quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Crime e Descaso Contra o Patrimônio Histórico de Oliveira





Uma irracionalidade. Não há outra palavra que possa classificar esse descaso com o nosso patrimônio histórico. Quem despreza a história não pode ter visão de futuro.

Quem ignora a cultura e o patrimônio artístico, seja ele material ou imaterial, dá a si um atestado de microcefalia crônica. Isso mesmo, “cabeça pequena”. Será que só a sua destruição por total nos fará acordar para aquilo que perdemos?

Será que o exemplo do que fizeram com as áreas verdes, e que agora correm contra o tempo para recuperá-la, se repetirá naquilo que fora edificado pelo próprio homem?

Como cita o artigo do João Bosco, editor deste jornal, na semana passada, a cidade recebe R$127 mil por ano de repasse de ICMS, como prêmio por ter conservado o seu patrimônio histórico.

E esse valor poderia ser bem maior se o recurso fosse reinvestido naquilo que é a fonte dessa renda, ou seja, na conservação e tombamento de outros bens móveis ou imóveis.

Para quem não sabe, isso se chama desenvolvimento sustentável. Imagina se você tem uma lavoura de café que lhe garanta uma renda anual razoavelmente boa. Digamos que ao fim da colheita você gaste todo o lucro com outras coisas e não reserve uma parte dessa renda para a manutenção da lavoura e da terra.

Nesse caso, é óbvio que essa fonte não tardará em secar e deixará de render o lucro com a qual o seu proprietário contava anualmente. É mais ou menos isso o que vai acontecer com a nossa cidade caso não tomemos alguma providência de imediato.

Temos um conselho de patrimônio formado por 18 incansáveis membros e outros milhares de populares que não fazem parte desse conselho, mas que formam uma tropa de choque para defender, sem ônus nenhum, aquilo que de mais valor possui essa cidade depois do seu povo, a sua cultura e a sua história.

Os homens passam. Empresas, indústrias e governos passaram, mas a nossa cultura está enraizada. Os nossos bens imateriais estão de certa forma protegidos, porque estão nas mãos e na cabeça, do nosso povo.

Como o congado vem sendo mantido pela família Bispo e seus colaboradores, como a semana santa se mantém viva através de Múcio Lo Buono, Geraldinho Laranjo e pela fé de todo o povo, como o carnaval, folia de Reis, culinária, capoeira, samba, hip-hop e muito mais.

Mas, e o nosso patrimônio material que está a mingua? É revoltante andar por aí e ver nossos casarões históricos morrendo aos poucos. Será que as pessoas daqui só pensam em lucro, lucro e lucro? Será que a ganância do homem se mostrará sempre maior que o seu senso de cidadania?

Nunca teremos noção de que somos meros passageiros desse mundo, de que o usamos e depois precisamos deixá-lo porque outras pessoas virão para usufruir dele? Quantos crimes já foram cometidos contra o nosso patrimônio histórico, até quando vamos permitir que eles continuem?

É preciso ter consciência de que o centro comercial de Oliveira não pode se restringir somente no entorno da Praça XV. Se assim for a cidade nunca vai crescer.
Há exatos dez anos estive em Ouro Preto, a cidade que mais recebe repasse de ICMS no estado, e senti a mesma sensação que estou sentindo em Oliveira agora.

Os casarões se mostravam em péssimo estado de conservação, muitos deles caíram e uma série de incêndios começou a acontecer. Com o tempo o prêmio proveniente da conservação daquele patrimônio começou a diminuir e os turistas também. Esse ano pude voltar àquela cidade e me surpreender. Tudo está impecável.

Os casarões totalmente recuperados, pintados com cores vivas, um há intenso controle de tráfego de veículos nas ruas. Uma superestrutura com ótimos hotéis e restaurantes precisou ser montada para receber o elevado número de turistas, entre eles vários estrangeiros, que passou a visitar a cidade desde então.

Pude concluir, após aquela visita, que uma gestão consciente, que soube aplicar os recursos e mostrar para as pessoas que elas só têm a ganhar com a conservação do seu patrimônio, tornou a cidade funcional, do ponto de vista econômico, e melhorou a qualidade de vida do lugar.

É disso que estamos precisando por aqui: gestão consciente, que dê a proprietário condições e vantagens para conservar o seu patrimônio, reservando o seu direito de propriedade, mas sempre com a consciência de que há ali um valor econômico de proveniência material, mas, agregado a isso, há um valor cultural e histórico de valor incalculável.

4 comentários:

Unknown disse...

Meu bem,

Gostei muito do blog. Mais um espaço para expor as suas idéias e ideais.

Boa sorte na nova empreitada!!!

Sucesso.

Beijos,

Silvia

Unknown disse...

Parabéns, Luciano. Continue a lutar pelas causas nobres da vida.O Homem que não preserva o seu passado, não terá presente, nem futuro. Todos estamos aqui de passagem, nada é nosso, nem de ninguem, e tudo é de todos.
Abração.

manuelzinho rabelo disse...

Quem destroi seu passado nao constroi seu futuro.
Vai em frentem Tchá. vamos preservar o trabalho de nossos antepassados

Unknown disse...

Olá Tchá, que bom ter mais uma ferramenta pra você poder difundir suas idéias. Vou sempre estar passando por aqui! Parabéns e abraços. Gugu Camargo