Eis que surge um movimento reacionário às mazelas desse país por iniciativa da extrema direita brasileira. Finalmente. Há muito se esperava isso dela. “Não agüentamos mais balas perdidas, assaltos em sinais, e traficantes dando as cartas”, dizia uma das pessoas que participavam do movimento “Cansei”, na Praça da Sé em São Paulo.
Mas porque só agora tomaram essa iniciativa? Ao que parece as balas perdidas começaram a encontrar os setores mais abastados da sociedade. Constatou-se que os assaltos em sinais de trânsito têm como alvos principais os carrões da elite. O Luciano Hulk, que detém grande espaço na mídia nacional, só resolveu protestar contra a violência depois que roubaram seu relógio de 40 mil. Os traficantes a que se referem já começam a se preocupar com a concorrência representada pelos filhinhos de papai que agora entraram na onda também.
Mas há que se considerar algo positivo nessa história, a elite burguesa saiu do ostracismo ante a violência que assola o país. Uma grande manifestação reuniu cerca de 2000 pessoas no Movimento Cívico pelos Direitos dos Brasileiros. Mas deve-se levar em conta também que dessas 2000 pessoas, pelo menos 1500 eram curiosos para ver os famosos que participavam do movimento. Para cada artista havia quatro seguranças, que somavam quatrocentos. E entre celebridades, empresário, advogados e religiosos podia contar umas cem pessoas.
Diretamente das páginas de Caras eis que surgem as figurinhas fáceis do almanaque da burguesia inculta do Brasil: Hebe Camargo, Ivete Sangalo, Zezé di Camargo, Ana Maria Braga, João Dória Júnior e mais a turma do show show business. Aquilo que seria uma manifestação virou um show de tietagem e um desfile de moda a céu aberto. O João Dória, com aquela carinha lisa como bumbum de bebê que mamãe põe talquinho, usava sua tradicional camisa feita sob medida com monograma JDJ e terno de grife famosa. As escadarias da Catedral da Sé viraram uma espécie de área vip, onde se postavam os elegantes advogados de terno e gravata com suas esposas exibindo jóias de brilho incandescente, e jovens com óculos escuros Arezzo.
Tudo ali remetia à Marcha da “Família com Deus, pela liberdade” um movimento realizado pela estrema direita brasileira, no início dos anos 60, e que desencadeou no golpe de 64 e na ditadura militar. O slogan “Cansei” dos grã-finos se contrastava com o brado do movimento de contraposição da Central Única dos Trabalhadores: “‘Cansamos’, de trabalho escravo, de sonegação de impostos, da mídia que não aborda os movimentos sociais e criminaliza os movimentos populares”.
A manifestação da elite ocorreu no dia 17 de agosto de 2007. Depois disso, praticamente não se houve falar mais no movimento. Será que cansaram? Ao que parece retornaram às páginas de Caras, levando com eles a velha indignação de ter que tolerar um presidente feio, barbudo e que se veste mal.
Luciano Soares
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