Há pouco tempo produzi um documentário sobre a história da economia de Oliveira. Com esse trabalho pude descobrir muita coisa que não sabia. Uma delas é que a cidade já teve três fábricas de cerveja, e chegou a exportar 80 mil garrafas por ano.
Todas as descobertas me deixaram surpresos, porém, ao mesmo tempo, me acrescentou um problema: Um produto de audiovisual precisa ter áudio e imagens. A questão era: Como ilustraria um texto que fala de fábricas e pontos comerciais, dos quais, muitos já não existiam mais. Para alguns casos consegui fotos ou usei imagens de produtos ou objetos que remetiam aos tais ofícios, mas, em outros, não havia nada que pudesse referenciá-los.
Pesquisando a localização desses comércios, descobri que muitos tinham deixado de existir, mas a casa ou o prédio onde eles funcionaram, não. Assim consegui resolver o problema: Com imagens dos casarões antigos de Oliveira pude dar uma referência dos pontos comerciais que ali se estabeleceram, remetendo o espectador para a época em que eles existiram.
O patrimônio histórico de Oliveira carrega a nossa história. Fábricas, bares, mercearias, alfaiates, fotógrafos e barbeiros, passaram, mas a história esta enraizada. Graças às ações de pessoas que lutaram pela conservação desse patrimônio, pude contar, através dele, a história da nossa economia. Esse pensamento prevalece também nos países mais desenvolvidos da Europa e do Oriente, mas, ao que parece, por aqui, não.
Esta semana, infelizmente, vi mais uma casa de valor histórico ser demolida na cidade. Uma construção de 1930 que trazia detalhes arquitetônicos próprios do seu tempo. Um estilo que remetia para a época áurea da estrada de ferro e da Praça da Estação. Não sou saudosista, mas valho-me das raízes para crescer com solidez. Lembro-me que ali, anexo àquela casa, havia uma vendinha onde levava café para moer. Quando descia para as minhas aulas no Francisco Fernandes sempre passava lá para compra balas “Banda”. Certa vez eu e meu amigo Pepê voltávamos do grupo e vimos um menino que sempre ficava na porta da vendinha para insultar-nos. Nesse dia resolvemos dar-lhe uma lição, mas o seu Zé apartou a briga e nos fez pegar na mão um do outro, depois nos tornamos grandes amigos. Toda vez que passo por ali me lembro desse fato. Mas agora está tudo acabado. Destruíram a minha referência histórica e creio que a de muita gente.
Vi uma foto em que aparece uma locomotiva, em primeiro plano, estacionada onde hoje é o hospital de Oliveira e, ao fundo, a casa que acabaram de demolir. Assim como a vendinha do seu Zé, havia vários outros armazéns no entorno da estação, e que hoje são referências daquela época. Isso é história. História é cultura. E cultura é a alma, é a identidade de um povo. Estão demolindo a nossa história, destruindo a nossa cultura, e nos deixando sem identidade. O pior é que indiretamente participei dessa decisão, porque fazia parte do conselho que votou pela demolição. Votei contra, é claro, mas vi colegas votarem a favor. Fiquei de queixo caído. Como pode um Conselho de Patrimônio Cultural votar pela demolição de um bem histórico?
Procurei não me influenciar pelo apreço que tinha por aquela casa ou pela noção de história da arte, de estética e de outros conhecimentos que adquiri no curso de arquitetura. Votei pela avaliação que me trazia um laudo desenvolvido por um arquiteto e por um historiador, credenciados pelo IEPHA. Argumentei durante a reunião que, como leigos, deveríamos nos apegar a esse laudo. Não podíamos tomar uma decisão importante dessa baseada na opinião subjetiva de cada um. O imóvel foi inventariado, e segundo os técnicos, possui valor histórico e arquitetônico, e comunga com as construções do seu entorno. Quem somos nós para contradizer? Será que os membros leigos da irmandade do hospital de Oliveira discordam dos diagnósticos dos médicos e mandam trocar os remédios dos pacientes?
Algumas coisas foram ditas, na imprensa, por colegas que eu respeito muito, mas tenho que discordar: Uma delas diz que não se pode limitar o direito de propriedade em nome do interesse público. Ora, o direito de propriedade tem que ser respeitado, mas é lógico que o interesse público prevalece sobre interesse individual. E é claro que o valor histórico torna o bem de interesse público. Em outra, um membro do conselho disse ter lamentado que isso tenha vazado para a população. Meu Deus, mas o conselho está ali representando o povo de Oliveira e qualquer decisão tomada por ele deve ser pública! Esse mesmo conselheiro afirmou que a grande maioria votou pela demolição. Mas que grande maioria é essa, já que participaram da reunião dez pessoas, das quais cinco eram contra, e cinco a favor. Um membro do conselho que era contra a demolição teve que substituir o presidente, por isso perdeu o direito de voto, dando, portanto, a vitória para os que eram a favor. O engraçado é que cinco pessoas votaram pela demolição e dez se desligaram do conselho por não concordar com a decisão.
Penso que em momentos como esses é preciso deixar de lado as relações, sejam elas comerciais, de amizade, ou de interesses econômicos, porque o que está em jogo é a nossa história, a nossa cultura, a nossa identidade. Quando os netos e bisnetos forem catalogar a vendinha do Seu Zé ou a casa que ali existia, como parte do trabalho que a professora de história pediu, nós não estaremos mais aqui, nem os nossos amigos, nem os nossos clientes. Mas o nosso erro ficará. Assim como ficou o da demolição do Teatro Municipal e de tantos outros casarões que já se foram.
Se persistirmos nesse erro, acabaremos condenados pela própria história ao legar para o futuro um deserto ecológico e cultural a um povo carente de algo que os identifique.
Luciano Soares
terça-feira, 23 de outubro de 2007
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Hasta Siempre Comandante!
O título acima também dá nome a uma obra prima da música cubana em que o compositor Carlos Puebla homenageia Che Guevara, o médico argentino que se propôs a lutar por um povo que ele nem sequer conhecia.
Ernesto Guevara de la Serna, por obra do destino, conhece, no México, um certo Fidel Castro, que lhe faz um proposta indecorosa: Lançar-se ao Golfo do México rumo a um país desconhecido junto com 81 companheiros para lutar contra mais de três mil homens apoiados militarmente pelos Estados Unidos.
O que um jovem recém-formado em medicina pela Universidade de Buenos Aires poderia dizer diante de uma proposta dessas? A sensatez sugerida pela ordem teórica ditada pelo capitalismo nos levaria a imaginar que ele não aceitaria a proposta. Mas ele disse sim.
Começava ali a epopéia de um homem que mais tarde seria preconizado como o grande tutor da causa revolucionária.
Ao desembarcar em Cuba o exército rebelde foi recebido por um bombardeio aéreo que o faz sofrer grandes baixas. Reduzido a um contingente de 18 soldados feridos e mal armados, o grupo marcha para a legendária Sierra Maestra onde daria início a batalha de Davi contra Golias. Aqueles jovens idealistas começavam ali o que se chamou de “A revolução impossível”. Foi dada a partida para a mais romântica das empreitadas da esquerda latino-americana. Começava a Revolução Cubana.
- Mas, por que ele disse sim?
Essa é a indagação pairou sobre as mentes de muitas pessoas que não o conheciam mais profundamente. – Mas o que diria o filho de uma família que via permanentemente a mesa de jantar rodeada de meninos pobres, fiéis escudeiros do filho mais velho. O que poderia dizer um médico recém-formado que ignora a possibilidade de adquirir automóveis importados e mansões. Que parti em busca dos mais recônditos leprosários para trabalhar a troco de cama e comida? Qual resposta poderia dar um aventureiro que da garupa de uma motocicleta conhece toda a miséria e toda a sorte de exploração que possa recair sobre um povo que vive à sombra de um império? Como poderia reagir uma pessoa que se alimentava ideologicamente da indignação de ver um ser humano ser explorado por outro.
- Quem o conhecia tinha plena convicção de que aquele jovem se lançaria sem pensar em uma luta cuja causa era tudo aquilo que lhe serviu de alimento enquanto construía o próprio caráter. Não havia para ele outra resposta se não dizer sim a uma proposta que lhe tiraria da posição de observador para assumir a função de modificador de uma ordem pré-estabelecida. Era chegada, portanto, a hora de cumprir aquilo que bradou seu comandante: “Em 1956 seremos livres ou seremos mártires”.
Quer saber o final dessa história? Eles se tornaram livres. O impossível aconteceu. Davi venceu Golias. Aqueles 18 soldados que iniciaram a luta contra os três mil, venceram. A Revolução triunfou. Como dizia Che Guevara: “O extraordinário virou cotidiano”.
Ao aceitar a proposta de Fidel Castro, Che desafiou a Grande Potência do Norte que há décadas dominava econômica e politicamente a ilha. Venceram, expulsaram os americanos e deram um “mau exemplo” para toda a América Latina.
É isso o que esbraveja a velha e resignada elite burguesa, doutrinada aos moldes do capitalismo. É essa verdade que certa revista brasileira e a mídia neoliberal desejam subverter. É esse exemplo que pasquins a serviço da classe opressora desejam apagar. Depois da malfadada campanha contra o MST, contra as ONG’s e contra todo e qualquer movimento social, eis que a revista Veja vem tentar subverter a verdade histórica, mas dá um tiro no próprio pé: Na passagem dos 40 anos da morte de Che Guevara ela diz: “Por suas convicções ideológicas, Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história já arremessou há tempos outros teóricos(...)”. Há dez anos atrás, no 30º aniversário da morte de Che, a revista tinha outra opinião: “Che Guevara (...) era bonito, destemido e morreu jovem, defendendo conceitos igualmente jovens, como a solidariedade e a justiça social”.
O filósofo francês Jean-Paul Sartre classificou Che como “o mais completo ser humano da nossa era”. Como escreveu Pablo Neruda, o poeta preferido de Guevara: "Podem matar as flores, mas, jamais acabarão com a Primavera".
Luciano Soares
Confira abaixo uma síntese da história de Che Guevara:
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
----------------- CHE GUEVARA -----------------
Há 48 anos nascia um mito
O dia 9 de outubro de 2015 marca os 48 anos da morte de Che Guevara, um médico que para muitos se tornou um herói, para outros, um mito, e para alguns nada disso. Opiniões a parte, a história mostra que ele não só mudou o rumo da política mundial, mas também a mentalidade de várias gerações.
Ao final dos anos 20, em Rosário na Argentina, vem ao mundo, prematuro e muito fraquinho, Ernesto, o primogênito de uma família de cinco filhos. Seus pais, Ernesto Guevara Lynch e Célia de la Serna, desde os primeiros anos tiveram problemas com Ernestinho por causa dos ataques de asma que o torturaria durante toda a vida.
O pequeno Guevara entregava-se vorazmente ao esporte e a leitura. Nas longas horas que passava em casa, Ernesto devorava clássicos como Pablo Neruda e García Lorca, entre outros.
A MEDICINA E AS VIAGENS
A consciência política do jovem Guevara começava a nascer inevitavelmente pela influência dos pais e pela intelectualidade de Córdoba, onde morava. Um sentimento antiamericano já podia ser notado. Aos dezesseis anos Ernesto Guevara começou a ler Marx e Engels.
Após terminar os estudos secundários, Ernesto matricula-se na Faculdade de Medicina de Buenos Aires. Durante o curso, era comum vê-lo discutindo com seus colegas a respeito da socialização da medicina. Guevara defendia com vigor a abolição da medicina comercial e se colocava contra a desigualdade na distribuição de médicos entre a sociedade e o campo.
Insistia também na tese de que era necessário dar um tratamento mais humano aos pacientes e, sobretudo, em “como era importante para a psique dos leprosos o modo familiar como os tratavam”.
No início de 1949, Guevara percorreu as províncias do Norte de seu país em uma espécie de bicicleta motorizada que ele mesmo projetou e construiu. A viagem permitiu-lhe romper com as formas ortodoxas de turismo; ele assumiu a postura do que hoje chamaríamos de mochileiro.
Para evidenciar isso, veja o que ele próprio escreveu em seu diário de viagem: “Não cultivo os mesmos gostos que os turistas [...] o Altar da Pátria, a catedral, o precioso púlpito e a virgem milagrosa [...] a sede da revolução [...] não é assim que se conhece um povo, seu modo de viver ou sua interpretação da vida, aquilo é uma luxuosa cobertura; a alma de um povo se reflete nos enfermos dos hospitais, nos reclusos da prisão, no andarilho ansioso com quem se conversa enquanto se observa o turbulento caudal do rio Grande abaixo”.
Seria interessante citar também o trecho de uma carta que ele escrevera a sua tia Beatriz quando passava pelo Brasil: “Desta terra de belas e ardentes mulheres, mando um abraço compassivo a Buenos Aires, que cada vez mais me parece aborrecida [...] Depois de superar mil dificuldades, lutando contra os tufões, os incêndios, as sereias com seu canto melodioso (aqui as sereias são da cor do café), levo como recordação desta terra maravilhosa [...] um coração saturado de belezas”.
No início de 1952 começou a primeira grande viagem de Che Guevara; ele visitaria cinco países ao longo de quase oito meses em companhia de seu amigo Alberto Granado. A intenção inicial do Che seria fazer todo o percurso em uma motocicleta Norton, batizada com o nome de La Poderosa II, porém, depois de repetidas avarias no início da viagem a moto teve que ser abandonada em Santiago no Chile.
A dupla de rapazes fez mais ou menos tudo o que se propôs. Através dessa viagem, Che Guevara passaria a conhecer a triste realidade de miséria, injustiças e desigualdades em que se enquadrava quase toda a América latina naquela época.
Após receber o título de doutor da Faculdade de Medicina de Buenos Aires em 12 de outubro de 1953, apenas um mês depois, tomou o trem na estação de Retiro acompanhado do amigo Carlos Ferrer, o Calica, em direção à Bolívia, primeira escala rumo à Venezuela. Pouco depois de completar 25 anos, Che Guevara deixa sua pátria para nunca mais voltar.
A POLÍTICA: DE MÉDICO A REVOLUCIONÁRIO
Ernesto Guevara e Calica Ferrer chegaram a La Paz em 11 de julho de 1953, um ano depois da tomada do poder pelo Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), quando o país ainda vivia um efervescente período de reforma. A dupla permaneceu cinco semanas na Bolívia, período apontado como passo fundamental na evolução política do Che.
Depois da Bolívia Ernesto optou por viajar para a Guatemala, enquanto Calica Ferrer viajaria para a Venezuela ao encontro de Alberto Granado, mas antes disso, passou pelo Panamá e Costa Rica.
Foi aí que se deu o primeiro contato dele com os cubanos, ao encontrar-se com dois sobreviventes exilados do assalto ao Quartel Moncada, ocorrido em 26 de julho de 1953. Calixto García e Severino Rossel foram os primeiros a lhe contar sobre a história inacreditável da tentativa de Fidel Castro de derrubar o regime de Fulgêncio Batista assaltando o quartel militar da segunda maior cidade de Cuba.
Guevara chegou à Guatemala as vésperas do ano-novo, em 1953. Permaneceu no país durante oito meses e meio. O objetivo inicial era ficar dois anos na Guatemala, antes de se dirigir ao México.
No entanto, em sua luta por um trabalho, o máximo que o Che conseguiu foi um modesto salário em um laboratório no Ministério da Saúde, depois de um período em que vendeu enciclopédias.
A Guatemala foi para o Che o país da iniciação política. Foram tempos cruciais em sua vida e na história da América Latina. Iniciava naquele país uma verdadeira covardia política cujo objetivo se tornaria um estereótipo rude por que passaria quase todos os países da América Latina: a destruição por parte do imperialismo, de regimes honestos e justos, em favor de interesses políticos e comerciais dos Estados Unidos.
Da Guatemala, Ernesto Guevara decidi viajar para o México. Em sua bagagem, levava uma última recordação da Guatemala: o apelido que os amigos tinham posto nele, por causa de sua nacionalidade e modo de falar - o Che.
O MÉXICO E FIDEL CASTRO
Em meados de setembro Che Guevara chega a Cidade do México, capital da corrupção, como escrevera a sua tia Beatriz. Os primeiros meses naquele país, em fins de 1954, não foram fáceis: sem dinheiro, sem trabalho, sem amigos.
Tinha apenas o endereço de vários amigos de seu pai, um deles, um roteirista de cinema chamado Ulisses Petit de Murat, que o recebeu afetuosamente. O Che comprou uma máquina fotográfica, e junto com um companheiro que havia conhecido durante a viagem de trem, começou a ganhar a vida tirando fotos de turistas norte-americanos nas ruas da Cidade do México.
Conseguiu um mal remunerado emprego de pesquisador de alergia no Hospital Geral.
Em junho, o médico argentino foi apresentado a Raúl Castro, líder estudantil cubano recém-saído de uma prisão de Havana. Poucos dias depois, o irmão deste chegou ao México, e Raúl levou o Che para conversar com ele.
Foi em julho de 1955 que Ernesto Guevara conheceu Fidel Castro. - “Na realidade, depois da experiência vivida em minhas caminhadas por toda a América Latina e do arremate na Guatemala, não era difícil incitar-me a participar de qualquer revolução contra um tirano.” (Che Guevara)
Fidel Castro dirigiu-se ao México com um único objetivo: dar início a uma insurreição contra a ditadura de Batista. A situação de Cuba não era das melhores, depois da ocupação direta dos Estados Unidos iniciada nos fins do século XIX, o país passou a ser administrado por governos subalternos aos interesses norte-americanos.
- “Aquela pequena ilha solta em meio ao Mar do Caribe era um país sem futuro, sem amanhã, sem porvir, sem o direito de querer, a mingua de orgulho. Um povo sem esperança. Nessa Cuba, a expectativa de progresso da mulher camponesa, da filha do trabalhador, da menina de classe média era a prostituição. O agricultor não tinha terra para plantar: 70% de todo o território cubano estava nas mãos de militares, grandes latifundiários e executivos norte-americanos”. (Jorge Castañeda – Biógrafo de Che Guevara)
Em agosto Guevara casa-se com a peruana Hilda Gadea. Em novembro durante uma visita de Castro aos Estados Unidos, viajou em lua-de-mel para o Sudeste mexicano, onde finalmente pode conhecer as ruínas da civilização Maia.
De volta a cidade do México Che Guevara aceita o convite de Castro e adere ao grupo que marcharia até Cuba para tentar derrubar o ditador Fulgêncio Batista. O treinamento para a luta armada logo começou. A lealdade e solidariedade de Castro para com seus homens, contribuíram para dissipar as dúvidas do argentino, fortalecendo a sua decisão de se unir à expedição.
O Che participou dos exercícios físicos, de tática, de tiro e resistência junto com os demais, ao mesmo tempo em que desempenhava a função de chefe de pessoal. E mesmo com a asma e a altitude, descobriu que podia manter-se a altura de seus companheiros e obter as melhores classificações do grupo. Guevara foi classificado como número 1 no grupo. Em tudo teve nota máxima: 10.
Era chegada a hora de partir rumo a Cuba, o Movimento Vinte Seis de Julho estava perto de acontecer. Hilda Gadea, a esposa do Che, partira para o Peru junto com a filha. Um iate (“o Granma”, como foi chamado) foi comprado por 15 mil dólares para transportar os revolucionários.
A partida foi precedida por uma longa série de problemas pessoais e contratempos políticos, logísticos e militares: dias antes, a polícia mexicana confiscou aos cubanos vinte fuzis e 50 mil cartuchos na capital.
Apesar dos problemas, Fidel tinha pressa. Não tanto por causa das pressões exercidas pelas autoridades, nem pelos perigos derivados da virtual ação dos agentes de Batista no México, mas pela promessa repetida em várias ocasiões: “Em 1956 seremos livres ou seremos mártires”.
Assim, não havia outra alternativa para o grupo a não ser lançar-se ao Golfo do México antes que o ano terminasse.
Nasce um guerrilheiro
Na noite de 25 de novembro, num velho iate, cuja capacidade era de apenas 20 passageiros, partiram 82 soldados revolucionários atravessando o Canal do México, com as luzes apagadas e os motores silenciosos.
Che Guevara assumiu o comando de umas das frentes do exército revolucionário e após três anos de batalhas na Sierra Maestra, e de muitas baixas de ambos os lados, com o apoio da população, os objetivos da missão foram sendo alcançados. Faltava pouco.
O exército de Che Guevara marchou para o grande e último desafio: o domínio de Santa Clara, uma cidade de 150 mil habitantes, o principal núcleo urbano do centro de Cuba, onde a guarnição militar compreendia mais de 2500 homens e dez tanques, contra o jovem, inexperiente e fatigado grupo de 300 homens comandado por Che Guevara. As estratégias do comandante foram superando todas as dificuldades e a inferioridade numérica.
O domínio de um trem blindado, no qual deslocavam os soldados de Batista se tornou um fator decisivo daquela batalha, deixando os rebeldes próximos da vitória e atribuindo ao Che o mérito de ser um dos grandes responsáveis pelo triunfo da Revolução.
O primeiro dia de 1959 foi marcado pela negociação da rendição dos oficiais aquartelados em Santa Clara. A batalha terminou. O povo sai às ruas, festeja a vitória, e aclama Che Guevara. Os rebeldes marcham rumo a capital: a Revolução triunfou.
A luta continua
Depois que os rebeldes tomaram o poder, Guevara ocupa vários cargos importantes no governo cubano, como os de presidente do Banco Nacional de Cuba e Ministro da Indústria. O governo revolucionário alcança grandes avanços sociais.
Mas o Che não se acomoda com a vitória da Revolução e não consegue se acostumar com o poder e, em abril de 1965, viaja para o Congo, na África. Acompanhado por um grupo de cubanos, e sem o conhecimento de Fidel, Guevara parte para se aliar ao exército rebelde na luta contra os brancos mercenários contratados pelo ditador Tshombe.
Lá permanece até o inicio de 1966. Com a derrota dos rebeldes, os sobreviventes voltam para Cuba, mas Che não esta satisfeito: Envia a Fidel Castro a sua famosa carta de despedida ao povo de cuba e parte para a Bolívia com a intenção de comandar a luta contra o ditador Barrientos.
Nasce um mito
Che permanece na Bolívia de 7 de novembro de 1966 a 8 de outubro de 1967. Depois de enfrentar fortes ataques de asma e problemas estratégicos causado por um erro de logística, ou suposta traição, de um informante boliviano, Guevara é capturado junto com alguns companheiros.
Até seus inimigos se surpreenderam no momento da captura quando ouviu do próprio Ernesto: “Não atirem. Sou Che Guevara. Valho mais vivo do que morto.” Um dia depois de ser capturado pelo exército boliviano Ernesto Guevara de la Serna é executado com o tiro no peito, aos 39 anos de idade.
Seus restos mortais foram encontrados na Bolívia em 1997 e levados para Cuba. Che Guevara deixou três filhos e um legado de superação e luta por justiça social.
Carta de Che aos filhos:
Queridos filhos, Se alguma vez tiverem que ler esta carta, será porque eu não estarei mais entre vocês. Quase não se lembrarão de mim e os mais novos não recordarão nada. Seu pai sempre foi um homem que atua como pensa e, com certeza, tem sido leal às suas convicções. Cresçam como bons revolucionários. Estudem muito para poder dominar a técnica que permite dominar a natureza. Lembrem-se que a Revolução é o mais importante e que cada um de nós, sozinho, não vale nada. Sobretudo, sejam sempre capazes de sentir no mais fundo de seus íntimos qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a qualidade mais linda de um revolucionário.
Até sempre, filhinhos, espero vê-los ainda. Um beijo grande e um grande abraço do Papá.
Pesquisa e texto: Luciano Soares
Assinar:
Postagens (Atom)