terça-feira, 6 de maio de 2008

História Viva


Há 120 anos foi acesa em Oliveira a chama da comunicação moderna. Centelha do jornalismo que ainda hoje tira das sombras os mais recônditos acontecimentos transformando-os em informação para saciar a sede do homem. A Gazeta de Minas é o jornal mais antigo que circula em Minas Gerais. Reportando a história desse país ela construiu a própria história e conseguiu, apesar dos pesares, cumprir o seu papel. Pesquisando a sua trajetória para contá-la em um vídeo-documentário recentemente lançado, descobri muito mais do que conceituava. Mergulhando nesse universo pretérito vi minha pequena Oliveira do século dezenove levar notícias aos imperadores desse país por meio de um semanário recém nascido chamado Gazeta de Oliveira. Daqui partia para a Corte, na época instalada na cidade do Rio de Janeiro, e municiava de informações a então capital brasileira. Foi por meio dela que muitos brasileiros tomaram conhecimento do fim a escravidão no país quando na época publicou em primeira página a matéria intitulada “Brazil Livre”, por meio da qual se deu a informação de que a Princesa Isabel assinara a Lei Áurea. Um ano depois reportava também em matéria de capa, um histórico texto sobre a proclamação da República.
De reportagem em reportagem a Gazeta ia cumprindo o seu papel na sociedade brasileira e registrando em suas páginas a história e os vultos desse país. Já no século XX, o jornal cobriu com notável profissionalismo a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. Não só reportou, mas também interveio na histórica política do Brasil quando se colocou a serviço da Aliança Liberal, que se opôs à hegemonia paulista na política brasileira. Em 1930 deixou de isentar-se jornalisticamente e se colocou ao lado dos revolucionários na polêmica Revolução de 30. Apoiou a candidatura de Getúlio Vargas à presidente e mais tarde se posicionou contra o político Gaúcho na Revolução Contitucionalista de 1932. Tempos depois anunciaria a renúncia e a morte de Vargas.
Durante os anos 60, já nas mãos da Igreja Católica, a Gazeta apoiou o Golpe que daria início à ditadura militar brasileira. O jornal entrou na paranóica luta contra o comunismo rendendo-se, junto com os católicos e a classe média brasileira, à forte propagando política americana em sua guerra fria com a Rússia. No final dos anos 80, já nas mãos de Gumercindo da Silveira, após sofrer anos de censura o jornal entra nas campanhas pelas Diretas se opondo ao regime militar pedindo liberdade ao povo e à imprensa brasileira.
Em 1987 a GM Empresa jornalística, atual detentora da marca Gazeta de Minas, compra o jornal. A partir de então a Gazeta se moderniza, tanto do ponto de vista editorial como da tecnologia da sua construção. Toda a redação é informatizada, cria-se o site oficial, o jornal ganha a sua versão on line, podendo ser acessado no mundo inteiro.
Esta é a breve história da Gazeta de Minas, cujos detalhes poderão ser vistos num vídeo-documentário de 37 minutos de duração intitulado “Gazeta de Minas, 120 Anos de Jornalismo e História”. Nele é possível perceber que nem só de glórias foi construída a história desse semanário. Após a morte do seu criador, um período de incertezas quase pôs fim a esta centenária folha. Anos mais tarde o jornal foi usado como instrumento para fins eleitoreiros, para perseguir inimigos, para a ascensão política de uns e a danificação moral de outros. Viu-se também a serviço da propagação da fé católica e do equivocado apoio a um regime que banharia esse país de sangue.
Entre glórias e vicissitudes o jornal conseguiu vencer as mais diversas conjunturas políticas, econômicas e sociais para chegar ao século XXI fortalecido e certo de que o seu legado servirá somente à história, cabendo agora aos seus redatores construir um futuro tão brilhante quanto, por meio de um presente eficiente, crítico e verdadeiro.

Luciano Soares

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