Uma caixa com fósforos usados. Então você joga a toalha suja de porra no canto do banheiro e limpa as mãos.
Bebe pouca água. Seu fígado está atolado de trabalho. Muito ansiolítico, muito álcool, muita cocaína, muita porcaria. Suas olheiras apenas confirmam o que ninguém duvida. Então tu te jogas na cama e olha o teto, pensa em rabiscar alguma frase de efeito na parede. A noite fica num silêncio delicioso e só se ouve o barulho dos quartos refrigerados. Se tiver sorte, algum casal trepando num apartamento ao lado, uma vadia gemendo, se tiver azar, apenas o barulho das molas no andar de cima.
Pensa no dia de ontem, pensa no amanhã, pensa sobre as tarefas domésticas, as contas, os compromissos de trabalho e toda esta ladainha cotidiana que nos coloca bem de frente para o que realmente somos. Escravos.
E todo esse lenga lenga da televisão, os jornais acumulando em cima da mesa da sala, os policiais armados, os bandidos falando gírias, os adolescentes retardados, a dinâmica perfeita do desejo pelo suicídio da espécie.
Que nada. Você liga o som alto pra caralho, mas só no seu ouvido. Ouve umas guitarras destorcidas e sente vontade de quebrar a cara de um desses dementes que andam pelas ruas sorrindo e mascando chiclete, como se estivesse ruminando feito um boi. Não é que a felicidade lhe incomode, eu sei. É que você não entende do que tanto estão achando graça.
Vê um mendigo andando na contra-mão e imagina que ele possa ser atropelado a qualquer momento e todas as partes de seu corpo serão atiradas ao além. Que grande merda. O cheiro da cachaça entorpece seus sentidos. Esse mendigo é mais digno que o filho da puta que desceu no elevador logo cedo ostentando um Iphone que comprou em 100 vezes sem juros.
Olha para aquele troféu de que ganhou quando jogava futebol pela escola e pensa: "Caralho, eu quis ser jogador de futebol um dia".
Foda-se tudo.
Se deixou os pratos sujos na pia e o resto de vinho de alguns dias atrás, sabe que não terá ninguém pra lavar.
Vai alimentar as baratas e depois observá-las sem medo transitando pelo chão da sua cozinha. Isso pode parecer decadente, mas é glamour. Neste mundinho depressivo em que as pessoas engolem medicamentos feito jujubas para suportarem ser o que não querem, e descobrem que pela internet podem ser o que sempre sonharam, então por quê levar alguma coisa a sério?
Você não enxerga mais nenhuma utopia. O máximo que suas amigas querem é uma bunda grande e seios novos e seus colegas? Uma boneca inflável. Ninguém ama ninguém.
Ouviu dizer que o mundo iria acabar em breve, leu sobre conspirações, debateu sobre filosofia no boteco tomando cerveja e viu na fumaça do cigarro a piada que é ser honesto num país de merda.
Toca o celular e é sua ex namorada te cobrando alguma satisfação de alguma merda que você escreveu num desses sites de relacionamentos. Todas as amigas dela divagam sobre o quão cafajeste tu fostes. Pobres donzelas. Todas com suas coroas de galhos na cabeça, sonhando com príncipes encantados e dormindo com porcos comedores de travestis.
Você precisa é de umas férias. Mas não tem dinheiro.
Você precisa de um revólver para assassinar uma meia dúzia de idiotas que não merecem o oxigênio poluído que respiram nesta cidade. Você precisa é de uma dose de uísque. Não param de chegar e-mails com todo tipo de produto. Como eles sabem seu nome? Dilatadores de piroca, fotos amadoras repletas de vírus, promoções de animais de estimação e o mundo só piora.
Lembra quando você achava que viva uma vida de merda?
Agora você ri, porque tem a chance de encontrar um maldito desses que pensam que sabem de tudo e dar um escarro na cara dele.
Ontem você dormiu no sofá de novo. Antigamente acordaria com a televisão fora do ar, mas os pastores compraram todos os horários. Você reparou que eles se aproveitam do desespero, da solidão, da culpa dessa gente fudida que acha que poderá mudar os rumos entregando o coração a Jesus. Você conhece até umas pessoas que conseguiram mesmo. Mudaram. Saíram dos excessos mundanos e agora cometem excessos espirituais, porque tem medo do inferno. Você não tem medo do inferno porque convive com ele todos os dias na sua cabeça. Seus demônios gargalham entre uma trepada e outra pelas baladinhas da Paulista.
E sabe do que mais?
Quem esses merdas pensam que são para falarem alguma coisa a seu respeito?
Eles nem te conhecem.
A filha do porteiro é uma gracinha. Quando ela volta da escola você fixa a mente entre as coxas dela. Mas sabe da maior?
Ela já está grávida. Tá desesperada procurando com o namorado uma clínica de fundo de quintal que enfie uma agulha de crochê no seu útero e retire esse feto maldito de seu convívio. Se o pai descobrir, mata ela de porrada.
Você decorou um poema novo e logo mais vai recitá-lo no meio daquele bando de poetas bêbados e fudidos.
Você pirou de vez.
Você deve procurar uma terapia imediatamente. Dessas feita por hippies que entendem de energia positiva e pedras com super poderes.
Uma caixa com fósforos usados. Então você joga a toalha suja de porra no canto do banheiro e limpa as mãos.
Um novo dia para fazer tudo errado de novo.
Vai lá e mostra pra eles como é se diverte, rindo muito doido no espelho.
Bando de gente imbecil.
Todos doentes querendo a mesma merda.
Você tem orgulho de não ser como eles.
No fim...
Você foi reprovado por mau comportamento.
E o que é melhor?
Não fez questão de passar de ano vestido de branco.
Por que essa felicidade fajuta que estão esfregando na cara de todo mundo, você desprezou.
Então senta na cadeira de frente pra janela e sorria.
É tudo verdade!
Tico Sta Cruz
segunda-feira, 26 de abril de 2010
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