Imagem da histórica "Batalha da Maria Antônia.
- Às vésperas de mais uma eleição para presidente, acirram-se
as velhas discussões entre direita e esquerda no Brasil. Nesse embate, muitas
pessoas se posicionam sem saber sequer o que cada lado representa. Para tentar
identificar quem é quem, vamos à história:
Quando Pedro Álvares Cabral
gritou “terra à vista!”, abrindo caminho para os portugueses catequizarem
nossos índios, comerem nossas índias e nos colonizarem, instalou-se a direita
no Brasil. Com a vinda da Família Real, a direita ganhou poder. Quando o país
foi dividido em Capitanias Hereditárias, a direita ganhou território. Quando
essas capitanias foram divididas em sesmarias e doadas aos homens que dizimaram
os índios daquela região, nasciam ali os grandes latifundiários de direita,
que, posteriormente, subdividiram essas terras e as legaram aos seus herdeiros,
que viraram coronéis, filhos de coronéis, e os netos dos coronéis que hoje se
espalham por aí.
No momento em que Tiradentes e
sua turma manifestaram-se contra, entre outras coisas, a derrama e o domínio
português, dentro da chamada Inconfidência Mineira, na segunda metade do século
XVIII, nascia a chama da esquerda no país. Não que eles necessariamente fossem
de esquerda, mas plantaram o que poderíamos chamar de conceito ideológico da
esquerda. Naquela época, a Coroa Portuguesa conseguiu abortar o movimento dos
inconfidentes, assim como vem tentando impedir toda tentativa de mudança no
status quo vigente desde o período imperial. Esse conceito lançado pelos
inconfidentes pôde ser identificado também no movimento republicano e abolicionista
(quando se tinha, do outro lado, os escravocratas de direita).
Pela América Latina, figuras como
Simóm Bolívar, San Martín e José Martí se entregam a sangrentas batalhas da
esquerda contra o domínio espanhol sobre os países dessa região. Na Europa,
explode a Revolução Francesa, que a princípio era de esquerda, mas depois que
os burgueses tomaram o poder, virou de direita. Marx e Engels lançam o
Manifesto Comunista (inspiração para a esquerda). Adam Smith lança o conceito
de liberalismo e a teoria da Mão Invisível (inspiração para a direita).
Durante boa parte do século IXX e
XX, o Brasil viveu sobre a influência da cultura francesa, desde a moda, passando
pela arte, comportamento, etc. A Belle Époque
parisiense contagiava a sociedade burguesa e pequeno-burguesa brasileiras. - Alguns
livros de histórias trazem relatos de que em certos salões de festa do Rio de
Janeiro a língua oficial era o francês. - Dessa forma, a direita burguesa
tupiniquim, que já carregava influências da Corte Portuguesa, passa a absorver
os padrões estéticos da Cidade Luz, o que a obrigava a não aceitar, desde
aquela época, a tipos barbudos e com um dedo a menos na mão, muito menos os que
não saibam falar francês ou inglês.
Em 1922, acontece em São Paulo a
Semana de Arte Moderna, que derrubou os quase indeléveis cânones artísticos
praticados em todo o mundo, desde o Renascimento Italiano. Estava lançada a
arte genuinamente brasileira. O ato de rebeldia de Anita Malfati, Oswald de
Andrade e Cia, causou a ira dos críticos de direita e o aplauso da esquerda. Durante
a primeira metade do século XX, a revolucionária Coluna Prestes foi perseguida
até a sua extinção. Durante esse período, até os tempos atuais, todo aquele que
ousou imprimir mudanças no país, de alguma forma, foi tirado de cena. Que o
digam o PCdoB e os presidentes Getúlio Vargas, que não aguentou a pressão e
suicidou; Juscelino Kubitcheck, assassinado; Jânio Quadros, que renunciou, e
João Goulart, deposto do cargo de presidente, após ser eleito democraticamente
pelo voto popular.
No início dos anos 1960, a
direita católica brasileira inicia a “Marcha da Família com deus pela
Liberdade” contra o que chamavam de “avanço comunista”. Isso deu base para que,
em 1964, a extrema direita do país, que conspirava desde a época de Getúlio,
instalasse uma ditadura militar no Brasil. Na medida em que a esquerda tentava
resistir a isso, seus membros eram perseguidos, presos, torturados e
assassinados. Nessa época, a Rede Globo, que era uma emissora de TV de médio
porte, agiganta-se, a partir das benesses dispensadas a ela pelo regime
vigente, em troca de apoio.
Em 3 de outubro de 1968, acontece
a famosa “Batalha da Maria Antônia”, marcada por um confronto entre estudantes de
esquerda da Faculdade de Filosofia e Letras da USP e alunos da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, de direita. Na época, as duas instituições,
localizadas na rua Maria Antônia, região central de São Paulo, eram vizinhas. A
turma da USP lutava contra a ditadura, enquanto o pessoal do Mackenzie a
defendiam. Mais uma vez se tinha, de um lado, reacionários (direitistas que se
opõem à mudanças), e de outro, revolucionários (esquerdistas que lutam para
derrubar o status quo).
Também em 1968 os jornalistas
Roberto Civita (de direita) e Mino Carta (de esquerda) criam a revista Veja. Mais
tarde Mino vende a sua parte do semanário e lança a revista Carta Capital. Civita
anuncia a sociedade com o Naspers, grupo de comunicações sul-africano,
vinculado às elites africâneres que legalizou o criminoso regime do apartheid.
Em 1979 estoura a Greve Geral do
ABC Paulista. No dia 27 de março, o operário sindicalista “Lula”, comanda a
assembleia que reuniu 70 mil trabalhadores no Estádio de Vila Euclides. Ali ele
negociou uma trégua de 45 dias, acordada entre os patrões e a diretoria do
Sindicato. A trégua previa a suspensão da greve e a reabertura das negociações.
Em 10 de fevereiro de 1980, Lula ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores,
que representava a união de centenas de milhares de pessoas ligadas aos
movimentos sindicais, comunidades eclesiais de base da igreja católica, grupos
de esquerda e intelectuais.
Começam os anos 80 e a esquerda
volta às ruas com a campanha pelas Diretas, dessa vez, com o apoio popular.
Pelo voto indireto, Tancredo Neves é eleito presidente, mas morre antes de
assumir. Em seu lugar, toma posse José Sarney. Em 1989, o povo tem a chance de
eleger seu primeiro representante pelo voto direto, desde a redemocratização, mas
acaba caindo na ilusão de um personagem, chamado de “Caçador de Marajás”,
criado por certa Rede de Televisão (a mesma que manipulou a edição do debate
entre Lula e Collor, favorecendo o candidato da “direita”, Fernando Collor de
Mello, eleito presidente, cargo em que perderia mais tarde, pelo processo de impeachment.
Após três tentativas, Lula foi
eleito presidente da República para o período de 2003 a 2006 e reeleito para o
segundo mandato, de 2007 a 2010. Durante os seus oito anos de governo, foram
gerados 15 milhões de empregos. Entre 2003 e 2009, 27,9 milhões de pessoas
saíram da pobreza, enquanto 35,7 milhões ascenderam à classe média. Em 2010, Dilma
Rousseff, ex-guerrilheira de esquerda, é eleita a primeira mulher presidente do
Brasil. Uma das suas primeiras ações no governo foi lançar o programa “Brasil
sem miséria”, que já tirou mais de 20 milhões de pessoas da extrema pobreza.
Hoje, a TV, que cresceu com a
ajuda da ditadura de direita, e a revista, que se aliou à racistas africanos e
é bancada por uma federação de indústrias de São Paulo, que por sua vez foram
obrigadas a conceder uma série de benefícios aos trabalhadores daquele estado,
depois da greve do ABC, liderada por Lula, fazem campanha contra Dilma
Rousseff, candidata do PT, partido de esquerda, que Lula ajudou a criar, e que
transformou um país de terceiro mundo na sexta economia do mundo, pagando a
dívida externa e ajudando a criar um novo FMI.
Texto: Luciano Soares.
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