Para nenhum Botero ou García Márquez botar defeito. O plano de libertação da ex-candidata à presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, refém das Farc durante seis anos, foi considerado perfeito do ponto de vista estratégico-militar. Para seus familiares e amigos, um alívio. Porém, olhando do prisma político, algumas perguntas começam a surgir: Porque só agora resolveram tomar a iniciativa do resgate? Por que a ex-senadora precisou sofrer durante seis anos nas mãos dos guerrilheiros, sem ter esperança de ser libertada, já que o presidente colombiano não aceitava negociar com as Farc. Durante o cativeiro, a família da ex-candidata à presidencia criticou o presidente Uribe por rejeitar as principais exigências do grupo rebelde e optar pela via militar para resolver o problema.
Em 2002, Ingrid, que tem dupla cidadania (colombiana e francesa), disputou o poder contra Uribe, e embora não estivesse bem nas pesquisas era um nome forte. Em 1998 quando concorreu ao cargo de senadora foi a candidata mais votada nas eleições daquele ano. Ao ser seqüestrada pelas Farc criou-se um mito em torno do seu nome e a sua libertação foi pedida por líderes de vários países. Essa pressão mundial principalmente sobre o governo colombiano aumentou desde que foram divulgadas imagens da ex-senadora no cativeiro com uma aparência abatida e doentia.
Em meio a esse cenário, começaram a surgir alguns personagens para a história que se seguiria: De um lado as Farc, que sempre foi uma pedra nos sapatos dos presidentes colombianos, mais ainda de Uribe, que teve o pai assassinado por elas. Esse grupo rebelde ganhou notoriedade internacional. Chegou a reunir um contingente de dez mil soldados, e criou um clima de terror na Colômbia ao adotar o seqüestro como estratégia de negociação. De outro lado aparece o nome de Ingrid Betancourt, ex-senadora seqüestrada pelo grupo guerrilheiro. E por último, Álvaro Uribe, que se elegeu presidente da Colômbia em 2002 e adotou um posicionamento político diferente da maioria dos países da América Latina, alinhando-se política e militarmente com os Estados Unidos.
Até então esses personagens não tinham entrado em conflito direto, mas eis que surge uma quarta peça: Hugo Chaves. Pressionado pela comunidade internacional Álvaro Uribe autoriza o presidente da Venezuela a negociar com as Farc. Chaves consegue a libertação de três reféns, entre eles, da ex-assessora de Ingrid Betancourt, Clara Rojas. O presidente venezuelano, crítico ferrenho dos EUA, saiu com o moral alto na história, e a possível libertação de outros reféns, de Ingrid inclusive, seria só uma questão de tempo.
Caso isso ocorresse pelas mãos de Chaves, o presidente colombiano teria dois problemas: O primeiro deles seria pelo fato de o seu governo sair desmoralizado por não ter conseguido resolver um problema interno, e o segundo se faria a partir da libertação de Ingrid, que sairia como heroína e forte candidata a presidência da Colômbia. Isso certamente frustraria os planos de um terceiro mandato de Uribe. Era preciso, portanto, mudar essa situação. Isso implicaria
A partir daí os EUA entraram no jogo e uma série de iniciativas foi tomada, entre elas a invasão do espaço aéreo equatoriano, o bombardeio de um acampamento das Farc impossibilidades novas negociações, e a ventilação de uma notícia de que no computador de um líder guerrilheiro teria informações sobre a ligação do presidente venezuelano com os rebeldes. Isso foi suficiente para tirar Chaves da jogada. Cumprida a primeira parte do plano era hora de bolar uma operação de resgate. Melhor manter o sigilo sobre ela, caso alguma coisa desse errado Chaves se fortaleceria novamente.
Mas o plano saiu perfeito, Ingrid foi resgatada de forma espetacular e Uribe foi aplaudido e elogiado pela comunidade internacional. Fala-se num terceiro mandato e seu nome subiu consideravelmente nas pesquisas de intenção de voto. Ingrid saiu traumatizada e fazendo campanha, não por sua possível candidatura, mas pela libertação dos outros reféns, Chaves ficou apagado e as Farc fragilizadas e desmoralizadas.
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