sexta-feira, 30 de maio de 2008

No rumo do crescimento


As últimas notícias sobre a economia brasileira deixaram empolgados até os analistas mais pessimistas. A primeira delas foi o anúncio do governo de que pela primeira vez na história o Brasil deixou de ser devedor e passou a ser credor externo. A segunda diz que agência americana de classificação de crédito Standard & Poor’s elevou a nota brasileira à categoria de investment grade, ou "grau de investimento". E nesta quinta-feira, 29 de junho, a agência de classificação de risco Fitch Ratings também elevou o rating do Brasil para grau de investimento. Duas das três agências internacionais já deram crédito ao Brasil. O mercado agora espera a elevação da nota pela agência Moody's, que seria a última entre as três principais empresas de classificação de risco do mundo a elevar o rating do Brasil. Tudo isto quer dizer que o Brasil, segundo a S&P e a Fitch Ratings, é um país confiável e, portanto, não oferece riscos aos investimentos.

Estamos, portanto, aptos a crescer. O crescimento no âmbito macroeconômico não depende apenas do país e da sua capacidade de gerar riquezas, depende também do grau de confiabilidade dos investidores externos. No capitalismo, a capacidade não só de pagar em dia o que deve, mas de gerar lucro, é de vital importância. A primeira notícia de certa forma pode ter influenciado a decisão da Agência Standard & Poor’s e a Fitch Ratings em dar esse crédito ao Brasil, mas é óbvio que esta confiabilidade não foi conquistada da noite para o dia. Há alguns anos o país vem cumprindo seus compromissos internacionais e, ao mesmo tempo, mostrando sinais de solidez, com inflação controlada e potencial de crescimento.

Alguns economistas acham que a notícia veio num momento difícil, pois o dólar deve despencar ainda mais e dificultar as nossas exportações. Além disso, com o fortalecimento do real as importações podem bater recordes e levar o país a um déficit comercial. Outros economistas pensam diferente e vêem grandes vantagens com relação à promoção do país ao grau de investimento. Uma das previsões é a de que o Brasil receberá recursos de logo prazo e não apenas aquele capital especulativo que tiravam proveito das nossas altas taxas de juros. Segundo a consultoria americana Watson Wyatt, os fundos de pensão estrangeiros aplicam hoje cerca de 40 bilhões de dólares no país. Esse montante deverá quintuplicar nos próximos anos, e isso deve traduzir em mais investimentos no setor produtivo, o que amplia o potencial de crescimento sustentável de longo prazo.

Com um crescimento mais acelerado, estimular-se-á a criação de empregos com uma taxa de juros que tenderá a diminuir, facilitando o financiamento da casa própria e de bens de consumo, como automóveis. No entanto, sabe-se que não apenas o aumento dos investimentos externos possibilita o crescimento econômico de um país. Uma série de outras medidas precisa ser tomada para que o país siga esse caminho. Uma delas é a desburocratização da logística empresarial. Além disso, há tempos se faz necessária uma reforma fiscal no Brasil, isso significa simplificar a cobrança tributária e diminuir impostos. O País precisa também investir no aprimoramento da infra-estrutura, logística, tecnologia, energia e educação.

É sempre bom lembrar que nós, embora estejamos no caminho, apenas alcançamos o ponto de partida. Conquistamos o direito a um lugar no trem da história e teremos que começar a construí-la agora, seguindo os trilhos da prosperidade. Ainda estamos longe de ser uma nação desenvolvida. Continuamos a ser campeões mundiais em burocracia. A desigualdade social é uma das maiores do mundo, e a qualidade do ensino fica entre as piores do planeta. Além disso, o Brasil teve em 2007 uma baixíssima Renda Per Capita de US$ 9.700, estando posicionado em 98º lugar no mundo.

Ainda assim há uma onda de otimismo em relação ao futuro econômico do país. Em 2006, um estudo elaborado pela consultoria Price Water House Coopers, chamado "O Mundo em 2050", previu que a economia brasileira será a 4ª maior do mundo naquele ano, sendo superada apenas por China, EUA e Índia.

Previsões à parte, é preciso ter a consciência de que para alcançar o topo da escada é necessário subir degrau por degrau. Se abrir demais as pernas o país poderá colocar tudo a perder como aconteceu com o Uruguai, que já esteve entre os países com grau de investimento e voltou à condição de risco. Saber conduzir política e economicamente essa potência ainda latente, que começa a dar sinais de vida, será, de agora em diante, decisivo para que realmente nos tornemos tudo aquilo que nos prevêem para o futuro.

Luciano Soares

terça-feira, 20 de maio de 2008

1968 Quarenta anos depois


O que difere o ano de 1968 de 2008? Pode-se dizer que em quase nada um se assemelha ao outro, mas do primeiro, bebe-se um grande legado. Daquela época, herdamos a liberdade de pensamento, de expressão, o direito de ir e vir, a libertação de valores “morais” demasiados ortodoxos, a conscientização acerca do preconceito racial e sexual, e talvez o item mais importante: a democracia.
Sobre o que ocorreu naquele 1968 posso descrever aqui os acontecimentos mais importantes: Começo pela legendária Tet, batalha dos Vietcongues comunistas que daria início à derrocada americana no Vietnã; foi também o ano dos assassinatos de Martin Luther King, um dos mais importantes líderes na luta pelos direitos civis para negros e mulheres, e de Robert Kennedy, um forte candidato à presidência dos EUA que se opunha à guerra do Vietnã e apoiava as causas de Luther King; 68 foi o ano da revolta dos estudantes em Paris; Da Primavera de Praga; Da radicalização da luta estudantil; Da livre experimentação de drogas; Das garotas que ousaram lançar a minissaia; Do sexo sem culpa; Da pílula anticoncepcional; Do psicodelismo; Do movimento feminista; Da defesa dos direitos dos homossexuais; Dos protestos contra a Guerra do Vietnã; Da Passeata dos Cem Mil contra a ditadura no Brasil; Da decretação do AI-5; Da tropicália e do cinema marginal brasileiro.
Pelo menos dez pesquisadores já lançaram livros com objetivos claros de tentar desvelar a mística desse ano inesquecível. Dentre essas bibliografias científicas pode-se citar algumas obras como: “1968 - O ano que abalou o mundo”, do pesquisador Mark Kurlansky; “68: Destinos, de Evandro Teixeira; “1968 O Ano que não terminou” e “1968 – O que fizemos de nós”, ambos de Zuenir Ventura.
Entre as opiniões desses autores, uma é quase unânime: A de que a luta dos jovens daquela época para promoverem uma revolução social e política no mundo não logrou êxito em curto prazo, mas foi determinante para as mudanças que ocorreriam a posteriori.
Um grande número de pessoas acredita que o mundo seria hoje muito pior se 68 não tivesse transcorrido da forma como transcorreu. E que teria surgido de lá as células de movimentos como o sindicalismo brasileiro, a campanha das “Diretas Já” e os caras-pintadas que foram às ruas para pedir o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.
O cantor americano Bob Dylan disse recentemente que 1968 foi o último ano em que todas as utopias eram permitidas e que hoje em dia “ninguém mais quer sonhar”. Creio que, nós, da atual geração, acabamos vivendo um pouco do que sonharam os jovens daquela época, ou seja, colhemos os frutos de uma semente que foi plantada há 40 anos. Dylan tem razão sobre o fim das utopias. Infelizmente o imediatismo, o individualismo e o materialismo de agora acabam por não permitir que haja cabeças em condições de sonhar.
Os sonhos de hoje são bem diferentes dos de 1968. Sonhava-se com a liberdade como um bem comum. Hoje em dia sonha-se com o carro recém lançado ou com o celular que nos permitirá assistir à TV. Nada contra, mas podemos sonhar sem viseira. Posso olhar para frente, mas quero ver o que está acontecendo do lado, ou atrás. E como disse Raul Seixas sobre o seu projeto Sociedade Alternativa, o sonho deve ocorrer de dentro para fora. Hoje em dia o sonho vem de fora para dentro, porque é pautado pela mídia. Como poderemos sonhar se nos dedicados a assistir diariamente o bonitão malhado fazer sexo com uma quase anencéfala candidata à capa da Playboy, sob o edredom da casa BBB?
Que as lutas de 68 não mais sejam necessárias, mas que os seus sonhos e as suas utopias jamais pereçam.
Luciano Soares

terça-feira, 6 de maio de 2008

História Viva


Há 120 anos foi acesa em Oliveira a chama da comunicação moderna. Centelha do jornalismo que ainda hoje tira das sombras os mais recônditos acontecimentos transformando-os em informação para saciar a sede do homem. A Gazeta de Minas é o jornal mais antigo que circula em Minas Gerais. Reportando a história desse país ela construiu a própria história e conseguiu, apesar dos pesares, cumprir o seu papel. Pesquisando a sua trajetória para contá-la em um vídeo-documentário recentemente lançado, descobri muito mais do que conceituava. Mergulhando nesse universo pretérito vi minha pequena Oliveira do século dezenove levar notícias aos imperadores desse país por meio de um semanário recém nascido chamado Gazeta de Oliveira. Daqui partia para a Corte, na época instalada na cidade do Rio de Janeiro, e municiava de informações a então capital brasileira. Foi por meio dela que muitos brasileiros tomaram conhecimento do fim a escravidão no país quando na época publicou em primeira página a matéria intitulada “Brazil Livre”, por meio da qual se deu a informação de que a Princesa Isabel assinara a Lei Áurea. Um ano depois reportava também em matéria de capa, um histórico texto sobre a proclamação da República.
De reportagem em reportagem a Gazeta ia cumprindo o seu papel na sociedade brasileira e registrando em suas páginas a história e os vultos desse país. Já no século XX, o jornal cobriu com notável profissionalismo a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. Não só reportou, mas também interveio na histórica política do Brasil quando se colocou a serviço da Aliança Liberal, que se opôs à hegemonia paulista na política brasileira. Em 1930 deixou de isentar-se jornalisticamente e se colocou ao lado dos revolucionários na polêmica Revolução de 30. Apoiou a candidatura de Getúlio Vargas à presidente e mais tarde se posicionou contra o político Gaúcho na Revolução Contitucionalista de 1932. Tempos depois anunciaria a renúncia e a morte de Vargas.
Durante os anos 60, já nas mãos da Igreja Católica, a Gazeta apoiou o Golpe que daria início à ditadura militar brasileira. O jornal entrou na paranóica luta contra o comunismo rendendo-se, junto com os católicos e a classe média brasileira, à forte propagando política americana em sua guerra fria com a Rússia. No final dos anos 80, já nas mãos de Gumercindo da Silveira, após sofrer anos de censura o jornal entra nas campanhas pelas Diretas se opondo ao regime militar pedindo liberdade ao povo e à imprensa brasileira.
Em 1987 a GM Empresa jornalística, atual detentora da marca Gazeta de Minas, compra o jornal. A partir de então a Gazeta se moderniza, tanto do ponto de vista editorial como da tecnologia da sua construção. Toda a redação é informatizada, cria-se o site oficial, o jornal ganha a sua versão on line, podendo ser acessado no mundo inteiro.
Esta é a breve história da Gazeta de Minas, cujos detalhes poderão ser vistos num vídeo-documentário de 37 minutos de duração intitulado “Gazeta de Minas, 120 Anos de Jornalismo e História”. Nele é possível perceber que nem só de glórias foi construída a história desse semanário. Após a morte do seu criador, um período de incertezas quase pôs fim a esta centenária folha. Anos mais tarde o jornal foi usado como instrumento para fins eleitoreiros, para perseguir inimigos, para a ascensão política de uns e a danificação moral de outros. Viu-se também a serviço da propagação da fé católica e do equivocado apoio a um regime que banharia esse país de sangue.
Entre glórias e vicissitudes o jornal conseguiu vencer as mais diversas conjunturas políticas, econômicas e sociais para chegar ao século XXI fortalecido e certo de que o seu legado servirá somente à história, cabendo agora aos seus redatores construir um futuro tão brilhante quanto, por meio de um presente eficiente, crítico e verdadeiro.

Luciano Soares