Há cerca de quase quatro anos, dei início a um projeto chamado História Oral. Usando como instrumentos uma câmera de vídeo e um microfone, realizei uma série de entrevistas com pessoas que viveram o cotidiano da cidade em várias épocas. De lá para cá, venho colhendo depoimentos de personagens, dos mais anônimos aos mais importantes atores sociais desse município.
No início fiz uma lista de mais de 15 pessoas, que considerava ter muito que contar sobre a nossa história. Dessas quinze, já consegui entrevistar sete, uma das quais, inclusive, veio a falecer três meses depois de me conceder a entrevista. A lista de possíveis entrevistados cresceu, e agora procuro encontrar tempo para concluir a primeira parte do projeto, já que a história não pára.
O mais importante dessa iniciativa é o fato de se poder descobrir a história a partir de depoimentos das próprias testemunhas oculares dela. São fatos do cotidiano que nos transmitem, a partir da tradição oral, todo um contexto social, político e comportamental de uma época, que certamente não está nos livros. São as histórias não catalogadas da nossa história. Tenho, inclusive, alguns depoimentos de pessoas que se opõem às próprias versões oficiais de certos fatos, narrados nos livros que trazem a história de Oliveira.
Além disso, a nossa história está catalogada em livros até a década de cinqüenta. De lá para cá não se existem pesquisas, exceto nos acervos de jornais e arquivos públicos, que tragam à luz registros de fatos que marcaram os últimos sessenta anos vividos por esta cidade. E é aí que esse material ganha um peso importante no que diz respeito ao conteúdo dessa história recente.
O projeto começou como uma simples brincadeira, quando no dia 14 de março de 2005 eu e um amigo resolvemos gravar uma entrevista com o senhor Nelson Leite. Sempre conversávamos com ele e ouvíamos coisas interessantíssimas. Um dia, fomos até a sua casa com uma câmera e gravamos uma entrevista sem saber ao certo o que fazeríamos com aquele material. Depois tive a idéia de gravar com várias pessoas e editar um vídeo com as partes mais interessantes de cada entrevista. Meses depois, conversando com o então Secretário de Cultura, descobri que na sua Secretaria tinha um projeto parecido. Daí uni os dois, e nasceu o Projeto História Oral.
A história é uma coisa que sempre me atraiu. Apesar disso, não gosto de saudosismos, até porque, tenho que construí-la, mudá-la, e talvez quem sabe, ser parte dela um dia. Mas creio que com a bagagem do passado consegue-se construir o futuro com mais sapiência.
Um dia desses, assistindo um filme chamado “Narradores de Javé”, e a partir dele consegui sentir importância da história e da tradição oral. A produção pode ser resumida com a seguinte sinopse: Javé é um pequeno vilarejo que estava prestes a ser inundado por causa de um projeto de uma usina hidrelétrica. Diante da infausta notícia, a comunidade decide ir em defesa de sua existência. Para isso, decidem escrever um dossiê que documente o que consideram ser os "grandes" e "nobres" acontecimentos da história do povoado para assim justificar a sua preservação. Se até hoje ninguém preocupou-se em escrever a verdadeira história de Javé, tal tarefa deverá agora ser executada pelos próprios habitantes. É designado o nome de Antônio Biá, personagem anárquico, de caráter duvidoso, porém o único no povoado que sabe escrever fluentemente. Apesar de polêmico, ele terá a permissão de todos para ouvir e registrar os relatos mais importantes que formarão a trama histórica do vilarejo.
A partir da tradição oral, os cidadãos de Javé escreveram a própria história e graças a ela salvaram o velho e pequeno vilarejo.
Texto: Luciano Soares
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