quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Espelho de Bax


Recentemente tive o prazer de fazer uma visita ao grande pintor mineiro Petrônio Bax, que inclusive residiu durante certo tempo em Cláudio. Aos 81 anos, Bax encerra uma vivacidade e uma sabedoria que fascinam e que dá vontade de ficar o dia inteiro ali em seu ateliê ouvindo as suas reflexões sobre a vida, a natureza e os homens. A sua fala mansa e o seu jeito simples escondem um ser extraordinário, que busca na espiritualidade e na natureza a inspiração com que cria as mais belas obras de arte. Boa parte do seu trabalho hoje está espalhada pelo mundo.
“Veni, Creator Spiritus”, traduzindo do latim: “Vem Espírito Criador”. Esta frase está escrita no alto de um tripé construído pelo próprio artista para pintar seus quadros. Ela mostra a religiosidade do pintor, que por sua vez é expressa em seus quadros onde as imagens de santos se misturam à peixinhos e outros habitantes do mar. Para ele, o peixe é o símbolo de Cristo.
Discípulo direto do mestre Guignard, Bax é considerado um dos maiores artistas da atualidade. Ganhou prêmios nacionais e internacionais e já expôs seus quadros em várias partes do mundo. Mas nada disso fez alterar a sua personalidade, possui uma humildade indelével. Se perguntá-lo onde foi que nasceu, ele responde sem pestanejar: “No Japão”. Trata-se, portanto, do Japão Grande de Oliveira, hoje, Carmópolis de Minas.
Quando fui visitá-lo estava em companhia de um amigo carmopolitano com o qual disputei a verdadeira raiz do artista, já que, quando Bax nasceu, Carmópolis pertencia a Oliveira, logo, Petrônio Bax é oliveirense. Meu amigo não gostou da minha tese e reivindicou a seu favor. Mas nenhum de nós talvez tivesse razão ao afirmar que Bax é oliveirense ou carmopolitano. Artistas não têm pátria, são cosmopolitas, patrimônios da humanidade.
No ano passado o Palácio das Artes montou uma grande exposição do pintor em comemoração aos seus 80 anos de vida. O evento recebeu mais de vinte mil visitantes durante o tempo em que esteve aberto. Tive o prazer de visitar a exposição e me senti lisonjeado ao descobrir que entre os quadros do artista, era exibido em uma pequena sala ao fundo um vídeo editado por mim no qual o próprio artista fala da sua vida e obra. Outro prazer eu tive também no ano passado quando vi uma crônica minha publicada no livro “O Canto do Cisne”, do escritor oliveirense Nelson Leite, que teve a capa ilustrada por Petrônio Bax.
Ao final da nossa visita, Bax me presenteou com cinco livros de sua autoria. Lendo as suas poesias, Bax me fez despertar para várias coisas, entre elas, sobre a importância do espelho, um tema favorito do autor em se tratando de poema. - “Por ser verdadeiro em seu reflexo, o espelho nem sempre é bem visto.” - O autor atentou para uma coisa importante: O espelho tem funções que vão além da mera reprodução semiótica do mundo material. Ele deve ser, primeiramente, um instrumento de reflexão do espírito. Um momento de encarar-se a si mesmo. De indagar-se.
Em seu livro Bax levanta a seguinte questão: “No espelho há monólogo ou diálogo?”. Creio que no espelho há monólogo quando ele não consegue revelar o verdadeiro eu ao eu refletido. Mas se o tal do eu de cá descobre que o eu refletido não é o verdadeiro eu que se reflete, aí o diálogo é possível. A obra de Bax é um espelho que reflete o mundo de uma maneira pitoresca, sublime e única.

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