terça-feira, 20 de maio de 2008

1968 Quarenta anos depois


O que difere o ano de 1968 de 2008? Pode-se dizer que em quase nada um se assemelha ao outro, mas do primeiro, bebe-se um grande legado. Daquela época, herdamos a liberdade de pensamento, de expressão, o direito de ir e vir, a libertação de valores “morais” demasiados ortodoxos, a conscientização acerca do preconceito racial e sexual, e talvez o item mais importante: a democracia.
Sobre o que ocorreu naquele 1968 posso descrever aqui os acontecimentos mais importantes: Começo pela legendária Tet, batalha dos Vietcongues comunistas que daria início à derrocada americana no Vietnã; foi também o ano dos assassinatos de Martin Luther King, um dos mais importantes líderes na luta pelos direitos civis para negros e mulheres, e de Robert Kennedy, um forte candidato à presidência dos EUA que se opunha à guerra do Vietnã e apoiava as causas de Luther King; 68 foi o ano da revolta dos estudantes em Paris; Da Primavera de Praga; Da radicalização da luta estudantil; Da livre experimentação de drogas; Das garotas que ousaram lançar a minissaia; Do sexo sem culpa; Da pílula anticoncepcional; Do psicodelismo; Do movimento feminista; Da defesa dos direitos dos homossexuais; Dos protestos contra a Guerra do Vietnã; Da Passeata dos Cem Mil contra a ditadura no Brasil; Da decretação do AI-5; Da tropicália e do cinema marginal brasileiro.
Pelo menos dez pesquisadores já lançaram livros com objetivos claros de tentar desvelar a mística desse ano inesquecível. Dentre essas bibliografias científicas pode-se citar algumas obras como: “1968 - O ano que abalou o mundo”, do pesquisador Mark Kurlansky; “68: Destinos, de Evandro Teixeira; “1968 O Ano que não terminou” e “1968 – O que fizemos de nós”, ambos de Zuenir Ventura.
Entre as opiniões desses autores, uma é quase unânime: A de que a luta dos jovens daquela época para promoverem uma revolução social e política no mundo não logrou êxito em curto prazo, mas foi determinante para as mudanças que ocorreriam a posteriori.
Um grande número de pessoas acredita que o mundo seria hoje muito pior se 68 não tivesse transcorrido da forma como transcorreu. E que teria surgido de lá as células de movimentos como o sindicalismo brasileiro, a campanha das “Diretas Já” e os caras-pintadas que foram às ruas para pedir o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.
O cantor americano Bob Dylan disse recentemente que 1968 foi o último ano em que todas as utopias eram permitidas e que hoje em dia “ninguém mais quer sonhar”. Creio que, nós, da atual geração, acabamos vivendo um pouco do que sonharam os jovens daquela época, ou seja, colhemos os frutos de uma semente que foi plantada há 40 anos. Dylan tem razão sobre o fim das utopias. Infelizmente o imediatismo, o individualismo e o materialismo de agora acabam por não permitir que haja cabeças em condições de sonhar.
Os sonhos de hoje são bem diferentes dos de 1968. Sonhava-se com a liberdade como um bem comum. Hoje em dia sonha-se com o carro recém lançado ou com o celular que nos permitirá assistir à TV. Nada contra, mas podemos sonhar sem viseira. Posso olhar para frente, mas quero ver o que está acontecendo do lado, ou atrás. E como disse Raul Seixas sobre o seu projeto Sociedade Alternativa, o sonho deve ocorrer de dentro para fora. Hoje em dia o sonho vem de fora para dentro, porque é pautado pela mídia. Como poderemos sonhar se nos dedicados a assistir diariamente o bonitão malhado fazer sexo com uma quase anencéfala candidata à capa da Playboy, sob o edredom da casa BBB?
Que as lutas de 68 não mais sejam necessárias, mas que os seus sonhos e as suas utopias jamais pereçam.
Luciano Soares

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