O caso da menina de 9 anos que passou por um processo de aborto após ser estuprada pelo padrasto em Pernambuco causou revolta e indignação, não apenas pelo fato em que se vira acometida a menina, mas também pelo posicionamento da igreja sobre o acontecido. Após o aborto, médicos que participaram do procedimento e a mãe da menina foram excomungados pela igreja Católica, a partir de uma decisão tomada pelo arcebispo de Olinda e de Recife, Dom José Cardoso Sobrinho. Ao justificar sua ação, o arcebispo disse que, aos olhos da Igreja, o aborto foi um crime e que a lei dos homens não está acima das leis de Deus.
A Igreja Católica incluiu o aborto provocado no rol dos pecados que implicam excomunhão automática por entender que é um crime contra a vida especialmente grave, pois atenta contra um ser humano indefeso.
Aí começam a surgir as seguintes indagações: Por exemplo: Recentemente a imprensa noticiou o caso do assassino da menina Miriam Brandão, morta na década de 90, que agora, livre, e com a pena extinta, virou pastor. Nesse caso também se trata de um crime contra a vida, com requintes de crueldade, contra uma menina indefesa. Ao que parece, além de ter sido perdoado pela lei dos homens, também teve a misericórdia da “Lei de Deus”. O padrasto que violentou a menina também não foi excomungado. Assassinos de toda espécie, estupradores e pedófilos também não têm sofrido a pena máxima da Igreja Católica.
Há na internet um fórum de discussões sobre o caso, e a decisão da igreja tem suscitado várias questões. Um dos internautas escreveu: “Já pensou se Deus pensasse como a igreja? No céu teriam muitos pedófilos e estupradores, e no inferno, médicos e meninas abusadas.” Outro diz: “Bem vindo a 2009, o ano da volta da Inquisição”.
À parte os exageros, decisões como essas acabam por trazer à tona erros históricos cometidos pela Igreja Católica, como a Inquisição por exemplo. Ademais, umas das questões que mais têm causado revolta nas pessoas, é o fato de a igreja ter se engajado tanto no caso dessa menina e ter sido omissa em seus casos internos de pedofilia. É claro que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas creio que são pecados graves e deverão ser julgados a partir do mesmo principio da moral e da ética universais. Condenar um e absolver outro é no mínimo controverso.
Acredito que a igreja não tem culpa pelos casos de pedofilia que envolve seus representantes, e nem essa menina tem culpa de ter sido violentada e engravidada pelo próprio padrasto.
Qualquer outra decisão que não fosse a de interromper essa gravidez seria irracional. Sobre os preceitos da igreja, considero-os conservadores, para não dizer ortodoxos. Não dá para conservar-se em dogmas medievais e não atualizar-se, nem que seja minimamente, para estabelecer-se num mundo que passou por tantas mudanças. É uma ignorância não levar em consideração a vida dessa menina em um momento como esse, e a igreja só faz piorar a situação ao levantar essa polêmica que provavelmente chegará aos ouvidos dessa criança já traumatizada.
Não sou a favor do aborto deliberado, mas em casos extremos como esses, há que se tomar decisões extremas. Assim, portanto, considero correta a atitude da família e dos médicos de salvar a vida dessa menina. Caso a gravidez fosse levada a diante e a menina sobrevivesse ao parto, de qualquer forma a sua vida estaria ceifada por um trauma psicológico, provavelmente irreversível, ao ter que dividir-se entre bonecas e dois bebês por ela concebidos. Sobre as excomunhões, creio que a misericórdia de Deus não pode ficar nas mãos de homens, que, como tais, são passíveis de erros como qualquer outro ser humano.
sexta-feira, 13 de março de 2009
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