Aos 17 anos, Tieta vivera aventuras amorosas que escandalizaram a população de Sant´Ana do Agreste. Condenada por suas atitudes, e rechaçada pela família e por boa parte da população, Tieta vai-se embora da pequena vila do interior da Bahia.
Anos depois, Tieta retorna rica e poderosa, viúva de um industrial paulista, e é recebida com toda a pompa pela família, pela sociedade e políticos da cidade.
Qualquer semelhança é mera coincidência. A obra “Tieta do Agreste”, de Jorge Amado, parece ter deixado o mundo da ficção para ter sua estreia na realidade dentro do contexto social de Oliveira.
Conhecida por formar grandes homens, que emprestaram sua força e seu conhecimento ao país, o município de Oliveira concebeu escritores, cientistas, poetas, artistas e grandes políticos que levaram o nome da então “Princesinha do Oeste” para além do Morro do Diamante.
Aqui, no final do século XIX e boa parte do século XX a cidade teve no topo da sua pirâmide social os famosos coronéis e posteriormente os grandes fazendeiros, que mandavam seus filhos estudar na Europa e no Rio de Janeiro. Por outro lado, tinha-se na base dessa pirâmide uma massa de pobres e iletrados que se viam sob as ordens da Igreja e dos políticos, sempre representados por um desses coronéis.
Tendo como legado histórico esse sistema coronelista, e a carga cultural que, por consequência, foi produzida durante essa formação hierárquica, caímos lá no início dos anos 1990, quando conheci a bela e não menos polêmica, Tieta de Oliveira – Resolvi chamá-la assim, porque não vem ao caso revelar seu nome verdadeiro.
Vinda de uma família humilde, residindo de favor nos fundos de uma escola onde a mãe trabalhava como servente, até então a bela adolescente não era conhecida na cidade. Mas isso durou pouco. Aquela máxima de que a beleza chama a atenção confirmou-se com Tieta e sua, não menos bonita, irmã. A dupla começava a ganhar as partes altas e centrais da cidade, onde normalmente a juventude se reunia na época.
A passagem das duas, tanto entre os que lhes assemelhavam na condição social, como nas classes burguesas, herdeiras dos velhos coronéis, provocava mudez nos homens e bochichos entre as meninas. A beleza das duas fazia os corações masculinos disparem e os cabelos das mocinhas se arrepiarem de inveja. E a pergunta foi inevitável: Quem são essas duas?
Não demorou muito para a dupla se tornar popular na cidade. A partir do momento em que foram vistas, uma multidão de homens passou a tentar a sorte de ter uma oportunidade de lhes conquistar. A estética dessas meninas refuta a tese do meu amigo Manuel Rabelo que diz que “até a beleza é mal distribuída”. Não no caso delas: Se não foram contempladas pelo prêmio da fortuna, foram premiadas com a virtude da beleza. Essa dádiva nem Cleópatra conseguiu.
Mas voltemos aos fatos: Como na história de Jorge Amado, a repercussão causada pelo aparecimento da bela Tieta oliveirense não poderia passar impune aos olhos da conservadora e elitista sociedade oliveirense da época. Não demorou para que as duas irmãs começassem a sofrer as consequências de que suas aparências foi capaz de causar nos homens e nas mulheres daquele tempo. Adjetivos lhes eram impostos e toda a sorte de verdades e mentiras lhes caía sobre as costas, como as pedras e cusparadas em Geni, do Zepelim. A sua culpa estava no fato de 99,9% dos homens oliveirenses se apaixonarem por sua beleza hipnotizante.
Rechaçada pela sociedade, como a própria Tieta do Agreste, a oliveirense resolveu partir. Sumiu como puro encanto. Deixou esta cidade órfã da sua beleza e da efervescência que foi capaz de causar. A partir dali, tudo voltou a ser como antes.
- Na lógica burguesa, o belo, necessariamente, deve ser seguido pela riqueza, uma virtude inerente às classes mais abastadas Nesse tempo, como agora, essa era a ordem natural das coisas. Se o belo fosse encontrado na periferia, este não teria valor. Seria uma espécie de anomalia ou um erro da natureza. Tal qual o caráter sempre fora atribuído aos homens brancos, a beleza deveria ser uma dádiva reconhecida apenas na abastança.
Antes da sua volta triunfal, Tieta confessou a mim: “Amigo, Oliveira ainda vai ajoelhar aos meus pés. A minha primeira atitude será comprar uma casa digna para a minha mãe, o resto você verá”.
Eis que os anos se passaram. Talvez o tempo suficiente para que a população pudesse esquecê-la. Mas ela voltou. E chegou numa situação bem diferente daquela de quando partiu. Tieta cumpriu a sua promessa. Comprou uma boa casa para a mãe e construiu um mega espaço de eventos e convidou a alta sociedade oliveirense para a inauguração. Estavam quase todos lá. E ela conseguiu. A hi society oliveirense se quedou sob o seu poder. Manifestações de elogios, de quase Idolatria, colocavam a moça como uma entidade superior entre os que se julgavam superiores. Naquele momento, a bela e rica Tieta cumpriu o prometido, e deu um tapa de luvas de ceda na cara da sociedade que a humilhou.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Reflexões de Fidel
Obama não era obrigado
a atuar cinicamente
(Extraído do CubaDebate)
• NOS últimos parágrafos de uma Reflexão intitulada "Os sinos dobram pelo dólar", redigida há dois meses, no dia 9 de outubro de 2009, fiz referência ao problema da mudança climática aonde o capitalismo imperialista tem conduzido a humanidade.
"Os Estados Unidos — disse, fazendo alusão às emissões de carbono — não fazem nenhum esforço real. Só aceitam 4% de redução com respeito ao ano 1990." Nesse momento os cientistas exigiam um mínimo que flutuava entre 25 e 40% para o ano 2020.
Acrescentei logo: Hoje sexta-feira 9, de manhã, o mundo acordou com a notícia de que "o Obama bom" do enigma, explicado pelo Presidente Bolivariano Hugo Chávez nas Nações Unidas, recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Nem sempre compartilho as opiniões dessa instituição, mas estou obrigado a reconhecer que nestes instantes foi, segundo a minha opinião, uma medida positiva. Compensa o revés que sofreu Obama em Copenhague ao ser eleita Rio de Janeiro e não Chicago sede das Olimpíadas de 2016, o que provocou irados ataques de seus adversários de extrema direita.
"Muitos serão da opinião de que não ganhou ainda o direito a receber essa distinção. Desejamos ver na decisão, mais do que um prêmio ao Presidente dos Estados Unidos, uma crítica à política criminosa que seguiram não poucos presidentes desse país, os quais conduziram o mundo à encruzilhada onde hoje se encontra; uma exortação à paz e à busca de soluções que conduzam à sobrevivência da espécie.
Era óbvio que observava cuidadosamente o Presidente negro eleito num país racista que sofria profunda crise econômica, sem prejulgá-lo por algumas das suas declarações de campanha e sua condição de chefe do executivo ianque.
Após quase um mês, noutra Reflexão que intitulei "Uma história de ficção científica", escrevi o seguinte:
"O povo norte-americano não é culpável, senão vítima de um sistema insustentável e o que é pior ainda: incompatível já com a vida da humanidade".
"O Obama inteligente e rebelde que sofreu a humilhação e o racismo durante a infância e a juventude o percebe, mas o Obama educado e engajado com o sistema e com os métodos que o levaram à Presidência dos Estados Unidos não pode resistir a tentação de pressionar, ameaçar, e inclusive enganar os outros."
A seguir acrescento: "É obsessivo em seu trabalho; talvez nenhum outro Presidente dos Estados Unidos seria capaz de se engajar num programa tão intenso como o que se propõe levar à cabo nos próximos oitos dias".
Nessa Reflexão, como pode ser observado, eu faço a análise da complexidade e das contradições de seu longo percurso pelo Sudeste asiático e pergunto:
"O que pensa abordar nosso ilustre amigo na intensa viagem?" Seus assessores tinham declarado que falaria de tudo com a China, a Rússia, o Japão, a Coréia do Sul, et cetera, et cetera.
Já é evidente que Obama preparava o terreno para o discurso que pronunciou em West Point no dia 1 de dezembro de 2009. Esse dia empregou-se a fundo. Elaborou e ordenou cuidadosamente 169 frases destinadas a tocar cada uma das "teclas" que lhe interessavam, para conseguir que a sociedade norte-americana o apoiá-se numa estratégia de guerra. Adotou posições que fizeram com que empalidecessem as Catilinárias de Cícero. Esse dia eu tive a impressão que escutava a George W. Bush; seus argumentos não diferiam em nada da filosofia de seu antecessor, salvo por uma folha de parra: Obama opunha-se às torturas.
O principal chefe da organização à qual é atribuído o ato terrorista de 11 de Setembro foi recrutado e treinado pela Agência Central de Inteligência para combater as tropas soviéticas e nem sequer era afegão.
As opiniões de Cuba condenando aquele fato e outras medidas adicionais foram proclamadas esse mesmo dia. Também advertimos que a guerra não era o caminho para lutar contra o terrorismo.
A organização do Talibã, que significa estudante, surgiu das forças afegãs que lutavam contra a URSS e não eram inimigas dos Estados Unidos. Uma análise honesta conduziria à verdadeira história dos fatos que originaram essa guerra.
Hoje não são os soldados soviéticos, senão as tropas dos Estados Unidos e da NATO as quais a sangue e fogo ocupam esse país. A política que é oferecida ao povo dos Estados Unidos pela nova administração é a mesma de Bush, quem ordenou a invasão do Iraque, que nada tinha a ver com o ataque às Torres Gêmeas.
O Presidente dos Estados Unidos não diz uma palavra a respeito das centenas de milhares de pessoas, incluídas crianças e idosos inocentes, que tem morrido no Iraque e no Afeganistão e os milhões de iraquianos e afegãos que sofrem as conseqüências da guerra, sem nenhuma responsabilidade com os fatos que aconteceram em Nova Iorque. A frase com a qual conclui seu discurso: "Deus abençoe os Estados Unidos", mais do que um desejo, parecia uma ordem dada ao céu.
Por que Obama aceitou o Prêmio Nobel da Paz quando já tinha decidido levar até as últimas conseqüências a guerra no Afeganistão? Obama não era obrigado atuar cinicamente.
Depois anunciou que receberia o Prêmio no dia 11 na capital de Noruega e viajaria a Cimeira de Copenhague no dia 18.
Agora há que esperar outro discurso teatral em Oslo, um novo compêndio de frases que ocultam a existência real de uma superpotência imperial com centenas de bases militares espalhadas pelo mundo, duzentos anos de intervenções militares em nosso hemisfério, e mais de um século de ações criminosas em países como o Vietnã, o Laos ou outros da Ásia, da África, do Oriente Médio, dos Bálcãs e em qualquer parte do mundo.
Agora o problema de Obama e de seus aliados mais ricos, é que o planeta que dominam com punho de ferro se desfaz em suas mãos.
É bem conhecido o crime cometido por Bush contra a humanidade ao não reconhecer o Protocolo de Kyoto e não fazer durante 10 anos o que deveu ter sido feito desde muito antes. Obama não é ignorante; conhece mesmo como conhecia Gore, o grave perigo que ameaça todos, mas vacila e mostra-se débil perante a oligarquia irresponsável e cega desse país. Não atua como Lincoln, para resolver o problema da escravidão e manter a integridade nacional em 1861, ou como Roosevelt, perante a crise econômica e o fascismo. Na terça-feira atirou uma tímida pedra nas agitadas águas da opinião internacional: a administradora da EPA (Agência de Proteção Ambiental) Lisa Jackson, declarou que as ameaças para a saúde pública e o bem-estar do povo dos Estados Unidos que significa o aquecimento global, permitem a Obama adotar medidas sem contar com o Congresso.
Nenhuma das guerras que têm tido lugar na história, significam um perigo maior.
As nações mais ricas tentarão jogar sobre as mais pobres o peso da carga para salvar a espécie humana. Deve ser exigido aos mais ricos o máximo de sacrifício, a máxima racionalidade no uso dos recursos, a máxima justiça para a espécie humana.
É possível que, em Copenhague, o mais que possa ser conseguido seja um mínimo de tempo para atingir um acordo vinculador que sirva realmente para buscar soluções. Se isso é conseguido, a Cimeira significaria pelo menos, um modesto avanço.
Vamos ver o que acontece!
Fidel Castro Ruz
9 de dezembro de 2009
12h34 •
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Desenvolvimento econômico ao país e crescimento mental ao povo
No meu último artigo teci comentários otimistas sobre o desenvolvimento econômico do país, as perspectivas de um futuro próspero, e o fato de o país ter sido escolhido como sede de uma olimpíada e de uma copa do mundo já na primeira metade da próxima década. No entanto, analisando os últimos episódios ocorridos na política e numa universidade brasileira, me vêm as dúvidas se nós realmente estamos preparados para esse futuro.
Aquela imagem nojenta de políticos recebendo propinas exibidas por vários veículos de mídia, reabriram a velha ferida desse país. A corrupção, juntamente com os problemas de ordem econômica e social, são os grandes desafios desse país há séculos. Quando se imagina que o Brasil criou músculos para caminhar com as próprias pernas, sem depender mais de FMI e outros remédios, eis que a velha chaga se vê novamente aberta e nos deixa a dúvida se nós realmente estamos preparados para administrar toda a riqueza que devemos produzir nos próximos anos.
Outra questão é a educação. Os últimos resultados divulgados pelo IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) não são nada animadores. Sobre a educação média, a violência tem marcado mais os alunos do que o próprio conhecimento. Nos cursos superiores, a mediocridade é marca quase comum da massa universitária.
O episódio da moça que foi hostilizada por colegas na UNIBAN mostra bem o ideário de big brother que habita a cabeça desses jovens. Um monte de cérebro cheios de preconceitos, hipocrisia, falso moralismo, movidos por um inconsciente coletivo que deveria ter terminado lá na época de Cristo, quando esse precisou dizer a um bando de hipócritas que atirassem a primeira pedra na mulher adultera aquele que não tinha nenhum pecado. Pelo jeito a cabeça do ser humano continua absorvendo o fútil e fechando-se ao conhecimento que o libertaria da própria ignorância de que é vítima.
Há algum tempo um grupo de formandos em medicina invadiu um hospital escola soltando bombas no lugar que lhe serviu de base para o seu aprendizado, e que provavelmente poderia ser seu ambiente de trabalho a partir dali. Provavelmente esse monte de vândalos estão nos consultórios exercendo a profissão. O que se pode esperar desse tipo de profissional. O que poderemos esperar desses estudantes que agem como animais, jogando pedra numa pessoa, pelo simples fato de ela estar usando um vestido curto. Roupa que se mais curta fosse, mostraria algo que certamente teria mais conteúdo que o cérebro daqueles que a hostilizava.
O que se pode esperar de um país que ensaia a sua pré-estréia de superpotência mundial, se aqueles que cuidam do nosso patrimônio se mostram cada vez mais corruptos incorrigíveis. Todas estas situações nos fazem pensar se nós realmente estamos preparados para colher aquilo que vimos plantando a anos. Um país que se viu envolto em toda a sorte de pragas e tempestades, precisa se preparar para a bonança. Ela pode ser negativa, se não soubermos administrá-la.
Uma coisa é certa, só o investimento em educação pode nos dar base para um desenvolvimento, não só econômico, mas também moral, intelectual e em conseqüência disso, com justiça social. Aí vem mais um ano político, e o caso da propina no Distrito Federal é uma prova de que nós, definitivamente, não estamos preparados para escolher nossos representantes, já que o principal envolvido no caso, já é um político com problemas morais recorrentes. Quanto a isso, tem certa parcela de culpa, a grande mídia, principalmente a grande rede de TV, que aproveita da vácuo cerebral dos seus telespectadores para infiar-lhes pelo cabeça um monte de lixo e de mentiras, que no fundo no fundo, só beneficiam os poderosos, que se perpetuarão no poder enquantp não houver um povo capaz de rechaça-los de lá, cada vez que cometerem um delito, como os que se multiplicam no fechar das portas.
Aquela imagem nojenta de políticos recebendo propinas exibidas por vários veículos de mídia, reabriram a velha ferida desse país. A corrupção, juntamente com os problemas de ordem econômica e social, são os grandes desafios desse país há séculos. Quando se imagina que o Brasil criou músculos para caminhar com as próprias pernas, sem depender mais de FMI e outros remédios, eis que a velha chaga se vê novamente aberta e nos deixa a dúvida se nós realmente estamos preparados para administrar toda a riqueza que devemos produzir nos próximos anos.
Outra questão é a educação. Os últimos resultados divulgados pelo IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) não são nada animadores. Sobre a educação média, a violência tem marcado mais os alunos do que o próprio conhecimento. Nos cursos superiores, a mediocridade é marca quase comum da massa universitária.
O episódio da moça que foi hostilizada por colegas na UNIBAN mostra bem o ideário de big brother que habita a cabeça desses jovens. Um monte de cérebro cheios de preconceitos, hipocrisia, falso moralismo, movidos por um inconsciente coletivo que deveria ter terminado lá na época de Cristo, quando esse precisou dizer a um bando de hipócritas que atirassem a primeira pedra na mulher adultera aquele que não tinha nenhum pecado. Pelo jeito a cabeça do ser humano continua absorvendo o fútil e fechando-se ao conhecimento que o libertaria da própria ignorância de que é vítima.
Há algum tempo um grupo de formandos em medicina invadiu um hospital escola soltando bombas no lugar que lhe serviu de base para o seu aprendizado, e que provavelmente poderia ser seu ambiente de trabalho a partir dali. Provavelmente esse monte de vândalos estão nos consultórios exercendo a profissão. O que se pode esperar desse tipo de profissional. O que poderemos esperar desses estudantes que agem como animais, jogando pedra numa pessoa, pelo simples fato de ela estar usando um vestido curto. Roupa que se mais curta fosse, mostraria algo que certamente teria mais conteúdo que o cérebro daqueles que a hostilizava.
O que se pode esperar de um país que ensaia a sua pré-estréia de superpotência mundial, se aqueles que cuidam do nosso patrimônio se mostram cada vez mais corruptos incorrigíveis. Todas estas situações nos fazem pensar se nós realmente estamos preparados para colher aquilo que vimos plantando a anos. Um país que se viu envolto em toda a sorte de pragas e tempestades, precisa se preparar para a bonança. Ela pode ser negativa, se não soubermos administrá-la.
Uma coisa é certa, só o investimento em educação pode nos dar base para um desenvolvimento, não só econômico, mas também moral, intelectual e em conseqüência disso, com justiça social. Aí vem mais um ano político, e o caso da propina no Distrito Federal é uma prova de que nós, definitivamente, não estamos preparados para escolher nossos representantes, já que o principal envolvido no caso, já é um político com problemas morais recorrentes. Quanto a isso, tem certa parcela de culpa, a grande mídia, principalmente a grande rede de TV, que aproveita da vácuo cerebral dos seus telespectadores para infiar-lhes pelo cabeça um monte de lixo e de mentiras, que no fundo no fundo, só beneficiam os poderosos, que se perpetuarão no poder enquantp não houver um povo capaz de rechaça-los de lá, cada vez que cometerem um delito, como os que se multiplicam no fechar das portas.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Adeus, FHC
Recebi esse artigo do jornalista Leandro Fortes por email e resolvi publicá-lo aqui pela destreza com que o autor diz aquilo que a mídia sempre omitiu. Esse texto mostra que figuras como Reinaldo Azevedo simplesmente não existem, já que seus pequenos Deuses, ACM, FHC e o resto da direita recalcada, morreram.
Adeus, FHC
Fernando Henrique Cardoso foi um presidente da República limítrofe, transformado, quase sem luta, em uma marionete das elites mais violentas e atrasadas do país. Era uma vistosa autoridade entronizada no Palácio do Planalto, cheia de diplomas e títulos honoris causa, mas condenada a ser puxada nos arreios por Antonio Carlos Magalhães e aquela sua entourage sinistra, cruel e sorridente, colocada, bem colocada, nas engrenagens do Estado. Eleito nas asas do Plano Real – idealizado, elaborado e colocado em prática pelo presidente Itamar Franco –, FHC notabilizou-se, no fim das contas, por ter sido co-partícipe do desmonte aleatório e irrecuperável desse mesmo Estado brasileiro, ao qual tratou com desprezo intelectual, para não dizer vilania, a julgá-lo um empecilho aos planos da Nova Ordem, expedida pelos americanos, os patrões de sempre.
Em nome de uma política nebulosa emanada do chamado Consenso de Washington, mas genericamente classificada, simplesmente, de “privatização”, Fernando Henrique promoveu uma ocupação privada no Estado, a tirar do estômago do doente o alimento que ainda lhe restava, em nome de uma eficiência a ser distribuída em enormes lucros, aos quais, por motivos óbvios, o eleitor nunca tem acesso.
Das eleições de 1994 surgiu esse esboço de FHC que ainda vemos no noticiário, um antípoda do mítico “príncipe dos sociólogos” brotado de um ninho de oposição que prometia, para o futuro do Brasil, a voz de um homem formado na adversidade do AI-5 e de outras coturnadas de então. Sobrou-nos, porém, o homem que escolheu o PFL na hora de governar, sigla a quem recorreu, no velho estilo de república de bananas, para controlar a agenda do Congresso Nacional, ora com ACM, no Senado, ora com Luís Eduardo Magalhães, o filho do coronel, na Câmara dos Deputados. Dessa tristeza política resultou um processo de reeleição açodado e oportunista, gerido na bacia das almas dos votos comprados e sustentado numa fraude cambial que resultou na falência do País e no retorno humilhante ao patíbulo do FMI.
Isso tudo já seria um legado e tanto, mas FHC ainda nos fez o favor de, antes de ir embora, designar Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal, o que, nas atuais circunstâncias, dispensa qualquer comentário.
Em 1994, rodei uns bons rincões do Brasil atrás do candidato Fernando Henrique, como repórter do Jornal do Brasil. Lembro de ver FHC inaugurando uma bica (isso mesmo, uma bica!) de água em Canudos, na Bahia, ao lado de ACM, por quem tinha os braços levantados para o alto, a saudar a miséria, literalmente, pelas mãos daquele que se sagrou como mestre em perpetuá-la. Numa tarde sufocante, durante uma visita ao sertão pernambucano, ouvi FHC contar a uma platéia de camponeses, que, por causa da ditadura militar, havia sido expulso da USP e, assim, perdido a cátedra. Falou isso para um grupo de agricultores pobres, ignorantes e estupefatos, empurrados pelas lideranças pefelistas locais a um galpão a servir de tribuna ao grande sociólogo do Plano Real. Uns riram, outros se entreolharam, eu gargalhei: “perder a cátedra”, naquele momento, diante daquela gente simples, soou como uma espécie de abuso sexual recorrente nas cadeias brasileiras. Mas FHC não falava para aquela gente, mas para quem se supunha dono dela.
Hoje, FHC virou uma espécie de ressentido profissional, a destilar o fel da inveja que tem do presidente Lula, já sem nenhum pudor, em entrevistas e artigos de jornal, justamente onde ainda encontra gente disposta a lhe dar espaço e ouvidos. Como em 1998, às vésperas da reeleição, quando foi flagrado em um grampo ilegal feito nos telefones do BNDES. Empavonado, comentava, em tom de galhofa, com o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, das Comunicações, da subserviência da mídia que o apoiava acriticamente, em meio a turbilhão de escândalos que se ensaiava durante as privatizações de então:
Mendonça de Barros – A imprensa está muito favorável com editoriais.
FHC – Está demais, né? Estão exagerando, até!
A mesma mídia, capitaneada por um colunismo de viúvas, continua favorável a FHC. Exagerando, até. A diferença é que essa mesma mídia – e, em certos casos, os mesmos colunistas – não tem mais relevância alguma.
Resta-nos este enredo de ópera-bufa no qual, no fim do último ato, o príncipe caído reconhece a existência do filho bastardo, 18 anos depois de tê-lo mandado ao desterro, no bucho da mãe, com a ajuda e a cumplicidade de uma emissora de tevê concessionária do Estado – de quem, portanto, passou dois mandatos presidenciais como refém e serviçal.
Agora, às portas do esquecimento, escondido no quarto dos fundos pelos tucanos, como um parente esclerosado de quem a família passou do orgulho à vergonha, FHC decidiu recorrer à maconha.
A meu ver, um pouco tarde demais.
Leandro Fortes
Adeus, FHC
Fernando Henrique Cardoso foi um presidente da República limítrofe, transformado, quase sem luta, em uma marionete das elites mais violentas e atrasadas do país. Era uma vistosa autoridade entronizada no Palácio do Planalto, cheia de diplomas e títulos honoris causa, mas condenada a ser puxada nos arreios por Antonio Carlos Magalhães e aquela sua entourage sinistra, cruel e sorridente, colocada, bem colocada, nas engrenagens do Estado. Eleito nas asas do Plano Real – idealizado, elaborado e colocado em prática pelo presidente Itamar Franco –, FHC notabilizou-se, no fim das contas, por ter sido co-partícipe do desmonte aleatório e irrecuperável desse mesmo Estado brasileiro, ao qual tratou com desprezo intelectual, para não dizer vilania, a julgá-lo um empecilho aos planos da Nova Ordem, expedida pelos americanos, os patrões de sempre.
Em nome de uma política nebulosa emanada do chamado Consenso de Washington, mas genericamente classificada, simplesmente, de “privatização”, Fernando Henrique promoveu uma ocupação privada no Estado, a tirar do estômago do doente o alimento que ainda lhe restava, em nome de uma eficiência a ser distribuída em enormes lucros, aos quais, por motivos óbvios, o eleitor nunca tem acesso.
Das eleições de 1994 surgiu esse esboço de FHC que ainda vemos no noticiário, um antípoda do mítico “príncipe dos sociólogos” brotado de um ninho de oposição que prometia, para o futuro do Brasil, a voz de um homem formado na adversidade do AI-5 e de outras coturnadas de então. Sobrou-nos, porém, o homem que escolheu o PFL na hora de governar, sigla a quem recorreu, no velho estilo de república de bananas, para controlar a agenda do Congresso Nacional, ora com ACM, no Senado, ora com Luís Eduardo Magalhães, o filho do coronel, na Câmara dos Deputados. Dessa tristeza política resultou um processo de reeleição açodado e oportunista, gerido na bacia das almas dos votos comprados e sustentado numa fraude cambial que resultou na falência do País e no retorno humilhante ao patíbulo do FMI.
Isso tudo já seria um legado e tanto, mas FHC ainda nos fez o favor de, antes de ir embora, designar Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal, o que, nas atuais circunstâncias, dispensa qualquer comentário.
Em 1994, rodei uns bons rincões do Brasil atrás do candidato Fernando Henrique, como repórter do Jornal do Brasil. Lembro de ver FHC inaugurando uma bica (isso mesmo, uma bica!) de água em Canudos, na Bahia, ao lado de ACM, por quem tinha os braços levantados para o alto, a saudar a miséria, literalmente, pelas mãos daquele que se sagrou como mestre em perpetuá-la. Numa tarde sufocante, durante uma visita ao sertão pernambucano, ouvi FHC contar a uma platéia de camponeses, que, por causa da ditadura militar, havia sido expulso da USP e, assim, perdido a cátedra. Falou isso para um grupo de agricultores pobres, ignorantes e estupefatos, empurrados pelas lideranças pefelistas locais a um galpão a servir de tribuna ao grande sociólogo do Plano Real. Uns riram, outros se entreolharam, eu gargalhei: “perder a cátedra”, naquele momento, diante daquela gente simples, soou como uma espécie de abuso sexual recorrente nas cadeias brasileiras. Mas FHC não falava para aquela gente, mas para quem se supunha dono dela.
Hoje, FHC virou uma espécie de ressentido profissional, a destilar o fel da inveja que tem do presidente Lula, já sem nenhum pudor, em entrevistas e artigos de jornal, justamente onde ainda encontra gente disposta a lhe dar espaço e ouvidos. Como em 1998, às vésperas da reeleição, quando foi flagrado em um grampo ilegal feito nos telefones do BNDES. Empavonado, comentava, em tom de galhofa, com o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, das Comunicações, da subserviência da mídia que o apoiava acriticamente, em meio a turbilhão de escândalos que se ensaiava durante as privatizações de então:
Mendonça de Barros – A imprensa está muito favorável com editoriais.
FHC – Está demais, né? Estão exagerando, até!
A mesma mídia, capitaneada por um colunismo de viúvas, continua favorável a FHC. Exagerando, até. A diferença é que essa mesma mídia – e, em certos casos, os mesmos colunistas – não tem mais relevância alguma.
Resta-nos este enredo de ópera-bufa no qual, no fim do último ato, o príncipe caído reconhece a existência do filho bastardo, 18 anos depois de tê-lo mandado ao desterro, no bucho da mãe, com a ajuda e a cumplicidade de uma emissora de tevê concessionária do Estado – de quem, portanto, passou dois mandatos presidenciais como refém e serviçal.
Agora, às portas do esquecimento, escondido no quarto dos fundos pelos tucanos, como um parente esclerosado de quem a família passou do orgulho à vergonha, FHC decidiu recorrer à maconha.
A meu ver, um pouco tarde demais.
Leandro Fortes
Vinte anos depois daquele 1989
O ano de 2009 vem sendo lembrado pelas duas décadas da queda do Muro de Berlim. Pesquisando o contexto histórico da época, descobri que o ano de 1989 ficou marcado por outros acontecimentos também, tanto no Brasil como no mundo. É inegável que o fim da separação das duas alemanhas foi um divisor de águas para a política mundial. O Muro de Berlim era a representação física da Cortina de Ferro – expressão usada pelo primeiro-ministro inglês Winston Churchill para designar a divisão entre as democracias ocidentais e os países comunistas da Europa Oriental. É natural, portanto, que sua queda tenha se tornado o marco simbólico do fim do comunismo. O muro que dividia a capital da Alemanha veio abaixo na noite de 9 de novembro de 1989, sem que um só tiro fosse disparado.
Mas voltemos ao Brasil. Por aqui a música nacional, que começou a traçar novos caminhos no fim dos anos de 1970 e início dos de 1980, perde dois dos mais originais cantores populares da época: Raul Seixas e Luiz Gonzaga. Esses dois ícones da MPB eram considerados, nada mais, nada menos, o pai do rock nacional e o Rei do Baião, respectivamente. Raul morreu dia 21 de agosto de 1989 de pancreatite. Luiz Gonzaga, vítima de uma pneumonia, se foi também no ano de 1989, no Recife, enquanto dormia.
Ainda no campo das artes, outro gênio que também nos deixou nesse fatídico ano foi o pintor espanhol Salvador Dali, que Morreu no dia 23 de janeiro de 1989, aos 84 anos de idade.
É nesse ano também que o Brasil realiza a sua primeira eleição direta para presidente, desde a vitória de Jânio Quadros em 1960. Na época o pleito teve a disputa de 22 candidatos, indo a segundo turno Lula e Collor. Durante essa disputa, um pool de emissoras (Rede Bandeirantes, Rede Globo, Rede Manchete e SBT) realizou dois debates entre os candidatos. No Jornal Nacional do dia seguinte, um desses debates (o segundo) foi editado de uma forma em que o candidato Collor parecia ter se saído melhor do que Lula. A coisa foi tão escandalosa que o então chefe de jornalismo da Rede Globo, Armando Nogueira, o qual não estava sabendo da trama, foi até a casa do dono da TV, Roberto Marinho, para pedir demissão na mesma noite. Muitos atribuem a vitória de Collor na eleição devido a esse fato específico.
Já no contexto mundial, em 1989 um anônimo entrou para a história, ao demonstrar para o mundo que ainda é possível encontrar heróis. Armado apenas de seu próprio corpo, ele tentou deter a fileira de tanques que avançava rumo à Praça da Paz Celestial, em Pequim, onde centenas de estudantes pediam liberdades democráticas. Duzentos manifestantes foram massacrados pelo Exército. Mas sua luta não foi em vão: ao se dar conta de que o país virara uma panela de pressão pronta a explodir, o regime destampou algumas válvulas.
O certo é que quase vinte anos depois, a China é a economia mais pujante do planeta, mas ainda sustenta a ditadura do partido único. Por aqui, aquele líder operário barbudo, escrachado pela Globo e pela elite burguesa naquele 1989, veio a ser o presidente do Brasil, e melhor do que isso, se destaca como um dos maiores líderes mundiais da atualidade e pode deixar o governo como um dos, se não o melhor presidente da história desse país. Como as coisas mudam em vinte anos. Aquele Brasil que ainda carregava as cicatrizes de duas décadas de ditadura e que constituía a célula de uma provável democracia, lá pelos idos de 1989, agora posa de grande potência. Empresta dinheiro ao FMI, e além de não dever ninguém, ainda tem uma grana danada de reserva e, detalhe, depois de enfrentar uma das maiores crises econômicas da história. De quebra, temos bilhoes de barris de petróleo a explorar no Pré-Sal e vamos sediar uma olimpíada e uma copa do mundo. Utopia? Não. Realidade. E apesar dos muitos problemas que ainda precisamos resolver, já não somos mais o velho país do futuro. Para nós o futuro já chegou. Em vinte anos muita coisa mudou. Salve 2009!
Mas voltemos ao Brasil. Por aqui a música nacional, que começou a traçar novos caminhos no fim dos anos de 1970 e início dos de 1980, perde dois dos mais originais cantores populares da época: Raul Seixas e Luiz Gonzaga. Esses dois ícones da MPB eram considerados, nada mais, nada menos, o pai do rock nacional e o Rei do Baião, respectivamente. Raul morreu dia 21 de agosto de 1989 de pancreatite. Luiz Gonzaga, vítima de uma pneumonia, se foi também no ano de 1989, no Recife, enquanto dormia.
Ainda no campo das artes, outro gênio que também nos deixou nesse fatídico ano foi o pintor espanhol Salvador Dali, que Morreu no dia 23 de janeiro de 1989, aos 84 anos de idade.
É nesse ano também que o Brasil realiza a sua primeira eleição direta para presidente, desde a vitória de Jânio Quadros em 1960. Na época o pleito teve a disputa de 22 candidatos, indo a segundo turno Lula e Collor. Durante essa disputa, um pool de emissoras (Rede Bandeirantes, Rede Globo, Rede Manchete e SBT) realizou dois debates entre os candidatos. No Jornal Nacional do dia seguinte, um desses debates (o segundo) foi editado de uma forma em que o candidato Collor parecia ter se saído melhor do que Lula. A coisa foi tão escandalosa que o então chefe de jornalismo da Rede Globo, Armando Nogueira, o qual não estava sabendo da trama, foi até a casa do dono da TV, Roberto Marinho, para pedir demissão na mesma noite. Muitos atribuem a vitória de Collor na eleição devido a esse fato específico.
Já no contexto mundial, em 1989 um anônimo entrou para a história, ao demonstrar para o mundo que ainda é possível encontrar heróis. Armado apenas de seu próprio corpo, ele tentou deter a fileira de tanques que avançava rumo à Praça da Paz Celestial, em Pequim, onde centenas de estudantes pediam liberdades democráticas. Duzentos manifestantes foram massacrados pelo Exército. Mas sua luta não foi em vão: ao se dar conta de que o país virara uma panela de pressão pronta a explodir, o regime destampou algumas válvulas.
O certo é que quase vinte anos depois, a China é a economia mais pujante do planeta, mas ainda sustenta a ditadura do partido único. Por aqui, aquele líder operário barbudo, escrachado pela Globo e pela elite burguesa naquele 1989, veio a ser o presidente do Brasil, e melhor do que isso, se destaca como um dos maiores líderes mundiais da atualidade e pode deixar o governo como um dos, se não o melhor presidente da história desse país. Como as coisas mudam em vinte anos. Aquele Brasil que ainda carregava as cicatrizes de duas décadas de ditadura e que constituía a célula de uma provável democracia, lá pelos idos de 1989, agora posa de grande potência. Empresta dinheiro ao FMI, e além de não dever ninguém, ainda tem uma grana danada de reserva e, detalhe, depois de enfrentar uma das maiores crises econômicas da história. De quebra, temos bilhoes de barris de petróleo a explorar no Pré-Sal e vamos sediar uma olimpíada e uma copa do mundo. Utopia? Não. Realidade. E apesar dos muitos problemas que ainda precisamos resolver, já não somos mais o velho país do futuro. Para nós o futuro já chegou. Em vinte anos muita coisa mudou. Salve 2009!
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Homenagem a Bax
Em homenagem ao grande pintor Petrônio Bax, que faleceu na manhã dessa quinta-feira, no seu sítio em Nova Lima-MG, publico novamente a crônica que fiz sobre o pintor.
Obrigado, sua arte tornou a vida mais bela e com um pouco mais de esperança.
Obrigado, sua arte tornou a vida mais bela e com um pouco mais de esperança.
O Espelho de Bax
Recentemente tive o prazer de fazer uma visita ao grande pintor mineiro Petrônio Bax, que inclusive residiu durante certo tempo em Cláudio. Aos 81 anos, Bax encerra uma vivacidade e uma sabedoria que fascinam e que dá vontade de ficar o dia inteiro ali em seu ateliê ouvindo as suas reflexões sobre a vida, a natureza e os homens. A sua fala mansa e o seu jeito simples escondem um ser extraordinário, que busca na espiritualidade e na natureza a inspiração com que cria as mais belas obras de arte. Boa parte do seu trabalho hoje está espalhada pelo mundo.
“Veni, Creator Spiritus”, traduzindo do latim: “Vem Espírito Criador”. Esta frase está escrita no alto de um tripé construído pelo próprio artista para pintar seus quadros. Ela mostra a religiosidade do pintor, que por sua vez é expressa em seus quadros onde as imagens de santos se misturam à peixinhos e outros habitantes do mar. Para ele, o peixe é o símbolo de Cristo.
Discípulo direto do mestre Guignard, Bax é considerado um dos maiores artistas da atualidade. Ganhou prêmios nacionais e internacionais e já expôs seus quadros em várias partes do mundo. Mas nada disso fez alterar a sua personalidade, possui uma humildade indelével. Se perguntá-lo onde foi que nasceu, ele responde sem pestanejar: “No Japão”. Trata-se, portanto, do Japão Grande de Oliveira, hoje, Carmópolis de Minas.
Quando fui visitá-lo estava em companhia de um amigo carmopolitano com o qual disputei a verdadeira raiz do artista, já que, quando Bax nasceu, Carmópolis pertencia a Oliveira, logo, Petrônio Bax é oliveirense. Meu amigo não gostou da minha tese e reivindicou a seu favor. Mas nenhum de nós talvez tivesse razão ao afirmar que Bax é oliveirense ou carmopolitano. Artistas não têm pátria, são cosmopolitas, patrimônios da humanidade.
No ano passado o Palácio das Artes montou uma grande exposição do pintor em comemoração aos seus 80 anos de vida. O evento recebeu mais de vinte mil visitantes durante o tempo em que esteve aberto. Tive o prazer de visitar a exposição e me senti lisonjeado ao descobrir que entre os quadros do artista, era exibido em uma pequena sala ao fundo um vídeo editado por mim no qual o próprio artista fala da sua vida e obra. Outro prazer eu tive também no ano passado quando vi uma crônica minha publicada no livro “O Canto do Cisne”, do escritor oliveirense Nelson Leite, que teve a capa ilustrada por Petrônio Bax.
Ao final da nossa visita, Bax me presenteou com cinco livros de sua autoria. Lendo as suas poesias, Bax me fez despertar para várias coisas, entre elas, sobre a importância do espelho, um tema favorito do autor em se tratando de poema. - “Por ser verdadeiro em seu reflexo, o espelho nem sempre é bem visto.” - O autor atentou para uma coisa importante: O espelho tem funções que vão além da mera reprodução semiótica do mundo material. Ele deve ser, primeiramente, um instrumento de reflexão do espírito. Um momento de encarar-se a si mesmo. De indagar-se.
Em seu livro Bax levanta a seguinte questão: “No espelho há monólogo ou diálogo?”. Creio que no espelho há monólogo quando ele não consegue revelar o verdadeiro eu ao eu refletido. Mas se o tal do eu de cá descobre que o eu refletido não é o verdadeiro eu que se reflete, aí o diálogo é possível. A obra de Bax é um espelho que reflete o mundo de uma maneira pitoresca, sublime e única.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Novo colaborador do blog
A partir de hoje, esse blog passa a publicar, além dos artigos desse que vos escreve, também as Reflexões de Fidel. O comandante cubano, desde que deixou o governo de Cuba, passou a escrever para jornais, revistas e sites do mundo inteiro. Como ele próprio disse, sua revolução ocorrerá agora no campo das idéias. Assim, portanto, esse blog passa a colaborar com essa revolução.
Luciano Soares
Luciano Soares
Reflexões de Fidel
Uma história de ficção científica
• COMO lamento criticar Obama, sabendo que, nesse país, houve possivelmente outros presidentes piores que ele. Compreendo que, nos Estados Unidos, esse cargo é hoje uma grande dor de cabeça. Tal vez nada explique melhor que o informado ontem pelo jornal Granma de que 237 membros do Congresso dos Estados Unidos, quer dizer, 44% deles, são milionários. Não significa que cada um deles tenha a obrigação de ser reacionário incorrigível, mas é muito difícil que pense como qualquer dos muitos milhões de norte-americanos que carecem de assistência médica, que não têm emprego ou têm que lutar duramente pela vida.
Obama, evidentemente, não é um mendigo, tem milhões de dólares. Como profissional foi destacado; o seu domínio da língua, sua eloquência e sua inteligência são incontestáveis. Apesar de ser afro-americano, foi eleito presidente pela primeira vez na história de seu país numa sociedade racista, que sofre uma profunda crise econômica internacional, cuja responsabilidade recai sobre si mesma.
Não se trata de ser ou não antiamericano, como o sistema e os seus grandes meios de comunicação pretendem qualificar os seus adversários.
O povo norte-americano não é responsável, mas vítima de um sistema insustentável e o que é pior: incompatível com a vida da humanidade.
O Obama inteligente e rebelde, que sofreu humilhação e racismo durante a infância e a juventude, percebe-o, mas o Obama educado e engajado no sistema e nos métodos que o levaram à presidência dos Estados Unidos não pode resistir à tentação de pressionar, de ameaçar e, inclusive, de enganar os outros.
É obsessivo no trabalho; tal vez nenhum outro presidente dos Estados Unidos seja capaz de se engajar num programa tão intenso como o que se propõe executar nos oito dias próximos.
De acordo com o programa, fará um amplo percurso pelo Alasca, onde falará com as tropas ali estacionadas; pelo Japão, pela Singapura, pela República Popular da China e pela Coreia do Sul; participará da reunião do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) e da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean); terá encontros com o primeiro-ministro do Japão e com Sua Majestade Imperial Akihito, na Terra do Sol Nascente; com os primeiros-ministros da Singapura e da Coreia do Sul; com o presidente da Indonésia, Susilo Bambang; da Rússia, Dmitri Medvedev; e com o presidente da República Popular da China, Hu Jintao; proferirá discursos e participará de entrevistas coletivas; levará sua pasta nuclear, que esperamos que não precise usá-la no seu acelerado percurso.
O seu assessor de Segurança informa que discutirá com o presidente da Rússia a reivindicação do Tratado START-1, que expira em 5 de dezembro de 2009. Sem dúvida, serão acertadas algumas reduções do enorme arsenal nuclear, sem transcendência para a economia e a paz mundial.
De que assunto pensa nosso ilustre amigo tratar nesta intensa viagem? A Casa Branca o anuncia solenemente: a mudança climática, a recuperação econômica, o desarmamento nuclear, a guerra do Afeganistão, os riscos de guerra no Irã e na República Democrática Popular da Coreia. Há material para escrever um livro de ficção.
Mas, como pretende Obama resolver os problemas climáticos se a posição de sua representação nas reuniões preparatórias da Cúpula de Copenhague sobre as emissões de gases de efeito estufa foi a pior de todos os países industrializados e ricos, tanto em Bangcoc como em Barcelona, porque os Estados Unidos não assinaram o Protocolo de Kyoto, nem a oligarquia desse país está disposta verdadeiramente a cooperar.
Como vai contribuir para a solução dos sérios problemas econômicos que afetam grande parte da humanidade se a dívida total dos Estados Unidos — que inclui a do Governo Federal, dos governos estatais e locais, das empresas e das famílias — era, no final de 2008, de US$57 trilhões, que equivaliam a mais de 400% do seu PIB, e se o déficit orçamentário desse país aumentou quase 13% do seu PIB no ano fiscal 2009, dado que, sem dúvida, Obama não ignora.
O que vai oferecer a Hu Jintao, se sua política é francamente protecionista para prejudicar as exportações chinesas, se exige do governo chinês, custe o que custar, a revalorização do iuan, fato que afetaria as crescentes importações do Terceiro Mundo procedentes da China?
O teólogo brasileiro Leonardo Boff — que não é discípulo de Marx, mas católico honesto, desses que não estão dispostos a cooperarem com o imperialismo na América Latina — disse recentemente: "...arriscamos nossa destruição e a devastação da diversidade da vida."
"... quase metade da humanidade hoje vive abaixo do nível de pobreza. Os 20% mais ricos consomem 82,49% de toda a riqueza da terra e os 20% mais pobres têm que se sustentar com um ínfimo 1,6%." Cita a FAO e adverte: "...nos anos próximos, haverá entre 150 e 200 milhões de refugiados climáticos." E acrescenta por sua conta: "Hoje, a humanidade está consumindo 30% a mais da capacidade de restituição... A Terra está dando sinais inequívocos de que já não aguenta mais."
O que afirma é certo, mas Obama e o Congresso dos Estados Unidos ainda o ignoram.
O que nos está deixando no hemisfério? O problema vergonhoso de Honduras e a anexação da Colômbia, onde os Estados Unidos instalarão sete bases militares. Em Cuba estabeleceram também uma base militar há mais de 100 anos e ainda a ocupam pela força. Nela instalaram o horrível centro de tortura, mundialmente conhecido, que Obama até hoje não pôde fechar.
Eu considero que, antes que Obama termine o seu mandato, haverá de seis a oito governos de direita na América Latina que serão aliados do império. Em breve, o setor mais de direita dos Estados Unidos tentará também limitar seu mandato a um período de quatro anos de governo. Um Nixon, um Bush ou alguém parecido com Cheney serão novamente presidentes. Então, vão se ver às claras o que significam essas bases militares absolutamente injustificáveis que hoje ameaçam todos os povos da América do Sul, sob pretexto do combate ao narcotráfico, um problema criado pelas dezenas de bilhões de dólares que nos Estados Unidos são injetados no crime organizado e na produção de drogas na América Latina.
Cuba tem demonstrado que para combater as drogas o que faz falta é justiça e desenvolvimento social. No nosso país, o índice de crimes em cada cem mil habitantes é um dos mais baixos do mundo. Nenhum outro do hemisfério pode mostrar índices tão baixos de violência. É conhecido que, apesar do bloqueio, nenhum outro tem tão elevados níveis de educação.
Os povos da América Latina saberão resistir às agressões do império!
A viagem de Obama parece história de ficção científica.
Fidel Castro Ruz
11 de novembro de 2009
19h16 •
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Que seja feita a vontade do povo
Sinceramente, não sabia que meu último artigo, publicado há quinze dias nesse mesmo espaço, poderia causar tanta repercussão. Na verdade, a intenção era essa mesmo, ou seja, provocar a sociedade para ela se envolvesse e se posicionasse numa questão que lhe interessa diretamente. Mas às vezes o meu pessimismo me faz desacreditar na capacidade de mobilização das massas dentro da atual conjuntura social, e isso me preocupa às vezes. Escrevi mais com a intenção de me desabafar sobre o caso, ou mesmo de procurar fazer a minha parte como cidadão oliveirense. Em momento algum imaginei que um simples artigo pudesse desencadear qualquer tipo de movimento, mesmo conhecendo o efeito marxista que certo Manifesto pôde causar a várias gerações.
Enganei-me totalmente sobre uma possível inércia da população acerca do caso da Praça da Rodoviária. O povo respondeu ao meu chamamento. Uma série de telefonemas e e-mails, de início, me mostrou isso. Uma dessas ligações dizia respeito a um pedido de autorização para usar o citado artigo num material gráfico que seria usado em um movimento popular em favor da revitalização da Praça. Claro que autorizei. Afinal de contas, já não estava sozinho nessa luta.
Mas embora eu continue a defender a minha opinião sobre o caso, e tenha conseguido fomentar toda essa mobilização em favor de uma causa que eu considero justa, o resultado final, para mim, já não é de todo importante, porque já consegui uma vitória antecipada. Levar a discussão para o meio da sociedade foi um objetivo que consegui alcançar. A população, que até então estava calada e omissa, resolveu mobilizar-se, dar a sua opinião, mesmo que fosse contra a praça. A diferença é que, agora, a opinião é do povo, não apenas de um articulista ou de um empresário. Isso é democracia. A divergência de idéias, o debate aberto e limpo, a participação pública. E é isso que deve permanecer sempre, e é por ela que vou lutar incansavelmente seja contra quem for.
Abordaram-me na rua sugerindo-me idéias do que poderia ser feito no sentido de que a praça fosse salva. A essas pessoas fiz questão dizer: O que me sugerem, façam vocês mesmos. Vocês são o povo, e por vivermos num regime democrático o poder está na mão de cada um de nós. Essa luta que iniciei já não me pertence mais. Ela é do meu povo agora, da minha gente. Sou um mero soldado, não estou no comando. Estive inicialmente no front de batalha, mas agora passei para a retaguarda. Quero participar, mas ao mesmo tempo, faço questão de ver os que me assemelham na causa e na vontade, lutarem também.
Na verdade, acho que já vencemos as primeiras batalhas, ou seja, interrompemos um processo de demolição que já estava em curso, apresentamos um abaixo assinado que se contrapôs ao primeiro, e conseguimos fazer com que um anteprojeto que pedia a desafetação da praça para a sua demolição e venda fosse retido na Câmara. E quando eu digo “nós”, falo daqueles que querem proteger a praça. É claro que há a opinião daqueles que são contra, e que precisa ser respeitada. E é no contraponto que nasce a democracia. E será por meio do processo democrático que chegaremos à decisão final. E independente do resultado, uma vez respeitada a vontade do povo, a democracia prevalecerá, e aí será uma vitória de todos.
Para terminar, gostaria de deixar claro que não tenho pretensões políticas, não tenho ligação com grupos ou agentes políticos, e não há aqui nenhuma opinião influenciada por qualquer outro tipo de força, a não ser aquela que brota da minha consciência e palpita no meu coração. Do ponto de vista ideológico, sou socialista convicto, no entanto, não consigo aplicar politicamente esta condição à Oliveira. Tenho admiradores e críticos, e respeito a opinião de ambos. Mas não vou usar esse valioso espaço para fazer média com ninguém. E sobre as opiniões compradas, ou permutadas, em favor de fulano ou de cicrano, procuro nem desconsiderar. E que seja feita a vontade do povo.
Enganei-me totalmente sobre uma possível inércia da população acerca do caso da Praça da Rodoviária. O povo respondeu ao meu chamamento. Uma série de telefonemas e e-mails, de início, me mostrou isso. Uma dessas ligações dizia respeito a um pedido de autorização para usar o citado artigo num material gráfico que seria usado em um movimento popular em favor da revitalização da Praça. Claro que autorizei. Afinal de contas, já não estava sozinho nessa luta.
Mas embora eu continue a defender a minha opinião sobre o caso, e tenha conseguido fomentar toda essa mobilização em favor de uma causa que eu considero justa, o resultado final, para mim, já não é de todo importante, porque já consegui uma vitória antecipada. Levar a discussão para o meio da sociedade foi um objetivo que consegui alcançar. A população, que até então estava calada e omissa, resolveu mobilizar-se, dar a sua opinião, mesmo que fosse contra a praça. A diferença é que, agora, a opinião é do povo, não apenas de um articulista ou de um empresário. Isso é democracia. A divergência de idéias, o debate aberto e limpo, a participação pública. E é isso que deve permanecer sempre, e é por ela que vou lutar incansavelmente seja contra quem for.
Abordaram-me na rua sugerindo-me idéias do que poderia ser feito no sentido de que a praça fosse salva. A essas pessoas fiz questão dizer: O que me sugerem, façam vocês mesmos. Vocês são o povo, e por vivermos num regime democrático o poder está na mão de cada um de nós. Essa luta que iniciei já não me pertence mais. Ela é do meu povo agora, da minha gente. Sou um mero soldado, não estou no comando. Estive inicialmente no front de batalha, mas agora passei para a retaguarda. Quero participar, mas ao mesmo tempo, faço questão de ver os que me assemelham na causa e na vontade, lutarem também.
Na verdade, acho que já vencemos as primeiras batalhas, ou seja, interrompemos um processo de demolição que já estava em curso, apresentamos um abaixo assinado que se contrapôs ao primeiro, e conseguimos fazer com que um anteprojeto que pedia a desafetação da praça para a sua demolição e venda fosse retido na Câmara. E quando eu digo “nós”, falo daqueles que querem proteger a praça. É claro que há a opinião daqueles que são contra, e que precisa ser respeitada. E é no contraponto que nasce a democracia. E será por meio do processo democrático que chegaremos à decisão final. E independente do resultado, uma vez respeitada a vontade do povo, a democracia prevalecerá, e aí será uma vitória de todos.
Para terminar, gostaria de deixar claro que não tenho pretensões políticas, não tenho ligação com grupos ou agentes políticos, e não há aqui nenhuma opinião influenciada por qualquer outro tipo de força, a não ser aquela que brota da minha consciência e palpita no meu coração. Do ponto de vista ideológico, sou socialista convicto, no entanto, não consigo aplicar politicamente esta condição à Oliveira. Tenho admiradores e críticos, e respeito a opinião de ambos. Mas não vou usar esse valioso espaço para fazer média com ninguém. E sobre as opiniões compradas, ou permutadas, em favor de fulano ou de cicrano, procuro nem desconsiderar. E que seja feita a vontade do povo.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Nasce movimento contra extinção de praça
Teve início essa semana, em Oliveira, um movimento popular contra a demolição e venda da Praça Newton Ferreira Leite - Pracinha da Rodoviária, e pela sua revitalização e preservação, enquanto bem público. O movimento, segundo seus líderes, foi motivado pelo artigo intitulado “Leilão de Jardim”, escrito pelo jornalista Luciano Soares e publicado nos jornais DiaNews e Gazeta de Minas, onde o autor levanta questões pertinentes ao fato.
O objetivo é levar o assunto ao debate público de forma que essa intervenção não seja feita à revelia da vontade do povo. O apelo será feito também diretamente às autoridades, principalmente ao prefeito e vereadores.
Segundo os integrantes do movimento, a atual administração fez um excelente serviço de revitalização das praças XV de Novembro, Manoelita Chagas e Mãe dos Homens, além do Parque do Capão. Essas áreas foram preservadas e melhoradas, e os imóveis dessas regiões valorizados. “O mesmo merecem os moradores da região da Praça da Rodoviária, e não a venda desse espaço público”, defendem.
O problema teve início quando o empresário Lucimar dos Santos fez um apelo, na Câmara Municipal de Oliveira, para que a praça fosse desativada e que o espaço fosse disponibilizado ao comércio. O empresário do ramo de confecções apresentou inclusive um abaixo-assinado aos vereadores a favor da intervenção. Por outro lado, o morador Antônio Umberto Ciatti, cuja residência é bem próxima à praça, também foi à Câmara, mas se opondo à idéia da demolição. Segundo ele, a maioria das pessoas que reside ou trabalha naquela região é contra a demolição e venda da praça. Ciatti disse ainda que as assinaturas apresentadas por Lucimar foram colhidas, em grande parte, dos clientes que frequentam a loja do empresário.
Após a visita de Lucimar dos Santos à Câmara, o vereador Leonardo Ananias Leão entrou com um Anteprojeto de Lei que autoriza o Poder Executivo a desafetar a praça Newton Ferreira Leite de sua destinação original e vendê-la por meio de licitação. O projeto tramita na casa legislativa e já tem a oposição do vereador Walquir Avelar, que pediu que a questão seja levada ao crivo popular. Outra questão polêmica é o fato de a praça já estar sendo demolida antes mesmo do projeto ter sido apresentado na Câmara.
Em material gráfico confeccionado com o intuito de levar a idéia do Movimento ao público, a liderança argumenta que por mais nobre que seja a destinação dos recursos arrecadados com a possível venda do espaço, o atual prefeito tem excelente trâmite com o presidente Lula, com o governador Aécio Neves e com diversos deputados, e não necessita da venda dessa praça para fazer novas obras, conseguindo recursos com o governo federal e estadual. Para eles, com a reforma da Praça da Rodoviária, ganham todos os moradores por desfrutar de um espaço para lazer; os comerciantes, por valorizar a região; e toda a população, por preservar o meio ambiente. Vendendo, o privilegiado será apenas do comprador.
Este panfleto, que conterá também o artigo “Leilão de Jardim”, de Luciano Soares, será distribuído em frente à Praça Newton Ferreira Leite, próximo à Rodoviária, onde os precursores do movimento estarão colhendo assinaturas para um abaixo-assinado em favor da preservação do bem. No mesmo espaço, o movimento pretende receber o apoio e adesão de mais pessoas pela defesa da praça.
domingo, 25 de outubro de 2009
NAQUELE 26 DE OUTUBRO DE 1959
Visto que querem nos derrotar por meio do terror e da fome, apenas temos uma alternativa: defendermos a Pátria
• EM frente do Palácio Presidencial, mais de um milhão de cubanos se tinha reunido naquele 26 de outubro de 1959.
Fidel chegou às 16h18, num helicóptero que sobrevoou essa área da cidade e aterrissou finalmente em frente da Iglesias del Ángel, a um lado do Palácio Presidencial. Sua chegada provocou o frenesi popular. Logo depois, saiu ao terraço norte para presidir o ato, que durou algumas horas, enquanto o clamor popular exigiu constante e veementemente: Paredão!, em clara alusão à necessidade de acirrar o enfrentamento à contrarrevolução.
A indignação pelo covarde ataque aéreo de Díaz Lanz, pelas ações terroristas em execução e pela traição de Hubert Matos despertaram o fervor revolucionário. Os operários proclamaram sua determinação de doar um dia de salário para financiar a compra de armas para defender a Revolução.
Nessa noite, a voz de Camilo e seu discurso aceso, virtualmente seu testamento revolucionário, foi uma denúncia contundente à traição.
A contrarrevolução e o próprio Hubert Matos recorreram às insinuações ou mentiras mais inescrupulosas para criar dificuldades à Revolução, acusando-a de assassina. O fato verdadeiramente insólito era que elaborassem o dossiê da criminalidade dos revolucionários cubanos, quando todos eles, particularmente, Hubert Matos, sabiam com a escrupulosidade que sempre se agiu no tratamento aos prisioneiros e no respeito físico ao inimigo derrotado. Isto explica por que o Che denunciou perante o povo que, ao amparo da liberdade de imprensa e de expressão, a esposa de Hubert Matos tinha publicado uma carta onde insinuava que este seria assassinado numa cela:
(...) Nunca matamos um só prisioneiro de guerra nos momentos mais difíceis. Agora somos acusados de tentativa de assassinato numa cela, de tentativa de assassinato a quem poderíamos levar ao paredão por traidor à Revolução.
Para Raúl, apenas findava um capítulo do filme Três Mosqueteiros: Díaz Lanz, Urrutia e Hubert Matos. Denunciou que, enquanto a contrarrevolução se tornava mais agressiva e perigosa, a punição judicial dos convictos de terrorismo e subversão era lento demais. Em suas palavras finais pediu a Fidel que lembrasse a reinvindicação popular de "sacodir a árvore", referindo-se à necessidade de depurar as estruturas do governo de contra-revolucionários e timoratos.
Fidel anunciou a criação das Milícias Nacionais Revolucionárias (MNRs). Pouco depois da vitória da Revolução externou a determinação de treinar militarmente o povo, se necessário, para defender a Revolução. Em março de 1959, a partir de uma iniciativa do Círculo dos Trabalhadores de San Antonio de los Baños de reunir, em pelotões de milícias, operários, camponeses, estudantes, profissionais e donas-de-casa para protegerem locais de trabalho e centros educacionais da incipiente atividade contra-revolucionária, a formação de embriões das que chegariam a ser as MNRs se espalhou por todo o território nacional. No final de agosto, na gruta de Santo Tomás, surgiu o primeiro e emblemático pelotão de milícias camponesas: Los Malagones. Na verdade, eram 12 camponeseses da província de Pinar del Río, os quais tinham a missão de desmantelar, após um rápido treinamento militar, o bando do ex-cabo Luis Lara Crespo, criminoso da tirania de Fulgencio Batista, condenado à morte e foragido da justiça revolucionária. Fidel lhes tinha dito que se triunfavam, então haveria milícias em Cuba. Numa vintena de dias, o bando de Lara era história.
A Revolução recorreu nessa noite à democracia direta e o povo aprovou o endurecimento d a legalidade para se defender diante da barbárie contrarrevolucionária e da traição.
"Visto que temos que defender a Pátria da agressão — disse Fidel em seu discurso —, visto que estão nos bombardeando, visto que querem nos derrotar por meio do terror e da fome, apenas temos uma alternativa: defendermos a Pátria, e nós somos homens que cumprimos o nosso dever." (Extraído do livro "Gobierno Revolucionario Cubano, primeros pasos", de Luis M. Burch e Reinaldo Suárez).
Fonte: www.Granma.cu
• EM frente do Palácio Presidencial, mais de um milhão de cubanos se tinha reunido naquele 26 de outubro de 1959.
Fidel chegou às 16h18, num helicóptero que sobrevoou essa área da cidade e aterrissou finalmente em frente da Iglesias del Ángel, a um lado do Palácio Presidencial. Sua chegada provocou o frenesi popular. Logo depois, saiu ao terraço norte para presidir o ato, que durou algumas horas, enquanto o clamor popular exigiu constante e veementemente: Paredão!, em clara alusão à necessidade de acirrar o enfrentamento à contrarrevolução.
A indignação pelo covarde ataque aéreo de Díaz Lanz, pelas ações terroristas em execução e pela traição de Hubert Matos despertaram o fervor revolucionário. Os operários proclamaram sua determinação de doar um dia de salário para financiar a compra de armas para defender a Revolução.
Nessa noite, a voz de Camilo e seu discurso aceso, virtualmente seu testamento revolucionário, foi uma denúncia contundente à traição.
A contrarrevolução e o próprio Hubert Matos recorreram às insinuações ou mentiras mais inescrupulosas para criar dificuldades à Revolução, acusando-a de assassina. O fato verdadeiramente insólito era que elaborassem o dossiê da criminalidade dos revolucionários cubanos, quando todos eles, particularmente, Hubert Matos, sabiam com a escrupulosidade que sempre se agiu no tratamento aos prisioneiros e no respeito físico ao inimigo derrotado. Isto explica por que o Che denunciou perante o povo que, ao amparo da liberdade de imprensa e de expressão, a esposa de Hubert Matos tinha publicado uma carta onde insinuava que este seria assassinado numa cela:
(...) Nunca matamos um só prisioneiro de guerra nos momentos mais difíceis. Agora somos acusados de tentativa de assassinato numa cela, de tentativa de assassinato a quem poderíamos levar ao paredão por traidor à Revolução.
Para Raúl, apenas findava um capítulo do filme Três Mosqueteiros: Díaz Lanz, Urrutia e Hubert Matos. Denunciou que, enquanto a contrarrevolução se tornava mais agressiva e perigosa, a punição judicial dos convictos de terrorismo e subversão era lento demais. Em suas palavras finais pediu a Fidel que lembrasse a reinvindicação popular de "sacodir a árvore", referindo-se à necessidade de depurar as estruturas do governo de contra-revolucionários e timoratos.
Fidel anunciou a criação das Milícias Nacionais Revolucionárias (MNRs). Pouco depois da vitória da Revolução externou a determinação de treinar militarmente o povo, se necessário, para defender a Revolução. Em março de 1959, a partir de uma iniciativa do Círculo dos Trabalhadores de San Antonio de los Baños de reunir, em pelotões de milícias, operários, camponeses, estudantes, profissionais e donas-de-casa para protegerem locais de trabalho e centros educacionais da incipiente atividade contra-revolucionária, a formação de embriões das que chegariam a ser as MNRs se espalhou por todo o território nacional. No final de agosto, na gruta de Santo Tomás, surgiu o primeiro e emblemático pelotão de milícias camponesas: Los Malagones. Na verdade, eram 12 camponeseses da província de Pinar del Río, os quais tinham a missão de desmantelar, após um rápido treinamento militar, o bando do ex-cabo Luis Lara Crespo, criminoso da tirania de Fulgencio Batista, condenado à morte e foragido da justiça revolucionária. Fidel lhes tinha dito que se triunfavam, então haveria milícias em Cuba. Numa vintena de dias, o bando de Lara era história.
A Revolução recorreu nessa noite à democracia direta e o povo aprovou o endurecimento d a legalidade para se defender diante da barbárie contrarrevolucionária e da traição.
"Visto que temos que defender a Pátria da agressão — disse Fidel em seu discurso —, visto que estão nos bombardeando, visto que querem nos derrotar por meio do terror e da fome, apenas temos uma alternativa: defendermos a Pátria, e nós somos homens que cumprimos o nosso dever." (Extraído do livro "Gobierno Revolucionario Cubano, primeros pasos", de Luis M. Burch e Reinaldo Suárez).
Fonte: www.Granma.cu
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Leilão de jardim
Leilão de jardim
Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é o meu leilão.)
Cecília Meireles
Escutei pela primeira vez, e aprendi esse poema no grupo escolar, quando tinha algo em torno de seis anos. Depois disso, ele sempre habitou o meu imaginário, mesmo já adulto. Lembrava-me apenas das quatro primeiras estrofes, mas elas foram suficientes para mantê-lo vivo na minha memória durante anos. Depois desse tempo não tive mais contato com essas palavras simples que se imortalizaram num cérebro ainda em formação.
Estranho como as coisas acontecem na vida da gente: conheci o Leilão de Jardim de Cecília Meireles ainda criança. Pode ser que ele tenha me marcado de alguma forma, mas não entendo porque ele nunca saiu da minha cabeça. Há poetas que defendem a tese de que poemas não servem para nada. Inclusive, meu amigo e colega de coluna, o poeta Márcio Almeida, costuma dizer que se poema servisse para alguma coisa estaria em gôndola de supermercado. Em parte concordo com ele, mas a sua serventia, creio eu, passa a ser involuntária, às vezes.
Por exemplo: Essa semana queria escrever sobre a Praça da Rodoviária, um jardim público que está sendo demolido para que o local seja leiloado. Antes de começar a escrever me veio o título desse texto: “Leilão de Jardim”. Por isso, me lembrei novamente do poema de Cecília Meireles, e só agora descobri porque ele esteve durante todos esses anos em algum lugar da minha memória. Por mais que o poema não tenha que cumprir esse papel, ele me foi extremamente útil na reflexão que faço a seguir:
A praça que pretendem leiloar é um bem público que vai ser vendido sem que a população sequer seja consultada. E pior: É um jardim com grandes arbustos, construído numa área estratégica da cidade, que poderá dar lugar a um caixote de concreto num futuro bem próximo.
Usou-se para isso a argumentação de que o lugar vem abrigando marginais, e servindo a práticas de sexo explícito e uso de drogas.
Bem, quanto ao sexo, que eles não deixem de fazê-lo, isso é saudável, faz bem para o corpo, para a cabeça, e cura até enxaqueca, aí é apenas uma questão de escolher um lugar mais adequado. Já em relação aos marginais, isso passa a ser um caso de polícia. Agora, se o lugar os está atraindo, algo ali precisa ser mudado, para que a praça não seja mais interessante à prática dos seus delitos. A pouca iluminação, quem sabe.
Não seria o caso de revitalizá-la? De torná-la mais aprazível para as pessoas de bem, e assim manter a qualidade de vida do lugar, a considerar que é por ali que costumam chegar aqueles que vêm conhecer a nossa cidade?
Querem vender um problema antes de tentar resolvê-lo. È como optar por dar um tiro de misericórdia num cãozinho que está acometido por alguns carrapatos.
Será que não há aí um interesse comercial muito forte por trás de tudo? Será que a especulação imobiliária não está querendo transformar o público em privado? Será que aquele grande arbusto terá que dar lugar a um quadrilátero de cimento para abrigar, provavelmente, uma loja de roupas? Isso, só o futuro dirá. Enquanto isso, meu povo assiste passivo ao que poderá ser mais uma triste releitura de Cecília Meireles: “Quem me compra esse jardim com flores?”.
Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é o meu leilão.)
Cecília Meireles
Escutei pela primeira vez, e aprendi esse poema no grupo escolar, quando tinha algo em torno de seis anos. Depois disso, ele sempre habitou o meu imaginário, mesmo já adulto. Lembrava-me apenas das quatro primeiras estrofes, mas elas foram suficientes para mantê-lo vivo na minha memória durante anos. Depois desse tempo não tive mais contato com essas palavras simples que se imortalizaram num cérebro ainda em formação.
Estranho como as coisas acontecem na vida da gente: conheci o Leilão de Jardim de Cecília Meireles ainda criança. Pode ser que ele tenha me marcado de alguma forma, mas não entendo porque ele nunca saiu da minha cabeça. Há poetas que defendem a tese de que poemas não servem para nada. Inclusive, meu amigo e colega de coluna, o poeta Márcio Almeida, costuma dizer que se poema servisse para alguma coisa estaria em gôndola de supermercado. Em parte concordo com ele, mas a sua serventia, creio eu, passa a ser involuntária, às vezes.
Por exemplo: Essa semana queria escrever sobre a Praça da Rodoviária, um jardim público que está sendo demolido para que o local seja leiloado. Antes de começar a escrever me veio o título desse texto: “Leilão de Jardim”. Por isso, me lembrei novamente do poema de Cecília Meireles, e só agora descobri porque ele esteve durante todos esses anos em algum lugar da minha memória. Por mais que o poema não tenha que cumprir esse papel, ele me foi extremamente útil na reflexão que faço a seguir:
A praça que pretendem leiloar é um bem público que vai ser vendido sem que a população sequer seja consultada. E pior: É um jardim com grandes arbustos, construído numa área estratégica da cidade, que poderá dar lugar a um caixote de concreto num futuro bem próximo.
Usou-se para isso a argumentação de que o lugar vem abrigando marginais, e servindo a práticas de sexo explícito e uso de drogas.
Bem, quanto ao sexo, que eles não deixem de fazê-lo, isso é saudável, faz bem para o corpo, para a cabeça, e cura até enxaqueca, aí é apenas uma questão de escolher um lugar mais adequado. Já em relação aos marginais, isso passa a ser um caso de polícia. Agora, se o lugar os está atraindo, algo ali precisa ser mudado, para que a praça não seja mais interessante à prática dos seus delitos. A pouca iluminação, quem sabe.
Não seria o caso de revitalizá-la? De torná-la mais aprazível para as pessoas de bem, e assim manter a qualidade de vida do lugar, a considerar que é por ali que costumam chegar aqueles que vêm conhecer a nossa cidade?
Querem vender um problema antes de tentar resolvê-lo. È como optar por dar um tiro de misericórdia num cãozinho que está acometido por alguns carrapatos.
Será que não há aí um interesse comercial muito forte por trás de tudo? Será que a especulação imobiliária não está querendo transformar o público em privado? Será que aquele grande arbusto terá que dar lugar a um quadrilátero de cimento para abrigar, provavelmente, uma loja de roupas? Isso, só o futuro dirá. Enquanto isso, meu povo assiste passivo ao que poderá ser mais uma triste releitura de Cecília Meireles: “Quem me compra esse jardim com flores?”.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
O conceito de cultura
O conceito de cultura pode ser explicado de várias maneiras. A cultura existe desde que o homem é homem, ou que o homem era macaco. Os hábitos adquiridos pelo ser humano, por instinto, necessidade de facilitar a vida ou por questão de sobrevivência, podem ser considerados hábitos culturais. Na medida em que o homem começa a se socializar e viver em grupos, esses hábitos passam a ser comuns entre os indivíduos e muitos deles viram regras.
A partir do momento em que os grupos sociais adquiriram o hábito de usar ferramentas, algumas delas feitas de ossos ou pedras, por conseqüência, a cultura passa a ser instrumentalizada, e a partir desses instrumentos buscou-se facilitar a vida das pessoas. E é à melhora da qualidade de vida dos grupos sociais que a cultura está atrelada há milênios. A partir do momento em que algum instrumento ou hábito, como a agricultura, são criados e imitados por outras pessoas ou outros grupos, cria-se uma cultura.
Cultura, portanto, não se trata apenas de atividades que tenham apelos necessariamente artísticos, folclóricos ou religiosos. Ela está diretamente ligada aos hábitos que passam a ser comuns a certo grupo de pessoas. Muitas vezes o ofício também pode ser considerado uma cultura, por exemplo, a arte de fazer algum tipo de alimento ou artesanato, comuns a certa região. Aí, é claro, isso tem que estar ligado a um conhecimento que é passado de geração a geração.
Cultura nada mais é que uma carga de conhecimentos transmitidos por meio da tradição oral ou por hábitos. Essa tradição, ou esses hábitos, passam a identificar uma cidade ou um lugar qualquer. Pode-se definir cultura por tudo aquilo que identifica um lugar ou um povo.
Quando há um desvirtuamento dessas tradições, ou seja, quando a cultura enraizada começa a receber elementos de outra cultura, que não diz respeito à tradição local, fatalmente essa cultura vai se enfraquecer. Contra isso foram criados mecanismos como, por exemplo, o tombamento, cujo intuito é proteger o patrimônio histórico. Mas é preciso saber que ele não se limita apenas aos bens imóveis, abrange também o chamado patrimônio imaterial, como por exemplo: o congado, a dança, as festas, a música e, principalmente, o conhecimento que é passado de geração para geração.
Muitas vezes, com o intuito de querer melhorar ou modernizar certa tradição, as pessoas acabam contribuindo para o seu fim, na medida em que se modifica velhos hábitos, que de tal importância, passam a ser referência cultural de um lugar. Incorporando novos elementos a certa tradição, algo que não fez parte da história ou da sua evolução natural de certa cultura, é atentar contra a própria qualidade de vida das pessoas. Essa reflexão parte do princípio de que os hábitos criados através do tempo pelos grupos sociais, como dito anteriormente, estão diretamente ligados à busca do homem por uma vida melhor. Não se dança, toca tambor ou se faz teatro, simplesmente, para aparecer ou porque é bonito. A cultura é uma necessidade expressa do homem.
A partir do momento em que os grupos sociais adquiriram o hábito de usar ferramentas, algumas delas feitas de ossos ou pedras, por conseqüência, a cultura passa a ser instrumentalizada, e a partir desses instrumentos buscou-se facilitar a vida das pessoas. E é à melhora da qualidade de vida dos grupos sociais que a cultura está atrelada há milênios. A partir do momento em que algum instrumento ou hábito, como a agricultura, são criados e imitados por outras pessoas ou outros grupos, cria-se uma cultura.
Cultura, portanto, não se trata apenas de atividades que tenham apelos necessariamente artísticos, folclóricos ou religiosos. Ela está diretamente ligada aos hábitos que passam a ser comuns a certo grupo de pessoas. Muitas vezes o ofício também pode ser considerado uma cultura, por exemplo, a arte de fazer algum tipo de alimento ou artesanato, comuns a certa região. Aí, é claro, isso tem que estar ligado a um conhecimento que é passado de geração a geração.
Cultura nada mais é que uma carga de conhecimentos transmitidos por meio da tradição oral ou por hábitos. Essa tradição, ou esses hábitos, passam a identificar uma cidade ou um lugar qualquer. Pode-se definir cultura por tudo aquilo que identifica um lugar ou um povo.
Quando há um desvirtuamento dessas tradições, ou seja, quando a cultura enraizada começa a receber elementos de outra cultura, que não diz respeito à tradição local, fatalmente essa cultura vai se enfraquecer. Contra isso foram criados mecanismos como, por exemplo, o tombamento, cujo intuito é proteger o patrimônio histórico. Mas é preciso saber que ele não se limita apenas aos bens imóveis, abrange também o chamado patrimônio imaterial, como por exemplo: o congado, a dança, as festas, a música e, principalmente, o conhecimento que é passado de geração para geração.
Muitas vezes, com o intuito de querer melhorar ou modernizar certa tradição, as pessoas acabam contribuindo para o seu fim, na medida em que se modifica velhos hábitos, que de tal importância, passam a ser referência cultural de um lugar. Incorporando novos elementos a certa tradição, algo que não fez parte da história ou da sua evolução natural de certa cultura, é atentar contra a própria qualidade de vida das pessoas. Essa reflexão parte do princípio de que os hábitos criados através do tempo pelos grupos sociais, como dito anteriormente, estão diretamente ligados à busca do homem por uma vida melhor. Não se dança, toca tambor ou se faz teatro, simplesmente, para aparecer ou porque é bonito. A cultura é uma necessidade expressa do homem.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Os omissos se escondem por detrás da própria ignorância
O pior não é o cego que não quer enxergar, mas a pessoa que vê e finge que não é com ela. A omissão é, ao lado da traição, um dos maiores defeitos do homem. A sociedade condena abertamente os que traem, independentemente do tipo de traição, mas se omite o tempo inteiro frente às próprias mazelas. A omissão é uma traição velada. É furtar-se das responsabilidades de cidadão, de ser humano. É o individualista que se nega a acreditar que o seu egoísmo pode voltar-se contra ele próprio um dia.
A maioria das pessoas só milita em causa própria. O engajamento em ações que objetivam resultados positivos para a coletividade, ou para um grupo menos favorecido, é coisa rara hoje em dia. O capitalismo ensinou as pessoas a olharem para dois lugares apenas: Para a mídia, onde estão seus produtos, e para seu próprio umbigo.
A alienação a que as pessoas estão se submetendo é deprimente. A televisão passou a tomar o precioso tempo de quem poderia estar fazendo uma boa leitura. Ao invés disso, recebem sobre suas vulneráveis cabeças, o descarrego de um lixo midiático que eles insistem em chamar de arte. Ninguém mais tem opinião formada, a não ser pelo que lhe é dito na mídia. Um dia desses alguém chegou perto de mim e disse: “Você viu o Arnaldo Jabor falar no Jornal da Globo ontem? Como ele fala bem!” – Não. Respondi. – Ele falou sobre o quê? – “Não me lembro agora, mas foi alguma coisa sobre o Senado”. Em seguida perguntei: - O que você acha sobre o que está acontecendo no Senado Brasileiro? E a pessoa respondeu: “Ah, sei lá, esses políticos são todos ladrões.”
A opinião pronta, e muitas vezes deturpada, que a televisão infunde na cabeça dos espectadores, os tem deixado com o pensamento limitado, e toda vez que alguém lhes pede opinião sobre alguma coisa, recorrem sempre ao senso comum, como, por exemplo, que “político é tudo ladrão”. O interessante é que se “político é tudo ladrão”, teoricamente eleitor “é tudo burro”, se partirmos do princípio de que fomos nós que os pusemos lá. Dessa forma, com base no senso comum, somos capazes de apontar o erro dos outros, e incapazes de reconhecermos os nossos, mesmo que tenhamos contribuído para a ação dos “políticos ladrões”. E isso se agrava quando persistimos no erro, ao não nos posicionarmos ante a crise do Senado e outras coisas mais que acometem a política brasileira.
Esse é o problema da não-militância, dos omissos ou daqueles que ficam em cima do muro e não vêm, ou não querem ver, o que está acontecendo de ambos os lados. Militar na esquerda ou na direita, tomar partido sobre as privatizações ou sobre as cotas universitárias para negros, defender o rock ou a música sertaneja. Tudo isso é válido, e a democracia pede esse tipo de discussão. No entanto, é necessário que se tenha boa fundamentação, e para isso é preciso buscar várias fontes, não apenas a TV. Outro dia, conversando com amigos, começamos a discutir sobre música e, claro, tinha gosto para tudo, e aí vale o subjetivismo de cada um. A discussão aprofundou-se e entrou no campo do que tinha ou não qualidade artística. Vimos que no meio da turma, um não se manifestava. Então perguntamos a ele: E você, gosta de ouvir o quê? E ele respondeu: “Ah, eu gosto de tudo”.
Gostar de tudo significa não gostar de nada, ou não saber do que gostar. É um argumento daqueles que não têm opinião formada. O exemplo da música é algo quase insignificante se pensarmos que a maioria das pessoas tem essa opinião indefinida sobre a política ou a economia brasileiras. Se perguntarmos a essas pessoas o que acharam do final de Caminho das Índias ou do BBB9, certamente elas terão a resposta na ponta da língua. E se perguntarmos sobre o que acham da crise no Senado, sempre dirão: “Ah, político é tudo ladrão”. Mas nunca serão capazes de apontar quem roubou o quê ou de reconhecer que foi a nossa própria alienação política que os colocou lá. Essa incapacidade de saber escolher é a principal causa da formação desse “político ladrão”. Enquanto formos omissos, seremos incapazes de enxergar algo além do nosso próprio umbigo.
A maioria das pessoas só milita em causa própria. O engajamento em ações que objetivam resultados positivos para a coletividade, ou para um grupo menos favorecido, é coisa rara hoje em dia. O capitalismo ensinou as pessoas a olharem para dois lugares apenas: Para a mídia, onde estão seus produtos, e para seu próprio umbigo.
A alienação a que as pessoas estão se submetendo é deprimente. A televisão passou a tomar o precioso tempo de quem poderia estar fazendo uma boa leitura. Ao invés disso, recebem sobre suas vulneráveis cabeças, o descarrego de um lixo midiático que eles insistem em chamar de arte. Ninguém mais tem opinião formada, a não ser pelo que lhe é dito na mídia. Um dia desses alguém chegou perto de mim e disse: “Você viu o Arnaldo Jabor falar no Jornal da Globo ontem? Como ele fala bem!” – Não. Respondi. – Ele falou sobre o quê? – “Não me lembro agora, mas foi alguma coisa sobre o Senado”. Em seguida perguntei: - O que você acha sobre o que está acontecendo no Senado Brasileiro? E a pessoa respondeu: “Ah, sei lá, esses políticos são todos ladrões.”
A opinião pronta, e muitas vezes deturpada, que a televisão infunde na cabeça dos espectadores, os tem deixado com o pensamento limitado, e toda vez que alguém lhes pede opinião sobre alguma coisa, recorrem sempre ao senso comum, como, por exemplo, que “político é tudo ladrão”. O interessante é que se “político é tudo ladrão”, teoricamente eleitor “é tudo burro”, se partirmos do princípio de que fomos nós que os pusemos lá. Dessa forma, com base no senso comum, somos capazes de apontar o erro dos outros, e incapazes de reconhecermos os nossos, mesmo que tenhamos contribuído para a ação dos “políticos ladrões”. E isso se agrava quando persistimos no erro, ao não nos posicionarmos ante a crise do Senado e outras coisas mais que acometem a política brasileira.
Esse é o problema da não-militância, dos omissos ou daqueles que ficam em cima do muro e não vêm, ou não querem ver, o que está acontecendo de ambos os lados. Militar na esquerda ou na direita, tomar partido sobre as privatizações ou sobre as cotas universitárias para negros, defender o rock ou a música sertaneja. Tudo isso é válido, e a democracia pede esse tipo de discussão. No entanto, é necessário que se tenha boa fundamentação, e para isso é preciso buscar várias fontes, não apenas a TV. Outro dia, conversando com amigos, começamos a discutir sobre música e, claro, tinha gosto para tudo, e aí vale o subjetivismo de cada um. A discussão aprofundou-se e entrou no campo do que tinha ou não qualidade artística. Vimos que no meio da turma, um não se manifestava. Então perguntamos a ele: E você, gosta de ouvir o quê? E ele respondeu: “Ah, eu gosto de tudo”.
Gostar de tudo significa não gostar de nada, ou não saber do que gostar. É um argumento daqueles que não têm opinião formada. O exemplo da música é algo quase insignificante se pensarmos que a maioria das pessoas tem essa opinião indefinida sobre a política ou a economia brasileiras. Se perguntarmos a essas pessoas o que acharam do final de Caminho das Índias ou do BBB9, certamente elas terão a resposta na ponta da língua. E se perguntarmos sobre o que acham da crise no Senado, sempre dirão: “Ah, político é tudo ladrão”. Mas nunca serão capazes de apontar quem roubou o quê ou de reconhecer que foi a nossa própria alienação política que os colocou lá. Essa incapacidade de saber escolher é a principal causa da formação desse “político ladrão”. Enquanto formos omissos, seremos incapazes de enxergar algo além do nosso próprio umbigo.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Perguntas do momento sobre questões seculares
A suspensão da Festa do Rosário, assim como o cancelamento de outros eventos por causa do avanço da gripe suína no município, foi uma medida, eu diria cabível, diante da situação do crescente número de casos confirmados em Oliveira, conforme dados do Comitê de Enfrentamento da Gripe.
No entanto, a situação mudou quando a justiça, por liminar, autorizou a realização de um evento público na cidade, nesse caso o Campeonato de Muares no Parque de Exposições de Oliveira. Abrindo exceção para um, mesmo a cidade estando em Estado de Emergência, baixado pelo prefeito, foi inevitável que as perguntas começassem a surgir: Porque não autorizar os outros eventos públicos também? Bom, nesse caso o prefeito eximiu-se da responsabilidade, já que lhe tiraram as rédeas das mãos, uma vez que ordem judicial não se discute, cumpre-se.
Valendo-se do direito da livre manifestação, do acesso à cultura, ao lazer e à livre crença religiosa, que lhe garante a Constituição Federal, o congado também foi ao poder judiciário e conseguiu, em segunda instância, uma liminar autorizando a realização da Festa do Rosário em Oliveira. Justiça feita, eis que tem início uma das mais tradicionais manifestações culturais e religiosas do Estado.
Vencidas as primeiras barreiras, é hora de enfrentar situações às quais os congadeiros aprenderam a encarar desde os tempos da escravidão. Absurdos que o mais pessimista dos negros talvez possa não ter imaginado que chegaria ao século XXI. Mas para quem teve as portas das igrejas fechadas, e que, por causa disso, construiu a sua própria igreja e que, posteriormente, viu essa capela ser demolida para em seu lugar ser construída a Catedral de Oliveira, templo este que também fechou suas portas aos congadeiros, o resto é fichinha.
O caso é que, com a autorização nas mãos, o Boi do Rosário ganha as ruas e atrai, como sempre, uma multidão de seguidores. Anunciante da Festa do Rosário, o boi também se configura numa das mais tradicionais expressões culturais da cidade, embora haja pessoas que não o enxerga como tal. Ao chegar à Praça XV, a multidão, e o Boi, encontraram o logradouro às escuras. Apagaram-lhe as luzes. Mas nada que lhe tirasse o brilho inato da sua missão de anunciar a grande Festa que estava por começar. Como se não bastassem as luzes apagadas, fecharam as portas dos banheiros públicos. Para completar, lá no largo da matriz, onde foi montado o palco para receber os reis e as rainhas, via-se no seu entorno, a velha matriz e a Casa da Cultura com suas portas fechadas.
Tudo isso é só uma constatação de que pouca coisa mudou desde o período da escravidão. Vê-se que pouco se alterou desde o tempo em que a sociedade possuía carta “branca” para hostilizar os negros recém libertados, numa época em que o aparato social não poderia servir a manifestações de origem africana.
Diante de tudo isso surgem as perguntas: Por que não foram liberados os R$15 mil aprovados pela câmara para ajuda à Festa do Rosário? Por que as luzes não foram acesas num importante momento em que a praça poderia fazer jus à sua reforma e à sua própria razão de ser? Por que os banheiros estavam fechados? Por que a Casa da Cultura não abre suas portas àquela que para mim é mais importante manifestação cultural dessa cidade? Por que a Catedral não lhes abre as portas, já que foi construída no lugar da pequena capela de Nossa Senhora do Rosário, erguida por mãos negras?
Se há uma resposta para tudo isso, certamente ela servirá a dois séculos pregressos, e provavelmente responderá a questões, tais como: Por que os negros continuam metidos nas favelas, com pouco acesso aos bens materiais e intelectuais, o que deveria ser um direito de todos, sem distinção?
domingo, 30 de agosto de 2009
Sobrevida à democracia em cenário de pós-guerra
A crise no senado e o seu desfecho sombrio embaralharam as cartas no meio político brasileiro. Nesse jogo, ao proporcionar a vitória de José Sarney (PMDB-AP), o PT saiu perdendo, por uma série de motivos. Com o apoio irrestrito ao presidente do Senado, Lula dá um tiro no próprio pé e põe a corda no pescoço de Dilma. É evidente que o presidente fez isso consciente, já ficou entre a faca e a espada. Com a queda de Sarney, assumiria o vice Marconi Perillo (PSDB-GO), e com isso a oposição se fortaleceria com um dos cargos mais importantes do país. O presidente teve que fazer uma escolha difícil. E se foi certa ou errada, só o futuro vai dizer.
Com a decisão de apoiar Sarney, o PT não só saiu desmoralizado, tanto no contexto político quanto na opinião pública, como também entrou numa crise interna com vários de seus membros se opondo à decisão do partido. Mercadante chegou a colocar seu cargo de líder do partido à disposição, após discordar da orientação do presidente da legenda, Ricardo Berzoini, para que a bancada votasse a favor do arquivamento.
“Envergonhado”, outro que deixou o partido foi o senador Flávio Arns (PT-PR). Para Arns, o fato de que seus correligionários tenham ajudado o presidente do Senado a se salvar da degola no Conselho de Ética foi o que faltava para sacramentar a decisão. Antes dele, a ex-ministra do Meio Ambiente e atualmente senadora Marina Silva também anunciou que deixará a legenda. No caso dela, uma decisão, seguida da outra pode mostrar ao PT a grande perda que isso possa significar. Marina Silva não só deixou seu antigo partido, como também anunciou a sua filiação ao PV e parece nome certo como candidata a presidência pela nova legenda. Caso isso ocorra, Dilma Rousseff pode ser prejudicada com uma possível absorção de votos da esquerda pela ex-colega do governo.
Com o aparecimento de Marina Silva, como possível candidata do PV a presidência da república, o cenário político de 2010 já se vê renovado e a democracia respira aliviada. A polarização da política brasileira, com PT e PSDB dividindo as páginas dos principais jornais, quando o assunto é 2010, tem caracterizado a falta de melhores opções ao eleitor e exposto uma moléstia que pode acometer nosso jovem processo democrático. O anúncio da possível candidatura da ex-companheira de Chico Mendes, levantou poeira no meio político brasileiro. Até a senadora se surpreendeu com a repercussão que seu nome causou tanto na mídia como na cúpula de partido como PT e PSDB.
A senadora, assim como Lula, possui uma trajetória, que vai da infância difícil até uma coroada carreira política. Marina Silva nasceu no seringal Bagaço, a 70 km do centro de Rio Branco. Seus pais, Pedro Augusto e Maria Augusta da Silva, tiveram onze filhos, dos quais oito sobreviveram. Aos 15 anos foi levada para a capital, com uma hepatite confundida com malária. Queria ser freira. Analfabeta, foi matriculada no Mobral. Concluído o ensino médio, Marina foi levada à atividade política e social pela Igreja Católica.
Marina acabou por ter contato com obras marxistas quando entrou na universidade. Ali, entrou para o Partido Revolucionário Comunista (PRC). Formou-se em História pela Universidade Federal do Acre. Foi professora na rede de ensino de segundo grau e engajou-se no movimento sindical. Foi companheira de luta de Chico Mendes e com ele fundou a Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Acre em 1985, da qual foi vice-coordenadora até 1986. Nesse ano, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e candidatou-se a deputada federal, porém não foi eleita.
Em 1988, foi a vereadora mais votada do município de Rio Branco, conquistando a única vaga da esquerda na câmara municipal. Como vereadora, causou polêmica por combater os privilégios dos vereadores e devolver benefícios financeiros que os demais vereadores também recebiam. Com isso passou a ter muitos adversários políticos, mas a admiração popular também cresceu. Em 1990 candidatou-se a deputada estadual e obteve novamente a maior votação. Logo no primeiro ano do novo mandato descobriu-se doente: havia sido contaminada por metais pesados quando ainda vivia no seringal.
Em 1994 foi eleita senadora da República, pelo estado do Acre, com a maior votação, enfrentando uma tradição de vitória exclusiva de ex-governadores e grandes empresários do estado. Foi Secretária Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores, de 1995 a 1997. Pode-se dizer que se tornou uma das principais vozes da Amazônia. Em 2003, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República, foi nomeada ministra do Meio Ambiente. Desde então, enfrentou conflitos constantes com outros ministros do governo, quando os interesses econômicos se contrapunham aos objetivos de preservação ambiental.
Se o eleitor continuar apostando num histórico de vida, como fez ao eleger Lula, certamente a senadora pode começara a sonhar. E além de um bom currículo, ela possui também uma boa argumentação política e uma inteligência incomum.
Com a decisão de apoiar Sarney, o PT não só saiu desmoralizado, tanto no contexto político quanto na opinião pública, como também entrou numa crise interna com vários de seus membros se opondo à decisão do partido. Mercadante chegou a colocar seu cargo de líder do partido à disposição, após discordar da orientação do presidente da legenda, Ricardo Berzoini, para que a bancada votasse a favor do arquivamento.
“Envergonhado”, outro que deixou o partido foi o senador Flávio Arns (PT-PR). Para Arns, o fato de que seus correligionários tenham ajudado o presidente do Senado a se salvar da degola no Conselho de Ética foi o que faltava para sacramentar a decisão. Antes dele, a ex-ministra do Meio Ambiente e atualmente senadora Marina Silva também anunciou que deixará a legenda. No caso dela, uma decisão, seguida da outra pode mostrar ao PT a grande perda que isso possa significar. Marina Silva não só deixou seu antigo partido, como também anunciou a sua filiação ao PV e parece nome certo como candidata a presidência pela nova legenda. Caso isso ocorra, Dilma Rousseff pode ser prejudicada com uma possível absorção de votos da esquerda pela ex-colega do governo.
Com o aparecimento de Marina Silva, como possível candidata do PV a presidência da república, o cenário político de 2010 já se vê renovado e a democracia respira aliviada. A polarização da política brasileira, com PT e PSDB dividindo as páginas dos principais jornais, quando o assunto é 2010, tem caracterizado a falta de melhores opções ao eleitor e exposto uma moléstia que pode acometer nosso jovem processo democrático. O anúncio da possível candidatura da ex-companheira de Chico Mendes, levantou poeira no meio político brasileiro. Até a senadora se surpreendeu com a repercussão que seu nome causou tanto na mídia como na cúpula de partido como PT e PSDB.
A senadora, assim como Lula, possui uma trajetória, que vai da infância difícil até uma coroada carreira política. Marina Silva nasceu no seringal Bagaço, a 70 km do centro de Rio Branco. Seus pais, Pedro Augusto e Maria Augusta da Silva, tiveram onze filhos, dos quais oito sobreviveram. Aos 15 anos foi levada para a capital, com uma hepatite confundida com malária. Queria ser freira. Analfabeta, foi matriculada no Mobral. Concluído o ensino médio, Marina foi levada à atividade política e social pela Igreja Católica.
Marina acabou por ter contato com obras marxistas quando entrou na universidade. Ali, entrou para o Partido Revolucionário Comunista (PRC). Formou-se em História pela Universidade Federal do Acre. Foi professora na rede de ensino de segundo grau e engajou-se no movimento sindical. Foi companheira de luta de Chico Mendes e com ele fundou a Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Acre em 1985, da qual foi vice-coordenadora até 1986. Nesse ano, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e candidatou-se a deputada federal, porém não foi eleita.
Em 1988, foi a vereadora mais votada do município de Rio Branco, conquistando a única vaga da esquerda na câmara municipal. Como vereadora, causou polêmica por combater os privilégios dos vereadores e devolver benefícios financeiros que os demais vereadores também recebiam. Com isso passou a ter muitos adversários políticos, mas a admiração popular também cresceu. Em 1990 candidatou-se a deputada estadual e obteve novamente a maior votação. Logo no primeiro ano do novo mandato descobriu-se doente: havia sido contaminada por metais pesados quando ainda vivia no seringal.
Em 1994 foi eleita senadora da República, pelo estado do Acre, com a maior votação, enfrentando uma tradição de vitória exclusiva de ex-governadores e grandes empresários do estado. Foi Secretária Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores, de 1995 a 1997. Pode-se dizer que se tornou uma das principais vozes da Amazônia. Em 2003, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República, foi nomeada ministra do Meio Ambiente. Desde então, enfrentou conflitos constantes com outros ministros do governo, quando os interesses econômicos se contrapunham aos objetivos de preservação ambiental.
Se o eleitor continuar apostando num histórico de vida, como fez ao eleger Lula, certamente a senadora pode começara a sonhar. E além de um bom currículo, ela possui também uma boa argumentação política e uma inteligência incomum.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Receita para uma boa pizza, e outra para queimá-la
O irmão de Sarney, Ivan Sarney, foi contratado pelo aliado de Sarney, senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), para trabalhar na Segunda Secretaria do Senado. Ele foi exonerado por meio de ato secreto, publicado apenas agora, dois anos depois.
Vera Portela Macieira Borges, sobrinha de Sarney, foi nomeada secretamente para trabalhar na presidência do Senado em 2003. Apesar de morar em Campo Grande (MS), a 1.079 quilômetros de Brasília, Vera recebia salário do Senado.
Isabella Murad Cabral Alves dos Santos, sobrinha de Jorge Murad e Roseana Sarney (respectivamente genro e filha de Sarney), foi nomeada também de forma secreta para o cargo de assistente parlamentar no gabinete de Cafeteira há mais de dois anos. Murad recebe salário de R$ 1.500,00 do Senado, mesmo morando em Barcelona, na Espanha, onde estuda.
Neto do senador, João Fernando Gonçalves Sarney foi exonerado secretamente do gabinete de Cafeteira em outubro de 2008, um mês após a decisão de antinepotismo do STF (Supremo Tribunal Federal). Mesmo demitido por ter relações de parentesco com Sarney, o neto do senador foi substituído por Rosângela Teresinha Gonçalves, sua mãe e, portanto, nora de Sarney.
Outro neto de presidente do Senado, José Adriano Cordeiro Sarney, é um dos sócios de empresa Sarcris Consultoria, Serviços e Participações Ltda. que faz o intermédio de empréstimos consignados entre instituições bancárias e funcionários do Senado. A suspeita é que Sarney tenha feito a contratação dos serviços da empresa para beneficiar o neto.
O presidente do Senado emprestou um apartamento funcional em seu nome ao ex-senador Bello Praga (PFL-MA), que deixou o Parlamento em 2003 e morreu em 2008.
Sarney também foi acusado de receber auxílio moradia de R$ 3.800,00, embora possua casa própria em Brasília e tenha à disposição a residência oficial do Senado desde fevereiro deste ano, quando assumiu a presidência da Casa. Essa mesma casa, avaliada em R$ 4 milhões, não foi declarada à Justiça Eleitoral.
Em 1995, quando presidiu o Senado pela primeira vez, Sarney indicou para a direção-geral, Agaciel Maia, o personagem central da crise. Reeleito à presidência em 2003, Sarney manteve o servidor no cargo. Apenas em seu terceiro e atual mandato, após as denúncias, o atual presidente do Senado sugeriu que Maia deixasse a direção.
Maia pediu afastamento do cargo em março, após denúncia de que ele possuiria uma mansão não registrada em seu nome e avaliada em R$ 5 milhões.
Sarney também indicou João Carlos Zoghbi para Diretoria de Recursos Humanos e o manteve no cargo em seus mandatos. Zoghbi também foi responsabilizado pelos atos secretos e se afastou em março, acusado de usar uma ex-babá como "laranja" em uma empresa para receber comissões de convênios assinados pelo Senado.
- José Sarney recebeu 11 acusações de colegas, no Conselho de Ética do Senado. Conforme esperado, o presidente do Conselho, Paulo Duque (PMDB-RJ), decidiu pelo arquivamento de todas as ações contra Sarney.
- Mas nem tudo está perdido. Nem só de Big Brother e novelas das oito vive a juventude brasileira. Um grande movimento, com o brado “Fora Sarney”, está sendo marcado para este sábado, dia 15, a partir das 14 horas, e ocorrerá simultaneamente em 15 capitais brasileiras. A iniciativa partiu de usuários do Twiter (site de relacionamento da WEB). Não há, portanto, o filtro ou a censura da mídia. Participe! Divulgue! Proteste! Faça a sua parte. Saia do ostracismo e ajude a limpar o Brasil.
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Fazendo a minha parte
VÁ DE PRETO, LEVE FAIXAS, CARTAZES
E BANDEIRAS DO BRASIL!
São Paulo
Data: 15/08 (Sábado), 14H
Local: MASP
Porto Alegre
Data: 15/08 (Sábado), 14H
Local: Arco da Redenção
Rio de Janeiro
Data: 15/08 (Sábado), 14H
Local: Em frente ao Posto 6 (Orla – Copacabana)
Belo Horizonte
Data: 15/08 (Sábado), 14H
Local: Praça Sete
Salvador
Data: 15/08 (Sábado), 14H
Local: Av Garibaldi
Brasília
Data: 15/08 (Sábado), 14H
Local: Congresso Nacional
Goiânia
Data: 15/08 (Sábado), 14H
Local: Praça Universitária
Maringá
Data: 15/08 (Sábado), 14H
Local: Av. Colombo em frente a Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Londrina
Data: 15/08 (Sábado), 14H
Local: Em frente ao Banco do Brasil do calçadão
Curitiba
Data: 15/08 (Sábado), 14H
Local: Centro Cívico (shopping MUELLER)
Vitoria
Data:15/08 (Sábado), 14 H
Local: em frente ao Shopping Vitoria
Recife
Data: 15/08 (Sábado), 14H
Local: Av. Conde da Boa Vista, na frente do shopping.
São Luís
Data: 15/08 (Sábado), 9H
Local: praça João Lisboa.
* A saída será às 13h. O horário é um pouco diferente por conta da realidade de concentração de pessoas no centro no sábado.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Orgia política
Mal 2009 chegou ao meio e as eleições presidenciais do ano que vem já começaram a sacudir o meio político brasileiro. Não há ainda um cenário eleitoral definido para o ano vindouro, a estratégia, em princípio, parece ser a de tentar desconstruir as bases eleitorais do adversário. A bipolarização da política brasileira, onde se tem dois partidos principais, PT e PSDB, com PMDB e DEM correndo por fora, tem proporcionado uma briga de foices no seio dos poderes executivo e legislativo. De um lado o governo procura usar a máquina e a popularidade do presidente a favor da ministra e futura candidata petista, de outro, a oposição procura usar de tudo para manchar o governo de forma a atingir Dilma.
No meio desse fogo cruzado a Petrobrás. A estatal parece aquele brinquedo de parque, onde o presidente fica assentado numa prancha sobre um tanque de água e a oposição fica jogando bolas para tentar acertar um alvo que destrava a prancha e o derruba. A CPI da Petrobrás virou uma obsessão para os partidos não governistas. O governo até concorda com a abertura da comissão, mas desde que ele assuma os principais cargos dela.
E a briga ficou em torno de quem ficaria com a presidência e a relatoria do caso, e nessa o PT acabou ficando com o pedaço melhor do bolo. E é aí que mora a incoerência da política brasileira: Ora, se há alguém que estaria inapto a compor uma comissão parlamentar de inquérito como essa, é o governo, assim como o PSDB e o DEM, por estarem diante de uma disputa eleitoral. Se isso acontecer, como já aconteceu, um assunto importante desses vai virar uma briga eleitoreira, com objetivos claros de um tentar derrubar o outro com o foco em 2010.
E parece que o senado brasileiro transformou-se mesmo em um ringue de luta de oposição contra o governo. O caso José Sarney também virou arma para a desconstrução das bases eleitorais para 2010. cabeça do presidente do senado pode rolar a qualquer momento e isso pode significar muita coisa; mas não pensem que o objetivo aí é o de limpar a casa e mostrar ao povo que seus senadores não aceitam atos indecorosos daqueles que a compõe. Por trás disso existem grandes interesses políticos. José Sarney pede o apoio do governo, que tem maioria na casa, para se manter na presidência do senado, e ameaça: Se não me apoiar, o PMDB deixa a base aliada e não apóia Dilma em 2010.
A oposição quer derrubar Sarney a todo custo, porque com a saída dele, assumi Marconi Perillo (PSDB-GO), que é primeiro vice-presidente. Com ele no comando da casa a oposição teria um dos mais importantes cargos da política nacional. Sabendo que sem o apoio do PMDB o governo se enfraqueceria, o presidente Lula saiu em defesa do colega Sarney e convocou seus líderes para montar uma tropa de choque e segurar o presidente do senado em seu trono.
Pelo que se vê tudo agora gira em torno da tal campanha eleitoral para presidente em 2010. Seja no Congresso ou no Senado, as prioridades deixam de estar em torno do que interessa realmente à população, para estacionar numa orgia política onde só os interesses partidários prevalecem. E tudo diante da passividade do povo brasileiro.
O espírito festivo dos brasileiros é algo muitas vezes admirado por outros países, mas a nossa passividade diante da orgia política que fazem debaixo do nosso nariz é uma vergonha. E é por isso que o Brasil transformou-se no paraíso dos corruptos.
Pode-se dizer que todas as denúncias contra os políticos têm partido dos jornais, e aí se vê a responsabilidade social do jornalismo brasileiro, com exceção, é claro, daqueles que possuem ligações políticas: Veja, Folha de São Paulo, Estadão? Não sei. Se o povo brasileiro procurasse entender de política, como entendem de futebol – e aí vale o exemplo dos argentinos - certamente saberia identificar o bem e o mau.
No meio desse fogo cruzado a Petrobrás. A estatal parece aquele brinquedo de parque, onde o presidente fica assentado numa prancha sobre um tanque de água e a oposição fica jogando bolas para tentar acertar um alvo que destrava a prancha e o derruba. A CPI da Petrobrás virou uma obsessão para os partidos não governistas. O governo até concorda com a abertura da comissão, mas desde que ele assuma os principais cargos dela.
E a briga ficou em torno de quem ficaria com a presidência e a relatoria do caso, e nessa o PT acabou ficando com o pedaço melhor do bolo. E é aí que mora a incoerência da política brasileira: Ora, se há alguém que estaria inapto a compor uma comissão parlamentar de inquérito como essa, é o governo, assim como o PSDB e o DEM, por estarem diante de uma disputa eleitoral. Se isso acontecer, como já aconteceu, um assunto importante desses vai virar uma briga eleitoreira, com objetivos claros de um tentar derrubar o outro com o foco em 2010.
E parece que o senado brasileiro transformou-se mesmo em um ringue de luta de oposição contra o governo. O caso José Sarney também virou arma para a desconstrução das bases eleitorais para 2010. cabeça do presidente do senado pode rolar a qualquer momento e isso pode significar muita coisa; mas não pensem que o objetivo aí é o de limpar a casa e mostrar ao povo que seus senadores não aceitam atos indecorosos daqueles que a compõe. Por trás disso existem grandes interesses políticos. José Sarney pede o apoio do governo, que tem maioria na casa, para se manter na presidência do senado, e ameaça: Se não me apoiar, o PMDB deixa a base aliada e não apóia Dilma em 2010.
A oposição quer derrubar Sarney a todo custo, porque com a saída dele, assumi Marconi Perillo (PSDB-GO), que é primeiro vice-presidente. Com ele no comando da casa a oposição teria um dos mais importantes cargos da política nacional. Sabendo que sem o apoio do PMDB o governo se enfraqueceria, o presidente Lula saiu em defesa do colega Sarney e convocou seus líderes para montar uma tropa de choque e segurar o presidente do senado em seu trono.
Pelo que se vê tudo agora gira em torno da tal campanha eleitoral para presidente em 2010. Seja no Congresso ou no Senado, as prioridades deixam de estar em torno do que interessa realmente à população, para estacionar numa orgia política onde só os interesses partidários prevalecem. E tudo diante da passividade do povo brasileiro.
O espírito festivo dos brasileiros é algo muitas vezes admirado por outros países, mas a nossa passividade diante da orgia política que fazem debaixo do nosso nariz é uma vergonha. E é por isso que o Brasil transformou-se no paraíso dos corruptos.
Pode-se dizer que todas as denúncias contra os políticos têm partido dos jornais, e aí se vê a responsabilidade social do jornalismo brasileiro, com exceção, é claro, daqueles que possuem ligações políticas: Veja, Folha de São Paulo, Estadão? Não sei. Se o povo brasileiro procurasse entender de política, como entendem de futebol – e aí vale o exemplo dos argentinos - certamente saberia identificar o bem e o mau.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Estudiantes desfila na Argentina com bandeira do Galo
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Os homenas passam, as músicas ficam
Estava na quinta série ginasial quando conheci o meu amigo Sávio. Tínhamos 11 anos na época, portanto, nossa amizade vem de longa data. A nossa altura, e a técnica também, nos fizeram destacar nos jogos de basquete durante a educação física da escola, ele um pouco mais, por ser um negro alto e forte. Por causa da nossa desenvoltura esportiva, fomos convidados a fazer um teste no time de vôlei da cidade. Ficamos felizes e, ao mesmo tempo, frustrados, pois gostávamos mais de basquete, mas, de qualquer forma, passamos nos testes, e nos integramos à equipe de vôlei da cidade, sediada na Praça de Esportes de Oliveira. De lá para cá, nos tornamos amigos, e além do gosto pelo esporte, tínhamos outra coisa em comum: a paixão pela música.
Eu era fascinado com Elvis e com o rock dos anos cinquenta. Tinha discos, vídeos, revistas, além disso, qualquer reportagem relacionada ao rei do rock que achava ia armazenando numa pasta. Tentei aplicar isso no meu amigo: “Cara, tem que ouvir uma coletânea do Elvis que lançaram agora, só tem as melhores dele!”. Achei-o meio cético, mas ele teve paciência e ouviu o disco todo. E aí, o que achou? Perguntei. Ele disse: “É bom. Agora vamos lá em casa que eu também quero te mostrar uma coisa.” Morávamos bem pertos, a coisa de uns três quarteirões. Depois de guardar o meu novo disco do Elvis, a sete chaves, nos encaminhamos para sua casa. Chegando lá ele foi até o quarto e trouxe uma pilha de discos, e me entregou. “Dá uma olhada, vou colocar um para tocar.” Quando comecei a repassar as capas, vi que o cara tinha a coleção completa do Michael Jackson.
Na época, não curtia muito a música pop e meu amigo cobrou com juros e correções a audição a que fora obrigado a se submeter. Na casa dele tive que escutar quase a coleção completa do “rei do pop”. Até que gostei, Michael não era um simples “pop”, ele era Michael Jackson e ponto final. Para me agradar, ele foi até a coleção de discos da mãe dele e trouxe uma relíquia: um LP do Elvis, original, e me entregou dizendo: “Cara, você precisa se atualizar, esse disco é da época da minha mãe.” Aí rebati: “O rock é atemporal, é universal. Ele nasceu nas plantações de algodão dos Estados Unidos com os escravos da época, e Elvis o mostrou para o mundo. Não tem essa de ser antigo, o que é bom não morre. O rock é eterno, meu caro. Long live rock n’ roll.”
O nosso intercâmbio cultural deixou de ser uma simples troca musical para se transformar numa disputa ideológica. Um tentava provar para o outro que o seu cantor predileto era o melhor. Certa vez ouvi pelo rádio sobre um festival de rock que aconteceria em Oliveira. Fiquei superfeliz. Participaria uma banda de oliveirenses da qual eu era fã, o Aspecto Local, e as outras viriam de outras cidades. Liguei para o Sávio e o convidei para ir. Ele topou. É chegado o grande dia, mesmo com a resistência dos nossos pais, por termos onze ou doze anos na época – e aí era o final dos anos oitenta – acabamos convencendo-os a nos liberar. Achei que deveríamos nos vestir como roqueiros, mas o Sávio insistiu em ir vestido no estilo Michael, com direito a sapatinho preto superlustrado e meia branca. Fazer o quê?
O festival foi surpreendente, tocaram ali as melhores bandas da região, e o rock n’ roll rolou até altas horas. O Sávio demonstrava estar gostando bastante, mas começava a se preocupar com o horário, chamando-me para irmos embora. Eu disse que não sairia dali enquanto não ouvisse o Aspecto Local, a última banda a se apresentar, conforme a programação. Valeu a pena, foi o melhor e o último show que assisti daquela banda. O Sávio, surpreendentemente, vibrou tanto quanto eu. Mas a hora estava mesmo avançada e precisávamos sair. Quando deixamos o galpão da escola de samba 13 de Ouro, onde foi realizado o evento, a banda anunciou a última música, e surpreendeu novamente quando começou a tocar Faroeste Caboclo, da banda Legião Urbana. Um clássico do rock nacional, que na época tinha acabado de ser lançado e marcava pela letra e por ser longa demais para os padrões fonográficos. Fomos cami-nhando com a música nos ouvidos, a geografia daquela região permitiu que o som chegasse aos nossos ouvidos, mesmo distante do local. Quando cheguei a porta da minha casa, pude ouvir o último acorde da música e a banda se despedindo do público.
Valeu a pena. O Sávio definitivamente estava iniciado no rock n’ roll. Venci a primeira batalha. Mas na semana seguinte ele deu uma festa para comemorar seu aniversário e chamou a turma da escola e a galera do vôlei, e adivinha o que tocou a noite toda? Claro: Michael Jackson. E assim foi durante um bom tempo em que convivemos: nas minhas festas, Elvis; nas dele, Michael. Por fim, quando Michael lançou o disco Bad, lá fui eu comprar minha primeira fita cassete do artista. E, posteriormente, quando ele lançou o álbum Dangerous, não resisti e comprei o disco. Estava eu aplicado no bom e velho pop de Michael Jackson.
Por esses dias, com a morte de Michael, todas essas histórias me voltaram à mente, e hoje, mesmo distante do meu amigo, creio que tanto ele, quanto eu, sabemos que Elvis é o rei do Rock e Michael é o rei do pop e não se fala mais nisso, e temos a certeza de que ambos nos marcaram muito. Por isso, as últimas semanas me têm suscitado um sentimento de nostalgia e de certa tristeza, e com certeza ao meu velho amigo também. Parafraseando Cazuza: “Meus heróis morreram de overdose”, mas, como dizia Raul Seixas: “Os homens passam, as músicas ficam.”
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Vitórias e derrotas do jornalismo brasileiro
Caiu a Lei de Imprensa. Com a decisão do Supremo, após sete, dos onze ministros votarem pela sua extinção, é desfeita mais uma, das últimas amarras, que ainda nos prendiam ao regime militar. A Lei de Imprensa foi concebida durante a ditadura e serviu de instrumento ao AI-5 para censurar jornais e intimidar os jornalistas que se opunham ao regime. Com a anulação dos 77 artigos dessa polêmica lei, os julgamentos das ações contra jornalistas passam a ser feitos com base na Constituição Federal e nos códigos, penal e civil. Nada mais justo.
Apenas algumas semanas depois de dar um passo à frente na afirmação de um jornalismo moderno e profissional, o Supremo dá três passos atrás ao votar a não obrigatoriedade do diploma de jornalista. Por 8 votos a 1, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram na sessão desta quarta-feira (17) que o diploma de jornalismo não é obrigatório para exercer a profissão. Votaram contra a exigência do diploma o relator Gilmar Mendes e os ministros Carmem Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Celso de Mello. Marco Aurélio defendeu a necessidade de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão. Os ministros Joaquim Barbosa e Carlos Alberto Menezes Direito não estavam presentes na sessão. Um retrocesso para um país que tem um déficit educacional enorme e que busca um avanço técnico e profissional para empreender o desenvolvimento social e econômico tão esperado por essa nação.
Gilmar Mendes, relator do projeto, comete um erro ao afirmar que danos a terceiros não são inerentes à profissão de jornalista e não poderiam ser evitados com um diploma. Mendes acrescentou que as notícias inverídicas são grave desvio da conduta e problemas éticos que não encontram solução na formação em curso superior do profissional. Ora, se situações como falta de ética e desvio de conduta não encontrarem soluções em um curso superior de jornalismo, onde serão encontradas, numa banca de revistas?
Mendes comete um desrespeito contra os jornalistas, e isso mostra seu despreparo para avaliar o caso, ao afirmar que jornalista é como um cozinheiro, que para fazer um bom prato não precisa passar por uma universidade, basta ser bom. Esse senhor talvez não tenha a exata noção do que é uma universidade. Ela não é apenas um duto de transmissão de conhecimento por uma única via. As universidades sempre simbolizaram a aglutinação de idéias, um ambiente de discussão e troca de conhecimento, o útero de grandes movimentos que desencadearam a democratização a qual certos homens do poder querem anular através da ignorância e desqualificação intelectual do cidadão brasileiro.
Aos jornalistas diplomados isso talvez não vá fazer tanta diferença, porque as empresas privadas e públicas de comunicação certamente farão suas opções por aqueles que tiverem melhor formação profissional. Pior é para o país, ou para os brasileiros, que ao se submeterem a decisões como essas, que desestimulam os jovens a buscarem uma formação superior, se vêm condenados à ignorância e à incapacidade de se contraporem a essas mesmas decisões.
Se depender desses poderosos, o Brasil sempre será o país do futuro, quando medidas retrógradas transformam sonhos palpáveis em meras utopias.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Vai-se o homem, fica o exemplo
Há dois domingos fui despertado com uma notícia triste, a perda de um amigo. Ainda que isso não servisse de consolo, sabia que compartilharia aquela tristeza com boa parte dessa cidade, pois morria um grande benfeitor dela, o senhor Emílio Haddad Filho. Diante dessa notícia, parti rumo à capital mineira onde seu corpo seria velado. O cenário que outrora fora parlamento de um espírito combativo, naquele dia deu abrigo ao frágil corpo e serviu de leito de despedida há um dos homens que só fez honrar aquela casa. Chegando à Assembléia Legislativa de Minas Gerais, o sentimento de dor era visível, sabia-se do peso daquela perda, em todos os sentidos. O grande número de coroas em sua homenagem talvez não mostrasse tanto a importância de Emílio, como o choro compulsivo dos seus amigos.
Situações como essas nos fazem rememorar fatos da vida daquele que está partindo. Um, em especial, me veio à mente naquele momento. Como amigo do próprio Emílio e do seu filho Michel, por várias vezes freqüentei a casa que sempre teve a fama de ter as portas abertas para qualquer pessoa. Apesar de ser uma família pequena e de a maioria morar em Belo Horizonte, o lugar sempre estava cheia de amigos: A turma do rock, a galera do futebol, os congadeiros, os colegas da política, os foliões... E é aí que eu queria chegar: - Certa vez, numa sexta-feira de carnaval, quando o famoso bloco do Pelo Amor de Deus se concentrava de frente a sua casa – e nesse caso não restam dúvidas de que era em sua homenagem – fui até a casa do Emílio e me surpreendi quando vi que o bloco não só se concentrava em frente, mas também dentro da casa. Uma multidão de pessoas fantasiadas circulava à vontade nos corredores do velho sobrado art decô. E no meio deles, estava, feliz e receptivo, o incansável Emílio Haddad.
Esta talvez seja a melhor maneira de descrevê-lo. Um homem simples, do povo. E aí não cabe qualquer insinuação de que havia algum interesse político por trás. Isso era natural dele. Quem o conhecia sabia que ele não precisava fazer o menor esforço para ter aquele caráter popular, isso era inato. O seu velório mostrou bem quem era este homem que transitava entre as camadas mais abastadas e as mais carentes dessa nossa sociedade desigual. Viam-se ali deputados, ex-governadores, advogados e médicos se misturarem à gente simples do alto São Sebastião, a congadeiros, carnavalescos e boêmios.
Mas nem sempre o gesto de adeus é presságio do fim. Não para aqueles que deixaram um exemplo a ser seguido, um legado de luta, de serviços prestados à comunidade, e que ensinam a pensar no coletivo e não apenas individualmente. Emilio Haddad partiu para outra dimensão, mas deixou o exemplo de um homem verdadeiro. E como tal, viu-se perpassado por uma linha reta, tanto em sua vida pessoal: como pai, marido e amigo, como na sua vida profissional: como advogado conciliador e perseguidor da justiça, e em sua vida pública, atuando no meio político.
Uma das grandes virtudes do homem mora na sua capacidade de modificar a natureza das coisas, e fazer com que as coisas mudem para melhor é um desafio que poucos querem encarar. Ele o fez. Teve a coragem de enfrentar o governo militar como deputado da oposição durante um dos períodos mais violentos da nossa história.
O caráter ímpar de Emílio o fizera quebrar, ainda que de forma involuntária, o status quo da cultura vigente: Mesmo sendo advogado, foi um indivíduo livre de vaidades; Mesmo sendo político, foi um homem de honestidade incorruptível; E, mesmo tendo alcançado elevados postos da vida pública desse país, foi uma pessoa extremamente simples.
A herança material e relativamente pequena que está deixando para seus herdeiros, mostra que Emílio, apesar de ter tido oportunidade, não tirou proveito nenhum do poder que conquistara, nem para ele, nem para os filhos. Mas é certo que qualquer bem, seja casa, carro, apartamento ou terreno, é infinitamente insignificante para sua família, perto do exemplo de homem que ele deixa. E isso, certamente, é de um valor incalculável, por ser raro nos tempos atuais.
Situações como essas nos fazem rememorar fatos da vida daquele que está partindo. Um, em especial, me veio à mente naquele momento. Como amigo do próprio Emílio e do seu filho Michel, por várias vezes freqüentei a casa que sempre teve a fama de ter as portas abertas para qualquer pessoa. Apesar de ser uma família pequena e de a maioria morar em Belo Horizonte, o lugar sempre estava cheia de amigos: A turma do rock, a galera do futebol, os congadeiros, os colegas da política, os foliões... E é aí que eu queria chegar: - Certa vez, numa sexta-feira de carnaval, quando o famoso bloco do Pelo Amor de Deus se concentrava de frente a sua casa – e nesse caso não restam dúvidas de que era em sua homenagem – fui até a casa do Emílio e me surpreendi quando vi que o bloco não só se concentrava em frente, mas também dentro da casa. Uma multidão de pessoas fantasiadas circulava à vontade nos corredores do velho sobrado art decô. E no meio deles, estava, feliz e receptivo, o incansável Emílio Haddad.
Esta talvez seja a melhor maneira de descrevê-lo. Um homem simples, do povo. E aí não cabe qualquer insinuação de que havia algum interesse político por trás. Isso era natural dele. Quem o conhecia sabia que ele não precisava fazer o menor esforço para ter aquele caráter popular, isso era inato. O seu velório mostrou bem quem era este homem que transitava entre as camadas mais abastadas e as mais carentes dessa nossa sociedade desigual. Viam-se ali deputados, ex-governadores, advogados e médicos se misturarem à gente simples do alto São Sebastião, a congadeiros, carnavalescos e boêmios.
Mas nem sempre o gesto de adeus é presságio do fim. Não para aqueles que deixaram um exemplo a ser seguido, um legado de luta, de serviços prestados à comunidade, e que ensinam a pensar no coletivo e não apenas individualmente. Emilio Haddad partiu para outra dimensão, mas deixou o exemplo de um homem verdadeiro. E como tal, viu-se perpassado por uma linha reta, tanto em sua vida pessoal: como pai, marido e amigo, como na sua vida profissional: como advogado conciliador e perseguidor da justiça, e em sua vida pública, atuando no meio político.
Uma das grandes virtudes do homem mora na sua capacidade de modificar a natureza das coisas, e fazer com que as coisas mudem para melhor é um desafio que poucos querem encarar. Ele o fez. Teve a coragem de enfrentar o governo militar como deputado da oposição durante um dos períodos mais violentos da nossa história.
O caráter ímpar de Emílio o fizera quebrar, ainda que de forma involuntária, o status quo da cultura vigente: Mesmo sendo advogado, foi um indivíduo livre de vaidades; Mesmo sendo político, foi um homem de honestidade incorruptível; E, mesmo tendo alcançado elevados postos da vida pública desse país, foi uma pessoa extremamente simples.
A herança material e relativamente pequena que está deixando para seus herdeiros, mostra que Emílio, apesar de ter tido oportunidade, não tirou proveito nenhum do poder que conquistara, nem para ele, nem para os filhos. Mas é certo que qualquer bem, seja casa, carro, apartamento ou terreno, é infinitamente insignificante para sua família, perto do exemplo de homem que ele deixa. E isso, certamente, é de um valor incalculável, por ser raro nos tempos atuais.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Cuba está de volta a OEA
Revertendo um dos marcos da Guerra Fria no continente, os chanceleres que participam da 39ª Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), realizado em Honduras, chegaram nesta quarta-feira a um acordo para revogar a suspensão de Cuba que começou há 47 anos.
"A Guerra Fria terminou neste dia em San Pedro Sula," disse o presidente hondurenho Manuel Zelaya imediatamente após o anúncio, referindo-se à cidade de seu país na qual o encontro de ministros está sendo realizado.
Cuba foi suspensa da OEA por uma resolução aprovada em 1962, em punição ao país por ter se juntado ao bloco comunista. A organização, sob forte influência americana, acusou o regime cubano de receber armas de "potências comunistas extracontinentais", uma referência à União Soviética e à China. Na época, os Estados Unidos alegaram que a relação de Cuba com os países comunistas ameaçava o equilíbrio da região.
Durante a Assembleia, muitos países pressionaram para a readmissão de Cuba sem impor condições para isso. Mas Hillary pediu que a OEA exigisse que o governo de Raúl Castro adotasse reformas democráticas.
Fidel Castro escreveu no jornal estatal "Granma" nesta quarta-feira que a OEA deveria não existir, e que a organização, historicamente, tem "aberto portas para o Cavalo de Troia --os Estados Unidos-- devastar a América Latina".
Com Efe, Associated Press e Reuters para a Folha on Line.
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