Recebi esse artigo do jornalista Leandro Fortes por email e resolvi publicá-lo aqui pela destreza com que o autor diz aquilo que a mídia sempre omitiu. Esse texto mostra que figuras como Reinaldo Azevedo simplesmente não existem, já que seus pequenos Deuses, ACM, FHC e o resto da direita recalcada, morreram.
Adeus, FHC
Fernando Henrique Cardoso foi um presidente da República limítrofe, transformado, quase sem luta, em uma marionete das elites mais violentas e atrasadas do país. Era uma vistosa autoridade entronizada no Palácio do Planalto, cheia de diplomas e títulos honoris causa, mas condenada a ser puxada nos arreios por Antonio Carlos Magalhães e aquela sua entourage sinistra, cruel e sorridente, colocada, bem colocada, nas engrenagens do Estado. Eleito nas asas do Plano Real – idealizado, elaborado e colocado em prática pelo presidente Itamar Franco –, FHC notabilizou-se, no fim das contas, por ter sido co-partícipe do desmonte aleatório e irrecuperável desse mesmo Estado brasileiro, ao qual tratou com desprezo intelectual, para não dizer vilania, a julgá-lo um empecilho aos planos da Nova Ordem, expedida pelos americanos, os patrões de sempre.
Em nome de uma política nebulosa emanada do chamado Consenso de Washington, mas genericamente classificada, simplesmente, de “privatização”, Fernando Henrique promoveu uma ocupação privada no Estado, a tirar do estômago do doente o alimento que ainda lhe restava, em nome de uma eficiência a ser distribuída em enormes lucros, aos quais, por motivos óbvios, o eleitor nunca tem acesso.
Das eleições de 1994 surgiu esse esboço de FHC que ainda vemos no noticiário, um antípoda do mítico “príncipe dos sociólogos” brotado de um ninho de oposição que prometia, para o futuro do Brasil, a voz de um homem formado na adversidade do AI-5 e de outras coturnadas de então. Sobrou-nos, porém, o homem que escolheu o PFL na hora de governar, sigla a quem recorreu, no velho estilo de república de bananas, para controlar a agenda do Congresso Nacional, ora com ACM, no Senado, ora com Luís Eduardo Magalhães, o filho do coronel, na Câmara dos Deputados. Dessa tristeza política resultou um processo de reeleição açodado e oportunista, gerido na bacia das almas dos votos comprados e sustentado numa fraude cambial que resultou na falência do País e no retorno humilhante ao patíbulo do FMI.
Isso tudo já seria um legado e tanto, mas FHC ainda nos fez o favor de, antes de ir embora, designar Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal, o que, nas atuais circunstâncias, dispensa qualquer comentário.
Em 1994, rodei uns bons rincões do Brasil atrás do candidato Fernando Henrique, como repórter do Jornal do Brasil. Lembro de ver FHC inaugurando uma bica (isso mesmo, uma bica!) de água em Canudos, na Bahia, ao lado de ACM, por quem tinha os braços levantados para o alto, a saudar a miséria, literalmente, pelas mãos daquele que se sagrou como mestre em perpetuá-la. Numa tarde sufocante, durante uma visita ao sertão pernambucano, ouvi FHC contar a uma platéia de camponeses, que, por causa da ditadura militar, havia sido expulso da USP e, assim, perdido a cátedra. Falou isso para um grupo de agricultores pobres, ignorantes e estupefatos, empurrados pelas lideranças pefelistas locais a um galpão a servir de tribuna ao grande sociólogo do Plano Real. Uns riram, outros se entreolharam, eu gargalhei: “perder a cátedra”, naquele momento, diante daquela gente simples, soou como uma espécie de abuso sexual recorrente nas cadeias brasileiras. Mas FHC não falava para aquela gente, mas para quem se supunha dono dela.
Hoje, FHC virou uma espécie de ressentido profissional, a destilar o fel da inveja que tem do presidente Lula, já sem nenhum pudor, em entrevistas e artigos de jornal, justamente onde ainda encontra gente disposta a lhe dar espaço e ouvidos. Como em 1998, às vésperas da reeleição, quando foi flagrado em um grampo ilegal feito nos telefones do BNDES. Empavonado, comentava, em tom de galhofa, com o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, das Comunicações, da subserviência da mídia que o apoiava acriticamente, em meio a turbilhão de escândalos que se ensaiava durante as privatizações de então:
Mendonça de Barros – A imprensa está muito favorável com editoriais.
FHC – Está demais, né? Estão exagerando, até!
A mesma mídia, capitaneada por um colunismo de viúvas, continua favorável a FHC. Exagerando, até. A diferença é que essa mesma mídia – e, em certos casos, os mesmos colunistas – não tem mais relevância alguma.
Resta-nos este enredo de ópera-bufa no qual, no fim do último ato, o príncipe caído reconhece a existência do filho bastardo, 18 anos depois de tê-lo mandado ao desterro, no bucho da mãe, com a ajuda e a cumplicidade de uma emissora de tevê concessionária do Estado – de quem, portanto, passou dois mandatos presidenciais como refém e serviçal.
Agora, às portas do esquecimento, escondido no quarto dos fundos pelos tucanos, como um parente esclerosado de quem a família passou do orgulho à vergonha, FHC decidiu recorrer à maconha.
A meu ver, um pouco tarde demais.
Leandro Fortes
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Vinte anos depois daquele 1989
O ano de 2009 vem sendo lembrado pelas duas décadas da queda do Muro de Berlim. Pesquisando o contexto histórico da época, descobri que o ano de 1989 ficou marcado por outros acontecimentos também, tanto no Brasil como no mundo. É inegável que o fim da separação das duas alemanhas foi um divisor de águas para a política mundial. O Muro de Berlim era a representação física da Cortina de Ferro – expressão usada pelo primeiro-ministro inglês Winston Churchill para designar a divisão entre as democracias ocidentais e os países comunistas da Europa Oriental. É natural, portanto, que sua queda tenha se tornado o marco simbólico do fim do comunismo. O muro que dividia a capital da Alemanha veio abaixo na noite de 9 de novembro de 1989, sem que um só tiro fosse disparado.
Mas voltemos ao Brasil. Por aqui a música nacional, que começou a traçar novos caminhos no fim dos anos de 1970 e início dos de 1980, perde dois dos mais originais cantores populares da época: Raul Seixas e Luiz Gonzaga. Esses dois ícones da MPB eram considerados, nada mais, nada menos, o pai do rock nacional e o Rei do Baião, respectivamente. Raul morreu dia 21 de agosto de 1989 de pancreatite. Luiz Gonzaga, vítima de uma pneumonia, se foi também no ano de 1989, no Recife, enquanto dormia.
Ainda no campo das artes, outro gênio que também nos deixou nesse fatídico ano foi o pintor espanhol Salvador Dali, que Morreu no dia 23 de janeiro de 1989, aos 84 anos de idade.
É nesse ano também que o Brasil realiza a sua primeira eleição direta para presidente, desde a vitória de Jânio Quadros em 1960. Na época o pleito teve a disputa de 22 candidatos, indo a segundo turno Lula e Collor. Durante essa disputa, um pool de emissoras (Rede Bandeirantes, Rede Globo, Rede Manchete e SBT) realizou dois debates entre os candidatos. No Jornal Nacional do dia seguinte, um desses debates (o segundo) foi editado de uma forma em que o candidato Collor parecia ter se saído melhor do que Lula. A coisa foi tão escandalosa que o então chefe de jornalismo da Rede Globo, Armando Nogueira, o qual não estava sabendo da trama, foi até a casa do dono da TV, Roberto Marinho, para pedir demissão na mesma noite. Muitos atribuem a vitória de Collor na eleição devido a esse fato específico.
Já no contexto mundial, em 1989 um anônimo entrou para a história, ao demonstrar para o mundo que ainda é possível encontrar heróis. Armado apenas de seu próprio corpo, ele tentou deter a fileira de tanques que avançava rumo à Praça da Paz Celestial, em Pequim, onde centenas de estudantes pediam liberdades democráticas. Duzentos manifestantes foram massacrados pelo Exército. Mas sua luta não foi em vão: ao se dar conta de que o país virara uma panela de pressão pronta a explodir, o regime destampou algumas válvulas.
O certo é que quase vinte anos depois, a China é a economia mais pujante do planeta, mas ainda sustenta a ditadura do partido único. Por aqui, aquele líder operário barbudo, escrachado pela Globo e pela elite burguesa naquele 1989, veio a ser o presidente do Brasil, e melhor do que isso, se destaca como um dos maiores líderes mundiais da atualidade e pode deixar o governo como um dos, se não o melhor presidente da história desse país. Como as coisas mudam em vinte anos. Aquele Brasil que ainda carregava as cicatrizes de duas décadas de ditadura e que constituía a célula de uma provável democracia, lá pelos idos de 1989, agora posa de grande potência. Empresta dinheiro ao FMI, e além de não dever ninguém, ainda tem uma grana danada de reserva e, detalhe, depois de enfrentar uma das maiores crises econômicas da história. De quebra, temos bilhoes de barris de petróleo a explorar no Pré-Sal e vamos sediar uma olimpíada e uma copa do mundo. Utopia? Não. Realidade. E apesar dos muitos problemas que ainda precisamos resolver, já não somos mais o velho país do futuro. Para nós o futuro já chegou. Em vinte anos muita coisa mudou. Salve 2009!
Mas voltemos ao Brasil. Por aqui a música nacional, que começou a traçar novos caminhos no fim dos anos de 1970 e início dos de 1980, perde dois dos mais originais cantores populares da época: Raul Seixas e Luiz Gonzaga. Esses dois ícones da MPB eram considerados, nada mais, nada menos, o pai do rock nacional e o Rei do Baião, respectivamente. Raul morreu dia 21 de agosto de 1989 de pancreatite. Luiz Gonzaga, vítima de uma pneumonia, se foi também no ano de 1989, no Recife, enquanto dormia.
Ainda no campo das artes, outro gênio que também nos deixou nesse fatídico ano foi o pintor espanhol Salvador Dali, que Morreu no dia 23 de janeiro de 1989, aos 84 anos de idade.
É nesse ano também que o Brasil realiza a sua primeira eleição direta para presidente, desde a vitória de Jânio Quadros em 1960. Na época o pleito teve a disputa de 22 candidatos, indo a segundo turno Lula e Collor. Durante essa disputa, um pool de emissoras (Rede Bandeirantes, Rede Globo, Rede Manchete e SBT) realizou dois debates entre os candidatos. No Jornal Nacional do dia seguinte, um desses debates (o segundo) foi editado de uma forma em que o candidato Collor parecia ter se saído melhor do que Lula. A coisa foi tão escandalosa que o então chefe de jornalismo da Rede Globo, Armando Nogueira, o qual não estava sabendo da trama, foi até a casa do dono da TV, Roberto Marinho, para pedir demissão na mesma noite. Muitos atribuem a vitória de Collor na eleição devido a esse fato específico.
Já no contexto mundial, em 1989 um anônimo entrou para a história, ao demonstrar para o mundo que ainda é possível encontrar heróis. Armado apenas de seu próprio corpo, ele tentou deter a fileira de tanques que avançava rumo à Praça da Paz Celestial, em Pequim, onde centenas de estudantes pediam liberdades democráticas. Duzentos manifestantes foram massacrados pelo Exército. Mas sua luta não foi em vão: ao se dar conta de que o país virara uma panela de pressão pronta a explodir, o regime destampou algumas válvulas.
O certo é que quase vinte anos depois, a China é a economia mais pujante do planeta, mas ainda sustenta a ditadura do partido único. Por aqui, aquele líder operário barbudo, escrachado pela Globo e pela elite burguesa naquele 1989, veio a ser o presidente do Brasil, e melhor do que isso, se destaca como um dos maiores líderes mundiais da atualidade e pode deixar o governo como um dos, se não o melhor presidente da história desse país. Como as coisas mudam em vinte anos. Aquele Brasil que ainda carregava as cicatrizes de duas décadas de ditadura e que constituía a célula de uma provável democracia, lá pelos idos de 1989, agora posa de grande potência. Empresta dinheiro ao FMI, e além de não dever ninguém, ainda tem uma grana danada de reserva e, detalhe, depois de enfrentar uma das maiores crises econômicas da história. De quebra, temos bilhoes de barris de petróleo a explorar no Pré-Sal e vamos sediar uma olimpíada e uma copa do mundo. Utopia? Não. Realidade. E apesar dos muitos problemas que ainda precisamos resolver, já não somos mais o velho país do futuro. Para nós o futuro já chegou. Em vinte anos muita coisa mudou. Salve 2009!
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Homenagem a Bax
Em homenagem ao grande pintor Petrônio Bax, que faleceu na manhã dessa quinta-feira, no seu sítio em Nova Lima-MG, publico novamente a crônica que fiz sobre o pintor.
Obrigado, sua arte tornou a vida mais bela e com um pouco mais de esperança.
Obrigado, sua arte tornou a vida mais bela e com um pouco mais de esperança.
O Espelho de Bax
Recentemente tive o prazer de fazer uma visita ao grande pintor mineiro Petrônio Bax, que inclusive residiu durante certo tempo em Cláudio. Aos 81 anos, Bax encerra uma vivacidade e uma sabedoria que fascinam e que dá vontade de ficar o dia inteiro ali em seu ateliê ouvindo as suas reflexões sobre a vida, a natureza e os homens. A sua fala mansa e o seu jeito simples escondem um ser extraordinário, que busca na espiritualidade e na natureza a inspiração com que cria as mais belas obras de arte. Boa parte do seu trabalho hoje está espalhada pelo mundo.
“Veni, Creator Spiritus”, traduzindo do latim: “Vem Espírito Criador”. Esta frase está escrita no alto de um tripé construído pelo próprio artista para pintar seus quadros. Ela mostra a religiosidade do pintor, que por sua vez é expressa em seus quadros onde as imagens de santos se misturam à peixinhos e outros habitantes do mar. Para ele, o peixe é o símbolo de Cristo.
Discípulo direto do mestre Guignard, Bax é considerado um dos maiores artistas da atualidade. Ganhou prêmios nacionais e internacionais e já expôs seus quadros em várias partes do mundo. Mas nada disso fez alterar a sua personalidade, possui uma humildade indelével. Se perguntá-lo onde foi que nasceu, ele responde sem pestanejar: “No Japão”. Trata-se, portanto, do Japão Grande de Oliveira, hoje, Carmópolis de Minas.
Quando fui visitá-lo estava em companhia de um amigo carmopolitano com o qual disputei a verdadeira raiz do artista, já que, quando Bax nasceu, Carmópolis pertencia a Oliveira, logo, Petrônio Bax é oliveirense. Meu amigo não gostou da minha tese e reivindicou a seu favor. Mas nenhum de nós talvez tivesse razão ao afirmar que Bax é oliveirense ou carmopolitano. Artistas não têm pátria, são cosmopolitas, patrimônios da humanidade.
No ano passado o Palácio das Artes montou uma grande exposição do pintor em comemoração aos seus 80 anos de vida. O evento recebeu mais de vinte mil visitantes durante o tempo em que esteve aberto. Tive o prazer de visitar a exposição e me senti lisonjeado ao descobrir que entre os quadros do artista, era exibido em uma pequena sala ao fundo um vídeo editado por mim no qual o próprio artista fala da sua vida e obra. Outro prazer eu tive também no ano passado quando vi uma crônica minha publicada no livro “O Canto do Cisne”, do escritor oliveirense Nelson Leite, que teve a capa ilustrada por Petrônio Bax.
Ao final da nossa visita, Bax me presenteou com cinco livros de sua autoria. Lendo as suas poesias, Bax me fez despertar para várias coisas, entre elas, sobre a importância do espelho, um tema favorito do autor em se tratando de poema. - “Por ser verdadeiro em seu reflexo, o espelho nem sempre é bem visto.” - O autor atentou para uma coisa importante: O espelho tem funções que vão além da mera reprodução semiótica do mundo material. Ele deve ser, primeiramente, um instrumento de reflexão do espírito. Um momento de encarar-se a si mesmo. De indagar-se.
Em seu livro Bax levanta a seguinte questão: “No espelho há monólogo ou diálogo?”. Creio que no espelho há monólogo quando ele não consegue revelar o verdadeiro eu ao eu refletido. Mas se o tal do eu de cá descobre que o eu refletido não é o verdadeiro eu que se reflete, aí o diálogo é possível. A obra de Bax é um espelho que reflete o mundo de uma maneira pitoresca, sublime e única.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Novo colaborador do blog
A partir de hoje, esse blog passa a publicar, além dos artigos desse que vos escreve, também as Reflexões de Fidel. O comandante cubano, desde que deixou o governo de Cuba, passou a escrever para jornais, revistas e sites do mundo inteiro. Como ele próprio disse, sua revolução ocorrerá agora no campo das idéias. Assim, portanto, esse blog passa a colaborar com essa revolução.
Luciano Soares
Luciano Soares
Reflexões de Fidel
Uma história de ficção científica
• COMO lamento criticar Obama, sabendo que, nesse país, houve possivelmente outros presidentes piores que ele. Compreendo que, nos Estados Unidos, esse cargo é hoje uma grande dor de cabeça. Tal vez nada explique melhor que o informado ontem pelo jornal Granma de que 237 membros do Congresso dos Estados Unidos, quer dizer, 44% deles, são milionários. Não significa que cada um deles tenha a obrigação de ser reacionário incorrigível, mas é muito difícil que pense como qualquer dos muitos milhões de norte-americanos que carecem de assistência médica, que não têm emprego ou têm que lutar duramente pela vida.
Obama, evidentemente, não é um mendigo, tem milhões de dólares. Como profissional foi destacado; o seu domínio da língua, sua eloquência e sua inteligência são incontestáveis. Apesar de ser afro-americano, foi eleito presidente pela primeira vez na história de seu país numa sociedade racista, que sofre uma profunda crise econômica internacional, cuja responsabilidade recai sobre si mesma.
Não se trata de ser ou não antiamericano, como o sistema e os seus grandes meios de comunicação pretendem qualificar os seus adversários.
O povo norte-americano não é responsável, mas vítima de um sistema insustentável e o que é pior: incompatível com a vida da humanidade.
O Obama inteligente e rebelde, que sofreu humilhação e racismo durante a infância e a juventude, percebe-o, mas o Obama educado e engajado no sistema e nos métodos que o levaram à presidência dos Estados Unidos não pode resistir à tentação de pressionar, de ameaçar e, inclusive, de enganar os outros.
É obsessivo no trabalho; tal vez nenhum outro presidente dos Estados Unidos seja capaz de se engajar num programa tão intenso como o que se propõe executar nos oito dias próximos.
De acordo com o programa, fará um amplo percurso pelo Alasca, onde falará com as tropas ali estacionadas; pelo Japão, pela Singapura, pela República Popular da China e pela Coreia do Sul; participará da reunião do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) e da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean); terá encontros com o primeiro-ministro do Japão e com Sua Majestade Imperial Akihito, na Terra do Sol Nascente; com os primeiros-ministros da Singapura e da Coreia do Sul; com o presidente da Indonésia, Susilo Bambang; da Rússia, Dmitri Medvedev; e com o presidente da República Popular da China, Hu Jintao; proferirá discursos e participará de entrevistas coletivas; levará sua pasta nuclear, que esperamos que não precise usá-la no seu acelerado percurso.
O seu assessor de Segurança informa que discutirá com o presidente da Rússia a reivindicação do Tratado START-1, que expira em 5 de dezembro de 2009. Sem dúvida, serão acertadas algumas reduções do enorme arsenal nuclear, sem transcendência para a economia e a paz mundial.
De que assunto pensa nosso ilustre amigo tratar nesta intensa viagem? A Casa Branca o anuncia solenemente: a mudança climática, a recuperação econômica, o desarmamento nuclear, a guerra do Afeganistão, os riscos de guerra no Irã e na República Democrática Popular da Coreia. Há material para escrever um livro de ficção.
Mas, como pretende Obama resolver os problemas climáticos se a posição de sua representação nas reuniões preparatórias da Cúpula de Copenhague sobre as emissões de gases de efeito estufa foi a pior de todos os países industrializados e ricos, tanto em Bangcoc como em Barcelona, porque os Estados Unidos não assinaram o Protocolo de Kyoto, nem a oligarquia desse país está disposta verdadeiramente a cooperar.
Como vai contribuir para a solução dos sérios problemas econômicos que afetam grande parte da humanidade se a dívida total dos Estados Unidos — que inclui a do Governo Federal, dos governos estatais e locais, das empresas e das famílias — era, no final de 2008, de US$57 trilhões, que equivaliam a mais de 400% do seu PIB, e se o déficit orçamentário desse país aumentou quase 13% do seu PIB no ano fiscal 2009, dado que, sem dúvida, Obama não ignora.
O que vai oferecer a Hu Jintao, se sua política é francamente protecionista para prejudicar as exportações chinesas, se exige do governo chinês, custe o que custar, a revalorização do iuan, fato que afetaria as crescentes importações do Terceiro Mundo procedentes da China?
O teólogo brasileiro Leonardo Boff — que não é discípulo de Marx, mas católico honesto, desses que não estão dispostos a cooperarem com o imperialismo na América Latina — disse recentemente: "...arriscamos nossa destruição e a devastação da diversidade da vida."
"... quase metade da humanidade hoje vive abaixo do nível de pobreza. Os 20% mais ricos consomem 82,49% de toda a riqueza da terra e os 20% mais pobres têm que se sustentar com um ínfimo 1,6%." Cita a FAO e adverte: "...nos anos próximos, haverá entre 150 e 200 milhões de refugiados climáticos." E acrescenta por sua conta: "Hoje, a humanidade está consumindo 30% a mais da capacidade de restituição... A Terra está dando sinais inequívocos de que já não aguenta mais."
O que afirma é certo, mas Obama e o Congresso dos Estados Unidos ainda o ignoram.
O que nos está deixando no hemisfério? O problema vergonhoso de Honduras e a anexação da Colômbia, onde os Estados Unidos instalarão sete bases militares. Em Cuba estabeleceram também uma base militar há mais de 100 anos e ainda a ocupam pela força. Nela instalaram o horrível centro de tortura, mundialmente conhecido, que Obama até hoje não pôde fechar.
Eu considero que, antes que Obama termine o seu mandato, haverá de seis a oito governos de direita na América Latina que serão aliados do império. Em breve, o setor mais de direita dos Estados Unidos tentará também limitar seu mandato a um período de quatro anos de governo. Um Nixon, um Bush ou alguém parecido com Cheney serão novamente presidentes. Então, vão se ver às claras o que significam essas bases militares absolutamente injustificáveis que hoje ameaçam todos os povos da América do Sul, sob pretexto do combate ao narcotráfico, um problema criado pelas dezenas de bilhões de dólares que nos Estados Unidos são injetados no crime organizado e na produção de drogas na América Latina.
Cuba tem demonstrado que para combater as drogas o que faz falta é justiça e desenvolvimento social. No nosso país, o índice de crimes em cada cem mil habitantes é um dos mais baixos do mundo. Nenhum outro do hemisfério pode mostrar índices tão baixos de violência. É conhecido que, apesar do bloqueio, nenhum outro tem tão elevados níveis de educação.
Os povos da América Latina saberão resistir às agressões do império!
A viagem de Obama parece história de ficção científica.
Fidel Castro Ruz
11 de novembro de 2009
19h16 •
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Que seja feita a vontade do povo
Sinceramente, não sabia que meu último artigo, publicado há quinze dias nesse mesmo espaço, poderia causar tanta repercussão. Na verdade, a intenção era essa mesmo, ou seja, provocar a sociedade para ela se envolvesse e se posicionasse numa questão que lhe interessa diretamente. Mas às vezes o meu pessimismo me faz desacreditar na capacidade de mobilização das massas dentro da atual conjuntura social, e isso me preocupa às vezes. Escrevi mais com a intenção de me desabafar sobre o caso, ou mesmo de procurar fazer a minha parte como cidadão oliveirense. Em momento algum imaginei que um simples artigo pudesse desencadear qualquer tipo de movimento, mesmo conhecendo o efeito marxista que certo Manifesto pôde causar a várias gerações.
Enganei-me totalmente sobre uma possível inércia da população acerca do caso da Praça da Rodoviária. O povo respondeu ao meu chamamento. Uma série de telefonemas e e-mails, de início, me mostrou isso. Uma dessas ligações dizia respeito a um pedido de autorização para usar o citado artigo num material gráfico que seria usado em um movimento popular em favor da revitalização da Praça. Claro que autorizei. Afinal de contas, já não estava sozinho nessa luta.
Mas embora eu continue a defender a minha opinião sobre o caso, e tenha conseguido fomentar toda essa mobilização em favor de uma causa que eu considero justa, o resultado final, para mim, já não é de todo importante, porque já consegui uma vitória antecipada. Levar a discussão para o meio da sociedade foi um objetivo que consegui alcançar. A população, que até então estava calada e omissa, resolveu mobilizar-se, dar a sua opinião, mesmo que fosse contra a praça. A diferença é que, agora, a opinião é do povo, não apenas de um articulista ou de um empresário. Isso é democracia. A divergência de idéias, o debate aberto e limpo, a participação pública. E é isso que deve permanecer sempre, e é por ela que vou lutar incansavelmente seja contra quem for.
Abordaram-me na rua sugerindo-me idéias do que poderia ser feito no sentido de que a praça fosse salva. A essas pessoas fiz questão dizer: O que me sugerem, façam vocês mesmos. Vocês são o povo, e por vivermos num regime democrático o poder está na mão de cada um de nós. Essa luta que iniciei já não me pertence mais. Ela é do meu povo agora, da minha gente. Sou um mero soldado, não estou no comando. Estive inicialmente no front de batalha, mas agora passei para a retaguarda. Quero participar, mas ao mesmo tempo, faço questão de ver os que me assemelham na causa e na vontade, lutarem também.
Na verdade, acho que já vencemos as primeiras batalhas, ou seja, interrompemos um processo de demolição que já estava em curso, apresentamos um abaixo assinado que se contrapôs ao primeiro, e conseguimos fazer com que um anteprojeto que pedia a desafetação da praça para a sua demolição e venda fosse retido na Câmara. E quando eu digo “nós”, falo daqueles que querem proteger a praça. É claro que há a opinião daqueles que são contra, e que precisa ser respeitada. E é no contraponto que nasce a democracia. E será por meio do processo democrático que chegaremos à decisão final. E independente do resultado, uma vez respeitada a vontade do povo, a democracia prevalecerá, e aí será uma vitória de todos.
Para terminar, gostaria de deixar claro que não tenho pretensões políticas, não tenho ligação com grupos ou agentes políticos, e não há aqui nenhuma opinião influenciada por qualquer outro tipo de força, a não ser aquela que brota da minha consciência e palpita no meu coração. Do ponto de vista ideológico, sou socialista convicto, no entanto, não consigo aplicar politicamente esta condição à Oliveira. Tenho admiradores e críticos, e respeito a opinião de ambos. Mas não vou usar esse valioso espaço para fazer média com ninguém. E sobre as opiniões compradas, ou permutadas, em favor de fulano ou de cicrano, procuro nem desconsiderar. E que seja feita a vontade do povo.
Enganei-me totalmente sobre uma possível inércia da população acerca do caso da Praça da Rodoviária. O povo respondeu ao meu chamamento. Uma série de telefonemas e e-mails, de início, me mostrou isso. Uma dessas ligações dizia respeito a um pedido de autorização para usar o citado artigo num material gráfico que seria usado em um movimento popular em favor da revitalização da Praça. Claro que autorizei. Afinal de contas, já não estava sozinho nessa luta.
Mas embora eu continue a defender a minha opinião sobre o caso, e tenha conseguido fomentar toda essa mobilização em favor de uma causa que eu considero justa, o resultado final, para mim, já não é de todo importante, porque já consegui uma vitória antecipada. Levar a discussão para o meio da sociedade foi um objetivo que consegui alcançar. A população, que até então estava calada e omissa, resolveu mobilizar-se, dar a sua opinião, mesmo que fosse contra a praça. A diferença é que, agora, a opinião é do povo, não apenas de um articulista ou de um empresário. Isso é democracia. A divergência de idéias, o debate aberto e limpo, a participação pública. E é isso que deve permanecer sempre, e é por ela que vou lutar incansavelmente seja contra quem for.
Abordaram-me na rua sugerindo-me idéias do que poderia ser feito no sentido de que a praça fosse salva. A essas pessoas fiz questão dizer: O que me sugerem, façam vocês mesmos. Vocês são o povo, e por vivermos num regime democrático o poder está na mão de cada um de nós. Essa luta que iniciei já não me pertence mais. Ela é do meu povo agora, da minha gente. Sou um mero soldado, não estou no comando. Estive inicialmente no front de batalha, mas agora passei para a retaguarda. Quero participar, mas ao mesmo tempo, faço questão de ver os que me assemelham na causa e na vontade, lutarem também.
Na verdade, acho que já vencemos as primeiras batalhas, ou seja, interrompemos um processo de demolição que já estava em curso, apresentamos um abaixo assinado que se contrapôs ao primeiro, e conseguimos fazer com que um anteprojeto que pedia a desafetação da praça para a sua demolição e venda fosse retido na Câmara. E quando eu digo “nós”, falo daqueles que querem proteger a praça. É claro que há a opinião daqueles que são contra, e que precisa ser respeitada. E é no contraponto que nasce a democracia. E será por meio do processo democrático que chegaremos à decisão final. E independente do resultado, uma vez respeitada a vontade do povo, a democracia prevalecerá, e aí será uma vitória de todos.
Para terminar, gostaria de deixar claro que não tenho pretensões políticas, não tenho ligação com grupos ou agentes políticos, e não há aqui nenhuma opinião influenciada por qualquer outro tipo de força, a não ser aquela que brota da minha consciência e palpita no meu coração. Do ponto de vista ideológico, sou socialista convicto, no entanto, não consigo aplicar politicamente esta condição à Oliveira. Tenho admiradores e críticos, e respeito a opinião de ambos. Mas não vou usar esse valioso espaço para fazer média com ninguém. E sobre as opiniões compradas, ou permutadas, em favor de fulano ou de cicrano, procuro nem desconsiderar. E que seja feita a vontade do povo.
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