domingo, 30 de agosto de 2009

Sobrevida à democracia em cenário de pós-guerra

A crise no senado e o seu desfecho sombrio embaralharam as cartas no meio político brasileiro. Nesse jogo, ao proporcionar a vitória de José Sarney (PMDB-AP), o PT saiu perdendo, por uma série de motivos. Com o apoio irrestrito ao presidente do Senado, Lula dá um tiro no próprio pé e põe a corda no pescoço de Dilma. É evidente que o presidente fez isso consciente, já ficou entre a faca e a espada. Com a queda de Sarney, assumiria o vice Marconi Perillo (PSDB-GO), e com isso a oposição se fortaleceria com um dos cargos mais importantes do país. O presidente teve que fazer uma escolha difícil. E se foi certa ou errada, só o futuro vai dizer.

Com a decisão de apoiar Sarney, o PT não só saiu desmoralizado, tanto no contexto político quanto na opinião pública, como também entrou numa crise interna com vários de seus membros se opondo à decisão do partido. Mercadante chegou a colocar seu cargo de líder do partido à disposição, após discordar da orientação do presidente da legenda, Ricardo Berzoini, para que a bancada votasse a favor do arquivamento.

“Envergonhado”, outro que deixou o partido foi o senador Flávio Arns (PT-PR). Para Arns, o fato de que seus correligionários tenham ajudado o presidente do Senado a se salvar da degola no Conselho de Ética foi o que faltava para sacramentar a decisão. Antes dele, a ex-ministra do Meio Ambiente e atualmente senadora Marina Silva também anunciou que deixará a legenda. No caso dela, uma decisão, seguida da outra pode mostrar ao PT a grande perda que isso possa significar. Marina Silva não só deixou seu antigo partido, como também anunciou a sua filiação ao PV e parece nome certo como candidata a presidência pela nova legenda. Caso isso ocorra, Dilma Rousseff pode ser prejudicada com uma possível absorção de votos da esquerda pela ex-colega do governo.

Com o aparecimento de Marina Silva, como possível candidata do PV a presidência da república, o cenário político de 2010 já se vê renovado e a democracia respira aliviada. A polarização da política brasileira, com PT e PSDB dividindo as páginas dos principais jornais, quando o assunto é 2010, tem caracterizado a falta de melhores opções ao eleitor e exposto uma moléstia que pode acometer nosso jovem processo democrático. O anúncio da possível candidatura da ex-companheira de Chico Mendes, levantou poeira no meio político brasileiro. Até a senadora se surpreendeu com a repercussão que seu nome causou tanto na mídia como na cúpula de partido como PT e PSDB.

A senadora, assim como Lula, possui uma trajetória, que vai da infância difícil até uma coroada carreira política. Marina Silva nasceu no seringal Bagaço, a 70 km do centro de Rio Branco. Seus pais, Pedro Augusto e Maria Augusta da Silva, tiveram onze filhos, dos quais oito sobreviveram. Aos 15 anos foi levada para a capital, com uma hepatite confundida com malária. Queria ser freira. Analfabeta, foi matriculada no Mobral. Concluído o ensino médio, Marina foi levada à atividade política e social pela Igreja Católica.

Marina acabou por ter contato com obras marxistas quando entrou na universidade. Ali, entrou para o Partido Revolucionário Comunista (PRC). Formou-se em História pela Universidade Federal do Acre. Foi professora na rede de ensino de segundo grau e engajou-se no movimento sindical. Foi companheira de luta de Chico Mendes e com ele fundou a Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Acre em 1985, da qual foi vice-coordenadora até 1986. Nesse ano, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e candidatou-se a deputada federal, porém não foi eleita.

Em 1988, foi a vereadora mais votada do município de Rio Branco, conquistando a única vaga da esquerda na câmara municipal. Como vereadora, causou polêmica por combater os privilégios dos vereadores e devolver benefícios financeiros que os demais vereadores também recebiam. Com isso passou a ter muitos adversários políticos, mas a admiração popular também cresceu. Em 1990 candidatou-se a deputada estadual e obteve novamente a maior votação. Logo no primeiro ano do novo mandato descobriu-se doente: havia sido contaminada por metais pesados quando ainda vivia no seringal.

Em 1994 foi eleita senadora da República, pelo estado do Acre, com a maior votação, enfrentando uma tradição de vitória exclusiva de ex-governadores e grandes empresários do estado. Foi Secretária Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores, de 1995 a 1997. Pode-se dizer que se tornou uma das principais vozes da Amazônia. Em 2003, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República, foi nomeada ministra do Meio Ambiente. Desde então, enfrentou conflitos constantes com outros ministros do governo, quando os interesses econômicos se contrapunham aos objetivos de preservação ambiental.

Se o eleitor continuar apostando num histórico de vida, como fez ao eleger Lula, certamente a senadora pode começara a sonhar. E além de um bom currículo, ela possui também uma boa argumentação política e uma inteligência incomum.

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