O anúncio da programação do aniversário da cidade, com extensa agenda de shows, todos eles, única e exclusivamente, do gênero sertanejo, me reacendeu a reflexão sobre o tema que vem sendo discutido desde a Festa do Peão de Oliveira.
Quanto a escolha desse tipo de música para os eventos em Oliveira, disseram-me: “Ora, se é festa do peão, então tem que tocar música sertaneja.” Disse-lhe: Ora, nos moldes que se apresentam essas festas no Brasil, então, o que deveria tocar seria “country”, “western music” ou coisas do gênero, pois estamos muito mais para cowboys americanos, que para sertanejos brasileiros. Aliás, em se tratando de música, já deixamos de ser sertanejos há muito tempo. Ou será que podemos comparar os velhos regionalismos, intimamente ligados à cultura de raiz, com esse tipo de música voltada para a cultura comercial de massa?
A verdadeira música sertaneja existe, e embora o país tenha se tornado muito mais urbano que rural, ela resiste e pode ser ouvida até na Praça XV. Engana-se quem acha que o que toca no Faustão, no Gugu ou na Hebe é música sertaneja. O sertão está muito longe de Rio e de São Paulo. Até que alguns intérpretes estão caindo na real e mudando o discurso sobre o tema da sua música: “Eu canto música Romântica”. E põe romântica nisso. Meu coração chega a partir com tanta pieguice junta. Quantos amores perdidos, quantas traições. Engraçado, um dia desses estava pensando. A palavra que eles mais usam na hora de compor é “Ela”: “Ela é o meu amor”. “Ela me traiu”. “Ela me deixou”. Olha só, parece que acabei de criar um refrão aqui. Viram como é fácil? Hoje em dia faz-se música no Brasil como se produz extrato de tomate. Por incrível que pareça quem é bom não está na mídia. Não estou criticando genericamente todos os “neosertanejos”, mas a música barata. É preciso tomar cuidado. Arrepio só de lembrar que, certa vez, disseram a Villa-Lobos que a música dele era uma vergonha.
Com o funk a coisa é mais ou menos parecida, ou seja, foram modificando um ritmo antigo, mas não alteraram o nome. O funk, assim como o Rock, o Jazz, o Blues e o Soul, são gêneros musicais de origem negra, surgidos, em sua maioria, no sul dos Estados Unidos. Dizem que a Soul Music deu origem ao Funk, que mais tarde ganhou visibilidade com o grande James Brown. O funk apareceu no Brasil a partir da década de 80. Segundo alguns estudiosos o funk no Rio foi influenciado por um ritmo da Flórida, chamado Miami Bass, que trazia músicas mais erotizadas e batidas mais rápidas. Mas na época, esse ritmo apareceu nos guetos brasileiros muito mais como música de protesto, principalmente contra o racismo, a violência e a miséria social.
Agora, engana-se quem julga o “Funk Carioca” por suas letras. A força do funk está na batida forte. Por isso, para essa moçada, quanto mais alto melhor.
Se quiserem fazer uma análise da letra, é melhor seguir pelo seguinte raciocínio: em um primeiro momento, eles usaram a música para dizer à sociedade: “Parem de nos discriminar! Parem de nos agredir! Parem de nos isolar num canto como se fôssemos o lixo desse país”. A sociedade achou graça, não deu ouvidos àquela música. Aí, num segundo momento, disseram: “Agora vamos escrachar. A sociedade e o Estado deram as costas para nós. Em assim sendo, não temos que obedecer às convenções desse país, nem aos conservadorismos dessa sociedade. Somos um Estado independente, com preceitos totalmente anárquicos. Seguimos ao pé da letra a cartilha de Bacunin e de Thoreau, embora não saibamos quem sejam eles.” Aleister Crowley deve ter soprado em seus ouvidos: "Façam o que quiserem, há de ser tudo da Lei". Então eles criaram a sua própria lei e disseram por meio do funk: “Escrúpulos, pudor, isso é para vocês. Aqui, no nosso pequeno país cultua-se a droga, o sexo livre e a liberdade de expressão.”
O funk, quer queira, quer não, é a voz dos excluídos. Fecharam-lhes as portas do mercado, aí eles criaram um mercado paralelo, pirata. E a música deles chegou aos ouvidos das filhinhas de papai, que já aprenderam a dançá-la com a bundinha arrebitada e o dedinho na boquinha. Dessa vez, a sociedade não achou graça nenhuma.
Quanto a escolha desse tipo de música para os eventos em Oliveira, disseram-me: “Ora, se é festa do peão, então tem que tocar música sertaneja.” Disse-lhe: Ora, nos moldes que se apresentam essas festas no Brasil, então, o que deveria tocar seria “country”, “western music” ou coisas do gênero, pois estamos muito mais para cowboys americanos, que para sertanejos brasileiros. Aliás, em se tratando de música, já deixamos de ser sertanejos há muito tempo. Ou será que podemos comparar os velhos regionalismos, intimamente ligados à cultura de raiz, com esse tipo de música voltada para a cultura comercial de massa?
A verdadeira música sertaneja existe, e embora o país tenha se tornado muito mais urbano que rural, ela resiste e pode ser ouvida até na Praça XV. Engana-se quem acha que o que toca no Faustão, no Gugu ou na Hebe é música sertaneja. O sertão está muito longe de Rio e de São Paulo. Até que alguns intérpretes estão caindo na real e mudando o discurso sobre o tema da sua música: “Eu canto música Romântica”. E põe romântica nisso. Meu coração chega a partir com tanta pieguice junta. Quantos amores perdidos, quantas traições. Engraçado, um dia desses estava pensando. A palavra que eles mais usam na hora de compor é “Ela”: “Ela é o meu amor”. “Ela me traiu”. “Ela me deixou”. Olha só, parece que acabei de criar um refrão aqui. Viram como é fácil? Hoje em dia faz-se música no Brasil como se produz extrato de tomate. Por incrível que pareça quem é bom não está na mídia. Não estou criticando genericamente todos os “neosertanejos”, mas a música barata. É preciso tomar cuidado. Arrepio só de lembrar que, certa vez, disseram a Villa-Lobos que a música dele era uma vergonha.
Com o funk a coisa é mais ou menos parecida, ou seja, foram modificando um ritmo antigo, mas não alteraram o nome. O funk, assim como o Rock, o Jazz, o Blues e o Soul, são gêneros musicais de origem negra, surgidos, em sua maioria, no sul dos Estados Unidos. Dizem que a Soul Music deu origem ao Funk, que mais tarde ganhou visibilidade com o grande James Brown. O funk apareceu no Brasil a partir da década de 80. Segundo alguns estudiosos o funk no Rio foi influenciado por um ritmo da Flórida, chamado Miami Bass, que trazia músicas mais erotizadas e batidas mais rápidas. Mas na época, esse ritmo apareceu nos guetos brasileiros muito mais como música de protesto, principalmente contra o racismo, a violência e a miséria social.
Agora, engana-se quem julga o “Funk Carioca” por suas letras. A força do funk está na batida forte. Por isso, para essa moçada, quanto mais alto melhor.
Se quiserem fazer uma análise da letra, é melhor seguir pelo seguinte raciocínio: em um primeiro momento, eles usaram a música para dizer à sociedade: “Parem de nos discriminar! Parem de nos agredir! Parem de nos isolar num canto como se fôssemos o lixo desse país”. A sociedade achou graça, não deu ouvidos àquela música. Aí, num segundo momento, disseram: “Agora vamos escrachar. A sociedade e o Estado deram as costas para nós. Em assim sendo, não temos que obedecer às convenções desse país, nem aos conservadorismos dessa sociedade. Somos um Estado independente, com preceitos totalmente anárquicos. Seguimos ao pé da letra a cartilha de Bacunin e de Thoreau, embora não saibamos quem sejam eles.” Aleister Crowley deve ter soprado em seus ouvidos: "Façam o que quiserem, há de ser tudo da Lei". Então eles criaram a sua própria lei e disseram por meio do funk: “Escrúpulos, pudor, isso é para vocês. Aqui, no nosso pequeno país cultua-se a droga, o sexo livre e a liberdade de expressão.”
O funk, quer queira, quer não, é a voz dos excluídos. Fecharam-lhes as portas do mercado, aí eles criaram um mercado paralelo, pirata. E a música deles chegou aos ouvidos das filhinhas de papai, que já aprenderam a dançá-la com a bundinha arrebitada e o dedinho na boquinha. Dessa vez, a sociedade não achou graça nenhuma.
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