Nesses últimos dois meses tivemos gratas notícias acerca da arte que brota “como el musguito en la piedra”. No início do mês de julho esse jornal publicou uma matéria sobre o lançamento do quinto disco da experiente e consagrada cantora, Titane. Algum tempo depois o jovem e talentoso músico oliveirense, Saul Flôres, lança seu primeiro CD. Também em julho desse ano a Gazeta publica matéria sobre o lança mento do livro de estréia do jovem Fabrício Souza. E nessa edição publica a cobertura do lançamento do quarto livro de um escritor de 87 anos. Vê-se aí que há uma renovação continuada da arte local e, independente disso, os veteranos artistas continuam produzindo. Como escreveu o poeta: “E vai brotando, brotando...
Como o musguinho na pedra. Como o musguinho na pedra, há sim, sim, sim.”
Sobre o livro recentemente lançado pelo escritor Nelson Leite, ou pelo amigo Tinelson, creio que ele nos faz refletir, não apenas sobre a obra que nele está constada, porque suas crônicas, de certa forma, cumpriram individualmente o seu papel ao serem publicadas na Gazeta de Minas. Reunidas no “Canto do Cisne”, elas se transformam numa pequena bomba contra a hipocrisia, a sisudez e o mau humor. Mas, acima de tudo, esse livro nos faz pensar no papel do autor. Na responsabilidade que recai sobre o articulista ou cronista quando, na frente dele, é aberta a lauda vazia, e sobre ela é atribuída ao escritor a função de botar o dedo na ferida do sistema, do status quo...
Como colega de Nelson Leite nessa árdua missão de escrever acerca do cotidiano, das glórias e vicissitudes que recaem sobre essa brava gente brasileira, sei o que este livro representa. Posso afirmar que ele é o retrato da nossa história, contada por meio de recortes do dia-a-dia, feitos a partir da ótica de alguém que concebe uma visão extremamente crítica. Um olhar que posterga a própria capacidade física de apenas ver. Ele bebe a mais fútil realidade e depois nos conta em detalhes extraordinários. E é isso o que deve cantar por esse mundo afora o cisne que o nosso velho poeta resolveu criar no fundo do quintal da sua sapiência.
Espera-se, porém, que a partir de aqui a lenda seja quebrada. Que o “Canto” desse cisne não seja o derradeiro. Que esse Matusalém das alterosas continue errando pelas nossas ruas, galanteando as mulheres, caçoando dos que não bebem e se sentando ao lado daqueles que o fazem. E é ali, nos lugares mais simplórios, onde a vaidade não é convidada a entrar, que iremos encontrá-lo. No reduto dos sábios. Ele gosta de afirmar que o dinheiro, definitivamente, não gosta dele. Mas você, Nelson Leite, “é” mais do que “tem”. O seu “ser” certamente ficará na história. E se materialmente algo tivesse, isso se esvairia como se esvaem as coisas fúteis. Você será eterno enquanto dure a sua obra.
O Canto do Cisne não é uma constatação, mas a confirmação de que, como ele mesmo diz: “Não se conta a idade dos homens pela seqüência dos anos, mas pela vibração do espírito”.
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