mata-se a cada minuto. O trabalhador sai de casa cedo, enfrenta greve de ônibus, chega atrasado no serviço, é demitido, e quando volta para casa encontra o filho morto por bala partida. Isso é justo?
Aqui existem milhares de pessoas passando fome, sem ter onde morar, crianças órfãs se drogando, prostituindo e aprendendo a assaltar nas ruas. Isso é democracia? Um país que obriga as pessoas a votar, a trabalharem nas eleições, a alistar-se em serviços militares, é um país democrático?
Deixamos de ser um Estado paternalista e criamos um Estado carrasco do seu povo.
Sejamos realistas. Vivemos uma ditadura disfarçada de democracia. A ditadura do poder, a ditadura da corrupção. Votamos nesses caras sem saber que eles fizeram suas campanhas usando dinheiro de empresas que posteriormente seriam beneficiadas por eles.
Eles praticam corrupção e se absolvem o tempo todo. Engordam suas contas bancárias com dinheiro que poderiam ser aplicados na saúde, educação, moradia, cultura e geração de emprego. Eu, que várias vezes fiz aqui campanha pelo voto consciente, agora cheguei à conclusão de que consciente é aquele que vota em branco. Farei isso.
Não quero mais compactuar com esses bandidos. Apesar de ser possível encontrar algumas frutas boas nesse saco de podridão, não vejo mais funcionalidade para o Senado e o Congresso Nacional. Não vejo mais motivo para mantê-los funcionando, porque só trazem prejuízos ao país.
Está nas mãos do Supremo a última cartada contra o mal. O julgamento dos 40 mensaleiros será a última chance de livrar o Brasil do rótulo da impunidade. Independente desse resultado, não acredito mais nesse país enquanto Estado.
A economia dá sinais de vitalidade, mas a política já assassinou moralmente o país. Com exceção daqueles que, mesmo no poder, insistem em lutar contra a essa banda podre, digo aos senhores deputados e senadores: Vocês não me representam mais. Enquanto cidadão, exijo que se retirem da casa do povo, porque vocês não são dignos de ocupá-la.
Se for para gritar sozinho o farei, mas não deixarei de cumprir a minha parte. Não quero mais vocês aí! Ou sairão pelo voto, ou sairão pela força. Creio que esta é a vontade do povo, mas poucos têm esse espaço para falar. Digo por eles. Não quero fazer aqui um discurso inflamado com objetivo panfletário, mas expressar o sentimento de toda uma nação.
Vão querer distrair-nos com Big Brothers, novelas e outros lixos midiáticos, mas não conseguirão. É hora de assumirmos nosso sangue latino de revolucionários da justiça e da liberdade.
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
sábado, 8 de setembro de 2007
O Funk e o Sertanejo
O anúncio da programação do aniversário da cidade, com extensa agenda de shows, todos eles, única e exclusivamente, do gênero sertanejo, me reacendeu a reflexão sobre o tema que vem sendo discutido desde a Festa do Peão de Oliveira.
Quanto a escolha desse tipo de música para os eventos em Oliveira, disseram-me: “Ora, se é festa do peão, então tem que tocar música sertaneja.” Disse-lhe: Ora, nos moldes que se apresentam essas festas no Brasil, então, o que deveria tocar seria “country”, “western music” ou coisas do gênero, pois estamos muito mais para cowboys americanos, que para sertanejos brasileiros. Aliás, em se tratando de música, já deixamos de ser sertanejos há muito tempo. Ou será que podemos comparar os velhos regionalismos, intimamente ligados à cultura de raiz, com esse tipo de música voltada para a cultura comercial de massa?
A verdadeira música sertaneja existe, e embora o país tenha se tornado muito mais urbano que rural, ela resiste e pode ser ouvida até na Praça XV. Engana-se quem acha que o que toca no Faustão, no Gugu ou na Hebe é música sertaneja. O sertão está muito longe de Rio e de São Paulo. Até que alguns intérpretes estão caindo na real e mudando o discurso sobre o tema da sua música: “Eu canto música Romântica”. E põe romântica nisso. Meu coração chega a partir com tanta pieguice junta. Quantos amores perdidos, quantas traições. Engraçado, um dia desses estava pensando. A palavra que eles mais usam na hora de compor é “Ela”: “Ela é o meu amor”. “Ela me traiu”. “Ela me deixou”. Olha só, parece que acabei de criar um refrão aqui. Viram como é fácil? Hoje em dia faz-se música no Brasil como se produz extrato de tomate. Por incrível que pareça quem é bom não está na mídia. Não estou criticando genericamente todos os “neosertanejos”, mas a música barata. É preciso tomar cuidado. Arrepio só de lembrar que, certa vez, disseram a Villa-Lobos que a música dele era uma vergonha.
Com o funk a coisa é mais ou menos parecida, ou seja, foram modificando um ritmo antigo, mas não alteraram o nome. O funk, assim como o Rock, o Jazz, o Blues e o Soul, são gêneros musicais de origem negra, surgidos, em sua maioria, no sul dos Estados Unidos. Dizem que a Soul Music deu origem ao Funk, que mais tarde ganhou visibilidade com o grande James Brown. O funk apareceu no Brasil a partir da década de 80. Segundo alguns estudiosos o funk no Rio foi influenciado por um ritmo da Flórida, chamado Miami Bass, que trazia músicas mais erotizadas e batidas mais rápidas. Mas na época, esse ritmo apareceu nos guetos brasileiros muito mais como música de protesto, principalmente contra o racismo, a violência e a miséria social.
Agora, engana-se quem julga o “Funk Carioca” por suas letras. A força do funk está na batida forte. Por isso, para essa moçada, quanto mais alto melhor.
Se quiserem fazer uma análise da letra, é melhor seguir pelo seguinte raciocínio: em um primeiro momento, eles usaram a música para dizer à sociedade: “Parem de nos discriminar! Parem de nos agredir! Parem de nos isolar num canto como se fôssemos o lixo desse país”. A sociedade achou graça, não deu ouvidos àquela música. Aí, num segundo momento, disseram: “Agora vamos escrachar. A sociedade e o Estado deram as costas para nós. Em assim sendo, não temos que obedecer às convenções desse país, nem aos conservadorismos dessa sociedade. Somos um Estado independente, com preceitos totalmente anárquicos. Seguimos ao pé da letra a cartilha de Bacunin e de Thoreau, embora não saibamos quem sejam eles.” Aleister Crowley deve ter soprado em seus ouvidos: "Façam o que quiserem, há de ser tudo da Lei". Então eles criaram a sua própria lei e disseram por meio do funk: “Escrúpulos, pudor, isso é para vocês. Aqui, no nosso pequeno país cultua-se a droga, o sexo livre e a liberdade de expressão.”
O funk, quer queira, quer não, é a voz dos excluídos. Fecharam-lhes as portas do mercado, aí eles criaram um mercado paralelo, pirata. E a música deles chegou aos ouvidos das filhinhas de papai, que já aprenderam a dançá-la com a bundinha arrebitada e o dedinho na boquinha. Dessa vez, a sociedade não achou graça nenhuma.
Quanto a escolha desse tipo de música para os eventos em Oliveira, disseram-me: “Ora, se é festa do peão, então tem que tocar música sertaneja.” Disse-lhe: Ora, nos moldes que se apresentam essas festas no Brasil, então, o que deveria tocar seria “country”, “western music” ou coisas do gênero, pois estamos muito mais para cowboys americanos, que para sertanejos brasileiros. Aliás, em se tratando de música, já deixamos de ser sertanejos há muito tempo. Ou será que podemos comparar os velhos regionalismos, intimamente ligados à cultura de raiz, com esse tipo de música voltada para a cultura comercial de massa?
A verdadeira música sertaneja existe, e embora o país tenha se tornado muito mais urbano que rural, ela resiste e pode ser ouvida até na Praça XV. Engana-se quem acha que o que toca no Faustão, no Gugu ou na Hebe é música sertaneja. O sertão está muito longe de Rio e de São Paulo. Até que alguns intérpretes estão caindo na real e mudando o discurso sobre o tema da sua música: “Eu canto música Romântica”. E põe romântica nisso. Meu coração chega a partir com tanta pieguice junta. Quantos amores perdidos, quantas traições. Engraçado, um dia desses estava pensando. A palavra que eles mais usam na hora de compor é “Ela”: “Ela é o meu amor”. “Ela me traiu”. “Ela me deixou”. Olha só, parece que acabei de criar um refrão aqui. Viram como é fácil? Hoje em dia faz-se música no Brasil como se produz extrato de tomate. Por incrível que pareça quem é bom não está na mídia. Não estou criticando genericamente todos os “neosertanejos”, mas a música barata. É preciso tomar cuidado. Arrepio só de lembrar que, certa vez, disseram a Villa-Lobos que a música dele era uma vergonha.
Com o funk a coisa é mais ou menos parecida, ou seja, foram modificando um ritmo antigo, mas não alteraram o nome. O funk, assim como o Rock, o Jazz, o Blues e o Soul, são gêneros musicais de origem negra, surgidos, em sua maioria, no sul dos Estados Unidos. Dizem que a Soul Music deu origem ao Funk, que mais tarde ganhou visibilidade com o grande James Brown. O funk apareceu no Brasil a partir da década de 80. Segundo alguns estudiosos o funk no Rio foi influenciado por um ritmo da Flórida, chamado Miami Bass, que trazia músicas mais erotizadas e batidas mais rápidas. Mas na época, esse ritmo apareceu nos guetos brasileiros muito mais como música de protesto, principalmente contra o racismo, a violência e a miséria social.
Agora, engana-se quem julga o “Funk Carioca” por suas letras. A força do funk está na batida forte. Por isso, para essa moçada, quanto mais alto melhor.
Se quiserem fazer uma análise da letra, é melhor seguir pelo seguinte raciocínio: em um primeiro momento, eles usaram a música para dizer à sociedade: “Parem de nos discriminar! Parem de nos agredir! Parem de nos isolar num canto como se fôssemos o lixo desse país”. A sociedade achou graça, não deu ouvidos àquela música. Aí, num segundo momento, disseram: “Agora vamos escrachar. A sociedade e o Estado deram as costas para nós. Em assim sendo, não temos que obedecer às convenções desse país, nem aos conservadorismos dessa sociedade. Somos um Estado independente, com preceitos totalmente anárquicos. Seguimos ao pé da letra a cartilha de Bacunin e de Thoreau, embora não saibamos quem sejam eles.” Aleister Crowley deve ter soprado em seus ouvidos: "Façam o que quiserem, há de ser tudo da Lei". Então eles criaram a sua própria lei e disseram por meio do funk: “Escrúpulos, pudor, isso é para vocês. Aqui, no nosso pequeno país cultua-se a droga, o sexo livre e a liberdade de expressão.”
O funk, quer queira, quer não, é a voz dos excluídos. Fecharam-lhes as portas do mercado, aí eles criaram um mercado paralelo, pirata. E a música deles chegou aos ouvidos das filhinhas de papai, que já aprenderam a dançá-la com a bundinha arrebitada e o dedinho na boquinha. Dessa vez, a sociedade não achou graça nenhuma.
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